Quando Vinícius ligou o carro para sairmos do cemitério, Max apareceu bem na frente, acompanhado por dois amigos e também pelo seu irmão mais novo, o Alex.
Vinícius olhou para mim. Ele estava pálido. Segurei sua mão com força e pedi que ele desse ré, mas era tarde demais. Max já estava quebrando as janelas do carro com uma barra de ferro.
- E aí veadinhos! – disse ele entre risos – Vão sair do carro ou querem que eu os obrigue?
Saímos do carro hesitantes enquanto Max nos olhava com nojo.
- Acho que eu nunca odiei tanto alguém quanto eu odeio vocês dois. Sinto nojo de ver vocês trocando carícias!
- O que você quer Max? – perguntou Vinícius se colocando na minha frente.
- Eu quero terminar o que comecei. Que bom que estamos em um cemitério, assim fica mais fácil enterrar os corpos. – ele disse isso e começou a rir para os amigos – Eu trouxe meu irmãozinho pra ele aprender o que é ser macho de verdade.
- Você tá louco! Deixa a gente em paz! – falei sem acreditar que aquilo estava acontecendo.
- Louco eu? Não, eu não estou louco. Louco era o seu pai que violentava alunas indefesas, mas agora ele está no inferno. – ele fez uma pausa – A propósito, eu acho que vocês receberam nossos recadinhos deixados naquele muquifo né?
- Recados? Tá falando da invasão e das pichações no apartamento do papai? – Max riu afirmando meu questionamento.
- Foi tudo ideia da Ellis e da Bruna. Elas odeiam vocês tanto quanto eu.
- SEU DESGRAÇADO! EU VOU TE MATAR! – tentei avançar em Max, mas Vinícius me segurou, se não fosse isso, Max teria acertado a barra de ferro na minha cabeça.
- Acho bom vocês não se alterarem, até porque ninguém vai proteger vocês. Ninguém gosta de veados mesmo. Vocês são o erro da humanidade. – ele fez o gesto de nos acertar e começou a gargalhar – Eu só queria saber porque vocês escolheram ser bichas ao invés de serem pessoas normais.
- Meu pai diz que a maioria das pessoas que hoje são homossexuais foram abusadas na infância ou na adolescência. Geralmente, quando se é criado sem a figura do pai, a criança cresce passa a procurar nas pessoas aquilo que ele sentia falta na figura paterna. No caso das meninas, é importante que o pai trate bem a mãe da criança para que ela possa ver como é bom ser mulher, é importante que ele a valorize sua feminilidade. A pessoa não nasce gay, a sexualidade é interrompida apenas por abusos ou por falta de uma família estruturada. – disse um dos cúmplices de Max.
- QUE MERDA É ESSA LUÍZ? VIROU UMA ENCICLOPÉDIA AMBULANTE? – berrou Max irritado – Bom, chega de conversa e vamos acabar com isso enquanto não tem ninguém vendo.
- TÁ MUITO ENGANADO MAX! – disse Laerte que se aproximava acompanhado de sua namorada, Vanessa. Eles definitivamente eram um casal chiclete surpreendente.
- De onde vocês vieram? – perguntei perplexo.
- Relaxa que agora é com a gente! – disse Laerte se colocando na minha frente e assoviando em seguida.
Não demorou para que vários rapazes e moças saíssem de trás das lápides, cada um parecia estar mais puto que o outro. O mais curioso de tudo era o fato de serem quase todos gays.
- QUE PORRA! – disse Max – TÁ CHEIO DE BICHA AQUI! ATÉ VOCÊ LAERTE… PORQUE?
- Porque o Renan e o Vini são meus amigos e não vamos permitir que um cretino mexa com eles!
- É isso aí! – disse Alex dando um chute nas bolas do irmão e se aproximando de mim.
Vinícius olhava para mim com um sorriso satisfeito enquanto eu continuava sem entender como aquele monte de gente tinha aparecido.
- Acabou pra você maninho! – agora, Sheila aparecia acompanhada de Gustavo e Amanda – Papai tá sendo preso nesse exato momento e nós vamos acertar nossas contas com você agora!
- Não, por favor, eu não fiz nada! – dizia Max quase se borrando de medo.
- E aí amigo, vamos sair daqui? – disse Gustavo me dando um abraço e beijando meu rosto. Fiquei surpreso com o gesto dele.
- Vamos, mas… como foi que vocês armaram isso…
- Essa eu respondo. – disse Alex todo sorridente enquanto explicava sobre a invasão de Gustavo e Amanda na última madrugada – … e então, hoje de manhã invadi o escritório do papai e fiz uma cópia das filmagens principais da delegacia antes que ele apagasse, depois a Sheila levou as filmagens para a imprensa. Uma hora dessas, todos os pais envolvidos na morte do seu devem estar sendo presos. Toma, aqui está uma cópia do vídeo, caso você queira ver. – disse estendendo um pen drive para mim.
- Eu não quero lembrar dele dessa forma. – falei determinado a não ver aquelas imagens – Eu só tenho mais uma dúvida. Como vocês sabiam que Max estaria aqui?
- Eu escutei ele falando sobre isso com a Ellis por acaso – disse Vanessa – Daí eu contei pro Laerte, que contou pro Gustavo e então bolamos esse plano pra mostrar que a intolerância e a maldade nunca vão vencer, pois sempre seremos mais fortes!
- Obrigado. – falei recebendo um abraço coletivo e me sentindo a pessoa mais amada do mundo.
- O que faremos com eles? Acho que eles já apanharam o bastante. – disse Gustavo se referindo a Max e seus amigos que estavam quase inconscientes.
- Eu não me importaria de vê-los pedir desculpas de vocês de joelhos. – sugeriu Amanda com um olhar maldoso – A propósito, a Ellis e a Bruna também receberam o que mereciam.
- O que vocês fizeram com elas?
- Isso você nunca vai descobrir de mim Renan. – disse Amanda com um sorriso maléfico.
- Por favor. Eu imploro. – disse Max se rastejando – Eu não vou mais agredir ninguém, eu juro, só não nos batam mais.
- Beijem na boca um do outro e deixaremos vocês irem. – sugeriu Amanda – Mas beijem com vontade seus intolerantes de merda!
Max olhou para os amigos e arregalou os olhos quando viu que eles já estavam se beijando. Não demorou para que ele também beijasse os amigos. Claro que Amanda e os outros filmaram tudo pra usar como chantagem.
- Eu deveria obrigar vocês a chuparem o pau um do outro! Mas acho que dessa vez vocês aprenderam que se mexer com um, mexe com todos! VÃO EMBORA DAQUI! – berrou Amanda para eles, que saíram cambaleando.
Claro que eles não se tornariam pessoas melhores depois daquilo, mas pelo menos pensariam duas vezes antes de querer fazer qualquer maldade.
∞
Apesar de todas as dores, apesar de todas as perdas, decidimos celebrar a vida e o amor recebido principalmente das pessoas que haviam partido.
Nossos amigos aguardavam na praia. Era uma tarde de domingo. Meu último domingo na cidade.
- E aí, está pronto? – perguntou Vinícius que usava só uma camiseta regata e short florido.
- Sim, só que… - mostrei para ele alguns papeis em minhas mãos – Eu tava vendo os documentos da pasta que a mamãe me deu naquele dia.
- E o que diz aí?
- Meu pai sofria de Transtorno Dissociativo de Identidade. Ela guardava esses exames há muito tempo e só me mostrou porque pensou que eu fosse ficar do lado dela.
- Mas ele não sabia disso?
- Mesmo mamãe tendo apresentado esses exames como prova a favor dele, parece que ele não lembrava. Ela nunca contou sobre isso porque achava tudo isso uma grande besteira. – respirei fundo – Ele tinha fases maníacas, fases depressivas… ele era uma mistura de sentimentos confusos, como um colecionador de máscaras. Os relatórios afirmam que ele só conseguia manter a sanidade quando estava perto do filho, nesse caso, eu. – suspirei lembrando do quanto eu me arrependia pelas brigas que causei.
- Então por isso ele foi inocentado. – disse Vinícius – Ele foi a maior vítima de toda essa história!
- E o que pretende fazer agora? O que você decidir, estarei do seu lado.
- Não sei, mas isso me deixa com um pouco de medo.
- Porque?
- Meu temperamento às vezes é como o do meu pai. Tenho medo de ter desenvolvido o mesmo problema que o dele e não saber disso.
Vinícius sorriu com mansidão.
- Eu vou me encarregar de manter sua sanidade, não se preocupe. – disse me dando um beijo – Vamos! Todo mundo está nos esperando.
Saímos da república, onde eu estava hospedado temporariamente e então fomos para a praia curtir um dos melhores finais de tarde que alguém poderia ter
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