História Pequenos Passos - Capítulo Único

Baekhyun já tinha perdido as contas de quantas vezes havia errado aquela sequência simples que montara recentemente para auxiliar sua turma de alunos iniciantes. Não era muito difícil; apenas alguns movimentos básicos da dança do ventre em uma música de aproximadamente um minuto.

Respirou fundo, sentindo-se extremamente frustrado por errar algo que era tão fácil. Olhou-se no espelho da grande sala de ensaios da academia onde trabalhava, avaliando a si mesmo com uma expressão de desprezo.

— Patético — murmurou, com raiva. — Você é patético, Baekhyun.

Suspirou, decidindo que proferir xingamentos a si mesmo não adiantaria nada. Andou até o canto da sala, desligando a música que tocava em seu celular (e que naquele momento o estava irritando muito, apesar de ter escolhido uma de suas músicas árabes preferidas).

Sua feição de desgosto foi ainda maior quando notou que não havia nenhuma mensagem em seu celular. Revirou os olhos e deitou no chão, sentindo uma súbita vontade de arremessar o aparelho na parede.

Riu sem humor algum, a sensação de amargor ficando mais intensa em si. Sinceramente, não sabia porque ainda esperava algo daquela relação.

A grande questão era que estava saindo casualmente com Chanyeol, um carinha bonito que havia conhecido por intermédio de um amigo que tinham em comum. Os dois sentiram uma atração quase que instantânea um pelo outro, e não demorou muito para que começassem a se encontrar diversas vezes por semana.

No entanto, as coisas não eram tão simples assim. Enquanto Baekhyun era focado e responsável, Chanyeol era o oposto. Isso fazia a relação dos dois ser mais conturbada do que deveria, já que sempre acabavam entrando em conflito por discordarem de algo. E, para piorar, eram incrivelmente teimosos e quase nunca passavam por cima do próprio orgulho.

Enfim, Park Chanyeol era praticamente a síntese de várias coisas que Baekhyun odiava.

Daquela vez, tiveram mais uma discussão boba (e desnecessária, vale dizer) no dia anterior, e Chanyeol não estava respondendo suas mensagens desde então. E Baekhyun odiava ser ignorado, ainda mais porque dessa vez estava tentando dar o braço a torcer e resolver aquela situação desagradável entre ele e o Park.

Suspirando, decidiu que precisava ir pra casa e descansar, já que aparentemente não conseguiria mais ensaiar com a mente presa na relação difícil em que havia se metido.

— Baek? Pensei que já tinha ido embora.

Levantou o rosto do chão, apenas para ver Luhan entrando na sala de ensaio. Ele dava aulas de dança do ventre com Baekhyun, e coincidentemente era o tal amigo em comum que tinha com Chanyeol.

— Tentei ensaiar aquela sequência que montamos para a turma de iniciantes e adivinha só? — riu sem humor algum, a expressão de desgosto ainda presente em seu rosto. — Consegui a proeza de errar os movimentos várias vezes.

Luhan ergueu uma sobrancelha e sentou-se em frente ao Byun, balançando a cabeça em sinal de entendimento.

— Ou você tá tão cansado que já não consegue se concentrar em mais nada, ou então tem alguém ocupando todos os seus pensamentos — opinou, observando Baek revirar os olhos e abrir um sorrisinho um tanto culpado. — Brigou com o Chanyeol, não é?

— Como sabe?

— Foi ele quem me trouxe aqui agora — revelou, levantando do chão e começando a andar pela sala. — Ele não parava de resmungar dentro do carro. E os meninos me disseram que ele estava especialmente chato no ensaio de hoje.

Ah, sim. Chanyeol era o vocalista da Vênus, uma banda que havia montado com alguns amigos há um tempo.

— A culpa disso tudo é sua! — reclamou, levantando-se e indo até o centro da sala. Luhan cruzou os braços e revirou os olhos com a acusação de seu amigo. — Se não tivesse me apresentado ele, nada disso teria acontecido.

— Ah, nem vem com essa. Lembro muito bem que você ficava todo interessado quando o Chan me dava carona, vivia perguntando sobre ele. Vocês dois me encheram a paciência pra eu dar um jeito de ficarem sozinhos, pensa que eu esqueci?

Luhan e Baekhyun moravam no mesmo prédio, mas em apartamentos diferentes. E, bem, desde a primeira vez em que viu Chanyeol levar seu amigo até lá, Baek ficou encantado, porque ele era simplesmente muito bonito. Eventualmente, as caronas oferecidas ao Lu se estenderam para o Byun também, já que os dois quase não se desgrudavam, e foi aí que Chan também desenvolveu um leve interesse pelo dançarino.

Aqueles dois ficaram apenas numa troca de olhares com claras segundas intenções durante um tempo, até que em uma noite Luhan conseguiu convencer Baek a ir num barzinho no qual a banda de Chanyeol tocaria. Ele foi, e desde então eles estavam naquela enrolação toda, sempre afirmando que era apenas algo casual o que tinham, mas agindo como namorados o tempo todo.

— Não precisa jogar isso na minha cara assim — murmurou Byun, contrariado por não poder dizer que seu amigo estava mentindo ou exagerando. — Enfim, esquece isso, depois me resolvo com ele. O que veio fazer aqui? Não temos mais aulas hoje.

— Eu sei. Vim aqui pegar alguns documentos e ver se tem alguma novidade sobre aquele evento de artes que queríamos participar. A dona da academia tem contato com os organizadores, então acho que talvez ela já saiba de algo.

Baekhyun arregalou os olhos, surpreso. Tinha se esquecido completamente daquele evento, provavelmente por causa de todos os problemas que estava tendo com o seu quase-relacionamento.

— Mas esse espetáculo geralmente é só no fim do ano, não é? Ainda estamos em junho.

— Sim, mas eu quero me adiantar e já começar a organizar o que iremos apresentar. Sabe que dependendo da organização do evento eles implicam com algumas coisinhas e tal, e essa apresentação precisa ser perfeita.

Baek sorriu. Tanto Luhan quanto ele próprio eram extremamente perfeccionistas e gostavam de ir montando as coreografias com calma, para que não houvesse nenhum defeito. Talvez por isso os dois se davam tão bem.

— É, você tá certo. Espero que a senhora Marie colabore com seus planos.

Senhora Marie era a dona da academia em que trabalhavam, uma mulher já de idade que tinha sido uma excelente bailarina no passado. Era muito rígida e fechada na maioria das vezes, e parecia sempre pronta para brigar com alguém ou colocar defeito nas aulas dos professores que trabalhavam para si.

— Ah, nem me fale! Mas ela parece gostar de nós dois, então espero que não seja tão difícil.

— Se você diz… — falou com um ar de riso. — Quer que eu te espere para irmos embora juntos?

— Não precisa, acho que vou demorar um pouco aqui. Aliás, Chanyeol está te esperando lá embaixo, pode ir pra casa com ele se quiser — comentou despretensiosamente, o que fez Baek arregalar os olhos.

— O que? Por que não me disse antes? Pensei que ele só tinha trazido você e ido embora.

— É que eu queria fazê-lo esperar um pouco, pra ver se o humor dele melhora — brincou e piscou de maneira cúmplice para seu amigo, fazendo-o rir e balançar a cabeça negativamente.

Na maioria das vezes em que Baekhyun e Chanyeol acabavam se desentendendo, Luhan tinha uma leve tendência de entender mais o lado do Byun (o que deixava Chan extremamente indignado, já que ele e o Lu eram melhores amigos de infância), mesmo que não gostasse de se envolver muito nas discussões daqueles dois.

— Ok, ok. Vou com ele, então. Mais tarde a gente se fala, Lu.

Baekhyun arrumou rapidamente suas coisas dentro da mochila e despediu-se de seu amigo com um abraço, saindo da sala e descendo as escadas logo em seguida.

Sentiu um arrepio passar por seu corpo assim que chegou à calçada e viu Chanyeol com os braços cruzados e encostado no carro, carregando uma expressão meio impaciente no rosto. Baek mordeu o lábio inferior ao analisá-lo discretamente e concluir que, mesmo com aquela carranca no rosto, ele continuava absurdamente lindo. Estava com os cabelos soltos e vestia uma calça jeans preta, combinando com uma camiseta branca e sua inseparável jaqueta de couro por cima, junto de algumas correntes prateadas enfeitando o pescoço. Parecia um astro de rock saído da década de 90 (e às vezes ele agia como se realmente fosse um).

Byun suspirou e tossiu levemente para chamar a atenção dele, aproximando-se lentamente de onde ele estava. Sentia-se um tanto envergonhado, apesar de não ter motivos para tal.

— Porra, finalmente. Pensei que fosse morar aí dentro — reclamou, descruzando os braços e ajeitando a própria postura.

Baekhyun revirou os olhos, sentindo o acanhamento inicial indo embora. Chanyeol conseguia tirá-lo do sério.

— Só estava conversando um pouco com o Lu, nem sabia que você estava me esperando. Quer dizer, saberia se você resolvesse responder minhas mensagens e parar de me ignorar — respondeu como quem não quer nada, as palavras saindo carregadas de amargor.

— Não começa que tu não é nenhum santo, Baekhyun. Não te respondi porque não tava a fim de brigar contigo de novo, beleza?

Baek estremeceu um pouco, incomodado com a aspereza de Chanyeol. Estúpido, pensou.

— Mas eu não queria brigar — falou, a voz saiu bem baixa e ele desviou o olhar. Não gostava de demonstrar fragilidade perto dele, mas era sensível. — Queria resolver as coisas, não gosto de discutir com você.

Park suavizou a expressão ao notar que havia magoado o Byun. Suspirou e estalou a língua, pensando em como contornar aquela situação.

— Tudo bem, tudo bem. Esquece isso, ok? Eu nem lembro mais porque a gente tava brigando.

Puxou-o para um abraço, rodeando a cintura fina com os braços e deixando um beijo na testa dele. Baek apoiou o rosto contra o peitoral de Yeol, apreciando aquele contato mais íntimo.

— Vem, vamos entrar logo. — Chan cortou o contato, abrindo a porta do carro para Baekhyun entrar. Então, deu a volta e foi para o lado do motorista. — Aqui, comprei pra você.

Entregou-lhe uma barra de chocolate e Baek sorriu, animado com a possibilidade de comer doce. Deu um beijo no rosto dele

como agradecimento e abriu a embalagem, começando a comer logo em seguida.

— Quer ir pra sua casa ou pra minha?

— Pra sua. Posso dormir lá hoje? — perguntou, pegando um pedacinho de chocolate e colocando na boca do Park.

— Claro que pode — respondeu, mantendo-se atento nas ruas enquanto dirigia. — Como foram suas aulas hoje, meu anjo?

— As aulas foram boas, hoje decidi dar um pouco mais de teoria. Só fica mais complicado sem o Luhan lá me ajudando, já me acostumei com a nossa dinâmica — explicou, dando mais uma mordida em seu chocolate antes de voltar a falar. — O problema é que não consegui me concentrar quando precisei ensaiar um pouco sozinho. Foi frustrante.

Fez um biquinho assim que terminou de falar e Chanyeol riu, pensando que ele ficava fofo daquele jeito.

— Não sabia que tinha muita teoria na dança do ventre — comentou, sem desviar a atenção do volante.

— Ah, tem bastante. Existem vários ritmos, vertentes, acessórios, modelos de figurinos, a história da dança em si também… Gosto muito de explicar a parte teórica, eu acho incrível.

Chan sorriu. Gostava de ouvir Baekhyun falando sobre dança, porque ele dizia tudo com um brilho no olhar e uma admiração quase que palpável. Era um artista incrível.

— Você é um professor maravilhoso, seus alunos têm sorte — elogiou, escutando-o agradecer baixinho. — Disse que não conseguiu treinar direito lá, não é? Pode ensaiar na minha casa se quiser, sabe que adoro te ver dançando.

Baek arregalou os olhos e deu um tapa não muito forte no braço de Yeol.

— Pervertido — murmurou, cruzando os braços e virando o rosto para a janela. Apesar disso, estava se segurando para não rir.

Chanyeol riu e ergueu uma sobrancelha, com um ar de divertimento.

— Não quis dizer nesse sentido, foi você quem pensou isso.

— Chanyeol! 

[...]

Baekhyun havia passado a noite na casa de Chanyeol, e ele o levou até a academia de manhã, despedindo-se brevemente com a promessa de se encontrarem mais tarde.

Assim que Baek entrou na sala de ensaio, viu que Luhan já estava lá organizando as coisas para a primeira aula que dariam. Estavam bem adiantados; faltava quase uma hora para o início das atividades.

— Chegou cedo hoje. Como você veio? — perguntou Baek, guardando sua bolsa e sentando-se no chão, iniciando seus alongamentos.

— Pedi para um amigo me trazer, já que você monopolizou minha carona — provocou, juntando-se a ele no chão. Baekhyun abriu um sorrisinho culpado, como se pedisse desculpas. — Acredito que vocês se resolveram, certo?

— Sim, agora tá tudo bem entre nós dois. Mas me conta, descobriu alguma coisa sobre o evento? Fiquei curioso.

Luhan animou-se ao ouvir o questionamento, praticamente batendo palmas antes de falar, o que fez Baekhyun supor que ele tinha boas notícias.

— Sim! Vai ser em novembro, mais ou menos no meio do mês, e já consegui adiantar nossas inscrições. A organização do evento só vai aceitar apresentações de solos e duos de dança do ventre, que é a nossa categoria.

— Ah, então não vamos poder fazer uma coreografia em grupo com nossos alunos? — perguntou, parecendo um pouco decepcionado.

— Não, mas podemos conversar com os alunos de nível avançado e ver se eles querem fazer alguma coreografia, já que têm mais preparo que os outros — explicou e seu amigo assentiu, já pensando em quem provavelmente aceitaria o desafio. — Mas a parte boa é que eles liberaram músicas de até cinco minutos para as apresentações, e nós podemos escolher qualquer ritmo e estilo.

Aquilo sim era um ponto positivo, já que muitas vezes o máximo de tempo para as músicas eram três minutos, o que às vezes deixava a apresentação com um ar de incompletude, pois os dançarinos precisavam cortar as canções mais longas.

— Ah, sim. Já decidiu o que vai dançar?

— Eu pensei em algumas coisas, sim, mas preciso ver se você concorda. — Olhou para ele e riu levemente ao perceber como Baekhyun estava concentrado em suas explicações.

— Sinto que nós estamos com as mesmas ideias, mas prossiga — brincou, rindo um pouco.

— Eu quero apresentar um solo e um duo contigo, e pensei que você poderia ter um solo também.

— Estava com essa mesma ideia, nós pensamos juntos — riram e Baek voltou a falar. — Já pensou em que tipo de coreografia vamos apresentar juntos?

— Tenho algumas em mente, mas acho que podemos ver isso com calma mais tarde.

Acabaram mudando de assunto, mas era nítido o quanto estavam felizes. Aquele evento era extremamente famoso, e exigia uma boa experiência com espetáculos e apresentações. Não se resumia apenas em danças: havia também apresentações de cantores e bandas, englobando a arte da dança e da música.

Era muito importante porque projetava muitos artistas desconhecidos e abria mais oportunidades para eles, já que muitos empresários do ramo artístico e donos de escolas de artes renomadas iam dar uma olhada nos diversos talentos presentes ali.

Baekhyun e Luhan, particularmente, vinham se preparando para esse espetáculo há alguns anos, e agora finalmente sentiam que estavam prontos para encarar aquilo. Era uma ótima maneira de crescer profissionalmente, e esperavam muito que tudo desse certo.

Enquanto Baek estava lá conversando e se preparando para o início das aulas daquele dia, Chanyeol se encontrava em mais um ensaio da Vênus, que ocorria quase diariamente na casa de Jongdae, o baterista da banda.

No entanto, os rapazes ainda não haviam começado a tocar nada, e estavam apenas jogando conversa fora, espalhados pela garagem de Dae.

— Vocês ficaram sabendo daquele evento de artes que vai ter no final do ano? — perguntou Chan, deitado em um sofá velho que tinha ali.

— Acho que Luhan comentou sobre isso da última vez que veio assistir nosso ensaio. Por quê?  — falou Sehun, o baixista da banda.

— Sim, ele com certeza falou. Não é esse evento que o Lu e o namoradinho do Chanyeol querem participar há anos? — provocou Yixing, que era o guitarrista da Vênus.

— Baekhyun não é meu namorado — murmurou em resposta, um tanto contrariado.

— Aham, nós acreditamos nisso — respondeu Jongdae, revirando os olhos. — Mas enfim, o que tem esse evento?

— Baek estava me explicando um pouco sobre como funciona ontem, e aí eu descobri que as apresentações não são só de dança. Ou seja, cantores e bandas também podem participar.

— E você tá sugerindo que a gente se inscreva? — deduziu Yixing.

— Exatamente.

— Não sei não, Chan. Esse evento parece ser muito grande, não estamos acostumados — disse Jongdae, apoiando uma das mãos no queixo.

Apesar de já terem alguns anos juntos, os garotos ainda tocavam apenas em bares e boates, e participaram poucas vezes de eventos e apresentações maiores.

— Olha, eu sinceramente acho que a Vênus tem condições de fazer essa apresentação. A gente ensaia praticamente todos os dias desde que o Sehun entrou de vez na banda, e isso já tem uns quatro meses — argumentou Yeol, deixando seus amigos pensativos.

A Vênus havia sido formada há mais ou menos três anos, por Chanyeol, Yixing e Jongdae. Eles demoraram para encontrar um baixista, e sempre estavam com esse "cargo" vago na banda e procurando alguém para ocupá-lo, até que conheceram Sehun numa festa em que tocaram. Fizeram alguns testes com ele e deu certo, e aí a Vênus finalmente começou a ter uma frequência maior de ensaios e os rapazes passaram a levar aquilo mais a sério.

— Concordo com o Chan — começou Sehun, atraindo a atenção dos outros. — Vocês já eram bons antes de eu entrar, e agora todos estamos mais focados. E, mesmo assim, o evento é só no final do ano. Temos bastante tempo para nos prepararmos até lá. Acho que pode ser uma boa oportunidade para nós.

— Ok, me convenceu. Eu topo — comunicou Xing, rindo ao ouvir Chan comemorar.

Os três olharam para Jongdae, que apenas suspirou e revirou os olhos.

— Minha opinião ainda é relevante? Eu aceito, vocês não iam nem se importar se eu dissesse não.

Eles gritaram, animados com a ideia de tocar em um festival daquela grandiosidade.

— Mas para isso nós precisamos ensaiar ainda mais, então podem levantar daí e vamos ao trabalho.

Então, os quatro foram aos seus devidos lugares e começaram a tocar.

Estavam todos empolgados com aquilo, e se esforçariam para que tudo saísse bem.

[...]

Já haviam passado duas semanas desde que Luhan e Baekhyun tinham conversado a respeito das coreografias que apresentariam no festival. Tinham conseguido decidir como seria o duo dos dois e o solo do Lu. Porém, o problema era que Baekhyun ainda estava indeciso sobre seu próprio solo, e isso vinha deixando-o extremamente irritado.

Com o intuito de descansar e se distrair um pouco, passaria a noite na casa de Chanyeol. Era um sábado e fazia um pouco de frio, o que era perfeito para que ficassem juntinhos embaixo das cobertas. Realmente pareciam um casal, mesmo que insistissem que não tinham nada sério.

Estavam os dois deitados no sofá grande da sala do Park, com Baekhyun deitado sobre o peito dele enquanto recebia carinho nos cabelos. E reclamava também, para variar.

— E é isso, não sei mais o que fazer. Deveria ter decidido faz tempo, eu e o Lu já começamos a montar nosso duo e ele tá trabalhando no solo dele desde a semana passada. — Soltou o ar com força, esfregando os olhos. Sentia-se no ápice da frustração. — Que ódio, não era pra ser tão complicado.

— Você e o Luhan vão dançar o que? — perguntou Chanyeol, pensando em como poderia ajudá-lo.

— Vai ser uma coreografia com véu, e tá ficando linda. — Animou-se, lembrando dos pequenos detalhes que ele e Luhan combinaram. — Já estamos pensando no figurino e tudo mais, acho que vai ficar muito boa.

— Ah, com certeza vai ficar boa, vocês dois são ótimos — elogiou, deixando um beijo na testa dele. — Por que não assiste vídeos de suas apresentações antigas pra tentar ter inspiração? Ou então pensa em alguma coisa que você sempre quis dançar mas ainda não teve oportunidade, não sei.

Chanyeol não entendia nada de dança. Tudo o que sabia eram coisas que Baekhyun  (e às vezes Luhan) o explicava com toda a paciência que tinha, e sua falta de conhecimento ficava mais óbvia cada vez que tentava ajudar mas não fazia ideia de como funcionava aquele mundo.

— É, pode ser — concordou, desanimado.

No fim, realmente assistiram algumas coreografias antigas do Byun (e ele conseguiu ver defeitos em todas elas, mesmo que Chan não parasse de repetir que estavam todas perfeitas). Entretanto, aquilo funcionou mais como um passatempo para os dois do que como fonte de inspiração para Baekhyun.

— Você é incrível.

Park sempre ficava deslumbrado quando via Baek dançando, a destreza com a qual ele executava aqueles movimentos que pareciam ser tão complicados era simplesmente fascinante. Para ele, Baekhyun estava muito próximo da perfeição.

— Obrigado — agradeceu, sentindo as bochechas um pouco quentes. — Mas acho que não adiantou muito, não consegui pensar em nada.

Chanyeol apenas assentiu, ficando calado por um tempo. De repente, uma ideia lhe ocorreu, fazendo-lhe abrir um sorriso.

— Baek, alguma vez você já dançou com espada?

Baekhyun arregalou os olhos e levantou o corpo, ficando sentado no sofá e de frente para Chanyeol.

— Eu não acredito. Chanyeol, você é um gênio! — comemorou, jogando-se nos braços do Park e o abraçando com força. — Como não pensei nisso antes?

Chanyeol riu pela animação do garoto, retribuindo o abraço e beijando-o rapidamente.

— Que bom que conseguiu decidir, amor, fico feliz em te ajudar. Agora, será que dá pra você parar de se preocupar com essas coisas e me dar um pouco de atenção?

Baekhyun riu e concordou. Eles voltaram a deitar, ficando abraçados novamente, decididos a aproveitar a companhia um do outro naquele resto de noite.

Ficaram ali conversando e acabaram adormecendo no sofá mesmo, como se fossem um casal de namorados.

Talvez eles acabassem sendo, algum dia. 

[...]

Já era outubro, e faltava pouco mais de um mês para o tão esperado evento. Todos estavam com os nervos à flor da pele, tanto os rapazes da Vênus quanto Baekhyun e Luhan.

Apesar de precisarem focar em seus respectivos ensaios, Chanyeol e Baekhyun vinham se encontrando cada vez mais, e às vezes Baek passava uma semana inteirinha na casa do Park. Até as brigas entre eles tinham diminuído um pouco, e seus amigos acreditavam que eles acabariam assumindo um namoro logo (Yixing e Jongdae tinham até mesmo feito uma aposta sobre o assunto, sem que Chanyeol soubesse, é claro).

As aulas de Baekhyun e Luhan tinham chegado ao fim naquele dia, e ambos ficariam um pouco mais na academia para que pudessem ensaiar.

— Ah, Baek, um aluno novo vai vir nos conhecer daqui a pouco, esqueci de te avisar de manhã. Ele preferiu vir após as aulas para conversar só com nós dois, parece que é um pouco tímido.

— Mas nós vamos dar uma aula pra ele ou só explicar como funciona tudo?

Estavam organizando suas coisas para que pudessem ensaiar. Já tinham passado o duo dos dois cinco vezes, agora ensaiariam os solos.

— Então, a senhora Marie pediu que disséssemos como funciona nossas aulas e só, mas pensei que poderíamos falar um pouco da teoria para ele, o que acha?

— Por mim tudo bem. Agora vamos ensaiar, antes que o garoto chegue.

Conseguiram passar suas coreografias pelo menos três vezes. O aluno novo chegou quando deram uma pequena pausa, e assim puderam dar atenção a ele.

Conversando com o garoto, descobriram que o nome dele era Jongin e que, por ser muito tímido, nunca teve coragem de começar a fazer aulas de dança, apesar de gostar muito. Quem o encorajou a finalmente entrar para as aulas foi seu noivo, Kyungsoo, que era um instrutor de luta e conhecia a academia da senhora Marie há um tempo.

— Eu tinha vergonha de começar as aulas, porque não sabia se era comum ter garotos nas turmas. Aí quando meu noivo me contou sobre vocês eu fiquei com mais coragem, sabe?

Baekhyun e Luhan se entreolharam e sorriram. De certa forma, os dois se identificaram um pouco com o que Jongin falou; não havia sido fácil para eles também, mas felizmente conseguiram se dedicar a fazer o que realmente gostavam, e se sentiam muito gratos quando conseguiam ajudar algum aluno a se encontrar também.

Não se tratava apenas de dança. Era a vida deles, a maior motivação que tinham.

— Sim, nós entendemos perfeitamente. Realmente não é tão comum ver garotos fazendo as aulas, mas fico feliz que você tenha vindo aqui para começar — falou Baekhyun, mantendo uma expressão amigável no rosto.

Falaram mais algumas coisas e então os dois professores começaram a explicar um pouco sobre a história da dança do ventre e suas regras. Os dois adoravam falar sobre a parte teórica, e ficava claro o quanto amavam aquilo enquanto contavam tudo para Jongin com animação e paixão. Eram profissionais incríveis, realmente.

Ficaram naquilo por quase uma hora, até que se deram conta de que haviam se empolgado tanto que nem notaram o tempo passando.

— Será que ainda dá tempo de mostrarmos alguns movimentos básicos pra ele, Lu? — Baek pediu, praticamente fazendo biquinho para o amigo, que riu e assentiu. Tinham se animado mesmo com aquela aula experimental.

— Acho que dá sim. Pode ficar mais alguns minutos, Jongin?

— Posso sim, sem problemas.

Baek bateu palmas animadamente em comemoração e foi até o celular, colocando uma música não muito alta. Era uma pequena coreografia que ele e Luhan já tinham pronta, que envolvia movimentos básicos das mãos, tronco e quadris, apenas para que conseguissem mostrar a variedade de coisas que podiam fazer.

— Uau! — Jongin bateu palmas quando eles terminaram, completamente encantado. — Vocês são muito bons, nossa. Será que eu consigo chegar nesse nível?

— Claro que sim! Tudo é questão de treino, querido — falou Luhan, sorrindo de forma gentil para ele. Adorava ver a empolgação dos alunos novos.

— É uma dança tão bonita… Será que podem tentar me ensinar alguma coisa agora? — pediu, com os olhos quase brilhando em ansiedade.

— Sim! Olha, tem esse aqui. — Baek fez um movimento com o quadril, tendo os  olhos atentos do garoto sobre si. — É como se você estivesse tentando fazer o símbolo do infinito com seu quadril, tá vendo?

Demonstrou mais algumas vezes bem devagar, para que ele captasse direito como se fazia. Jongin tentou imitar e seguir as instruções dos dançarinos, mas o movimento saía meio desajeitado.

— É difícil! — choramingou, fazendo Baekhyun e Luhan rirem um pouco.

— Um pouco, mas como eu já te falei: tudo é questão de treino.

— Ah, já sei! — Baekhyun disse e ficou de costas para Jongin, pegando as mãos dele e colocando uma em cada lado de seu quadril. Manteve-se um pouco distante do garoto, para que não o deixasse constrangido. — Assim você consegue sentir melhor como funciona e o que seu corpo precisa fazer.

— Mas não é desconfortável para você? — questionou, com um pouco de vergonha.

— Não, não se preocupe. Esse tipo de coisa é normal na dança, facilita um pouco o processo de percepção e tudo mais. Não precisa se sentir envergonhado. — Byun explicou, e logo que o garoto assentiu ele voltou a realizar o passo, bem lentamente.

Aos poucos, Jongin ia tentando acompanhá-lo, e parecia estar conseguindo. De repente, a porta da sala abriu e os três olharam na direção do som, encontrando um certo rapaz metido a roqueiro com o cenho franzido e os braços cruzados.

Jongin sentiu as bochechas esquentando e rapidamente tirou as mãos do quadril de Baekhyun, totalmente envergonhado, e foi rapidamente para trás de Luhan, num ato impensado. Lu, por sua vez, bateu a mão na própria testa e murmurou um "droga", já prevendo que não sairia algo bom daquela situação.

Baekhyun sorriu nervosamente, sem saber como proceder. Sabia muito bem que não estavam fazendo nada de errado, e torcia para que Chanyeol entendesse.

Tinha esquecido completamente que havia pedido para o Park ir buscá-lo, e ele provavelmente só tinha subido até a sala por conta da demora de Baekhyun.

— O-oi, Chan. Eu já tô saindo, tá bom? Pode me esperar lá embaixo — falou, rindo um pouco por puro nervosismo.

— O que é isso, Baekhyun? — perguntou, de forma fria, o que fez Luhan revirar os olhos do outro lado da sala. Ele e Jongin (que já começava a entender o que acontecia ali) estavam bem quietinhos, apenas assistindo ao desenrolar daquela cena.

— Nós estávamos ensaiando um pouco, e começamos a ensinar algumas coisas para o nosso aluno novo.

— Não sabia que ensaiavam assim — comentou, sarcástico, e Baekhyun suspirou, começando a se irritar com o comportamento infantil do Park.

— Não é nada demais, Chanyeol, para de drama.

Dessa vez foi Chanyeol quem revirou os olhos, também ficando irritado.

— Ah, claro que não é nada demais, Baekhyun. Eu só fiquei te esperando naquele carro por mais de meia hora, mas claro que não é nada demais. — Foi irônico, suspirando pesadamente em seguida. — Quer saber? Esquece. Pode ficar aí, eu tô indo.

E saiu, batendo a porta com força em seguida. Os três ali dentro ficaram sem saber o que dizer; o Byun estava completamente envergonhado por terem se desentendido em seu local de trabalho.

— Me desculpa, Baekhyun, acho que foi culpa minha — pediu Jongin, encabulado.

— Claro que não, não se sinta culpado por isso.

— É, o Chanyeol é uma pessoa complicada. Não foi culpa sua, não pense muito nisso — reforçou Luhan.

Para se redimir (mesmo que Baek e Lu insistissem que ele não tinha culpa do que havia ocorrido), Jongin ofereceu uma carona ao dois, e eles aceitaram prontamente.

Quem os levou foi Kyungsoo, o noivo de Jongin, que era uma pessoa bem legal, apesar de ser um tanto fechado.

No banco de trás do carro, Baek só conseguia pensar no que tinha acontecido na academia. Não conseguia acreditar que Yeol tinha se chateado por algo tão bobo, francamente…

— Você tá bem, Baek? — Lu perguntou, em voz baixa, inclinando-se um pouco na direção do Byun.

— Pensando no que acabou de acontecer. —Suspirou.

— Olha, o Chanyeol consegue ser bem estúpido quando quer — começou, seu comentário fazendo Baek rir fracamente. — Mas ele gosta bastante de ti, qualquer um percebe isso. Então fica tranquilo, ok? Tudo vai se resolver.

Baekhyun assentiu e sorriu pequeno. Era muito bom saber que tinha alguém que o apoiava tanto.

Ele só esperava que Luhan estivesse certo.

[...]

Infelizmente, talvez Luhan tenha sido otimista demais, porque nada estava dando certo para Baekhyun.

Chanyeol não falava com ele há uma semana, não atendia suas ligações nem respondia suas mensagens. Baek não sabia se ficava triste com a situação ou se ficava irritado com as atitudes extremamente infantis do Park.

Qual é, tudo isso por causa de um ciúme completamente infundado?

E, bom, como já era de se esperar, aquilo estava tirando toda a paz que Baekhyun tinha. Não conseguia prestar atenção nas aulas (até alguns alunos notaram que ele andava mais disperso) e, consequentemente, não estava ensaiando direito. E isso era preocupante, visto que o dia do evento vinha se aproximando.

Então, sem saber o que fazer, pediu ajuda ao Lu, já que ele conhecia Yeol há muito mais tempo do que o Byun e sabia melhor como lidar com ele.

Como ele era um ótimo amigo, lá estava Luhan, indo até a casa de Jongdae para poder conversar com Park, já que ele estava lá para ensaiar com a banda.

Entrou na garagem sem avisar, encontrando os quatro garotos espalhados por lá, rindo e conversando alto. Revirou os olhos e ficou parado, pensando se chamava a atenção deles ou se esperava que notassem que estava ali.

Por fim, foi até eles, parando em frente aos quatro e cruzando os braços. Queria resolver aquilo logo.

— Bonito, hein? — falou, assustando os garotos. Chanyeol arregalou os olhos assim que o viu, provavelmente já sabendo o que o aguardava.

— Lu, por que não me avisou que viria assistir nosso ensaio hoje? — perguntou Dae.

— Porque eu não vim pra isso. — Deu de ombros. — E, aliás, vocês nem estão ensaiando.

— Fizemos uma pausa — disse Sehun.

Mentira, já fazia um bom tempo que estavam ali apenas conversando.

— Veio por que então? — questionou Yixing, confuso.

— Pra conversar com esse aí. — Indicou o Park com a cabeça, vendo-o desviar o olhar.

— Comigo?

— Sim, com você  — bufou. — Não tem vergonha de ficar aqui, na maior paz, enquanto o Baek não consegue se concentrar em nada por sua causa? — perguntou, puxando uma das orelhas dele com força moderada. Os outros rapazes começaram a rir, apesar de não saberem o que estava acontecendo ali.

— Ai! Isso dói, cacete — xingou, irritado, fazendo Luhan erguer uma sobrancelha e puxar sua orelha de novo. — Porra, dá pra parar?

— Quando você deixar de ser infantil, quem sabe.

Jongdae, Sehun e Yixing se entreolharam, sem saber se interferiam ou apenas acompanhavam a discussão. De qualquer forma, era um ótimo passatempo para eles.

— Por que você só vê o lado do Baekhyun nas nossas brigas?

— Porque eu estava lá e vi muito bem o que você fez. E nem tente se defender, sabe que tá errado — falou, quando viu que ele o interromperia. Chanyeol bufou, mesmo que soubesse que Luhan estava certo, mas a ideia de admitir isso não lhe agradava nenhum pouco.

— Gente, sem querer interromper nada, mas assim… O que tá acontecendo? — disse Jongdae, alternando o olhar entre os dois.

— O que aconteceu, Dae, é que o amigo de vocês ficou com ciúme de um aluno meu e do Baek, e não tá falando com ele desde a semana passada por causa disso.

— Em minha defesa, eles estavam muito próximos quando eu cheguei lá, ok?

— Ah, pelo amor, Chanyeol! Eu também fico muito próximo dele todo dia, isso significa alguma coisa? — exasperou-se, gesticulando exageradamente e com os olhos arregalados.

 — Com você é diferente — murmurou, contrariado.

À essa altura, os três já tinham desistido de se envolver naquilo e apenas acompanhavam a pequena briga atentamente, comentando entre si.

— E outra coisa, o garoto é comprometido. Noivo, para ser mais exato — debochou, vendo Yeol arregalar os olhos em surpresa. — Aquela era a primeira aula dele, e ficou se sentindo culpado depois que você deu seu ataque de ciúme lá. E você nem tem nada sério com o Baek pra ficar desse jeito.

— Ih, errou feio, Park — brincou Sehun, arrancando gargalhadas dos outros dois amigos e um olhar feio por parte de Chanyeol.

— Tá bom, talvez eu tenha exagerado um pouco…

— Um pouco não, muito. Você não ofendeu só o Baek quando disse que "não sabia que ensaiavam assim", mas a mim também — imitou a voz do Park, ouvindo as risadas baixas que os outros três deram. Aquilo estava sendo bem divertido para eles, se fossem sinceros. — É o nosso trabalho, Chan. Cada professor tem seu método para demonstrar os passos, e aquele é o nosso. Eu já reclamei várias vezes como é ruim quando ficam sexualizando a dança, e não esperava isso logo de você.

Chanyeol suspirou. Se sentia um garoto levando uma bronca de um adulto, e estava começando a ficar envergonhado.

— Me desculpa, Lu. Eu falei besteira na hora da raiva, não pensei direito. É que, sei lá, ver os dois daquele jeito me incomodou pra caralho, mesmo sabendo que não sou nada do Baekhyun…

— Não precisa se explicar pra mim, Chan, isso é algo de vocês dois, eu só tô dando uma força — sorriu, ficando aliviado de ver Yeol finalmente admitindo seu erro. — Aceito suas desculpas, mas sabe quem realmente tá precisando delas? Baekhyun.

— Ah, Luhan! — reclamou.

— "Ah" o que? Ele tá mal, Chan. Não tá conseguindo nem ensaiar direito.

— Sério? Não tá exagerando?

— Claro que não.  O festival já tá logo aí e nós dois não ensaiamos há uma semana por sua culpa. Então, eu sugiro que você fale com ele logo, por que se eu ver o Baekhyun triste por sua causa de novo, eu juro que te dou uns tapas, entendeu?

— Tá bom, tá bom! — Rendeu-se, revirando os olhos de forma dramática. — Eu vou pedir desculpas pra ele, ok?

— Cara, incrível como o Luhan consegue colocar o Chanyeol na linha. Ele fica parecendo uma criança — murmurou Yixing para Sehun e Jongdae, que riram da observação e concordaram.

— Obrigado, Chan — sorriu, indo abraçá-lo e rindo da careta que ele fez. — Eu faço isso pelo bem de vocês dois, não reclame.

— Tô sabendo — ironizou, sentindo Luhan abraçá-lo mais forte, fazendo seus amigos rirem dos dois. No fim, até o próprio Chanyeol riu um pouco da situação.

Apesar das implicâncias, a amizade daqueles dois era incrivelmente bonita.

— Agora que as duas madames já se resolveram, será que podemos ensaiar? — provocou Yixing, recebendo um dedo do meio por parte de Yeol.

— É, como o Lu fez questão de lembrar, o festival tá logo aí e precisamos ensaiar também — reforçou Dae.

Chanyeol afastou-se de Luhan e então os garotos da Vênus foram até seus instrumentos, começando a se posicionar.

— Vai assistir? — perguntou Sehun, já com seu baixo, olhando para Luhan.

— Vou sim, não vim aqui à toa — respondeu, sentando-se num dos sofás que havia ali. — Então se esforcem, vou julgar vocês hoje — brincou, arrancando risadas deles.

— Não precisamos de esforço, Lu, somos ótimos naturalmente — gabou-se Jongdae, fazendo Luhan levantar uma sobrancelha.

— Vocês são metidos, isso sim.

Após mais algumas provocações, a Vênus enfim começou a tocar e Luhan sorriu, aproveitando o momento. Adorava eles, apesar de tudo. Eram quase como se fossem uma família, de um jeito um pouco estranho.

Bem, a parte de Luhan já estava feita, agora era só esperar que Chanyeol fizesse a sua.

[...]

Era madrugada, em torno das três da manhã, quando Baekhyun ouviu seu celular apitar. Fazia algumas horas que apenas se revirava na cama, sem conseguir dormir.

Ficou surpreso quando viu que era uma mensagem de Chanyeol, arqueando uma sobrancelha.

Chan: acordado ainda?

Baek: sim

Não sabia se daria muita confiança a ele, ainda estava magoado.

Chan: tô aqui na frente do seu prédio

pode descer?

queria conversar com você

Suspirou, mais surpreso ainda. Chanyeol conseguia ser bem imprevisível quando queria.

Demorou uns cinco minutos para responder, analisando se deveria ir ou não.

Chan: bae?

Baek: tô aqui

já vou descer

espera um pouco

Levantou da cama rapidamente, estremecendo um pouco por causa do frio. Calçou seus sapatos e saiu de casa, um pouco ansioso para saber o que o aguardava.

Assim que chegou, viu o carro de Chanyeol estacionado lá. Foi em direção a ele, dando batidinhas na janela, que logo foi abaixada.

— Entra aí.

Baekhyun franziu a testa mas obedeceu, acomodando-se no banco do passageiro, passando os próprios braços pelo corpo para se aquecer. Deveria ter pego um casaco, pensou.

— Pensei que quisesse subir. Vai me levar pra sua casa?

— Na verdade não. — Olhou para ele, levantando uma sobrancelha. — Não tá sentindo frio?

— Um pouco.

Chanyeol assentiu, esticando-se para pegar algo no banco de trás do carro.

— Aqui, pega. Trouxe pra você. — Entregou-lhe uma manta um pouco fina, mas que cumpriria bem a função de esquentá-lo. — Vou ligar o aquecedor também.

— Obrigado — murmurou, enrolando-se na manta. — Aonde vai me levar?

— Não pensei nisso. Eu só queria… sei lá, andar um pouco. Sair dirigindo sem destino específico.

Baekhyun apenas concordou, esfregando os olhos, decidindo apenas aceitar a loucura do Park por enquanto.

Chan finalmente deu partida no carro, e eles ficaram em silêncio. O clima entre os dois não era dos mais agradáveis, e Baek preferiu ficar quieto, esperando até que Chanyeol lhe pedisse desculpas pelo que ocorreu na academia.

Ele dirigia não muito rápido, e aquilo estava começando a deixar Baekhyun sonolento e entediado. Bocejando, abriu o porta-luvas de Chanyeol para se distrair, desistindo de mexer quando não encontrou nada interessante ali dentro. Suspirou, torcendo para que o Park falasse alguma coisa logo.

— Baek? Tá acordado? — Olhou brevemente para ele, voltando a prestar atenção no volante.

— Tô sim, pode falar.

Hesitou um pouco, levemente incomodado por ter que passar por cima de seu próprio orgulho. Sabia que era necessário, no entanto.

— Me desculpa — falou rápido, surpreendendo o Byun. — Me desculpa por ter sido um idiota com você, por ter te tratado mal naquele dia e desrespeitado seu trabalho.

Falou tudo rapidamente, quase sem pausas, e Baek pôde deduzir como deveria ser difícil para Chanyeol admitir aquilo, sendo orgulhoso do jeito que era.

— Eu te desculpo, Chanyeol. — Respirou fundo. Não sentia necessidade de se fazer de difícil, a situação já era complicada por si só. — Mas, por favor, não faça mais isso. Me deixou muito magoado.

Ele parou o carro para que pudessem conversar melhor. Estavam numa rua meio deserta, com várias árvores perto.

Yeol tirou o cinto de segurança e virou o corpo, ficando de lado para poder olhar melhor para o Byun.

— Eu sei, e também me senti mal por te deixar assim. — Pegou uma das mãos dele, olhando fundo nos olhos de Baekhyun. — É que, ah, você não tem ideia de como mexe comigo. Aí quando eu entrei lá pra te mexer e te vi tão perto daquele garoto, não sei, eu só fiquei irritado. Acho que foi porque eu me toquei que nós dois não temos nada sério, e você não me deve satisfações, muito menos fidelidade. E, sei lá, eu não gostei de perceber isso.

Baekhyun estava verdadeiramente surpreso com aquilo, com a forma que Chanyeol estava simplesmente sendo sincero sobre o que sentia. De certa forma, era uma vulnerabilidade que ainda não tinha visto tanto nele, e gostou bastante de ver esse outro lado do Park.

— E conversar com o Lu sobre isso foi como tomar um tapa na cara, mas me ajudou a refletir sobre tudo o que aconteceu. Enfim, eu fui um imbecil contigo, mas queria pelo menos explicar meus motivos.

Byun ficou quietinho por um tempo, digerindo o que tinha acabado de ouvir.

— Obrigado por me dizer tudo isso, significa bastante pra mim — sorriu pequeno, entrelaçando as mãos que já estavam juntas. — Mas, Chan, se te incomoda tanto o fato de não termos nada sério, por que insiste em continuar assim?

Queria aproveitar que estavam tendo uma conversa mais íntima para esclarecer tudo. Era mais do que nítido que aquela incerteza fazia mal para os dois.

Chanyeol suspirou, acariciando a palma do Byun que estava entre as suas, os olhos focados no carinho que fazia ali.

— Eu não sei, Baek. Acho que eu tinha medo de me prender em alguém, sabe? Nunca quis ter um relacionamento sério, nunca gostei de uma pessoa ao ponto de querer algo sério e de sentir ciúme, você foi o primeiro. Eu só… Não tava sabendo como lidar com tudo isso.

— Se você quiser, nós podemos ir com calma. Não precisamos apressar as coisas, não é como se fossemos casar amanhã ou algo assim. Mas eu gosto muito de você, e ficar com esse relacionamento casual não tá dando certo. E de casual já não tem nada, né, convenhamos — falou, ouvindo a risada baixinha dele, que assentiu.

— Eu quero. Acho que deveríamos ter feito isso já faz tempo.

— Também acho, mas nunca é tarde.

Os dois se abraçaram depois disso, rindo um pouco por ter sido um contato meio desajeitado.

— Quer voltar pra casa ou continuar andando por aí?

— Voltar, por favor. Só você mesmo pra me fazer sair de casa no meio da madrugada. Daqui a pouco eu preciso ir trabalhar e não dormi quase nada — reclamou, arrancando uma risadinha do outro.

— Tudo bem, estamos voltando. Mas você gostou, não gostou?

— Gostei — confessou, sorrindo. — Espero fazer isso de novo quando não tivermos coisas sérias pra resolver.

— É o que eu mais quero, acredite. Só sair por aí sem rumo com você.

Trocaram alguns beijos para matar a saudade que sentiam um pelo outro e enfim voltaram para casa, quando já estava quase amanhecendo. Conseguiram ver o nascer do sol juntos, e foi lindo.

Chanyeol subiu junto de Baekhyun até o apartamento dele e dormiram juntos por volta de uma hora e, mesmo cansados, não poderiam estar mais felizes.

Finalmente as coisas estavam se ajeitando para os dois.

[...]

O dia do evento enfim chegou, e pode-se dizer que Baekhyun estava uma pilha de nervos. Já havia conferido seu figurino e maquiagem milhares de vezes, mesmo sabendo que estava tudo certo. Ele usava uma calça um pouco larga e uma blusa de mangas compridas que deixava a barriga à mostra, tudo isso muito enfeitado com pedrarias e brilho, tinha até passado glitter no corpo.

— Minha maquiagem tá boa? — perguntou a Luhan, que estava junto de si no camarim.

— Você já me perguntou isso umas três vezes, Baek — riu, balançando a cabeça negativamente. — Tá ótimo, já te disse.

Os figurinos deles eram iguais, com exceção das cores. Baekhyun estava de azul, e Luhan de vermelho. O contraste entre as cores e o movimento dos véus ficaria lindo no palco.

— Desculpa, é que eu tô nervoso.

— Vai dar tudo certo, nós ensaiamos muito.

— Eu sei — suspirou. — Tô nervoso por causa do Chan.

Luhan arqueou uma sobrancelha com a fala do amigo, um tanto surpreso.

— Mas ele já te viu dançando antes. E ele já chegou com os meninos, estão lá na platéia. 

— Eles vão conseguir ver as nossas apresentações antes de chegar a vez deles?

— Vão sim, as apresentações de dança vão ser antes das de música. E eu olhei o cronograma, a Vênus vai ser a última banda a se apresentar.

— Coitados, vão cansar de esperar então — brincou, e os dois riram.

— Sim, mas eles vão encerrar o evento, olha que honra.

— E nós vamos abrir. De quem foi essa ideia mesmo?

— Não sei, e ainda não decidi se isso é bom.

Os dois seriam os primeiros a se apresentar, e era natural que estivessem ansiosos por isso.

— Vem, acho melhor nos posicionarmos no palco, falta pouco pra começar — chamou Luhan.

Baekhyun assentiu e os dois se abraçaram, olhando uma última vez no espelho para conferir se estava tudo certo. Tinham caprichado na produção, estavam impecáveis.

Foram de mãos dadas até o palco, e era possível ouvir o tilintar dos brincos e pulseiras que estavam usando.

Assim que anunciaram o duo dos dois, a iluminação ficou centrada neles e a música iniciou. A coreografia havia sido bem elaborada, com alguns momentos de interação entre os dois e movimentos belíssimos sendo executados, os véus sendo manipulados graciosamente por eles.

Quando terminaram, receberam diversos aplausos e elogios (e alguns gritos por parte dos rapazes da Vênus), ficando com uma sensação indescritível de dever cumprido.

Voltaram para o camarim, já que ainda se apresentariam novamente sozinhos. Trocaram de roupa rapidamente; dessa vez, a de Luhan era roxa e a de Baekhyun era preta.

O solo do Lu veio primeiro, ele havia escolhido dançar uma música bem alegre, o que contagiou completamente o público. A apresentação havia sido linda, e agora era a vez de Baekhyun novamente.

O novo figurino era semelhante ao anterior, mas a cor preta dava um tom mais misterioso. Ele havia, inclusive, colocado um chador, que era um acessório feito de pedrinhas brilhantes que cobria o nariz e a boca, deixando apenas os olhos à mostra e completando o ar enigmático que queria causar. 

A música começou e Baek respirou fundo, iniciando com passos leves e sutis. A espada não era de verdade, obviamente, mas era necessário um pouco de força e habilidade para dominá-la.

Conforme a música avançava, seus movimentos iam ficando mais fortes e marcados. Era possível ver que ele dançava com paixão, o que deixava tudo melhor.

Quando terminou e finalmente escutou os aplausos, não conseguia parar de sorrir.

Voltou ao camarim depressa e tirou o figurino e os acessórios, deixando apenas a maquiagem. Vestiu roupas mais casuais e saiu, indo até a platéia para encontrar seus amigos.

As apresentações de danças chegaram ao fim, e haveria uma pausa de alguns minutos, para que pudessem preparar o palco para as atrações musicais.

Foi parabenizado por Luhan e pelos garotos da banda, agradecendo a todos com um sorriso e abraços breves. Sentiu seu rosto esquentar quando viu Chanyeol ali, esperando-o com um buquê de flores em mãos.

— Você foi incrível, estava lindo — elogiou, abraçando-o forte e dando um beijo em seu rosto, deixando-o atônito. — É pra você. Nós precisamos ir agora, depois nos falamos. Ah, preste atenção na música, sim?

Deu um beijo rápido nele, entregou as flores e saiu com os garotos, deixando para trás um Baekhyun confuso. Olhou para Luhan, que apenas deu de ombros e riu, como se dissesse que não sabia de nada. Ah, ele com certeza sabia.

Decidiu ignorar aquilo e acomodou-se junto de seu amigo, jogando conversa fora enquanto a segunda parte do evento não iniciava.

Quando começou, os dois prestaram bastante atenção, analisando tudo e comentando sobre as apresentações, dizendo o que haviam gostado e criticando outras coisas. Parecia até que eram dois especialistas no assunto.

Então, depois de muitos minutos, finalmente chegara a vez da última apresentação e, por consequência, a vez da Vênus.

Logo que os rapazes entraram, Baek e Lu ficaram mais animados, comentando sobre eles.

Os quatro pareciam saídos de alguma banda famosa. Usavam a clássica combinação de roupas pretas e jaquetas de couro e, céus, estavam muito bonitos.

Chanyeol apresentou a banda brevemente  e então eles enfim iniciaram a tocar.

Baekhyun ficou atento enquanto ele cantava, prestando bastante atenção na letra da música.

E, mais ou menos depois do refrão, foi como se algo tivesse estalado em sua mente. A letra era muito semelhante ao que Yeol havia dito no dia em que conversaram no carro. Arregalou os olhos quando notou isso, pensando se não estava exagerando ou algo assim.

Continuou atento até o final. Quando os garotos terminaram de tocar, agradeceram e desceram do palco, Baek sentiu que poderia explodir de ansiedade.

Todos tinham combinado previamente de se encontrar atrás do teatro quando tudo acabasse, então praticamente arrastou Luhan consigo até lá. Esperaram pouco tempo até que os quatro apareceram, conversando e rindo alto, claramente felizes.

Luhan abraçou e elogiou todos um por um, e Baekhyun apenas os parabenizou, um pouco tímido.

— Então… Nós estamos indo na frente, ok? Nos encontramos naquela lanchonete no fim da rua, até logo! — falou Luhan com um sorriso, praticamente arrastando Jongdae, Yixing e Sehun para que andassem logo, numa clara tentativa de deixar Baekhyun e Chanyeol sozinhos.

Os dois riram um pouco e se olharam, meio sem jeito.

 — Gostou? — perguntou Chanyeol, apontando para as flores.

— Eu adorei, são lindas. Obrigado — sorriu. — Chan, sobre a música… É o que eu tô pensando?

— Sabia que você entenderia. Os meninos quiseram me matar quando eu pedi para trocarmos de música, mas valeu à pena — explicou, rindo um pouco ao lembrar da indignação de seus amigos. — Eu a escrevi um pouco antes de passar na sua casa aquele dia, isso me ajudou muito a esclarecer meus sentimentos.

— Chan, aonde você quer chegar com isso? — perguntou, sentindo o coração acelerado. Ele se aproximou, acariciando seu rosto com uma das mãos, sustentando um olhar extremamente carinhoso.

— Eu gosto de você. Muito. E, desde aquela conversa, eu andei pensando em muitas coisas. Uma delas é que eu não quero mais ter uma relação sem nome contigo — sorriu, rindo um pouco pela feição um tanto confusa do Byun.

— Então você quer dizer que…? É isso? — Não conseguiu concluir seu pensamento, e apenas esperava que o Park entendesse o que quis dizer.

— Isso mesmo. Sei que disse que poderíamos ir com calma, mas não vejo mais necessidade disso, não agora que eu entendi o que sinto por você.

Sorriram um para o outro, emocionados.

— Então, agora eu te pergunto… Bae, você aceita ser meu namorado?

Baekhyun riu e balançou a cabeça positivamente diversas vezes, extremamente feliz.

— Sim! Claro que eu aceito.

Beijaram-se de forma apaixonada, praticamente transbordando de felicidade.

Finalmente os dois conseguiram resolver as pequenas diferenças que tinham e se permitiram apenas deixar o sentimento falar mais alto.

Aquela seria uma nova etapa para Chanyeol e Baekhyun. Teriam dificuldades, claro, afinal ainda tinham personalidades e temperamentos distintos, mas dariam seu jeito.

— Vamos, precisamos contar a novidade para eles — falou Chanyeol assim que se separaram.

— Ah, eles vão adorar. Tenho certeza.

E saíram andando de mãos dadas para encontrar seus amigos. Era nítido o quanto se gostavam, o quanto de carinho sentiam um pelo outro. Formavam um belo casal, isso ninguém poderia negar.

E, bom, mesmo que houvesse problemas, não importava no momento.

Eles ficariam bem. Afinal, construir um relacionamento sólido e saudável era como montar uma coreografia, ou até mesmo compor uma música; levava um certo tempo e exigia paciência, cuidado, dedicação e, o mais importante de tudo: amor. E isso tudo eles tinham de sobra — talvez não a paciência, no caso de Chan, mas ele daria seu jeito.

Não precisavam ter pressa. Poderiam apenas dar pequenos passos, como numa dança, um de cada vez.

Eles certamente encontrariam a felicidade juntos.