História Pedidos manchados - ;único:

eu não sei dizer como as coisas chegaram a esse ponto, assim como também não sei dizer por que ainda tento tanto achar a mulher incrível que, um dia, você foi. só que eu não sei se ela ainda está aí, e eu já estou cansando de procurar.  

por que simplesmente não pode me aceitar? 

você sempre jogou a culpa das suas coisas em mim, e eu a recolhia como minha, apontando meus próprios problemas, meus próprios defeitos e colocando minha própria confiança nas suas palavras. mas você nunca viu isso, mamãe. 

eu acho que você nunca soube e nem nunca saberá das noites em que fui para a escola sem dormir, que fiquei acordada e chorei por você, por suas palavras, suas ofensas hipócritas. mamãe, por que sempre colocou seus defeitos em mim? se queria um espelho, talvez uma boa garrafa de vodca ajudasse. 

agora que sou grandinha, talvez eu possa entender a razão pelas quais você ameaça e levanta seus punhos contra mim sempre que digo-lhe as verdades; a razão pela qual faz questão de livrar-se da nossa família. sabe, eu achava que éramos felizes, mamãe. mesmo depois que você nos trocou por um maldito jogo de computador. 

talvez eu esteja achando melhor você ir embora, papai não aguenta mais, assim como eu. mas ele ainda te ama e, por isso, não quer ver-te indo embora daqui. e eu prefiro que seus xingamentos chulos venham dilacerar meus sonhos dos que os dele, porque, mamãe, ele ainda é uma criança; você sabe, ele só tem tamanho.  

papai só quer teu bem, mas ele não aguenta vislumbrar sua silhueta entrar em casa alcoolizada, com, quem sabe, outros cheiros pelo corpo. 

mas talvez a senhora custasse a me entender, ou talvez nossos gritos aos meios de tantas brigas a impedissem de ouvir meu coração trincando. mamãe, você me ama? é que da última vez, você acabou deixando escapar que eu não deveria ter nascido.  

por que não se desculpou?