História Perfect Two - Please Come Back For Me

Dan estava sentado na cadeira do seu quarto, ele observou um passarinho pousar na sua janela e logo ir embora antes da sua atenção se voltar novamente para a câmera onde uma luz vermelha piscava informando que estava gravando.
    Ele se levantou a desligando e apagando o que tinha sido gravado. Já era a quinta vez naquele dia que ele tentava gravar esse vídeo, em todas as vezes ou ele apenas ficava em silêncio ou começava a chorar assim que as primeiras palavras deixavam a sua boca.
    O garoto saiu do quarto logo vendo a porta fechada do quarto de Phil, parando por alguns segundos a encarando antes de voltar a andar. Ele entrou no banheiro e se despiu ligando o chuveiro.
    Ele sentiu a água quente relaxando os músculos do seu corpo enquanto fechava os olhos encostando a testa na parede.
    Já tinham se passado três dias desde o acidente, Phil tinha passado por uma cirurgia e diversos exames, os médicos falaram que ele provavelmente não teria nenhum dano físico permanente, mas o moreno ainda não tinha acordado e não se tinha nenhuma previsão de quando isso poderia acontecer.
    Dan tinha conseguido que lhe permitissem permanecer como acompanhante no primeiro dia após a cirurgia, mas depois disso teve que seguir o horário de visitação padrão por não ser da família. Os pais de Phil tinham chegado há um dia, Dan ainda não os tinha visto pessoalmente, ele tinham medo do que eles iriam lhe dizer.
    O garoto se afastou da parede começando logo a se limpar, quando terminou ele desligou o chuveiro e se enrolou em uma toalha voltando para o seu quarto. Depois de se vestir ele penteou os cabelos rapidamente, ele não estava com muita paciência para alisa-los por mais que odiasse os seus cachos.
    Até agora ele não tinha falado para ninguém além dos pais de Phil o que tinha acontecido, seus amigos sabiam apenas que o mais velho estava internado por causa de um acidente.
    Ele respirou fundo antes de ligar a câmera começando a gravar antes de se sentar.
    -Esse vídeo não é engraçado e eu não vou edita-lo, eu só estou postando isso no meu canal principal porque ele é muito importante.
    Dan sentiu o nó se formando na sua garganta mas continuou falando mesmo assim.
    -Eu tenho algo para contar para vocês... Eu e Phil estamos, estávamos, namorando.
    Ele sentiu seu peito se apertando ao falar isso.
    -Nós estávamos namorando por quase um ano e... a gente brigou... foi culpa minha, eu devia ter aceitado contar mais cedo.
    O garoto passou as costas da mão no seu rosto enxugando as lágrimas que tinham começado a cair dos seus olhos.
    -A gente brigou e ele... ele saiu andando e ele, droga...  ele foi atropelado.
    Ele estava chorando mas não conseguia se importar em disfarçar isso.
    -O Phil está em coma, os médicos n-não sabem quando ele vai acordar.
    Falar isso em voz alta fez com que seu coração falhasse uma batida, acelerando logo em seguida.
    -E-eu não sei quando eu vou postar novamente... eu só... droga, por que isso é tão difícil?
    Dan respirou profundamente antes de voltar a falar.
    -Eu preciso de um tempo pra colocar tudo no lugar... eu não sei como as coisas vão ser daqui em diante... me desculpem.
    Ele não tinha certeza para quem ele estava pedindo desculpa, seus inscritos, ele mesmo, os pais de Phil, Phil... eram pessoas demais que ele sentia que tinha magoado, que tinha desapontado.
    Ele secou o rosto novamente antes de se levantar desligando a câmera, demorando alguns segundos para normalizar a sua respiração.
    Dan removeu a câmera do tripé a conectando ao computador, ele esperou até que o vídeo passasse para o computador antes de abrir a pagina para fazer o upload para o youtube. Ele ficou algum tempo encarando o local onde ele deveria colocar o nome do vídeo antes de começar a digitar.
    "Eu preciso falar algo"
    Ele começou a fazer o upload do vídeo e se levantou indo até o espelho, seu olhos estavam inchados devido ao choro, Dan se deitou na cama abraçando um dos seus travesseiros esperando o vídeo terminar de carregar.
    Algum tempo depois ele escutou o aviso de que o upload tinha terminado, logo ele se levantou e desligou o computador depois de tuitar apenas o link do vídeo, também desligando o celular. Era questão de minutos até que o caos começasse e ele sabia disso, e não queria ter que ver isso acontecendo naquele momento.
    O garoto pegou uma jaqueta antes de sair de casa indo em direção a estação de metrô para ir para o hospital. Não demorou muito para que ele chegasse, logo se registrando na recepção antes de ir para o quarto em que o amigo estava.
    Ele abriu a porta sentindo seu estomago embrulhar ao ver os pais de Phil no quarto, ele tinha esquecido completamente que eles estavam lá. O pai do moreno olhou para a mulher antes de sair, apertando o ombro do garoto de maneira reconfortante no caminho.
    -Você não precisa ficar nervoso.
    A mulher falou calmamente sem tirar os olhos do filho.
    -Você fazia ele muito feliz sabia? Ele sempre me falava sobre você, sobre vocês, quando ele me ligava.
    Dan tinha certeza que era possível que ele vomitasse de ansiedade e culpa.
    -Você deixava ele seguro.
    -Eu... eu não sei se era eu que deixava ele seguro, eu não sei o que teria acontecido comigo se eu não tivesse conhecido ele.
    A mulher finalmente se virou olhando o garoto nos olhos, como se estivesse lhe examinando.
    -Você ama muito o meu filho não é mesmo?
    Dan apenas concordou com a cabeça encarando o chão.
    -Eu não sei se ele já te contou isso, mas anos atrás, quando vocês tinham começado a se falar, ele veio chorando até mim por sua causa. Ele falou que estava confuso e que achava que estava gostando de você, eu já tinha imaginado mas preferi que ele mesmo me contasse.
    Dan olhou surpreso para a mãe do amigo, sem conseguir falar nada.
    -Eu sabia que em algum momento vocês iam ficar juntos, eu não achei que ia demorar tanto quanto demorou na verdade. Eu sei o quanto você significa para o meu filho, e eu sei o quanto ele significa para você.
    -E-Eu...
    -Dan, eu não sei o motivo de você estar se culpando pelo o que aconteceu, mas eu garanto que por mais que você pense isso a culpa não foi sua. Eu sei que você jamais machucaria o meu filho de propósito.
    A mulher levou a mão até o rosto do garoto secando as suas lágrimas antes de lhe abraçar, Dan teve que se inclinar um pouco para ficar na altura da mãe do seu amigo, mas com certeza o abraço o fez se sentir melhor.
    -Eu sinto tanta falta dele, eu não sei o que fazer.
    -Ele vai voltar para a gente, o meu filho é um homem forte, ele vai sair dessa.
    Ela assegurou depois que eles se separaram.
    -Os outros dois já sabem de tudo?
    -O Chris e o Pj? Acho que já devem estar sabendo a essa hora.
    -Você devia conversar com eles.
    O garoto apenas concordou com a cabeça. A mais velha olhou mais uma vez para o filho antes de sair do quarto deixando os dois a sós.
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    Eram 11 da manhã quando Dan decidiu se levantar da cama, ele já tinha acordado há duas horas, mas estava frio lá fora e a cama estava quente, e se ele continuasse deitado ele não teria que lhe dar com os problemas do mundo real. Mas em algum momento ele tinha que se levantar, ele andou até a janela do seu quarto abrindo as cortinas. Lá fora estava nevando e o movimento nas ruas tinha diminuído em relação as ultimas semanas já que o natal já tinha passado.
    Faziam quase quatro meses desde o acidente, Phil ainda não havia acordado, e Dan tinha abandonado quase que completamente todas as redes sociais, principalmente o Youtube. Ele seguiu o conselho da mãe de Phil e conversou com Chris e Pj sobre tudo o que estava acontecendo, os amigos tentaram de várias maneiras lhe animar durante algum tempo, mas depois acabaram desistindo e apenas tentando manter contato para checar se ele estava melhor de vez em quando.
    Dan ainda ia sempre visitar Phil no hospital, ele tinha tentado parar isso mas só durou uma semana antes que a ansiedade o consumisse. Se ele não fosse provavelmente ficaria em casa, e era tudo quieto demais sem a presença do outro para que ele aguentasse, então ele geralmente passava a manhã dormindo, de tarde ia até o hospital e depois ia fazer alguma coisa evitando o máximo possível voltar para casa.
    Tyler e Pj tinham perguntado se ele não achava melhor se mudar, o ultimo tinha inclusive lhe chamado para morarem juntos, mas por mais que o apartamento lhe trouxesse lembranças demais ele não queria as esquecer. Ele acreditava que algum dia essas lembranças ainda voltariam a serem boas.
    Dan fechou novamente a cortina indo até o banheiro, depois de tomar banho ele se vestiu pegando uma jaqueta antes de sair de casa. Ele andou até um Starbucks para tomar café-da-manhã antes de ir pegar o metrô. Isso era outro habito que o garoto tinha adquirido, ele começara a comer mais na rua do que em casa.
    Enquanto estava na fila dua garotas, que ele imaginou terem lhe reconhecido do Youtube, sorriram timidamente para ele, que apenas acenou de volta com um meio sorriso.
    Quando ele postou o vídeo assumindo o relacionamento com Phil, um dos seu maiores medos foi como o seu publico iria reagir, com exceção de algumas pessoas a resposta foi melhor do que ele tinha esperado. Ele tinha ficado com medo de que eles fossem ser insensíveis sobre o assunto, mas a maioria respeitou a situação e lhe mandaram várias mensagens falando que estavam torcendo para que tudo melhorasse.
    Depois de comer ele foi até a estação de metrô para ir para o hospital. Não muito depois ele chegou ao hospital, no caminho para o quarto de Phil ele cumprimentou alguns dos funcionários que já o conheciam.
    Ele abriu a porta logo vendo uma das enfermeiras checando os aparelhos, essa era a sua favorita, ela nunca mentia para ele sobre a situação do amigo ou ficava lhe encarando como se ele fosse uma aberração, ela lhe ajudara bastante nesses meses.
    -Olá Clair.
    -Ah, oi Dan.
    Ela era bonita, isso ninguém poderia negar, ela não era muito mais velha do que Dan e tinha os cabelos pretos levemente ondulados presos em um coque no topo da cabeça, os seus olhos eram algum tom entre castanho claro e verde, e ela tinha um cuidado com os pacientes que sempre espantava Dan. Talvez em outro universo em que eles se conhecessem de alguma outra forma e em que ele não tivesse se apaixonado por Phil ele a chamasse para sair, mas ele a encarava como uma irmã mais velha.
    -Eu estou só checando tudo e trocando o soro dele.
    -Ok. Clair, ele... ele está melhorando?
    A enfermeira o encarou mordendo os lábios nervosa.
    -Dan... eu já te disse não tem nada pra ele melhorar, tudo nele está funcionando perfeitamente, ele só... não acorda. Não dá pra saber muita coisa até que ele acorde.
    A garota respondeu o olhando cautelosamente.
    -Você acha que ele sabe que eu estou aqui?
    -Não sei, tem gente que sabe e tem gente que não sabe, isso só vai dar pra saber quando ele acordar.
    Dan concordou com a cabeça indo até a poltrona que ficava do lado da cama enquanto Clair terminava o que estava fazendo, ela se virou guardando o seu material depois de um momento.
    -Mas mesmo não sabendo isso tem uma coisa que eu sei, eu trabalho aqui há um bom tempo, e eu nunca vi um amor tão grande pelo o que você sente por ele.
    O garoto sorriu fracamente antes da enfermeira deixar o quarto fechando a porta.
    -Eu queria saber o que está acontecendo aí dentro.
    Ele falou olhando para o rosto adormecido do moreno. Phil estava magro, muito magro, e mais pálido do que ele já era, seu cabelo estava precisando ser cortado e estava seco, mesmo assim Dan ainda o achava lindo.
    -A sua mãe ligou, ela vai chegar semana que vem pra passar o fim de semana, ela falou que os seus irmãos sentiram a sua falta no natal, que não foi a mesma coisa sem você.
    Ele levou a mão até o rosto do amigo o acariciando e afastando um pouco o cabelo, uma das coisas que ele mais sentia falta era da cor dos olhos do outro, do azul que conseguia ler a sua alma.
    -Os meus pais me chamaram pra passar um tempo com eles... eu sei que eu devia aceitar mas eu não consegui. Eu... eu quero ter certeza que eu vou poder estar aqui quando você acordar.
    Ele respirou fundo escutando apenas o barulho das maquinas.
    -Por que você tá demorando tanto pra acordar? Por que você ainda não voltou pra mim? Eu te amo tanto Phil... E-eu não me importo se você ainda vai me querer por perto o-ou não... mas volta Phil, por favor volta.
    Dan se permitiu chorar por alguns segundos enquanto acariciava os cabelos do mais velho.
    -Eu não sei mais o que fazer... eu estou com medo Philly, eu preciso de você de volta.
    Ele colocou as mãos no colo fechando os olhos, tentando para de chorar.
    -Eu achei que seria mais fácil depois de um tempo mas eu não consigo te esquecer.
    Ele falou com a respiração já mais controlada.
    -Acorda Phil, por favor.
    O garoto pediu mais uma vez levando as mãos aos cabelos.
    -Eu hã... Eu acho que e já vou...
    Dan falou secando o seu rosto com as mãos, ele se virou andando em direção a porta. Ele já estava a abrindo quando algo fez seu coração parar, ele escutou a respiração de Phil descompassar por alguns segundos antes de escutar uma tosse, o garoto continuou parado de frente para a porta, ele não tinha coragem de se virar para ver se era verdade ou se foi sua imaginação, ele não queria ter esperanças demais, não até escutar uma voz rouca lhe chamando.
    -Dan.