História Percy Jackson: O Vingador de Caos - Capítulo 25

Pov Silena 

Os olimpianos me encaravam, indecisos. Eles não sabiam bem o que pensar sobre nós, então havia uma certa animosidade no ar. A tensão era palpável e parecia fazer cócegas no meu pescoço, causando-me arrepios. 

Eles sentavam-se em seus tronos, dispostos como no salão da Ordem de Caos. Apesar de estar faltando alguns tronos- os mais novos renegados do Olimpo: Héstia, Ares e Hades. Dois dos tronos restantes estavam vazios, supus que fossem os de Poseidon e Hera, os únicos não banidos que não estavam ali. 

Zeus tinha uma expressão fechada. Faíscas elétricas dançavam ao seu redor, como se seu poder estivesse tão fora de controle quanto ele próprio. 

-Quem são vocês? - Rosnou o deus dos céus. 

Olhei ao redor brevemente, prestando bastante atenção em potenciais aliados. Afrodite me encarava com dúvida, como se também sentisse aquela semelhança entre nós, embora não tivesse certeza do que era. 

Ponderei o que podia responder. Provavelmente não podia simplesmente dizer “Oi, sou eu, Silena Beauregard, a espiã e traidora que custou a vida do próprio namorado” ou “Então, essa é uma história engraçada, vocês vão adorar”. Portanto, apenas pigarreei, o nervosismo crescendo cada vez mais, e falei a primeira coisa que veio à mente. 

-E aí, tudo tranquilo? 

Os deuses se entreolharam, imaginando se aquilo era alguma piada de mau gosto. Talvez eu estivesse passando tempo demais com Percy e isso estivesse influenciando no meu jeito de falar. Mas agora eu já tinha dito. Zeus semicerrou os olhos. 

-Responda à minha pergunta. 

-Ah, sim, claro, claro, desculpe. - Ajeitei a postura, tentando ficar mais ereta. - Sou Batin, um dos membros da Ordem de Caos.  

-E o que quer aqui, Batin? - Perguntou Hefesto. 

-Eu...- afinal, o que eu diria? Não podia falar que estava lá para atrair a atenção deles para longe da real missão. O que dizer? Devia ter pensado nisso antes. Droga! 

-Responda a maldita pergunta! - Zeus apertou um dos braços de seu trono. 

Não consegui evitar o passo para trás, foi involuntário. 

-Vim para negociar- coloquei para fora de uma vez. - Vocês precisam da nossa ajuda, e nós ficaremos menos atarefados se não fizermos tudo sozinhos. Então, acho que deveríamos trabalhar juntos. 

-O que, exatamente, vocês estão planejando fazer? - Athena me encarou, seus olhos maquinavam cada próximo passo. 

-Acho que todos concordamos que Gaia e Tártaro não seriam bons governantes- falei. E era verdade. Parando para pensar, talvez eles realmente pudessem trabalhar em conjunto com os deuses. 

Athena inclinou a cabeça de lado. 

-E quanto àquela fala de vocês? Algo relacionado ao “reinado dos deuses estar acabando”? Isso me parece mais uma armadilha do que qualquer outra coisa. 

Melanie e sua boca grande! Ela ia ouvir umas poucas e boas quando eu a encontrasse. 

-A opinião de apenas um membro não reflete na forma como a Ordem age. Nossos atos são imparciais. Aquele... incidente... é algo que não voltará a se repetir, posso afirmar isso- mentira, mentira, mentira, mentira. A última coisa que precisavam agora era ter que ficar de olho nas idiotices que Melanie e Jacob faziam. Com certeza ainda criariam mais problemas para eles. 

-Não acredito nisso. 

-Não estou pedindo que acredite. Na verdade, estou aqui pelo simples motivo de que sua participação deixaria nosso trabalho mais fácil.  

-Ainda me parece uma armadilha. 

Eu não sabia mais o que dizer. E eu estava levando-os a crer que destruiríamos a ameaça de qualquer jeito, eles ajudando ou não. Logo, eles continuariam sentados como sempre, esperando que outras pessoas resolvessem seus problemas por eles. Malditos sedentários em suas zonas de conforto! Então, me virei para minha mãe e deixei que meu tom de voz saísse mais dócil. 

-Se vocês não se levantarem para lutar contra os inimigos, a Ordem vai julgá-los não merecedores de misericórdia, e partiremos para outro lugar que realmente mereça nossa ajuda. Se não fizerem nada, serão afundados, e, de fato, o reinado dos deuses terá acabado. 

Afrodite abriu um sorriso calmo. 

-E você não quer que isso aconteça, quer? - Perguntou, seu tom tão maternal quanto eu não me lembrava de já ter ouvido. - Diga-nos quem vocês são. 

Então, mãe, sobre isso... somos um bando de semideuses eternamente jovens que guarda um rancor gigante de vocês. 

É, não podia falar isso também. 

-Somos sua única chance de salvação- falei. Não sabia por quanto tempo poderia enrolá-los, mas respostas vagas como essa pareciam a melhor opção no momento. 

-Eu acredito- disse Afrodite, surpreendendo não só a mim, como a todos os outros deuses. Ela olhou ao redor, tranquila. - Acho que ela diz a verdade, podemos confiar neles. Tenho certeza de que ela é capaz de manter os outros na linha. 

Bom, nem eu tinha certeza disso, mas se fosse fazer com que eles me ouvissem, concordaria como se realmente fosse esse o caso. 

-Como pode ter tanta certeza assim? - Perguntou Athena. - Não vejo nada que prove que ela diz a verdade. 

-Tirando o fato de que eles estão protegendo nossos semideuses, é claro- argumentou Ártemis, na forma de uma garota de doze anos. - Eles têm feito de tudo para mantê-los em segurança, enquanto estamos aqui, discutindo feito tolos, ao invés de estar lá, ajudando-os a lutar uma batalha que não é apenas deles. 

Ártemis lançou um olhar mortal a Zeus, obviamente colocando toda a culpa daquilo sobre ele. O deus a olhou de volta, a fúria em seus olhos ameaçava explodir a qualquer momento. 

-De qualquer forma- Afrodite intercedeu-, respondendo à sua pergunta, Athena, eu sinto que posso confiar neles. Meu coração me diz que eles são a solução para todos os nossos problemas. 

-Sim, sabemos que seu... coração... é prova absoluta da credibilidade deles- Athena zombou, balançando uma mão. - Não me faça rir. 

Afrodite deu de ombros, um gesto tão gracioso quanto qualquer outro movimento dela. 

-Sabemos que a razão não é tudo o que importa, meus filhos vivem ensinando essa lição aos seus, me surpreende que você ainda não tenha aceitado isso. 

-Isso não é verdade... 

-Ah, não? - Afrodite interrompeu com um sorriso. - E quanto àquela vez em que Piper salvou sua Annabeth, fazendo-a apenas seguir suas emoções? Se aquilo não é resposta o suficiente para você, também temos a vez em que Silena convenceu o chalé de Ares inteiro a ajudar na guerra. 

Arregalei os olhos por debaixo da máscara. Nem sabia que Afrodite tinha conhecimento daquilo. E a forma como ela falou, como se sentisse orgulho de mim por tal feito...  

Athena disse alguma coisa, mas eu não consegui prestar atenção, pois meus olhos se encontraram com os de minha mãe e ela sorriu com carinho e orgulho. Sim, ela finalmente tinha descoberto qual era a semelhança entre nós. E parecia feliz com isso. 

Por um momento, meu coração se apertou de felicidade. Eu não tinha percebido o quanto queria a aprovação dela até conseguir. Era bom. Será que era assim que garotas normais se sentiam quando eram elogiadas por suas mães? Será que as outras mães se davam conta do quanto um sorriso como aquele, um gesto carinhoso, fazia falta a um filho ou filha? 

Mas o momento durou pouco. A voz de Luke surgiu em meio aos meus pensamentos: 

“Pegamos todos, já pode sair daí” 

“Certo”, respondi. 

Pigarreei, chamando a atenção deles de volta para mim. 

-Pensem nisso. Voltaremos a entrar em contato em breve. 

Zeus se levantou. 

-Você não vai a lugar nenhum! Eu quero respostas! 

O ar começou a girar ao meu redor, formando uma bolha. 

-Cuidado com a forma como falam conosco- murmurei. - Alguns de nós não são tão condescendentes quanto eu. Não vão querer irritar a pessoa errada. 

E, com isso, desapareci, voltando para Nova Roma e deixando um Zeus furioso com minha ousadia para trás. Mas os outros... eles pareciam pensativos. Talvez aquela reunião tenha tido algum efeito sobre eles. Por sorte, aqueles deuses ouviriam a voz da emoção e fariam a coisa certa.