História Pesadelos e Sensações - Eu já sou sua

        Eram beijos calmos que aos poucos iam ganhando forma e movimento, eu não via quem estava me beijando, por um momento achei que fosse o mesmo homem dos meus pesadelos, mas não era e pelos seus toques, que eram completamente diferentes, eu tinha certeza. Em vez de medo sentia segurança, vontade, desejo.

         Tudo estava bom.

         Para continuar, tudo dependia de uma coisa. Tudo dependia de apenas de um empurrão. Só um empurrão, mais nada. Apenas um empurrão para que eu pudesse me perder nos lençóis da cama e sentir o peso do corpo dele sobre mim.

         As mãos daquele homem alisavam meu corpo de uma forma muito carinhosa seus lábios continuavam a me beijar de uma maneira muito delicada:

         - Seja minha, por favor?

.  .  .

         A água quente parecia querer apagar as sensações da noite passada, mas só parecia mesmo. A maior parte do tempo ela reacendia cada toque, gesto e beijo. Estava estranhamente feliz e sem jeito.

         Evitei olhar ao máximo possível para meus pais, principalmente minha mãe. Por sorte na noite anterior, ela não tinha feito muitas perguntas sobre o meu passeio. Confesso. Foi até um alivio, porque a maioria do tempo minha mãe me trata como sua melhor amiga.

         Não fiquei muito tempo à mesa, logo já estava de pé caminhando até a escola. Pensei, durante o caminho, várias vezes no beijo e no sonho, e também se contava para a Lia sobre o ocorrido, cheguei à conclusão de não contar.

         Uma surpresa. Lia já estava sentada embaixo da (minha) árvore. Foi uma surpresa pois, praticamente, todos os dias ele chega depois de mim:

         - Oie!

         - Oie. Antes de qualquer coisa que pense em dizer, a senhorita vai me contar do seu encontro.

         - Não foi um encontro.

         - Ok! Então me fala, o que aconteceu no seu não encontro?

         Será possível?! Não adianta falar nada para ela. Reviro os olhos:

         - Nada demais.

         - Vai mentir para outra pessoa.

         Contei. Contei tudo e mais um pouco, mas obviamente, ocultei a parte do beijo. Ela ficou chocada, até certo ponto pasma, mas no sentido bom da coisa. Ela não parava de falar sobre isso durante um bom tempo, e a quilo estava me fazendo ficar com vergonha. Particularmente ela tinha achado muito corajoso da parte dele ter me chamado para dar uma volta apenas para me conhecer melhor.

         Percebi que logo depois dessa conversa um silêncio ia ficar entre a gente, logo me lembrei:

         - Tive um sonho essa noite.

         - O que aconteceu???

         A preocupação tinha se exaltado mais do queria na voz dela:

         - Relaxa, ele foi muito bom.

         Mais uma historinha.

         Como se fosse algo planejado, assim que terminei, Daniel chegou. Cumprimentou Lia com um beijinho na bochecha:

         - Oi Lia. Cadê o Rick?

         - Ah me esqueci, ele passou mal e teve que faltar.

         - Oi ruivinha.

         Seu beijo quase encostou no canto da minha boca, congelei por poucos segundos antes do calor desse momento me descongelar. Ele fez isso de propósito?:

         - oi...

         O dia todo foi isso, ficamos nos “estranhando”, não era bem isso, mas eu não soube descrever. No intervalo quando nos olhávamos, rapidamente desviávamos o olhar.

         Sorrisos de canto.

         Bochechas coradas.

.  .  .

         - Vai me contar o que está acontecendo entre você  e o Daniel?

         Parte do caminho de volta, Lia e Rick sempre iam junto comigo:

         - Não aconteceu nada Lia. Que insistência.

         Parou na minha frente e cruzou os braços fazendo cara feia:

         - Não mente para mim Meredith. Vocês mal se falaram, na aula você quase não virou para trás pra conversar, no lanche você ficou quieta e corava sem necessidade. Fala logo.

         AH que raiva! Ela pegou no meu ponto fraco, ela me chamou pelo nome. Sem contar que ela realmente estava braba, ela só fazia aquela pose e falava daquele jeito quando estava realmente com raiva. Tinha me encurralado:

         - Ok! Ok! Você venceu. No final do passeio, quando ele me deixou em casa... nós... nos beijamos.

         - HÁ! Eu sabia que tinha alguma coisa.

         Isso gerou uma longa conversa constrangedora. Concordamos em não contar nada para o Rick, sabíamos que isso não ia ser muito bom.

         Eu sempre negava, mas ela vivia tentando me convencer de que meu sonho foi por causa daquele beijo. A verdade era que ela não precisava me convencer, eu já sabia daquilo. Ele, Daniel, foi o culpado de eu ter um dos melhores sonhos da minha vida.

.  .  .

         A minha noite estava caindo e a fome vinha junto, logo já estava na cozinha fazendo alguma coisa pra eu comer.

         Depois de um longo e maravilhoso dia e uma jantinha simples, já estava indo dormir, mas a voz da minha mãe aparece:

         - Filha...

         - Fala mãe.

         - O que acha de amanhã irmos ao shopping?

         - Ótima ideia.

         Claro que não ia recusar uma ida no shopping.

         Obviamente que eu não dormi assim que deitei, fiquei um bom tempo no celular até finalmente cair na escuridão e na terra, que eu não sabia se era, dos sonhos ou pesadelos.

.  .  .

         Estávamos nós de novo, onde tínhamos parados. No mesmo local, na mesma frase:

         - seja minha, por favor?

         - Eu já sou sua,

         Nossas bocas novamente se encontraram, mas dessa vez não era de jeito calmo, era um jeito veloz, cheio de desejo. Quando a falta de ar se fez presente o seu rosto se iluminou, e eu finalmente pude ver quem era.

         Daniel.

.  .  .

         Respiração ofegante;

         Bochechas coradas;

         E um sorriso gigante no rosto.

         Foi assim que acordei, não acreditava que havia sonhado com Daniel.