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História Pigmentos de Amor - ShinoKiba - A cor de uma simbiose


Escrita por: kalinebogard

Notas do Autor


Postei e corri! Esse mês é uma loucura por causa do desafio Drabble!

Capítulo 17 - A cor de uma simbiose


Haruno Sakura recostou-se na cadeira e cruzou as mãos sobre a mesa, bem em cima do que parecia a ficha que o Ômega preencheu na recepção.

— O seu caso, Kiba, é um caso extremamente delicado...

Ela disse como se sondasse o terreno. Kiba sentiu um aperto no peito e o coração disparar. Foi muito ingênuo de achar que o destino seria legal com eles. Afinal casos complicados nunca eram baratos.

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Por breves segundos os três ficaram em silêncio. A médica tinha a intenção de permitir que absorvessem a informação e compreendessem a gravidade da situação. Certas notícias são um

baque tão grande que a mente não assimila instantaneamente.

Quando achou adequado, retomou a fala:

— Sou Obstetra com Especialização em Medicina Ômega. Minha tese de Doutorado foi uma pesquisa no campo da saúde Ômega. Acompanhei inúmeros gestantes ao longo desses anos, mas é a primeira vez que me deparo com um na sua idade, Kiba.

— Caralho... — o garoto resmungou e deu uma olhadinha na direção de Shino.

A médica sorriu.

— Uma fêmea dentro dos padrões normativos nasce com o corpo adaptado e um sistema reprodutor completo, que vai  maturando conforme ela entra na adolescência e na vida adulta. Machos não nascem com isso. E é um fator para considerar Ômegas uma

evolução dentro da nossa espécie: por serem os únicos capazes de sofrer uma mudança a nível de composição corporal — respirou fundo, aproveitando a breve pausa pra refletir nas próximas palavras — Um Ômega começa a desenvolver uma estrutura semelhante ao útero por volta dos quinze anos. Quando é por volta dos dezenove anos acontece o primeiro cio, que é o sinal do corpo indicando que existe maturidade suficiente para gerar uma nova vida. Compreende?

— Acho que sim — Kiba sussurrou.

— Em outras palavras: o corpo dele não está pronto para essa gestação — Shino colocou em palavras os fantasmas que assombravam a realidade do casal e que começavam a tomar um

formato verdadeiramente assustador. Que Kiba era muito jovem era óbvio! Mas era

assim tão arriscado?

— Exatamente — Haruno Sakura assentiu — Algum motivo antecipou o seu cio e não é um acontecimento natural. Precisarei pedir detalhes mais a frente, Inuzuka-san me adiantou algo, mas preferi conversar diretamente com os pais. Enfim, você concebeu esse

filhote no meio do processo de adaptação corporal. É como se colocasse um ovinho em um ninho com poucos galhos: extremamente delicado e frágil. A antecipação do cio em si não se trata de um fenômeno tão raro. Eu mesma já acompanhei jovens com maturação prematura. A questão é que nenhum dos que apresentava vida sexual ativa chegou a engravidar. E nem todos usaram métodos contraceptivos, pois o cio pode ser complicado e... bom, são informações que não vem ao caso. Consegue me acompanhar até agora?

Kiba respirou fundo e coçou o queixo, visivelmente ganhando tempo.

— Meu corpo não tá pronto e eu não deveria ter engravidado mesmo com o cio, é isso?

— Sim — Sakura sorriu pela simplicidade das palavras escolhidas — Mas Ômegas são uma maravilha que sempre nos surpreendem. Aí está o seu filhote muito forte se agarrando à vida

com tudo o que tem.

— Mas é perigoso pro bebê — Shino soou neutro.

— Não vou negar, nem amenizar: é perigoso. A natureza é sábia em sua criação, por isso existe uma média de quatro anos entre o processo que adequa o corpo ao momento em que o

primeiro cio dos Ômegas ocorre. Kiba queimou etapas e o filhote terá um espaço frágil em seu corpo para se desenvolver. Tentarei medir o quão frágil através de exames, principalmente de ultrassonografias — ela ajeitou-se na cadeira e inclinou o corpo um pouco para frente, ficando mais próxima do casal — E isso para o feto. Para você eu não tenho parâmetros de comparação sobre prováveis perigos à saúde. Por isso vou assumir uma postura preventiva e acreditar que também há risco para a sua vida. Não costumo ter atitudes levianas com meus pacientes.

A verdade soou nua e crua. E assustadora.

Kiba sentiu a essência de Shino envolvê-lo, preocupada e cuidadosa. Havia um traço de medo naquele gesto, algo instintivo que deu ao Ômega uma visão bem completa do que viria a

enfrentar. Ter um filho podia ser maravilhoso, um milagre. Todavia compreendia algo

que sequer passou-lhe pela mente até então: talvez houvesse uma chance de... sua vida estar em perigo. Usou eufemismos porque não conseguiu sequer mentalizar o verbo “morrer”.

E era o que Haruno Sakura deixava claro: não garantia nada. Não tinha certeza por ser um campo ainda não explorado. Mas Kiba podia morrer.

— Caralho — deixou escapar sem conseguir evitar.

No mesmo instante a mão de Shino procurou a dele, envolvendo-a e transmitindo alguma segurança através do calor firme que compartilhou.

— E é por isso que minha colega de profissão teve certo receio de acompanhar a sua gestação, ela atende muitas adolescentes com gravidez prematura. Tanto de Alphas, Betas e Ômegas, mas sempre meninas.  Ela me avisou que indicou meu nome para Inuzuka-san. Quando sua mãe ligou, eu já estava esperando o contato.  Aceitar acompanhar o seu caso sem um mínimo de conhecimento especificamente Ômega seria mais do que antiético.  Seria uma completa falta de respeito com a sua vida e a futura família que pretendem ter.

— Eu entendi que seria um caso complicado desde o começo — Kiba revelou — Mas pensei em complicado de outro ponto de vista. Não, acho que eu nem parei pra pensar direito... o primeiro impacto foi como isso afeta meus estudos, sabe? E a faculdade também. Agora você tá trazendo outra questão e eu... caralho... quanta informação.

A mão de Shino deu um novo apertão na dele. Aquele rascunho de medo primordial que nublou-lhe a essência foi substituído por decisão convicta. Shino decidiu secretamente que Haruno Sakura devia ser a médica de Kiba e acompanhar a gestação até o final. Se vender o carro não fosse suficiente, venderia o apartamento e qualquer outro bem para ter todas garantidas para que seu companheiro e o filhote recebessem o tratamento mais adequado. Mais seguro.

— Não quero assustá-los — Sakura sorriu —Eu disse tudo isso com alguns objetivos em mente. Primeiro é ser honesta sobre o que enfrentaremos. Não será uma gestação comum como a de qualquer outro Ômega. A única garantia que eu posso dar é de ser preparada e ter estudado muito sobre Ômegas e de que vou estudar ainda mais, tentarei atuar da melhor forma possível. E, por último, quero que percebam o quão raro e inacreditável é essa concepção, que desafiou o que eu tinha como certo sobre a natureza do corpo Ômega.

A parte final fez Kiba estufar um pouco e sorrir largo, exibindo as pressinhas afiadas.

— É. Sou do tipo meio foda mesmo. O Shino deu sorte porque eu sou um partidão — ele nunca teve problemas em evidenciar as próprias qualidades.

A expressão de Sakura suavizou-se um bocado. Voltou a se recostar na cadeira, numa postura que já não parecia muito alerta.

— Pela raridade que enquadra esse caso, a clínica deseja acompanhar sua gestação do começo ao fim, assim como realizar o parto e...

— Ah, precisamos esclarecer sobre isso, sabe? Eu nem imaginava que a clínica era tão chique. A gente conversou rápido sobre vender o carro pra poder pagar, mas mesmo assim acho que vai ficar fora do orçamento.

— Quais métodos de pagamento vocês oferecem? — Shino foi mais objetivo. Sabendo o ponto principal teria como argumentar e negociar de um jeito que conseguisse bancar.

A médica olhou de um para o outro, terminou o gesto balançando a cabeça.

— Me perdoem se não fui clara o bastante: nossa clínica pretende acompanhar e custear toda a gestação. Vocês não vão precisar pagar nada. Nem o pré-natal, o parto ou o acompanhamento pós-parto.

A revelação veio simpática, sem grande afetação. Não era nem perto do que esperavam ouvir, por isso até mesmo Shino precisou de um segundo para compreender o significado.

— Vocês não vão cobrar nada?

— Por quê?! — Kiba não quis se empolgar cedo demais.

— Queremos o direito de documentar cada mês da sua gestação. A intenção é lançar artigos mensais e compilar um livro com um estudo clínico sobre o caso. Talvez não tenha noção de como isso pode repercutir na comunidade médica, mas situações assim são verdadeiros achados científicos. Não posso me lembrar de um Ômega de dezessete anos que tenha engravidado em Konoha nos últimos cem anos. Vocês podem ser o primeiro casal da história a conseguir conceber com as condições atuais. Por isso não se enganem: não é um caso de simples caridade ou atendimento social, temos em vista resultados tanto na questão financeira quanto na reputação da clínica.

Novamente o jovem casal se viu pego de surpresa. Shino, mentalmente, foi mais rápido em compreender as implicações do que acabou de ouvir. Haruno Sakura não tentou camuflar nada, pelo contrário. Com ela colocando a verdade sobre a mesa Shino conseguiu visualizar que ele e Kiba poderiam se tornar uma mina de ouro para a clínica. A ponto de o valor do tratamento sair irrisório perto do que eles lucrariam.

— Vão escrever um livro sobre mim?! — Kiba não conseguiu não se empolgar. Ele estufou o peito e deu a impressão de que mais um pouco resplandeceria.

— Sim — Sakura sorriu — Com direito a cota de participação nos lucros, claro. Vocês vão receber um contrato para avaliar. Recomendo que levem a um bom advogado. Também vão conhecer o editor e uma série de outros detalhes. Não precisam dar a resposta agora.

Kiba balançou a cabeça e mordeu a língua de leve. Sua vontade era aceitar de uma vez. Iam escrever um livro sobre ele! Mas se conformou em silenciar e deixar para conversar com Shino primeiro. A oferta era boa demais para só ir dizendo sim.

— Tudo bem — Shino aquiesceu — Conheço um advogado que pode nos ajudar.

— Perfeito! — Sakura abriu a gaveta e pegou uma pasta estilo prontuário — Por hora vamos tirar as medidas de Kiba e fazer um exame preliminar!  Mesmo se não quiserem o acordo posso ceder as informações para o médico que escolherem.

— Obrigado! — Kiba agradeceu sincero.

Ouviu notícias péssimas. Mas também sentiu que um peso saiu de seus ombros. Havia ao menos uma alternativa a que recorrer. E, ainda que a clínica pretendesse lucrar com a história deles, se fosse a melhor opção para o filhotinho então só havia uma reposta que o casal podia dar.



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