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História Pedra d'água - Reflexo


Escrita por: olmo

Capítulo 23 - Reflexo


23.

Taeyong fitou o espelho trincado por mais tempo do que deveria. Nunca havia se preocupado em trocá-lo, porque mesmo se o vidro não estivesse mais rachado, seu reflexo continuaria.

Suspirou pesado e colocou a máscara negra que sempre cobria metade de sua face. Não conseguia encarar o próprio rosto, como esperava poder mostrar aos outros? Jae era uma exceção, claro. Porque ele não tinha a capacidade de ver sua cara feia todos os dias.

Atravessou a sala enquanto vestia o casaco por cima do moletom, esperando que fosse suficiente para enfrentar o frio. Quando segurou a maçaneta para abrir a porta, parou subitamente. Sempre tinha aquela sensação quando ia sair de casa, de que estava esquecendo alguma coisa. Fitou a porta, tentando lembrar. Uma lâmpada pareceu acender em sua cabeça e deu a volta, indo buscar a térmica antes de voltar e confrontar o frio do lado de fora. Sentiu um arrepio eletrizar os pelos dos braços, tanto pela temperatura quanto por avistar uma figura já bem conhecida sentada no ponto, como se estivesse o esperando. Era a melhor parte de morar tão próximo da faculdade.

Sorriu largo e saiu andando rapidamente, ansioso e tentando formular em sua cabeça alguma coisa legal para dizer quando chegasse.

- Pensei que não ia vir hoje - Jae falou quando ainda estava a alguns metros de distância, arruinando qualquer intenção que tivesse de iniciar a conversa.

- Como sabe que sou eu? - perguntou impressionado.

- O cheiro nunca muda, até parece que cê passa o dia todo pintando - Jae mostrou a covinha e Taeyong sentiu as famosas borboletas chacoalharem no estômago - Acho que o jeito que você anda também ajuda a reconhecer.

- Como eu ando?

- Rápido, como se tivesse fugindo de alguma coisa.

- Eu não tô fugindo de nada - Taeyong balbuciou, olhando para trás apenas para ter certeza de que não estava sendo seguido.

- Então talvez você seja o perseguidor - Jaehyun brincou, mas logo seu sorriso murchou - Você demorou, meu ônibus já deve tá chegando. Como eu já disse, até pensei que não fosse vir hoje. De novo.

- Você ainda tá magoado por causa disso?

- Você me ignorou por três dias!

- Que tal um chocolate quente e deixamos isso no passado?

- Meu ônibus já tá chegando e o zelador não veio hoje pra me dar carona, não posso ir pra sua casa.

- Você pode ficar pra posar - Taeyong mordeu o lábio, assistindo o rosto de Jae em expectativa - Se quiser, claro.

- Não dá. Eu tenho que ir pra casa hoje - ele sorriu - Talvez amanhã.

- Tudo bem - Taeyong deu de ombros, tentando esconder a decepção na voz - Eu trouxe o chocolate na térmica - disse ao estendê-la - Cuidado que tá aberta.

- Obrigado.

Jae sorriu ao sentir o calor do objeto de metal transferir para suas mãos geladas. Levou próximo ao rosto e bebeu uns três goles seguidos, agradecido pelo gosto doce do chocolate, cheio de canela como gostava. Agora sabia da onde aquele gosto tão familiar e nostálgico vinha. A mãe do pintor era grande na cozinha, Jaehyun lembrava bem de provar do chocolate quente dela toda vez que ia lá durante a infância. O de Taeyong era quase tão bom quanto o dela. Quase.

- Sua térmica é parecida com a da Yeeun - Jaehyun comentou ao dedilhar pelo objeto, antes que acabasse por tomar tudo de uma vez só.

- Yeeun?

- Minha colega - explicou, não aguentando muito tempo sem beber o chocolate e tomando longos goles antes de continuar a falar - Nós apresentamos um trabalho em dupla ontem.

- Foram bem?

- Sim, tiramos a nota máxima.

- Uau. Parabéns, Jae. Você merece.

- Mereço o que?

- Que?

- Um beijo, você disse que eu mereço um beijo, foi isso o que eu ouvi? - Jaehyun sorriu de canto.

- Eu não disse nada.

- Mas eu mereço - contestou, inclinando o corpo na direção do pintor e apontando para a bochecha com o dedo indicador.

Taeyong riu, entrando em pânico por um segundo antes de engolir em seco como se fosse um trago de coragem. Baixou a máscara e se aproximou, fitando a covinha marcada. Deixou um beijo delicado bem ali, não se demorando muito. Jaehyun não pareceu completamente satisfeito, pois assim que fez menção de se afastar ele o manteve perto com a mão em seu pescoço e o beijou furtivamente na boca, deixando o pintor com um sorriso bobo estampado na cara ao se distanciar.

Taeyong lambeu os lábios, sentindo gosto de chocolate se espalhar pelo paladar do mesmo jeito que a vermelhidão se espalhava pelo seu rosto já coberto.

Jaehyun terminou de beber o chocolate quente sem falar mais nada, aproveitando aquela sensação de calor dentro de seu corpo. Deixou a térmica de lado e esfregou as mãos uma na outra, tentando mantê-las aquecidas.

- Por que você continua usando a máscara? - perguntou de repente

- Pra evitar que você fique me beijando de surpresa, meu coração é fraco.

- Mas parece que você gosta.

Taeyong ficou sem palavras, porque se negasse não seria verdade e também não era capaz de concordar, pelo menos não em voz alta.

- Ei! - Jaehyun exclamou, como se tivesse acabado de ter uma ideia - Vamos fazer um jogo, pra resolver aquele negócio de você saber mais de mim do que eu de você. Funciona assim, você me fala um fato sobre você por dia. Até eu ficar satisfeito.

- Hm, ok… - Taeyong concordou com a cabeça, tentando tirar alguma coisa interessante daquela caixa monótona e poeirenta que era sua cabeça - O que quer saber primeiro?

- O que você quiser contar.

- Hmm… Eu já trabalhei de cabeleireiro em um salão de beleza.

- Sério?

- Sim - Taeyong riu - Foi no primeiro ano da faculdade, eu gastava muito com material pras aulas e precisava de dinheiro, então comecei a trabalhar no salão da minha mãe. Ela me ensinou tudo, cortar, lavar, pintar… Mas eu sempre gostei mais da parte de pintar, principalmente o meu cabelo.

- Você não trabalha mais lá?

- Não, mas às vezes alguns alunos da faculdade me chamam pra fazer um corte ou pintar.

- Você podia dar um trato no meu um dia desses - Jaehyun passou a mãos pelos fios castanhos que já estavam bastante compridos.

- Seria um prazer - Taeyong sorriu, encantado ao observar o mais novo. Ele parecia um modelo de revista quando mexia o cabelo daquela forma.

- Agora você pode me falar porque ainda usa a máscara? - Jae franziu o cenho, esperando ansioso pela resposta.

- Você disse um fato por dia.

Jaehyun suspirou frustrado. 

Fechou e abriu as mãos, sentindo-as duras de tão geladas. O efeito morno do chocolate quente já havia passado e não tinha bolso onde guardar as mãos. Desceu-as para as pernas, posando-as nos joelhos ao ter uma ideia. Tateou pelo pequeno espaço que o separava de Taeyong até alcançar a perna do pintor, por onde dedilhou até encontrar a mão do mesmo, entrelaçando-a com a sua. Taeyong apertou sua mão de volta, espalhando calor por todo seu corpo e instaurando uma sensação esquisita em seu estômago. Gradualmente Jae foi se aproximando mais de Taeyong, causando ele de se sentir instantaneamente quente, as bochechas queimando e o coração batendo tão rápido quanto os carros que passavam apressados pela rua.



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