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História Perfect Mistakes - Capítulo 61 - Louis


Escrita por: whoishoran

Notas do Autor


Eu estava com tantas saudades de escrever sobre dois personagens especiais que veremos por aqui hojeeeee <3

Espero que gostem e uma ótima leitura :)

Capítulo 61 - Capítulo 61 - Louis


Fanfic / Fanfiction Perfect Mistakes - Capítulo 61 - Louis

(Trilha Sonora - Abertura ♪ The Great Escape – Boys Like Girls / Drops of Jupiter – Train)

Bocejou algumas vezes enquanto ia à procura do suco de laranja. Encontrou a bebida ao mesmo tempo que as torradas pularam da torradeira, levemente coradas, do jeito que gostavam. Passou manteiga nas duas, porém só pegou uma nas mãos, deixando a outra no prato.

Tirou o café coado da cafeteira e serviu a bebida em duas canecas. Acrescentou na sua um pouco de leite e deixou a outra com o líquido puro.

Era quase bizarro como já tinha se adaptado completamente a uma rotina agradável.

Apoiou o corpo no balcão pequeno e admirou a vista da janela para o bairro calmo de Baker Street. Dezembro estava a caminho e, com isso, Londres ameaçava todos os dias uma rajada de neve, mas, até aquele momento, permanecera cinza e nublado como sempre.

Respirou fundo apreciando aquele momento de paz. Gostava dali. Gostava da casa pequena, gostava de fazer café da manhã e das torradas todos os dias, gostava das noites divertidas, dos filmes de terror, das conversas sobre emprego, sobre mercado de trabalho, sobre capital e cotidiano.

Onde iriam parar?

Foi interrompido dos próprios pensamentos ao ouvir sapatos contra o chão e, mais tarde, barulho de chaves, papéis e bolsas de um lado para o outro. Não demorou para Rebecca aparecer na cozinha terminando de vestir-se.

Ela usava calças sociais pretas, salto nude e um sobretudo de mesmo tom que praticamente cobria a roupa inteira.  

- Ei, você – Becky disse com a voz ofegante, devido a pressa matinal, e pegou a torrada que ele estava tomando o costume de sempre deixar para ela.

- Ei, você – respondeu calmamente e a admirou pegar café, depois olhar alguma coisa no celular e, por último, aproximar-se dele na geladeira.

- Mais um mês e essa correria termina – disse baixo como se estivesse contando os dias para festa de fim de ano da revista. Alcançou a marmita de almoço e voltou a olhar o celular de novo.

- Martha ainda não sabe de nada? – questionou e Rebecca assentiu sem demandas.

- Se sabe, finge muito bem preocupação – deu de ombros e ele riu fraco. – Vou indo – começou a pegar o restante das coisas e Louis a observou fazer toda a série de manias que ela fazia todas as manhãs.

Casacos, bolsa, celular, pastas, máquinas fotográficas, papéis e mais papéis, lanche, até, finalmente, começar a encaminhar-se até a porta.

Lou, com um sorriso divertido, a seguiu.

- Nos vemos depois? – ela quis saber a caminho da maçaneta.

- Uhum – assentiu.

- Então, até mais tar... – antes que tivesse tempo de continuar, ele agarrou seu braço, colou seus corpos, tocou sua nuca e a beijou intensamente. – Eu preciso ir – ela disse entre o beijo.

- Sei disso – resmungou e a beijou de verdade, então, acariciando seu pescoço. Abraçou seu corpo fortemente, mantendo-os próximos e arfou ao senti-la sorrir em meio aos movimentos.

Se havia um motivo para Louis fazer aquilo quase todos os dias, além de praticamente a sensação que lhe transbordava, era porque, em meio as carícias, ele tentava, subliminarmente, demonstrar que, ao menos para ele, a relação dos dois era muito mais do que vinha sendo.

Era mais do que a diversão, mais do que o puro sexo, mais do que o prazer e o escape. Era tudo mais do que isso porque Louis, tinha muito claro para si, sentia falta em excesso da profundidade na relação, do compromisso, da parceria verdadeira e, principalmente, da entrega.

Desejava Rebecca como um todo e não apenas como um passa tempo. Mas o medo que sentia sobre iniciar tal tipo de conversa era bem maior que a pouca coragem que possuía.

Foi diminuindo o ritmo do beijo até terminar o momento com uma sessão de selinhos.

- Louis – ela o repreendeu, tentando afastar e aquilo foi mais uma prova que, para Becky, estavam longe de qualquer comprometimento ou status. Lou tentou parecer bem, como sempre, e apenas sorriu, afastando-se por completo. – Preciso ir – repetiu séria, porém com um leve sorriso.

- A vontade, ué – brincou e observou-a revirar os olhos.

- Até mais tarde – recolocou o casaco e saiu de casa.

- Até – disse baixo e voltou-se para adentro. Subiu as escadas e entrou no chuveiro preparando-se para também ir trabalhar.

(...)

- Você consegue pagar a luz e a água esse mês? – Nicole perguntava no telefone.

- Acho que sim – respondeu pelos fones enquanto entregava algumas correspondências nos edifícios da Londres comercial e empresária. – O que houve?

- Tô tentando fazer uma economias, na real... Eu cuido de todos os mercados – a amiga respondeu e Louis assentiu como se ela pudesse vê-lo. – Ainda moramos na mesma casa ou você se mudou e não me avisou?

- Bem, você ainda mora? Não te vejo há dias, Nikki! – devolveu a pergunta rindo debochadamente. – Manda sinal de fumaça.

- As coisas estão mais corridas do que eu imaginei – contou baixo e Lou sentiu o cansaço em sua voz. – Tentando recuperar o tempo perdido, sabe, Lou.

- Sei e muito – disse enquanto corria no farol vermelho carregado de mil coisas nas mãos. – Quem diria, hein? Nós dois trabalhando como loucos.

- Uma hora a responsabilidade bate na porta – Nikki brincou fazendo-os rir. – Saudades, Louis.

- Saudades, bobona – sorriu fraco com as palavras dela e pensou na amiga. Às vezes tinha vontade de dizer à Nicole tamanha importância que ela tinha em sua vida. Queria que ela soubesse como, mais do que Harry e mais do que Rebecca, ela era sinônimo de amparo, de força e de segurança para ele. – Como está sua zona?

- Ah... Ficando ajeitada, se é que me entende – começou a falar empolgada. – Hora ou outa a zona volta. Sei lá... Sinto medo de, finalmente, estar na alinha e, justamente por isso, sinto que há muito mais potencial para me perder e voltar à estaca zero – fez uma breve pausa e Lou quis concordar com cada palavra. – Tô fumando escondido de Harry porque até isso parece fora da curva – confessou e Louis gargalhou. – Deus, o que estou me tornando?

- Essa sim é a melhor demonstração da influência do Harry em nossas vidas – disse ainda entre risos e a escutou soltar risadas também. – Relaxa, Nikki. Você está bem e algumas recaídas fazem parte.

- Não quero ser uma bêbada drogada de novo, Lou.

- Sim, eu sei – revirou os olhos, notando que as palavras dela lhe atingiam de forma drásticas: sentia-se do mesmo jeito. – Só... Não se cobre tanto.

- Você parece bem, hum.

- Erm... – deu de ombros enquanto encarava nos enormes prédios de Londres e suspirou pesado. – Nada a reclamar – mentiu.

- Uau, Tomlinson – ouviu Nicole rir de novo e sorriu. – Estou orgulhosa de você. Qual o segredo?

- O mesmo de sempre – brincou bobamente. – Sexo toda noite e maconha de boa pelo menos uma vez no dia – respondeu sério e sentiu-se mais calmo ao ouvir Nicole rir realmente alto dessa vez.

- Você e Harry competem para ver quem fala mais merda – disse entre risos e Louis riu fraco. – É isso que você e Rebecca andam fazendo, então?

- Só metade – riu também e lambeu os lábios. – E, a propósito, não, ela ainda não me falou do surto que teve há semanas atrás...

- Vish, Harry também não me explicou até agora o que diabos aconteceu naquela noite – Nikki explicou e Lou pensou a respeito. Pouco sabia sobre o sumiço de Becky e vinha desistindo de tentar entender uma vez que ela pouco falava sobre tal episódio. – Você tem falado com ele, inclusive? Não conversamos direito há dias...

- Harry está meio sumido mesmo – concordou pensando que, de fato, não conversava direito também com o amigo já há alguns dias. – Estranho, hum.

- Bastante – Nikki concordou e ficaram em silêncio. – Nos falamos mais depois, Lou. Se cuida.

- Você também – despediu-se dela e desligou o telefone. Espantou os pensamentos sobre os amigos da cabeça e voltou a admirar Londres.

Sua rotina, há pouco mais quatro meses vinha sendo, praticamente, carregar coisas para um lado e para o outro na metrópole. Tinha um cartão ilimitado de metrô, que a revista havia lhe dado, e seu horário de almoço era quando queria e onde queria. Além disso, conhecia pessoas, tinha acesso a firmas, empresas, organizações e agências facilmente.

Sabia que, as poucos, seu melhor e favorito ambiente de trabalho era a cidade: a grande, cinzenta e maravilhosa Londres.

Conhecia bem o sentimento de garoto do interior, no caso do litoral, de ver o mundo e cair de pé no país das maravilhas. Infelizmente, não sentia-se mais assim porque, agora, Londres era seu quintal.

Sabia na palma da mão muito bem sobre quase todas as estações da metrópole, tinha conhecimento das avenidas de grande tráfico, sabia localizações importantes e conhecia o espírito londrino.

Não podia negar, mesmo com o caos e incertezas dos últimos anos, Londres havia sido um bom lar. Gostava das possibilidades, dos artistas de rua com potencial, das artes, das pichações e da infinidade de programas, museus e da quantidade de turistas.

Felizmente, gostava do tumulto e da zona de Londres.

- Ei, Louis – o rapaz que ficava na recepção da gráfica que representava a revista lhe cumprimentou. – O mesmo de sempre?

- Sim – assentiu não estranhando a familiaridade com o funcionário. Frequentava o lugar toda semana que já tinham se tornado praxe.

Enquanto o homem fuçava as coisas pelo balcão atrás das encomendas, Lou pensou sobre a própria vida.

Ele tinha um emprego, ele estava longe das ruas e das drogas. Ele tinha cama, estava comprando uma casa, tinha amigos e tinha um salário. Simultaneamente, não tinha profissão. Não sabia sobre o futuro. Não sabia sobre a garota que tanto gostava. Não sabia sobre o risco que seu trabalho corria e, infelizmente, não tinha certeza nenhuma de nada.

- Tá aqui – foi interrompido pelo rapaz. Alcançou deste a pilha de revistas que tinha que levar até o escritório e despediu-se da gráfica com um aceno.

Caminhando até a redação, voltou a pensar sobre seu presente. Evitava o fazer, mas, a princípio, pensou em Harry. Adorava ver o amigo pilhado com a formatura e com o título que receberia em breve, mas não podia descartar como cobiçava as oportunidades que Hazza tivera e ele não. Também queria um diploma, também queria estudar algo afundo e também queria maiores estabilidades.

Pensou em Rebecca, em seguida. Ela era brilhante. Salvando ou não a revista, um gigantesco futuro lhe aguardava e, sem dúvidas, de muitíssimo sucesso. Sentia tanto orgulho e, ao mesmo tempo, também perguntava-se o que lhe faltava para ser tão bom quanto a garota que gostava.

Bufou sozinho.

Estaria gostando dela novamente? Também não sabia a resposta para isso.

Todo esse assunto era tão confuso que, ao longo do dia, sempre ignorava pensar sobre isso e dava-se por vencido sobre os próprios fracassos.

- Hey Jude! – cantou para a moça da recepção da redação no mesmo tom da música da banda inglesa dos Beatles, brincando com seu nome como sempre fazia.

- Don’t make it baaad – alguém passou pelos dois e continuou com a brincadeira, causando risadas em Jude, claro, e em Louis.

- Não tenho nada demais para você, palhaço – a moça resmungou e Lou forçou um sorriso.

- Nossa, mau humor, acordou com o pé esquerdo? – provocou e recebeu um dedo do meio de volta. Rebecca tinha razão, o espírito e a alma daquele lugar faziam bem a qualquer um.

- Ainda bem que amanhã é sábado, dois dias livre da sua ilustre presença me farão bem – ela resmungou e os dois gargalharam. Louis pegou entregas básicas que precisava levar a outros lugares e saiu andando ainda rindo.

Os dias passavam mais depressa do que antes. A mente estava ocupada, o corpo em movimento para cima e para baixo da cidade, e, diferente de antes, a rotina preenchia os dias. As coisas não eram mais tão superficiais e sem regras.

Não precisava ter certeza, mas tinha grandes palpites de que Harry estaria enfiado e focado nos ajustes finais do trabalho de conclusão, que Nicole trabalharia integralmente e que Rebecca continuaria a correr de um lado para o outro atrás de patrocinadores.

Pensou nas palavras de Jude e notou que não tinha plano nenhum para o fim de semana.

Tempos antes, tinha quase como garantia as ruas para diversão. Conhecia donos de festas, gerentes de casas de show e organizadores de grandes baladas. Seu pagamento era o ingresso e a mercadoria era o seu trabalho. De quinta-feira à domingo, antes de ser contratado pela revista, Louis vivia por aí.

Fazendo uns bicos, frequentando algumas festas e aumentando sua lista de amores, clientes e pedidos.  

Lembrou-se de Modern, de Camdem Town e de Penélope. Tudo isso era sinônimo para memórias confusas e incompletas, risadas altas em plena luz do dia, pré-overdoses em becos e viagens psicodélicas que nem menos gostava de se lembrar.

Droga, que vida era aquela?

Não podia negar que, vez ou outra, seu corpo clamava por aqueles cheiros intoxicantes, pelos pós coloridos e pela sensação de estar em outra galáxia. Mas em uma forma de saciar, havia o péssimo cigarro, uma pitada de álcool e Rebecca. A junção de tudo isso acabava com qualquer saudade de ilícitos e produtos tóxicos, assim como a abstinência.

Ainda assim, sentia falta das drogas, sentia falta das sensações e da falta de preocupação. Porém, por outro lado, sentia-se orgulhoso por ter se distanciado de tudo.

Pensando nisso, pensou em Brighton. Pensou na cidade litorânea que sentia falta. Pensou nas ruas, na praia, no píer, na casa agora pertencente a outro alguém, no hospital, em Miranda e na mãe. 

Pensou em todos os momentos daqueles anos que afastou a figura materna da cabeça. Pensou em todas as vezes que forçou-se a esquecer tamanha dor pela perda e pela saudades.

Droga.

Respirou fundo e forçou-se a isso de novo. Segurou as lágrimas e permaneceu firme. Sua cabeça, juntamente com seu coração, haviam sido mais ágeis e já tinham alcançado seu celular no bolso.

Deu-se por vencido ao achar o nome da médica, que quase salvara sua vida milhares e milhares de vezes, na agenda telefônica. Ali estava um bom programa para o sábado. Seria bom estar sozinho. Seria bom pensar sozinho. Seria bom estar em casa sozinho.

Seria bom ir para Brighton sozinho.

Sem pensar muito, tomou a decisão de discar para ela e, quando percebeu, já levava o celular em direção ao ouvido.

Chamou várias vezes. Inúmeros toques ecoaram e quando Louis estava pronto para desistir e ir atrás de outra coisa para fazer e continuar a caminhar pelas ruas de Londres, trabalhando, atendeu o chamada.

- Alô?

- Er... – o medo lhe bateu. – Oi. Erm... É o Louis.

Silêncio.

- Oi, Lou – a voz tornou-se doce, igual como lembrava-se na sua memória. Pensou em sua feição, aquela que havia visto no final de outubro ao lado de Becky e, com isso, sorriu. – Como está? Tudo bom por aí?

- Tudo sim – relaxou ao perceber que as coisas não seriam tão estranhas assim. – Tudo indo. E com você?

- Mesmo de sempre – era quase claro a figura de ela dando de ombros, com os cabelos desgrenhados, e prontuários nas mãos. – Fico feliz que me ligou – sorriu sozinho novamente envergonhado. – O que me conta?

- Na verdade... – forçou a garganta e pensou se deveria mesmo arriscar-se na terra de assombrações passadas sozinhos. – Você vai fazer algo muito importante no hospital amanhã pela manhã? Estou pensando em ir para Brighton.

- Esse horário ainda continua bem tranquilo – Miranda disse. – Vai ser ótimo te ver.

- Isso é bom – resmungou baixo. – Amanhã cedo, então?

- Como nos velhos tempos – Mira praticamente leu sua cabeça e Louis sorriu contente.

Uma segurança lhe preencheu de maneira única.

- Até – desligaram e Lou a andar por Londres.

Muito mais confiante agora.

(...)

Enquanto a água do chuveiro caia sobre sua cabeça, permitiu-se fechar os olhos.

Passou as mãos pelos cabelos e lembrou-se de como eles haviam mudado com o passar dos anos, agora muito mais ralos e grossos. Passou a mão também pelo rosto e notou que a barba nem incomodava mais. Se antes aquilo era um problema, agora era uma de suas característica.

Caminhou com os dedos pela própria clavícula e sentiu-se meio tonto ao lembrar da sensação de dor na região. Trincou ao maxilar e massageou a região. As memórias da recuperação do acidente ainda eram doloridas demais.

Alcançou a tatuagem, sem retoque e que representava uma versão sua agora tão distante, e respirou fundo. Gostava de pensar em tudo que o símbolo significava, mas sentia-se tolo ao ter algo em sua pele que, de certa forma, não condizia com mais nada do que era.  

Fechou os olhos com mais força e, como andava fazendo, deixou que qualquer devaneio e qualquer pensamento adentrassem sua mente. Louis já sabia que os banhos vinham sendo seu santuário para reflexões e conclusões a partir da própria vida.  

Mentalizou quatro crianças brincando de esconde-esconde. Então, as mesmas no primeiro dia de aula. Logo ele e Becky descobrindo o banco no topo do parque de Brighton. O incidente do colégio, juntamente com a cabana. Nicole e Harry aproximando-se. Ele e Rebecca juntos. A morte da mãe. O estádio. Savannah. Paris. Brigas. Estação de trem. Londres. Ruas. Ruas. Drogas. Drogas. Drogas. Harry.

Consequentemente, enquanto ensaboava-se, engatava em uma roda gigante de desilusões, deja vus, nostalgia, novas oportunidades, insegurança, confusão, amigos e problemas.

Novamente, não se orgulhava das escolhas que tinha tomado, mas, de certa forma, contentava-se em como havia sobrevivido a tudo. Não sentia-se bem em pensar em tamanhas mortes e tamanhas encrencas, mas poupava-se de ficar nesse limbo de arrependimentos.

Soltou a respiração que tanto segurava e abriu os olhos. Sua pele já fervia por causa do chuveiro tão quente. Desligou as torneiras e alcançou a toalha no box, vendo-se que já tinha tido o suficiente de pensamentos monótonos para aquela noite.

Enxugou-se sem muita calmaria e vestiu uma camiseta e uma calça de moletom com o corpo ainda úmido e molhado. Abriu a porta do banheiro levemente, largou a toalha e ajeitou os cabelos de qualquer jeito.

Organizou a pequena bagunça e saiu daquelas quatro paredes de azulejos brancos finalmente. Junto a ele, sentiu uma onda de vapor e fumaça quente do chuveiro lhe seguirem pela suíte.

Não surpreendeu-se ao ver a televisão ligada em qualquer canal de filmes comuns e também não foi estranho encontrar Rebecca deitada na cama com o computador no colo, trajando os óculos de grau que ele tanto gostava.

- Becky Tecky – disse enquanto ajeitava as próprias roupas em um canto da cômoda. Olhou-a de relance e sorriu fraco sozinho.

- Eu comprei comida tailandesa, o que acha? – ela disse desligando o aparelho que tinha sob o corpo e deixando-o de lado.

- Por mim tudo bem – deu de ombros e jogou os trajes que usara o dia inteiro no cesto de levar roupa. – Tenho uma novidade – disse, sem muito entusiasmo, como sempre. Louis ainda não mudava nisso, continuava a ser um rapaz sério e reservado.

- O que aconteceu? – Rebecca tirou os olhos da televisão e o encarou. Lou sentiu vontade de sorrir apenas com o ato da moça. Sem perder tempo, permitiu que seu corpo caísse na cama bem ao seu lado. Louis aproximou-se, ficando apoiado nos cotovelos, e tocou sua cintura com as mãos firmes.

- Vou para Brighton amanhã – contou e olhou para baixo sem saber o que esperar de sua reação. Com os dedos, alcançou a barra do suéter leve dela e o levantou bem devagar. Começou a massagear seu abdômen.

- Brighton?! – Becky estranhou e o olhou séria. – Como assim?

- Bem, se já sei como as coisas funcionam... Você provavelmente tem muito trabalho – resmungou e levou os lábios, sem aguentar, até sua barriga. Deu lhe um beijo e comemorou ao ver que ela arrepiara-se. – E os outros dois não devem estar muito diferentes, não é? – olhou-a sério, mas permaneceu com os dedos pelo seu corpo. – Não tenho mais nada em mente e não vou ficar aqui a toa e nem de vela.

- Er... – ela parecia se distrair com o movimento da mão dele para cima e para baixo em sua barriga. – Imagino que sim – desviou os olhos do próprio corpo e o encarou. – Tem certeza de que quer ir para lá sozinho? – quis saber.

- Não vejo problema – deu de ombros mais uma vez. – Vou ver a Miranda também e... Matar o tempo.

- Isso vai ser muito bom – percebeu por sua feição que Rebecca aprovava sua pequena viagem a cidade natal. – Mande um beijo e um abraço a ela – pediu e desviou o olhar. – Esse fim de semana realmente preciso aproveitar o meu tempo livre.

- Pode deixar – concordou e apoiou a cabeça no corpo dela. Parou com os movimentos em sua barriga e voltou com os beijos. Beijou o osso saltado de sua cintura, depois seu umbigo, fez um caminho pela região e, quando começou a subir os carinhos, sentiu Rebecca alcançar com firmeza os fios de seu cabelo.

- Lou – ela resmungou e isso foi suficiente para ele erguer a cabeça, percorrer com esta rapidamente pelo seu corpo e alcançar seus lábios em seguida. Deu-lhe um selinho e, assim que sentiu as mãos carinhosas, leves e finas de Becky tocarem seu rosto, beijou-a apaixonadamente.

Tinha medo de fazer tal ato, mas não era algo de seu controle, pelo menos não mais. Sabia que o primeiro beijo, desde que se reencontraram, havia sido por curiosidade. O segundo era saudades e desejo, considerando todo o contexto pós festa e a discussão que haviam tido. Mas, agora, depois de semanas, Lou, no fundo, sabia que a cada carinho trocado, era mais um movimento de entrega a tudo aquilo e a um potencial recomeço.

Sentia as diferenças de tratamento, os movimentos na defensiva, o silêncio, a ausência de desabafos e as tentativas de sempre evitar assuntos específicos quando estava com Rebecca, mas estar com ela já era muito suficiente.

Pelo menos, pensava assim.

Seu coração, sua cabeça e sua vida eram dela, já pertenciam a ela e Louis pouco sabia controlar tamanha intensidade de sentimentos. Podia esconder em suas palavras e ao longo do cotidiano, mas não mais podia esconder em seus atos carnais e pensamentos monótonos.

Sentia-se um completo e total adolescente, suficientemente ridículo e idiota por sentir as mesmas coisas de antes. Eram memórias demais e sentia tamanha impossibilidade em desapegar-se de tantos momentos e tantas lembranças.

Posicionou o corpo entre as pernas dela e subiu as mãos por sua cintura, abaixo de seu suéter. Não demorou a tirar este mas, diferente das outras noites que demandavam aquela, procurou a calmaria.

Passou a desacelerar o ritmo, tocou seu rosto também e depois espalmou suas costas quase nuas, exceto pelo sutiã. Afastou os lábios dos dela, beijou a extensão de sua bochecha, depois seu pescoço e, por fim, mordeu seu lábio inferior.

Rebecca, de alguma forma, trocou as posições e rapidamente viu-se sobre o colo dele. Foi a vez dela tocar sua gola e acariciar seu peitoral por baixo dos trajes, enquanto o beijava intensamente.

Gentilmente Louis foi afastando ela e posicionou-se encostado em todos os travesseiros da cama. Observou Becky olha-lo ofegante e curiosa. Mordeu os próprios lábios e admirou agora, então, mulher a sua frente, em cima de suas pernas.

Pensou na conversa que havia tido com Harry.

Enquanto todo o passado e todas as memórias eram iguais, também sentia que, simultaneamente, tudo era diferente. Ela se portava e agia de outra forma. Se vestia e tinha uma vida muito mudada também. A conhecia demais, mas ainda se surpreendia muito.

Respirou fundo e passou os dedos por seu corpo. Percorreu com as mãos, primeiro, por suas pernas, subiu a cintura, passou-as entre seus seios e depois contornou seus lábios rosados e inchados.

- Você está diferente hoje – Becky resmungou e Lou a olhou bem sério. Notou que ela se desvencilhou-se de suas mãos, abriu os olhos e cruzou os braços.

- Nós... – engoliu em seco e tocou sua nuca, afastando os cabelos da região. – Nós devíamos conversar.

- Sobre...? – os seios dela subiam e desciam devido a respiração acelerada e Louis sentiu ela segurar suas mãos para que ele parece com os toques em seu pescoço.

- Hum – não se aguentou e bufou. Pensando em futuras palavras, alcançou o feixe do sutiã dela e tornou a brincar com os dedos pela região. Observou que, dessa vez, ela não o impediu e, inclusive, pareceu relaxar toda a tensão que segurava.

Foi obrigado a soltar uma risada irônica.

Encarou-a de perto.

Admirou seus olhos castanhos e meigos. As sardas leves na bochecha. As sobrancelhas feitas e arqueadas. Os cabelos ondulados caindo sob os ombros. Todo o conjunto.

Alcançou os óculos de grau dela e os retirou delicadamente, deixando-os de lado.

- Lou... – riu de ironia de novo. Percebia a cada movimento as reações dela entregaram ela mesma. Se deixava o físico e o carnal de lado, aproximando-se de carinhos e elementos passados, sentia Rebecca defender-se e repreende-lo. Se agia somente no prazer e com a tensão sexual, ela relaxava e o deixava aproximar-se sem delongas.

Droga.

Se horas antes não sabia a resposta para aquilo, agora sabia.

Ainda gostava demais da antiga Rebecca, mas a cada dia via-se cada vez mais encantado por aquela mulher a sua frente. Gostava de vê-la tão crescida, tão adulta e tão madura. No entanto, começava a odiar aquela oscilação de humor e atitudes e odiava mais ainda começar a entender o seu papel da vida de Becky.

- O que está fazendo? – ela quis saber desvencilhando-se dele e Louis quase bufou de novo. Enquanto os movimentos dele demonstravam o amor e a vontade pelo compromisso, os dela espantavam e negavam qualquer tipo de entrega sentimentalista.

- Nós deveríamos conversar... – alcançou-a novamente e a tombou para o lado, colocando-se sob seu corpo. – Sobre nós, Rebecca – disse baixo e selou seus lábios.

- Temos alguma coisa para falar sobre nós? – ela quis saber em meio ao beijo e as carícias.

Louis percebeu naquele instante que seria difícil dizer à ela sobre sentimentos, que seria difícil abrir-se e falar o que sentia. Percebeu que seria quase impossível desabafar sobre qualquer coisa que fosse além de trabalho e problemas banais.

Notou também que aquela moça, aquela que tinha um futuro e já era bem sucedida com apenas vinte e dois anos, lhe trazia insegurança porque poderia manda-lo ir embora assim que arranjasse coisa melhor. Notou, naquele momento, mais uma vez, que ela não queria nada sério e, mesmo que continuasse a tentar falar sobre isso, como vinha nas últimas semanas, continuaria a ser calado.

Droga, era a Becky!

A mesma Becky de sempre e, simultaneamente, uma nova Becky também.

Enquanto ele desejava ela por completo, percebeu que ela queria apenas uma parte do pacote e isso atingiu Lou intensamente.

- Deixa para lá – resmungou, mudou as posições e deixou de lado a calmaria e o amor que tanto sentia. Colocando em primeiro plano o prazer, a diversão e a falta de problema e seriedade.

Exatamente como ela vinha fazendo com ele.

(...)

Uma das coisas que mais apreciava por ser inglês, e mais ainda europeu, era a facilidade que tinha em, simplesmente, entrar em um trem e ir para qualquer lugar que quisesse com pouco dinheiro.

O metrô já era uma verdadeira maravilha, mas as linhas ferroviárias eram ainda mais excelentes. Os trens era confortáveis, as pessoas pareciam preocupadas o bastante com a própria vida, não haviam enxeridos e o café dos automóveis era gostoso e barato.

Precisava das duas mãos para contar quantas vezes, antes de completar dezenove anos e sentir a maior mudança de todas na própria vida, havia usufruído dos trens da Inglaterra, indo de Brighton para Londres.

Depois de tudo, aquela era a primeira vez que via-se adentro de um trem, indo para um lugar diferente da grande Londres. Era a primeira vez que viajava à Brighton sozinho em tanto tempo.

Deixou o peso dos ombros ceder ao ter tal pensamento.  

Não demorou muito para reconhecer da janela a paisagem litorânea e, rapidamente, pode avistar bem longe o mar. Mesmo que estivesse tudo fechado devido ao frio, o cheiro de maresia chegou ao seu nariz, assim como a sensação tão familiar.

O trem chegou a plataforma da estação de Brighton rapidamente. Louis não perdeu tempo ao descer, retirou os fones de ouvido, desejando ouvir o som da própria cidade, fechou firmemente os casacos, colocou as mãos no bolso e começou a caminhar.

Andou pela estação inteira, já que todos os passageiros eram quase que obrigados a fazer tal trajeto para chegarem a saída, e abaixou a cabeça espantando o frio. Lou desceu as escadarias do terminal rapidamente, deixou a estação principal da cidade e viu-se em casa.

Sorriu sozinho ao avistar o pouquíssimo movimento de carro nas ruas, comparado a Londres, e depois tornou a caminhar.

Havia pessoas com cachorros, crianças correndo agasalhadas e gente vivendo. O píer estava fechado, é claro, devido ao tempo gelado. A praia, pelo não muito diferente motivo, estava vazia.

Enquanto Londres não parava nem de noite e nem por nada, Brighton fechava em dias frios.

Não pode evitar de lembrar de quando ele, Nicole, Harry e Rebecca arriscavam-se a andar por ali, com tamanha ventania e frieza.

Sentia falta daqueles tempos mais do que imaginava.

Sentia falta de correr pelas pedras e avistar Nikki com os braços abertos, como se fosse um avião. Sentia falta de admirar Becky comendo bolacha com marshmallow e sendo rindo deles. Sentia falta de ouvir Hazza resmungar que morreriam de hipotermia e, mais tarde, juntar-se a todos de qualquer forma.

Sentia falta demais do colégio, da mãe, do Rugby, do pet shop, da cabana, das noites de pizza, da liberdade, da falta de responsabilidade e daquela vida.

Sentia falta sim, mas não desejava tudo aquilo de novo.

Sentia-se adulto o suficiente para entender que, se mesmo tudo aquilo voltasse, não seria como antes e o sentido em si teria sido perdido. Haviam mudado. As idiotices tinha passado, assim como as brincadeiras tolas. Gostava de pensar que todos aqueles momentos bons e memoráveis tinham sido eternos enquanto duravam, mas só. Já tinha passado da fase de entristecer por não mais viver tudo aquilo. Agora só se conformava que havia amadurecido e estava tudo bem.

Virou, após alguns quilômetros, a primeira esquina que avistou e começou a caminhar pela avenida tranquila da cidade.

Avistou alguns pontos que frequentava, como a mercearia, a loja de roupas, o Ritter’s, que estava mais do que tranquilo, uma boate e, ao fundo, observou o imponente hospital de Brighton.

A sensação de passar pelas portas de vidro ainda eram as mesmas. Seu coração se apertava e, por alguns minutos, Louis sentia-se sem chão.

Questionou-se onde diabos poderia achar Miranda.

Não conhecia mais o lugar, não como antes. Não sabia de seus horários e suas salas frequentadas.

Dá mesma forma que as tolices com os amigos não faziam mais parte de sua vida, aquela rotina não estava na sua vida há muito tempo também.

Pensou em sair andando atrás dela, mas sabia que perderia o maior tempo fazendo isso e seria mais do que idiotice. Foi até o ponto de informação mais próximo e pediu por ajuda.

- A última vez que a vi ela estava a caminho da lanchonete – a moça jovem avisou para ele com os olhos pintados de muita maquiagem e sorriu amarelo.

- Valeu – agradeceu e afastou-se, começando a traçar a rota até o lugar.

Permitiu que os braços ficassem ao lado de suas pernas e não nos bolso e aproveitou para abrir um pouco os casacos pesados. Virou alguns corredores até chegar ao comércio de comida.

O lugar estava razoavelmente vazio. Havia algumas pessoas tomando café, alguns médicos no intervalo e outros seguravam lágrimas, é claro. Hospitais ainda eram hospitais.

Avistou um par de tênis de esportes cinzas próximo ao canto das mesas lendo jornal. Ela, como sempre, com os cabelos bagunçados em coque e com enormes olheiras.

Foi aproximando-se receoso, pensando se estava mesmo fazendo a coisa certa em estar ali. Antes que tivesse tempo de esquivar-se ou sair correndo de volta para Londres, aqueles olhos castanhos e carinhosos ergueram-se e foram de encontro com os seus azuis.

Miranda dobrou o jornal e sorriu meigamente em sua direção. Ela levantou-se emocionada e abriu os braços para Louis.

- Oi, Mira – disse automaticamente e a abraçou forte, quase a tirando do chão.

- Quando ficou tão forte? – quis saber acariciando seus cabelos maternamente. Os dois riram e afastaram-se sorrindo. Louis pensou que se Miranda ao menos soubesse como havia perdido músculos desde o acidente, jamais teria feito tal piada, mas deixou passar.

- Becky mandou um beijo e um abraço. Ela anda meio... Ocupada com tudo – explicou enquanto sentava-se e tentou ficar confortável.

- Eu entendo – Miranda assentiu e o olhou encantada. – Você não faz ideia como é bom ter você, sábado de manhã, comigo novamente – ela disse e Louis sentiu-se corado.

- É muito bom ver você também – falou baixo e os dois se olharam. – Aquele dia com a Becky não deu para conversarmos sobre... Tudo muito bem.

- Sim – ela concordou e isso o acalmou. O rapaz suspirou aliviado e feliz por notar que tamanha conexão entre eles seguia intacta.

Silêncio, até ela rompê-lo novamente.

- Estou aqui para o que você quiser, Lou. Conte comigo.

- Eu preciso pedir desculpas, eu acho.

- Já fez isso aquele dia – ela falou tranquila e tocou sua mão. Seu gesto fez Louis sentir-se ainda mais em casa e a ausência de qualquer carinho bateu contra si mesmo mais forte, como um gatilho. – Eu entendo as condições que você estava e...

- Tô longe disso, Mira – interrompeu-a rápido. – Juro. Quer dizer, estou tentando ficar longe ao máximo. Recaídas temos o tempo inteiro, mas... Você sabe.

- Sei que se você quiser, você sabe muito bem ficar longe de tudo isso– Miranda disse séria e ajeitou-se na cadeira.

Mais silêncio.

Lou não sabia por onde começar.

Não queria entrar em detalhes sobre sua vida passada porque aquilo já era demais para ele, portanto para Miranda seria sinônimo de muitas e muitas lágrimas, mas também não queria esconder mais nada.

Queria também falar sobre o passado antes desse. Queria falar sobre Will, sobre as confusões, sobre as consequências e sobre toda a zona. Queria falar, então, sobre como sua vida encontrava-se.  Queria pedir por conselhos, por ajuda, por carinho e por braços de mãe.

- O que está havendo, Louis? – chegou a irritar o fato que ela ainda o conhecia bem o bastante. – É Rebecca?

- Não – negou rápido, mas só depois notou a mentira. – Não sei – deu de ombros e sentiu o olhar curiosa de Mira. – Não é errado eu vir até você para pedir ajuda e falar sobre os meus problemas?! – protestou tristemente e Miranda o olhou da mesma maneira.

- Você sempre fez isso – ela sorriu fraco. – E isso nunca me incomodou, muito pelo contrário – fez uma pausa. – E convenhamos, sempre trocamos desabafos – brincou e ambos riram.

Lou lembrou-se de começo de tudo.

Pensou na internação da mãe. Pensou em Max, tão sumido e tão ausente, assumindo o papel de tutor e de qualquer família que Louis poderia ter. Lembrou-se do flerte entre ele e Mira, todos os sábados, quando iam ao hospital. Pensou em como a própria médica passara a ligar aos dois diariamente com informações e novidades quanto ao estado efêmero da mãe.

Lembrou-se do início da amizade e da relação entre todos. Pensou nas noites que dormira no hospital, pensou em como ficara conhecido entre os médicos e em como, pouco a pouco, Miranda havia se tornado família também, junto a Max.

Agora notava que, consequentemente, Mira virara mãe, irmã, amiga, conselheira, quase tia e sinônimo de lar.

- Sabe do que eu me lembro? – ela começou sentindo que precisava iniciar a conversa. – Da primeira vez que você falou sobre a Becky.

- Vish – revirou os olhos e escondeu a cara.

- Você tinha quinze anos, eu acho. Chegou aqui todo morto por causa do excesso de provas e falou que só estava indo bem em todas elas porque uma amiga estava te ajudando em todas as matérias e estava te dando aulas particulares à noite – contou divertidamente. – O engraçado é que você sempre falou sobre a Nicole, sobre o Harry e a sobre a irmã dele, mas nunca citou o nome da garota, de fato – fez uma breve pausa e Lou escondeu o risco. – Becky era só a irmã de Harry. Foi nesse dia que eu descobri que a vizinha e que a irmã gêmea do melhor amigo era a Rebecca.  

- Não me lembre disso – pediu e eles riram.

- Nesse dia você reclamou tanto da escola, Louis. Meu deus, deve ter sido nessa fase que você começou a arrastar as matérias. Mas... – fez uma breve pausa e Lou a olhou. – Você falou de Rebecca de uma maneira diferente. Você parecia contente por ela te ajudar nas matérias. Você estava de saco cheio do colégio, mas o jeito que você a descreveu... Foi diferente.

Silêncio.

Louis lembrava-se daquilo, na verdade.

Lembrava-se do dia. Lembrava-se da época. Lembrava-se das aulas. Lembrava-se dos óculos de armação vermelha que Rebecca usava, das roupas rasgadas e diferentes a quais Nicole começara a trajar, dos cabelos desarrumados de Harry e era mais do que bizarro saber sobre cada um deles mais do que sabia sobre si mesmo.

- Aquele dia, quando vocês dois vieram, não tivemos tempo de falar sobre vocês também... – Mira recordou e os dois se olharam. – Como estão, Lou?

Mais silêncio.

Ele tentou achar palavras boas o bastante.

- Eu acho que não importa o que eu fale sobre ela ou quantos anos eu tenha... Eu sempre vou falar sobre Rebecca de uma maneira diferente, Mira – disse bem baixo e percebeu que Miranda sorriu contente, da mesma maneira que sempre sorria quando os dois começavam a conversar sobre tal assunto.

Sabia que ouvir sobre o romance que viviam era prazeroso a Miranda.

- O que isso significa, querido? – o uso do apelido o deixou contente mais uma vez.

- Não estamos juntos – deu de ombros. – Estamos, na verdade, hum... – procurou achar uma palavra para defini-los sem ficar com vergonha. – Nos curtindo.

Miranda o olhou espantada e depois caiu na risada. Ela riu largamente, como antes, e som de seu riso fez Louis rir também.

- Minha nossa – Mira controlou-se e o olhou sério. – E como vocês ficam com isso?

- Eu não sei ela, mas eu tô péssimo – resmungou baixo e Miranda o olhou com pena.

- Louis...

- Gosto dela demais, Mira – confessou sem aguentar. Só quando falou as palavras percebeu como elas eram intensas e faziam diferença para qualquer coisa. – Tipo, depois de quatro anos, isso que estamos fazendo é bom, de verdade. Mas ai eu penso em como éramos antes, amigos e companheiros e... Tudo.

- Vocês deveriam conversar – ela sugeriu. – Se tem algo que aprendi a conviver com Becky nos últimos quatro anos é que, no fundo, Lou, ela ainda é uma menina. Ainda é uma menina bem insegura e com medo de se decepcionar – pensou sobre suas palavras.

- Já tentei falar com ela – deu de ombros. – Mas ela finge que nós não somos nada. Quer dizer, ela demonstra que não precisamos ser algo e que não somos sérios – explicou. – Sei, de verdade, que boa parte dos motivos para ela querer desse jeito é porque da última vez nos decepcionamos demais.

- Com toda certeza ela pensa assim – Miranda concordou. – Mas se está te incomodando, você deve dizer. E, outra, Rebecca não pode ficar na defensiva para sempre.

- Eu tenho medo de ela se cansar – confessou. – Tipo, ela está a anos luz de diferença de mim.  

- Louis – Miranda disse séria. – Por favor. Isso não diz nada. Só porque Becky tratou da vida antes que você, não significa que ela precisa achar alguém no mesmo parâmetro.

- É algo para se pensar, de qualquer jeito – resmungou refletindo.

- Falando nisso, e você? Tem algum plano para o futuro? – quis saber, mudando o foco da conversa.

- Quero... Ter uma vida – riu pelo nariz, mas depois tornou a ficar sério.

Sentia que fazia tanto tempo que não falava com alguém, de verdade, sobre tudo que guardava que tinha até mesmo medo de engasgar-se com as palavras e se perder no pensamento.

 - Quero estudar, Mira, mas não sei se alguma faculdade iria me aceitar porque pouco me lembro sobre qualquer coisa acadêmica minimamente importante. Não tenho como pagar também, então... – deu de ombros e fez uma pausa. – Não quero ter meros empregos e ficar migrando de um para o outro. Quero algo de verdade, sabe? E acho que já está na hora de eu começar a me preocupar com isso.

Eles ficaram em silêncio, mas depois Miranda começou a sorrir.

Sorriu de orgulho.

- Você não poderia estar mais certo em querer correr atrás dessas coisas – ela disse contente.

- Por onde começo? – sorriu também, sabendo que dali tinha apoio.

- Cartas de recomendação e cursos baratos de intensivo do Ensino Médio devem servir para alguma coisa, não devem? – ela sorriu, mais uma vez, e Louis concordou com a cabeça.

Pelo mesmo, ele tinha o início daquela enorme fórmula da incógnita que era a sua vida.

(...)

Continuava a caminhar pelas ruas de Brighton enquanto devorava um croissant que havia comprado em um supermercado. Continuaria a caminhar por ali até, provavelmente, cansar-se e mudar a rota e fazer outros caminhos. Naquele sábado friorento, não queria ter pressa para nada.

Seus olhos foram de encontro com uma van branca, com várias patinhas de cachorro verde, estacionada em um local de mesma decoração.

Droga, continuava exatamente igual.

A placa ainda era grande, pintada de verde e branco, assim como o estabelecimento, e toda a decoração indicava que o comércio era de serviços destinados somente a animais.

Lembrou-se das inúmeras vezes que havia encontrado com os amigos ali, no pequeno estacionamento, depois de seu expediente. Lembrou-se de quantas vezes trocou beijos com Rebecca na penumbra da noite depois que ficaram juntos. Pensou nos cachorros, nas cirurgias que havia ajudado e em como aquele lugar, por tanto tempo, havia sido um refúgio.

Assim como Brighton inteiro.

Quando percebeu, já atravessava a rua em direção ao pet shop do Mart, sem saber exatamente o que estaria fazendo. Limpou as mãos nos jeans e a fechou os casacos mais fortemente contra o corpo.

Agradeceu ao ver que a clínica veterinária ainda pertencia ao ex-chefe porque seu nome estampava o ambiente, como antes. Logo que passou pelo portão que lembrava-se bem de possuir a chave tempos anteriores, avistou aos fundos o canil e aquilo fez Louis sorrir.

Adentrou o pet shop e o sino da porta ecoou, avisando quem quer que estivesse lá dentro, que havia novos clientes no local.

Lou deu meia volta com o corpo.

A loja não tinha mudado muito, algumas prateleiras a mais, mas ainda cheirava a ração, urina de gato e água tratada para aquário.

Riu sozinho.

A mistura de todos aqueles cheiros, mesmo que nojenta, era boa demais. Era sinônimo para todas as suas tardes da adolescência desde que se lembrava de ter quatorze anos.

Riu novamente ao pensar em quantos anos havia passado ali.

Foi interrompido por um latido de cachorro. Com isso, abaixou a cabeça e quase caiu para trás ao ver de quem vinha.

- Lid – disse animada e encaminhou-se para acariciar a cabeça do cão. O animal começou a lamber a mão de Louis e, até mesmo, deitou-se no chão para ser acariciado. O rapaz não perdeu tempo e passou os dedos por toda a extensão do pelo macio e vira-lata do cachorro que parecia já velho. Sua pelugem estava bem mais branca do que antes e os olhos dele tinham cataratas.

Sentiu-se nostálgico ao ver como, diferente de toda a cidade litorânea, o bichinho havia sentido o tempo passar.

- Ele gosta de carinho na barriga – ouviu uma voz conhecida e virou-se para a direção que havia vindo.

- Sei disso – levantou-se sorrindo e segurou a risada ao avistar a feição de choque de Mart.  Diferente de Lid, ele não tinha mudado nada. Absolutamente nada. Exatamente igual. Com mesmo jaleco, mesmo óculos, mesma feição simpática, mesmo cabelo e o mesmo Mart.

- Olhem se não é o sumido... – Mart largou o peso dos ombros e Louis abaixou a cabeça timidamente.

- E ai, Mart? – começou a aproximar-se e, surpreendentemente, foi puxado por um abraço.

- Por onde andou, Lou? – o médico perguntou e os dois riram juntos.

- Por aí – respondeu a mesma coisa a pergunta que todos queriam tanto saber. – Mas eu falei que voltava, lembra? – brincou e eles sorriam mais uma vez. Foram interrompidos pelos latidos de Lid e Louis sorriu ao ver que eram para ele. Não resistiu e pegou o cachorro no colo, recebendo um série de lambidas em seguida.

- A partir de agora, não duvido da palavra de mais ninguém – brincou e deu alguns tapinhas nas costas de Lou. – Você é de casa, vou te mostrar as mudanças que fiz por aqui enquanto você me conta sobre sua vida de jovem adoidado.

Louis riu, segurou Lid firme e seguiu Mart adentro.

- Nunca mais ouvi sobre você – o homem começou a falar depois que foram conversar na sala de banho, a mesma que Lou havia passado mais tempo. – Depois que você foi para Londres, não voltou mais?

- Não muito, na verdade – deu de ombros ainda acariciando o pelo de Lid. – Fiquei por lá pelos últimos anos praticamente direto.

- Estudando? – quis saber e Louis pensou nas respostas.

- Passei... Erm... Por alguns problemas e a London South não permanece com matrículas trancadas por muito tempo – explicou o que não era a maior das mentiras e suspirou. – Passei por uns belos bocados, mas estou tentando me ajeitar agora e, quem sabe, finalmente, estudar para valer.

- Isso é muito bom – Mart concordou.

- É por isso que não vim para Brighton por bastante tempo. Mas agora pretendo fazer mais visitas – sorriu fraco.

- Ainda quer levar o Lid? – brincou e eles gargalharam.

- Com toda certeza – brincou também.

- Já sabe o que quer fazer, Lou?

- Na verdade... Não – desde a conversa com Mira e os pensamentos que tinha consigo mesmo, tal decisão vinha lhe atormentando também. – Acho que não veria problema com administração ou algo do tipo.

- Isso é uma boa – Mart assentiu em aprovação. – Você pode fazer e trabalhar em várias áreas.

- Exatamente.

- Mas e ai... E seus amigos? Como eles estão? Ainda são inseparáveis? – Louis o olhou e eles trocaram um cumprimento. – Uma amizade daquela não pode ter morrido, não é, Lou?

- Não morreu, mas mudou, né – disse com certeza e segurança. As palavras dele lhe tocaram de verdade de uma maneira quase absurda. – Estamos firmes e fortes – garantiu dando de ombros, sem vontade de entrar em detalhes.

- Isso é maravilhoso – Mart sorriu contente.

Continuaram a conversar sobre vida, besteiras, passado e futuro.

Louis foi embora com o coração na boca. Foi difícil despedir-se de Lid e os olhos de Mart quase pediam para que ele ficasse e voltasse a ajudar no funcionamento do pet shop.

Mas Lou foi-se.

Da mesma forma que não podia se permitir a pensar tanto sobre a vida que tinha e havia deixado de ter, não poderia se permitir a viver coisas que, simplesmente, não faziam mais sentido nenhum.

O rapaz, enquanto andava pela orla, já estava pronto para voltar a estação de metrô e, logo, ir para casa. Pensou nos questionamentos de Mart assim que começou a desacelerar os passos.

Parou de andar e encarou o mar pensativo. Tinha respostas sobre o que fazer com sua vida, tinha um caminho para seguir com várias das coisas que eram consideradas problemas, e, ainda assim, sentia seu passado pesado demais.

A nostalgia era intensa o bastante para atrapalhar boa parte de seu cotidiano e o foco para continuar firme e forte, como vinha fazendo.

Sem pensar melhor, sem fingir-se como sempre, Lou saltou adentro do ônibus que circulava pela cidade e encostou a cabeça na janela.

Pensou sobre algumas coisas e afastou outras da mente também. Perguntou-se onde sua consciência havia ido parar e depois quis saber porquê não havia feito aquilo antes.

Droga, pensou bufando.

Repetiu que devia tudo a si mesmo.

Quando percebeu, já havia chegado na última avenida da cidade, na divisa de Brighton com o além. Foi obrigado a descer do automóvel e fez isso lentamente. Observou o ônibus partir e, em seguida, admirou a rua com pouquíssimos comércios.

Tratou de começar a andar com os pés arrastados.

Andou e andou.

Avistou a oficina de carros que tinha por ali e virou na mesma esquina. Não demorou para seus tênis deixarem de ir de encontro com o asfalto e darem de sola com o solo fértil da reserva de Brighton.

Continuou a andar.

Passou por árvores, passou por lojas abandonadas e percebeu que a região ainda continuava totalmente deserta.

Andou mais um pouco sentindo a respiração pesar.

Até que, no meio daquelas árvores espaçadas, entre aquela reserva e aquela vegetação, sob os raios fracos de sol de inverno, escondida de quase tudo e todos, avistou uma pequena casa de madeira.

Começou a se aproximar receoso.

Ao redor, não havia mais tantos arbustos e árvores. Já sabia muito bem o motivo. Engoliu em seco e parou com os passos.

Os quatro degraus da frente estavam quebrados e afundados. O terraço estava todo destruído também e a madeira era devorada por traças e outros insetos.

Parecia que alguém não ia ali há séculos e que aquele lugar tinha parado completamente no tempo.

Nas juntas da construção, tinha uma porção de teias de aranha e Louis, sem pensar, pulou os degraus quebrados e chegou a porta. Parecia a única coisa intacta da construção.

As janelas estavam estilhaçadas e mal tinha vidro na decoração. Havia pedaços de maneira para todos os lados e o sistema que Hazza havia criado para a maçaneta estava todo empoeirado.

Levou os dedos trêmulos até a porta e não surpreendeu-se ao ver que ela abriu sem dificuldade, afinal, se estava tudo enferrujado, nada funcionava igualmente.

Respirou fundo.

Segurou as lágrimas.

Fechou as mãos em punhos.

Sentiu as juntas doerem.

Respirou fundo de novo.

Lágrimas rolaram pelo seu rosto.

Abriu as mãos sem sentir forças.

Sentiu o coração, a cabeça e o corpo doerem.

Estava tudo destruído.

Não havia mais divisão de banheiro, de sótão, de balcão da cozinha e de sala. Na verdade, o sótão por si só havia caído. Metade do telhado estava no chão e o entardecer adentrava completamente a cabana. O pouco que havia sobrado da casa era uma mistura de poeira, de madeira quebrada e de papéis no chão.

Droga.

Andou até a metade que ainda tinha teto e abaixou-se.

Lá estavam as fotos.

Todas elas estavam queimadas.

Passou os dedos por algumas, mas não dava para ver absolutamente nada porque eram papeis negros, devido ao incêndio.

O incêndio.

Se Harry, Nicole, Rebecca, a polícia, Will e todos os outros soubessem a causa do incêndio, pensou sozinho e odiou-se.

Se eles soubessem que, naquela tarde, Louis perdera memórias, infância, juventude, esperanças para um futuro, os amigos e até mesmo mais... Se eles soubessem que o fósforo havia sido aceso por ele, se soubessem que ele sabia que não eram pedras sendo tacadas por alguém, se soubessem do conhecimento dele que nada era uma coincidência ou acidente...

Ah, se soubessem.

Sentou-se no chão e encostou-se em uma das paredes que ainda pareciam estar firmes. Respirou fundo já sentindo os olhos coçarem.  

Nem ao menos sabia o que olhar. O estofado destruído dos pufes, as fotos queimadas no chão, o teto despencado, a poeira, a madeira devorada pelas traças ou tudo junto.

Talvez, mais que tudo, quisesse se olhar.

Talvez quisesse voltar ao passado e avisar para o antigo Louis que não deveriam ir a Brighton naquele sábado, que era para fugirem e para fazerem qualquer outra coisa. Queria também dar alguns socos no antigo Louis por ser idiota, por ficar nas ruas e por estragar tudo.

Deixou de ser irracional e contentar-se com a vida adulta e arrependeu-se de tudo que fizera errado.

Já não pode mais controlar o tamanho de tal lista e sentiu vergonha de si mesmo.

- Otário – resmungou a si e segurou as lágrimas.

Seus olhos foram de encontro à uma foto enquanto pensava em tudo. Conseguia avistar um sorriso no meio  de toda aquela zona. Era o de Harry e teve certeza. Esticou-se até o papel que estava entre algumas madeiras e, assim que o tocou, agradeceu por ter uma boa vista e achar tal fotografia.

Deveria ser a única que ainda conseguia ser nítida.

Os quatro estavam com o uniforme de educação física da Brighton High School. Eles tinham, no máximo, quinze anos. Deveria ser algo tirado no primeiro ano, quando ainda eram calouros da BHS.

As feições infantis e da puberdade entregavam o momento.

Louis sorria divertido e tinha meias altas de futebol. Ao seu enlaço, havia Nicole, com os braços ao redor do pescoço dele, provavelmente lhe apertando de propósito e fazendo uma careta. Rebecca a abraçava de lado e ria. Ela ainda usava óculos e era uma magricela. Atrás dos três, havia um Harry sorrindo exageradamente.

- Merda! – gritou de raiva.

Desejava que aquelas quatro pessoas tivessem sido espertas o bastante para livrar-se de encrencas. Queria que elas pudessem mudar o tempo contínuo, que pudessem mudar o mundo de outro jeito, que fossem normais e que...

- Para – bateu forte contra a própria cabeça e impediu-se de continuar com os devaneios atormentadores.

Repetiu que não tinha controle daquilo. Repetiu à si que aquelas pessoas não existiam mais. Não jogava mais futebol, Nicole não o esmagava mais, Rebecca não era mais somente a menina mais inteligente e Harry não emanava por felicidade apenas por fazê-lo.

Não podiam usar mais o uniforme da BHS e não podiam mudar as consequências as quais haviam criado. Louis sabia disso e sabia também que não podia mudar o que havia feito naquela tarde, quatro anos antes, quando o teto e eles todos despencaram.

As coisas haviam mudado e remoer-se tanto tinha de parar.

Repetiu a si mesmo que estavam bem. Que estavam vivos, que tinham casa, que tinham se reencontrado, que tentavam ajeitar as próprias vidas, que ainda tinham problemas mas que, esperava, haviam superado o passado tão traumatizante.

Fungou forte, guardou a foto no bolso e não procurou por mais nenhuma intacta ou teria mais uma crise, quem sabe, ainda pior.

Levantou-se e o quando o fez, perguntou-se se aquele lugar lhe pertencia. Perguntou-se se aquele lugar ainda era a mesma e velha cabana de sempre.

Não encontrou respostas, assim como todas as outras perguntas que vinha se fazendo.

Antes de voltar a ser o Louis adulto, firme e consciente, perguntou-se se era culpado por aquele desfecho, de anos antes, com fogo, pânico e tristeza.

Torceu para que, se existisse uma força suprema, ela dissesse não, mas sentiu sua cabeça e seu corpo inteiro insistirem em batucar sim em sua mente.

Apertou a foto contra os dedos, fungou novamente, respirou fundo e tomou a decisão de partir antes que morresse de vergonha de si mesmo.

Sentia que ainda voltaria, no fundo.

(...)

Abriu a porta de casa e sentiu-se melhor ao ver a figura de Harry sentada no banco do balcão da cozinha.

- Harold! – gritou, fingindo empolgação, e tentando demonstrar que seu emocional estava perfeito e não tão abalado como, de fato, estava.

- Tomlinson! – Harry acenou, ainda de costas, também empolgado. – Como foi a viagem? Brighton ainda fede a maresia?

- Minha nossa – revirou os olhos e eles gargalharam. – Foi... Interessante – deu de ombros.

- Ah é? O que aprontou por lá? – Harry quis saber e Louis, no mesmo instante, voltou a não se sentir tão bem.

- Er... – contornou o balcão, mas perdeu quaisquer palavras ao ver Hazza arrumando uma série de papéis que estavam sob o balcão de maneira frenética. – O que está havendo, Harry?

A cozinha estava uma zona.

- Nada – respondeu rápido e Lou arqueou a sobrancelha. O melhor amigo empurrou tudo para dentro de uma mochila e Lou percebeu que havia umas três calculadoras pela cozinha e diversas planilhas feitas à mão espalhadas por ali.

- Virou contador, cérebro? – brincou estranhando e questionou-se toda aquela esquisitice.

- Opa – Harry permaneceu na defensiva e Louis percebeu que havia alguma coisa séria acontecendo.

- Harry – cruzou os braços e o olhou. Hazza levantou os olhos e ambos se encaram.

- Não tá acontecendo nada, cara. É sério – Harry disse baixo.

- Sei...  – analisou-o tranquilamente notando a mentira. Hazza lambeu os lábios e aquilo foi a deixa. – Cadê a Nicole? – espiou escada acima e voltou os olhos para Harry.

- Vai chegar a qualquer momento... – revirou os olhos bravo e Louis alcançou os rascunhos que haviam sobrado no balcão.

- Manda logo, Hazza – mandou e tentou entender várias contas tenebrosas anotadas nos papéis.

- Eu não posso falar ainda, ok?! – protestou e Lou estranhou ainda mais. – Nicole vai chegar bem em breve mesmo e...

- Por acaso vai pedir ela em casamento ou o quê?! – estranhou a preocupação dele e abriu os braços bravo.

A verdade era que Harry parecia em pânico e Louis começava a sentir-se do mesmo jeito.

- Não! – devolveu firmemente as palavras. – É complicado, Lou.

- Que porra está havendo? – protestou sem aguentar de curiosidade.

- Vamos receber grana do Will! – Harry gritou e Louis quase caiu para trás. – Tipo, muita grana.

- Puta merda – parecia piada. – Do que você está falando, Harry?!

- O que acha de um reencontro de nós oito? – Hazza sugeriu e arrancou as folhas que Louis que segurava de suas mãos sem paciência. – Porque, sinto em informar, mas vai ter que acontecer.

- Você está zuando... – negou com a cabeça e se afastou do melhor amigo. Sentia que aquilo só poderia ser piada de mal gosto.

- Você que pensa – notou Harry pegar as folhas de volta na mochila e entregar-se lhe uma delas. – Pode ler.

- Só vejo seu nome aqui...

- Sua intimação vai chegar em breve, Lou – Hazza bufou e parou ao lado de Lou. – Bem em breve...

Todas as sensações que Louis sentira na cabana bateram fortemente contra ele novamente e toda a racionalidade ia por água baixo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Mart is back :))))) hehe eu amoo um veterinário. Miranda, então, nem se fale, né? E aí? Gostaram?

Sei que preciso atualizar meus comentários pendentes e responder uma galera, mas, confesso, estou curtindo tudo isso de novo e tentando aproveitar tudo ao máximo e postergar essas coisinhas que amo <3 estou lendo a opinião de vocês e de olho de tudo hehe juro!

É oficial: dia 31 de maio finalizo PM em 65 capítulos e espero que seja incrível! Estou me dedicando muito para juntar muitas referências e muitos questionamentos e desfechos também. Aiiiiiiii, já deu saudades ok? Enfim, semana que vem é hora do último capítulo único e ninguém melhor que Nicole para fazer isso com estilo.

Espero que gostem! E, principalmente, que estejam gostando <3 Se cuidem, lavem as mãos, fiquem em casa e nos vemos em breveeee, assim como Harold disse.

Beijos, amores.

FUUUUUUUUUUUUUUUUUI


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