1. Spirit Fanfics >
  2. Please, be mine! BAKUDEKU, ABO, BNHA >
  3. Um prêmio que eu trapacearia para ganhar

História Please, be mine! BAKUDEKU, ABO, BNHA - Um prêmio que eu trapacearia para ganhar


Escrita por: BAKUBRO

Capítulo 9 - Um prêmio que eu trapacearia para ganhar


/ Katsuki / 

 O encerramento do bimestre

Encarei distraído a nuca de Sarem enquanto ele assinava o informativo sobre a data da viagem ter sido transferida para o dia seguinte, as duas da tarde. Desviei o olhar de volta para o celular, olhando as câmeras da casa. Parecia tudo em ordem. 

A nova rotina de ter Ivy cuidando da minha mãe era tranquila. Ela era jovem, tinha vinte e seis anos. Desde que eu a contratei, dois dias depois do fim de semana que Sarem, Deku e Diaval passaram na minha casa, minha mãe se sentia muito feliz toda vez que ela chegava lá. 

Aquilo me deixava muito tranquilo e feliz. Quem também parecia feliz com aquelas noticias era Sarem, sempre perguntando como ela estava indo e dizendo que ter outra ômega por perto faria bem para minha mãe.

Enquanto eu estava distraído com aqueles pensamentos, as mensagens de Deku no meu celular me puxaram de volta para a realidade.

(Izu): vou para a aula de piano daqui a pouco

(Izu): quer companhia para almoçar?

Eu sorri comigo mesmo. Deku era a coisa mais preciosa do mundo. 

(Katsuki): simmmmm

(Katsuki): será que podemos despachar o Sarem para a lata de lixo?

(Izu): kkkkkkkkkkkkkkk

(Katsuki): você finalmente aprendeu a rir como uma pessoa normal na internet 

(Izu): Diaval me ensinou 

(Katsuki): obrigado Einstein 

(Izu): quando vcs vem almoçar?

(Izu): estou morrendo de fome!!! 

(Katsuki): estamos terminando atividade

(Katsuki): já chego aí

- Psiu - chamei baixinho. 

Sarem me encarou por cima do ombro.

- Vai almoçar com a gente? 

- Acho que sim. Vão passar na lanchonete? Eu não trouxe almoço. 

- Que milagre - murmurei. Sarem sempre levava almoço para a escola, principalmente porque ele comia muito. - Esqueceu de cozinhar?

- Não. Na verdade eu acho que estou ficando meio gordinho, então decidi diminuir a quantidade de calorias - ele comentou e deu um tapinha na própria barriga. - Meu tanquinho está indo embora.

- Fala sério - eu ri. - Você tá em forma. 

- Se você diz - ele resmungou e nós nos levantámos quando o sinal finalmente tocou, liberando das aulas da manhã. - Acho que meu cio vai chegar próxima semana. Estou começando a sentir febre. 

Eu toquei a testa dele. Parecia meio quente mesmo. Ele terminou de arrumar a mochila e nós saímos da sala, indo em direção ao pátio pelo corredor. Sarem desabotoou os dois primeiros botões da camisa branca que usava. 

- Não está tomando os supressores? 

- Não tomo sempre. Faz mal ficar enchendo o corpo com essas coisas - ele disse e estalou a língua. - Se o nosso corpo tem um cio, tem um motivo para ter. Vou aproveitar o recesso e ficar em casa. 

- Ainda vai para a festa de encerramento? - perguntei curioso. 

Ele torceu a boca enquanto nós íamos pelo portão de saída, passando nossos cartões para registrar o check-out

- Claro que sim! Eu forcei você a ir, não posso faltar. Além do mais, os pais do Diaval só deixaram ele ir porque nós vamos. 

- Eles gostam assim de nós dois?

- De mim porque sou bonito. De você porque é rico.

Eu o empurrei enquanto atravessávamos a rua e ele gargalhava. 

- Mas sim, eles gostam muito da gente. Diaval passa o dia todo falando de nós dois. E ele faz os pais assistirem nossos jogos gravados.

- Ah, não brinca com iss-

- Kacchaaaaaaaan!  

Eu interrompi a frase na metade quando vi Deku correndo em minha direção e me abraçando apertado. Ele enterrou o rosto no meu pescoço e começou e dar vários beijinhos, fazendo-me rir e abraçá-lo de volta.

- Oi, benzinho - eu o cumprimentei. O apelido de Sarem realmente havia pegado. - Que animação é essa?

- Estava com saudade! - ele disse e me soltou. 

- Você me viu ontem - eu disse com um sorriso meio bobo e me abaixei um pouco para tirar o cabelo do rosto dele.

- Eu sei. Mas foi ontem de tarde. E agora já é hoje de tarde. 

Ugh. Fofo. 

Deixei um beijinho contra a boca dele e Sarem fingiu estar vomitando. 

- Nojeira - ele disse e fez uma careta. 

- Cala a boca - Deku disse rindo. - Onde está o Diaval? 

- Terminando uma reunião com o pessoal do clube de eventos. - expliquei. - Ele está cheio de coisas por causa da organização da viagem. Tiveram que mudar a data porque a diretoria marcou um jogo para hoje. Então vamos ter o inferno do jogo e a viagem amanhã. 

- Ah, é verdade - Sarem disse enquanto dava uma olhada no cardápio. - Nós ainda temos prova hoje?

- Acho que sim. 

- Então vamos comer logo - Sarem disse irritado e voltou os olhos para o menu. - Será que se eu comer só uma pizza...

- Só uma? - Deku repetiu.

- Eu como umas duas - Sarem disse como se não fosse nada demais e eu ri. - Acho que é por isso que estou engordando. 

- Engordando? Você está no peso ideal, não?

Sarem deu de ombros. 

- Estou com uns cento e dois quilos ou algo assim - ele disse pensativo. - Mas eu juro, minha barriga ela...

- Sarem acha que perdeu o tanquinho dele.

- Que?! Dá pra lavar roupa na sua barriga! Igual a do Kacchan!

Meu rosto ficou vermelho.

- Pare de dizer essas coisas, idiota - eu disse e baguncei o cabelo dele. - Sarem pede um almoço decente. Salada, carne e...

- E se eu pedisse uma macarronada?

Sarem! 

Tá!  Vou pedir a droga do almoço.

Nós três demos risadas. Eu mandei Sarem pegar alguma coisa para o Diaval e embalar para levarmos para ele comer onde quer que estivesse. 

Depois do nosso almoço rindo da cara de Sarem dizendo que preferia estar comendo a pizza, nós todos fomos procurar Diaval. Ele estava dormindo na sala de eventos com o rosto descansado contra o livro de linguagens; nós o acordamos e fizemos ele comer. Diaval nos contou sobre suas provas e os planejamentos da festa de encerramento do bimestre. 

Por sorte, daquela vez eu não precisaria fazer nenhum discurso. 

Uma hora mais tarde, quando nosso horário de aulas da tarde começava, nos despedimos de Diaval já que o primeiro ano não tinha aulas durante a tarde. Fiz Sarem ir para a sala na frente, dando a desculpa de que iria pedir um táxi para Deku.

Eu e Deku estávamos atrás de uma árvore, no fundo do jardim, perto da saída lateral do colégio. Ele estava encostado contra o tronco e sorria para mim de forma preguiçosa, os olhos cerrados, encarando-me enquanto eu me inclinava para beijá-lo.

- Te vejo mais tarde? - perguntei enquanto segurava o rostinho entre as mãos. 

- Vai me buscar depois do jogo? 

- Qualquer coisa para ficar com você - eu disse e juntei nossas bocas em um selinho. Beijar ele era viciante. Tocar ele era algo que eu sempre queria fazer. - Além do mais, precisamos ter nosso primeiro encontro, não é?

Deku riu.

- É verdade. Eu já conheço sua família e ainda nem tivemos o primeiro encontro - ele murmurou com uma risadinha gostosa de ouvir. - Imagine, vamos casar antes de ter o terceiro enc- 

Eu ergui as sobrancelhas.

- Casar, é?

- E-eu falei b-brincando - ele disse com o rosto ficando vermelho. - Desculpa.

Uni as sobrancelhas.

- Por que está se desculpando?

- Eu... É...

- Que foi, hm? Pode falar.

- É só... Brincadeira. É que o Shoto não gostava quando eu brincava assim, eu imaginei que-

Eu o calei quando apertei suas bochechas cheias de sardas para fazer um biquinho que beijei algumas vezes, fazendo a tensão dele se dissolver em risada. 

- Não fique assim - eu disse e afaguei os cantos da boca dele com os polegares. - Vamos casar só depois do terceiro encontro. Então é melhor você se apressar.

Deku gargalhou e ficou na ponta dos pés para me beijar de novo. Daquela vez, entretanto, a intenção dele estava longe de um selinho delicado. As mãos se embrenharam no meu cabelo e ele o puxou um pouco, trazendo-me para perto; nossas línguas já estavam explorando a boca um do outro enquanto eu o apertava contra mim. 

Meus olhos fechados podiam apenas capturar os raios de sol que manchavam minha retina; estava ocupado demais com o ritmo profundo e lento do beijo com Deku para me importar com qualquer coisa. O mundo poderia cair aos pedaços e eu iria continuar ali.

Ele suspirou quando separamos o beijo e eu ofeguei quando Deku desceu a boca pelo meu pescoço.

- Kacchan - ele chamou baixinho, os lábios macios trazendo a sensação eletrizante de excitação contra minha pele. 

- Que foi?

- Posso testar uma coisa? - ele perguntou enquanto abria o primeiro botão da minha camisa. 

Eu ergui uma sobrancelha, mas antes que eu dissesse algo, senti a boca dele contra a curva do meu pescoço e arfei; os dentinhos dele estavam mordiscando minha pele enquanto a língua dele a lambia tão devagar que a sensação me fez ter outras lembranças.

- Hm - eu suspirei e segurei o quadril dele. - O que você está fazendo, amor?

Ele riu tímido e chupou meu pescoço. Aquilo era gostoso. Eu desejei que ele fizesse mais vezes. Antes que eu pudesse dizer isso, Deku se afastou e fechou de volta minha camisa. 

- Já está bom - ele disse e ficou na ponta dos pés para me dar outro beijo, deixando-me surpreso. 

- Hm, tudo bem - eu disse. - Quer que eu chame um táxi para você? Vai acabar se atrasando se for de ônibus...

- Não precisa, Kacchan - ele murmurou e continuou me dando beijinhos. - Sua aula já deve ter começado... Vá logo antes que eu queira te sequestrar. 

- Você quer me sequestrar, é? Vai me esconder onde?

- Vou te trancar no meu quarto - ele brincou.

- Ah, eu acho que ia gostar, hein - eu disse e ele gargalhou. - Já vou. Vou te buscar na saída da aula, tá? 

Ele concordou e nós nos despedimos com mais um beijo rapidinho antes que ele saísse de trás da árvore na maior cara de pau e corresse para o portão. Eu refiz meu caminho de volta para o prédio de aulas; quando cheguei, Sarem estava do lado de fora conversando animado com Pen e Drake. 

- Oi gente - murmurei. - Não teve aula ainda?

- Não. Estamos liberados. 

- Ótimo - eu sorri aliviado. - Vou passar em casa. Quer ir para lá? A gente fica lá antes do jogo e depois eu vou encontrar o Izu.

- E aí, você e o Izuku já estão juntos? - Pen perguntou e ergueu as sobrancelhas. - O capitão não perde tempo mesmo! 

Nós quatro rimos.

- Não estamos juntos, mas acho que estamos... Indo?

- Só falta a aliança, deixa de coisa - Drake riu. - Izuku é bem legal. Ele não perde um treino, fala sério. 

- O baixinho é uma benção pro capitão - Pen disse e deu um tapinha no meu ombro. - Se eu fosse ele, casaria logo. 

Nós demos risada e nos despedimos. Enquanto eu ia andando para fora da escola com Sarem, estava pensando sobre o que os rapazes falaram. Não exatamente sobre casamento e tudo mais, mas sobre estarmos juntos

Eu fechei a porta do carro e me virei para Sarem. 

- Você acha que eu deveria pedir o Deku em namoro?

- Hein? Deku? Oh, sim, o Izuku. Eu esqueço desses apelidos estranhos de vocês - Sarem resmungou. - Bem... Eu não sei. Você acha que deveria?

- Sarem, eu estou te perguntando porque não faço ideia! 

- Cara, vocês dois s- Katsuki, o que é isso aqui? - Sarem perguntou e chegou tão perto que o nariz dele estava quase tocando meu ombro. - Oh-ohh! 

Ele começou a rir; Sarem estava realmente gargalhando, batendo as mãos nas pernas e tudo.

- O que foi?! 

- O Izuku te deu um chupão? - Sarem uivou enquanto ria. - Ah, meu- Puta que pariu! 

- Um chupão? - eu perguntei e abri a camisa de botões. Olhei pelo retrovisor. Havia uma marquinha meio vermelha e meio roxa logo na curva do meu pescoço, descendo para o peito. Eu mordi minha boca porque gostei de como ficava. 

- Você ainda está aí me perguntando se deveria pedir o menino em namoro? Fala sério, vocês já estão namorando, garotão - Sarem disse e riu de novo. - Cara, eu sou um cupido e tanto. Já  pensou se eu tivesse as asas e aquela roupinha de folha?

- Roupinha de folha? Cupidos não ficam, sei lá, pelados?

Sarem rolou os olhos.

- Katsu, assim todo mundo iria ficar apaixonado por mim!

Balancei a cabeça enquanto prestava atenção na pista, tentando tirar a imagem de Sarem vestido com a tal roupinha de folhas da minha mente. 

- Como é que eu deveria fazer para pedir ele em namoro? - perguntei curioso, falando comigo mesmo.

Nós já estávamos na garagem do meu prédio. Enquanto eu estacionava, Sarem se virou para mim e colocou uma mão por cima da minha no volante.

- Que foi?

- Eu não consigo mais esconder isso. Estou perdidamente apaixonado por você - ele disse sério, os olhos negros fitando-me com intensidade.

QUE?!

Exatamente isso que você ouviu. Eu penso em você o tempo todo. Não consigo ficar longe de você - ele disse e a mão dele apertou a minha. - Eu quero que você seja meu. Quer namorar comigo? Tenta assim com ele. 

Eu bufei irritado e dei um tapa na cabeça dele. Sarem começou a gargalhar enquanto nós saíamos do carro.

- Vai se foder - eu reclamei. - Estou falando sério! 

- Ora, como mais você espera pedir alguém em namoro?! 

- Como você pediria alguém em namoro?

- Eu nunca pedi ninguém em namoro - Sarem disse pensativo. - Quer dizer, eu tive uma namoradinha quando tinha uns dezesseis anos. Mas ela que me pediu em namoro. 

- Mas eu quero pedir ele - resmunguei. Nós entramos no elevador e Sarem segurou a risada. - O que?

- Você poderia comprar um presente ou levá-lo em algum lugar que ele gosta. Daí fazer um pedido bonitinho e tudo mais. 

- Hm - murmurei curioso. O elevador finalmente parou e nós saímos. Destranquei a porta e entramos. - Mãe?

Escutei algum exclamar. Sarem riu quando minha mãe apareceu correndo na sala e veio me abraçar. 

- Estava com saudade! - ela disse e abraçou meu braço. Eu me abaixei um pouco para deixar um beijo no cabelo dela. Logo que ela me soltou, virou-se para Sarem e seu sorriso parecia tão brilhante que eu sorri junto. - Sarem! 

- Oi! - ele cumprimentou de volta e quando minha mãe o abraçou também o rosto dele ficou mais vermelho que o vestido que minha mãe usava.

- É bom te ver - minha mãe disse e eu me virei para a cozinha, fingindo não ter escutado. - Cheguei da minha aula de ballet.

- Ah, você já começou as aulas? - Sarem perguntou curioso.

- Oi, Ivy - eu murmurei enquanto abria a jaladeira. Encostada no balcão da cozinha, Ivy ergueu os olhos para mim.

- Oi Katsuki! - ela sorriu. - Eu dei uma olhada naqueles remédios que você me falou. O único que a sua mãe precisa tomar são os supressores mesmo. Ela não precisa de nenhum outro.

Eu suspirei aliviado e enfiei uns dois morangos na boca.

- Que bom - eu disse enquanto mastigava. - O Izuku me deu o número da tia dele, eu vou marcar uma consulta com ela para a segunda-feira. Já vou estar no recesso, então vou com vocês.

Ivy concordou e abriu a agenda rosa dela para anotar. 

- Que bom! As minhas aulas da faculdade vão começar daqui quinze dias.

- Ótimo. Que bom que você vai voltar para a faculdade! - eu murmurei feliz. - Você realmente vai transferir as aulas para a noite? Eu posso dar um jeito de colocar as aulas de dança da minha mãe para outro horário se você preferir estudar de manhã...

Ivy balançou a mão.

- Não precisa, sério. Sua mãe prefere dançar pela manhã - Ivy disse rindo enquanto prendia o cabelo cor de mel. - E também, a turma da noite é bem melhor. 

Concordei com a cabeça. Nós continuamos conversando sobre a rotina e Ivy estava até me mostrando umas fotos que ela tirou da minha mãe com as rosas; logo depois Sarem e minha mãe entraram na cozinha rindo de alguma coisa.

- ... É, mas eu juro, eu estava jogando devagar - Sarem comentou enquanto minha mãe gargalhava. - Mas nosso treinador pega no pé às vezes.

- Você está falando mal do Mark, imagino - eu disse e sorri quando minha mãe concordou:

- Eu queria ver um jogo de vocês- ela pediu e eu pisquei surpreso.

Ela parecia tão desperta. Quase como era quando eu era criança. Quando ela era tão feliz.

- Nós temos jogo daqui a pouco - eu disse.

- Mas é bem cheio - Sarem explicou e afastou uma das cadeiras para ela sentar. - E o Katsu sai derrubando todo mundo.

Minha mãe se virou sorrindo.

- Ele é bom jogando?

- O que? O melhor que nós temos! - Sarem contou animado e sentou do outro lado da mesa, de frente para ela. - Ele é nosso capitão desde que está no primeiro ano, sabia?

- Uau - minha mãe suspirou e ela parecia tão encantada que meu rosto ficou corado imediatamente. - Eu quero te ver jogar!

Eu balancei a cabeça.

- Não sei se é uma boa ideia...

- Nós podemos tentar - Ivy disse com sua vozinha delicada. - Se ela ficar incomodada com o barulho ou com a quantidade de pessoas lá, podemos trazê-la de volta.

- Eu vou gostar! - minha mãe garantiu.

- Hm... Certo, linda. Vá trocar de roupa. 

Minha mãe se levantou com um sorriso; ela veio na minha direção e me abraçou, deitando a cabeça no meu peito e ficando quietinha ali. Eu sorri e a abracei de volta. 

- Estou muito orgulhosa de você - ela disse antes de me soltar. - Vou ver meu garotão jogar.

Eu ri baixinho.

Garotão? É o Sarem que está te ensinando a me chamar assim?

Ela concordou e saiu da cozinha rindo. Eu me virei para Sarem que a acompanhava com os olhos, sorrindo todo bobo. 

- Vocês dois - eu disse e encarei ele e a Ivy. - Nós vamos levar minha mãe para o jogo. Mas se ela se sentir mal...

- Eu trago ela de volta na mesma hora - Ivy disse e me deu um sorriso calmo.

- Talvez ela fique incomodada com o barulho de primeira, Katsu. Mas sua mãe está perfeitamente bem - Sarem disse. - Não é como se ela fosse ter uma crise do nada.

- Além do mais - Ivy continuou. - Pelo que você me descreveu ela só tem crises quando seu pai está por perto. 

- Naquela vez que o time veio aqui... - eu comecei e Sarem me interrompeu:

- Ela não estava tomando aqueles remédios que seu pai dava? Além do mais, foi meio recente do colapso nervoso...

- Hmm - eu murmurei pensativo. - Você tem razão. Ainda ia completar um ano...

- Tá vendo? - Ivy bateu palmas. - Vai dar tudo certo, Katsuki! Sua mãe está ansiosa para ver você. Ela até me pediu ajuda para comprar uma camisa do seu time.

- Uma camisa do meu time? Onde foi que ela comprou uma camisa do meu time? 

- Pela internet - Ivy explicou. 

- Ela me perguntou em qual time nós jogamos. - Sarem disse com uma risada. - Não achei que fosse por isso.

Eu gargalhei e balancei a cabeça. Minha mãe era incrível! 

Ver a recuperação dela acontecendo dia após dia na minha frente era espetacular. Era como assistir alguém acordando, vê-la deixar de ser aquela sombra e voltar a ser a pessoa incrível que eu me lembrava de admirar.

- Vamos nos arrumar também - eu disse para Sarem. Ele imediatamente se levantou. - Quer usar meu banheiro? 

- Relaxa, eu fico com o das visitas - ele respondeu enquanto entrávamos no meu quarto. - Eu fico achando que vou quebrar alguma coisa sempre que uso seu banheiro. 

Eu ri. 

- Idiota.

- Cara, você tem muita coisa - Sarem resmungou. Ele apoiou a mochila na cama para procurar uma muda de roupa. - Parece que estou no banheiro da minha mãe.

- Sarem, sua mãe é uma supermodelo. O banheiro dela nem deve se comparar ao meu.

Ele rolou os olhos negros.

- Você que diz. Minha mãe tem uma coleção de sabonetes e perfumes e... Como é o nome daquela coisa que passa no rosto?

- Esfoliante? Hidratante?

- Provavelmente os dois. Ugh. Odeio vocês.

Eu ri comigo mesmo enquanto Sarem saía do quarto ainda reclamando sobre a quantidade de coisas no meu banheiro. 

/

Dentro do meu carro, minha mãe parecia super animada. 

Ela estava vestindo uma camisa do Stats Devils jeans preto. Eu deveria admitir, preto ficava muito bem nela. Ivy estava vindo no banco da frente comigo, enquanto Sarem e minha mãe dividiam o banco do fundo. 

- Não tá muito apertado? - Sarem perguntou enquanto ajudava ela a fechar o boné com o logo do nosso time, uma cabeça de dragão desenhada como uma mascara Oni. 

- Está bom assim. Estou bonita? 

- Está linda - nós três respondemos ao mesmo tempo.

- Vai roubar a atenção toda para você - Ivy brincou e minha mãe riu baixinho.

- É! Se o Sarem não jogar direito porque está te olhando, faço você ir embora - eu brinquei e Sarem gargalhou, o rosto ficando corado.

- Vou dar boa sorte para vocês! - minha mãe disse e bateu palmas empolgada. - Sarem vai marcar muitos pontos.

- Se eu não marcar o capitão aí me chuta do time.

- Katsuki, não chute o Sarem! - minha mãe pediu e fez um biquinho muito engraçado.

- Eu não vou, mãe - prometi rindo. - Mas você tem que torcer pela gente. 

- Prometo que vou! - ela disse e apertou meu ombro. 

O leve engarrafamento na entrada da escola sugeria que havia muita gente para ver o jogo. Seria um amistoso contra uma outra escola e como era encerramento de bimestre teríamos direito a tudo: lideres de torcida para animar a plateia nas arquibancadas e fazer uma performance antes do jogo, teríamos um prémio - algo como uma taça ou medalhas, Mark ainda não tinha dito. 

A coisa toda do jogo de última hora foi repentina, mas não nos pegou de surpresa. Desde que eu estava no primeiro ano sempre tínhamos um jogo de encerramento. Já era de se esperar. 

No banco de trás, Sarem e minha mãe estavam conversando super animados com Ivy sobre a equipe. 

- Temos o Tate, ele é nosso guarda redes. Ele é como um goleiro, sabe? 

- Ele é ótimo - eu comentei.

- É! Ele é o um loiro, é menor do time, mas isso acaba sendo bom porque o menino se joga pra todo lado, não deixa nada passar. Temos o Pen e o Drake. Pen tem o cabelo branco e o Drake tem dreads, eles são quase do tamanho do Katsu. 

- Uau - minha mãe exclamou surpresa.

- Mostra a foto do time pra ela - eu murmurei e Sarem concordou.

- Aqui, olha - ele mostrou pelo meu celular. - Esse aqui é o Drake. Esse é o Pen. Aqui é o Tate...

- E esse é você - ela apontou e Sarem riu. - E o Katsuki! 

- Estou bonito? - perguntei.

- Lindo. Parece um bichinho de pelúcia com essa roupa - ela comentou sobre os equipamentos de proteção do jogo. 

- E agora temos o Gueich também. Ele é novo no time, hoje vai ser o primeiro jogo de verdade dele.

- Ah, finalmente! - eu suspirei quando a fila de carros andou e eu pude finalmente entrar na rua da escola. - Vou estacionar no mercado. Não vai ter uma vaga no colégio.

- Aposto que não - Sarem comentou. 

- Sarem, leva minha mãe e Ivy para as arquibancadas. Pede ao Mark um lugar na frente pra elas... Se possível um perto dele.

- Tá legal - ele disse e abriu a saiu do carro depressa quando eu o parei por um momento, perto do meio fio. Sarem deu uma corridinha e abriu a porta para Ivy e para minha mãe. - Por aqui, meninas. 

O salão de treinos da escola era grande. Como nossa escola era uma das únicas três na cidade a possuir um time de hockey eles normalmente faziam tudo para aquele esporte valer a pena. Por isso, nossa pista de gelo era imensa. 

As arquibancadas estavam lotadas; os alunos da Martinez - nossa rival do dia - faziam barulho, riam animados e cantavam em apoio ao time de hockey deles. Era incrível ver a torcida de branco e azul. 

Mas a torcida do Stats Devils? Nossos colegas de escola urravam. Eles cantavam nosso hino e balançavam bandeiras e as lideres de torcida faziam coisas incríveis na pista de gelo enquanto uma música alta tocava. 

E eu era completamente apaixonado por aquilo. 

"Bem-vindos a mais um jogo de encerramento do bimestre! Façam barulho para a equipe da escola estadual D'Martinez!"; as pessoas da arquibancadas gritaram, aplaudiram. 

Enquanto o narrador começava a apresentar os jogadores daquela partida, minha equipe se raunia. Sarem estava chegando por último, terminando de tirar os brincos e o piercing de uma das orelhas para colocar o capacete. 

- Vamos lá galera - eu chamei e nos reuni. - É só um amistoso para passar o tempo. Mas vocês já sabem o que fazer, não é?

Os rapazes sorriram. Eu pude ver Sarem dando um sorrisinho malvado, passando a língua pelos dentes.

- Vamos arrastar eles naquela pista - Pen disse animado e todos nós concordamos. 

- Acho bom vocês ganharem essa hoje. Eu quero encher a porra da minha cara amanhã naquela festa - Sarem urrou e nós seguimos gritando.

- Vocês estão ouvindo meu garoto? - perguntei.

- VAMOS DAR AO SAREM O MELHOR JOGO ANTES DA RESSACA!

Dizendo aquilo todos nós juntamos nossas mãos e deslizamos para a pista de gelo. A plateia gritava enlouquecida! 

"E aí vem os anfitriões da Federal Stats, os Stats Devils! Com o capitão e centro Bakugo Katsuki, seguido logo atrás pelo winger  Soelen Sarem e Karl Pendragon na defesa direita - nós o chamamos só de Pen, senhoras e senhores" a plateia gargalhou. "Logo atrás do Pen vem aí nosso menino Tristan Drake, defesa esquerda, o centro também com Hidan Gueich e por último Eloy Tate, o guarda redes". 

A plateia vestida de preto e vermelho fazia cada vez mais barulho. Eu podia ver minha mãe e Ivy junto com Diaval e Mark. Minha mãe parecia tão feliz e ela definitivamente estava segurando um cartaz que dizia "PARA CIMA DELES, BAKUBRO!", o que me fez gargalhar e me perguntar quem deu aquilo a ela. Eu me direcionava para o centro da pista para cumprimentar Cole, o capitão do outro time. 

- Bom te ver, Katsu - ele murmurou e acenei em concordância enquanto arrumava o stick na mão. 

- Legal. Está pronto para comer gelo? - eu perguntei de forma brincalhona, mas tinha um pouco de verdade também. 

Não é que eu odiasse Cole e o time dele - eu só não gostava de ninguém que não fosse meu time enquanto estava naquela maldita pista de gelo.

"Para cima deles, Katsuki", escutei minha mãe e Diaval gritando. 

/
 

"QUERO OUVIR VOCÊS GRITANDO AGORA! BAKUBRO É O NOSSO REI!"

"ELE É O NOSSO REI!"

- Cara! Aquilo foi incrível para caralho! - Sarem berrou enquanto nós segurávamos a taça e íamos junto com o pessoal do time de encontro a minha mãe e Diaval. 

Se eu tive alguma preocupação sobre minha mãe e os jogos de hockey, ela parecia completamente irrelevante naquele momento. Minha mãe estava rindo tão feliz enquanto eu me aproximava e mostrava a taça para ela.

- É para você, linda! - eu gritei animado. - Você me deu sorte! 

- Você é demais! - minha mãe berrava alegre, pulando no lugar. - Foi incrível! Eu nunca me diverti tanto!

- Ei Katsu, essa é sua mãe? - Tate perguntou e a cumprimentou com um sorriso. - Oi tia!

Mas minha mãe não estava mais escutando. Ela desceu os degraus da arquibancada e se jogou nos meus braços. 

- Você está parecendo um urso gigante com isso - ela riu da roupa de proteção. - Eu adoro.

Eu gargalhei enquanto tentava tirar a outra luva de proteção para abraçá-la direito. Sarem chegou logo atrás e os olhos azuis de minha mãe se desviaram para ele.

- Você foi muito bem jogando! - ela disse com um sorriso tímido que fez as bochechas de Sarem, que já estavam rosadas pelo frio, ficarem completamente vermelhas. 

- Ob-brigado - ele murmurou e se ele estava vermelho ficou escarlate quando minha mãe o abraçou também. 

- Ei mãe - eu a chamei quando ela o soltou. - Você quer sair para comer com a gente?

- Sim! Eu estou com fome! - ela concordou animada e todo mundo no time começou a falar sobre quão fofa ela era e eu não podia concordar mais. 

Depois que todos nós nos reunimos no vestiario, Mark juntou a equipe para conversar. Estávamos a maioria ainda trocando de roupa e claro, Sarem me fez ajudá-lo a colocar os brincos de volta porque ele nunca certava fazer aquilo.

- Meninos - Mark nos disse com um sorriso que beirava ao carinho de um pai. - Eu estou muito orgulhoso de vocês hoje. Vocês são simplesmente a melhor equipe que eu já treinei.

Nós concordamos com palmas e risadas. 

- Você é o melhor, Mark! - Pen disse e nós demos mais uma rodada de palmas. 

- Obrigado, obrigado - nosso treinador concordou rindo. - Mas... Eu estou aqui para dar uma noticia. 

- Que noticia?

- Bem... Não é uma das melhores, na verdade. Eu vou me aposentar - ele disse e todo o barulho das nossas risadas, batuques com as luvas de proteção e palmas cessou. 

- Você vai o que?! 

É isso mesmo. Eu estou ficando velho, meninos - ele deu uma risadinha. - Quando vocês voltarem do recesso do bimestre já vão conhecer seu novo treinador. 

- Ah, Mark, corta essa - Sarem resmungou. - Você só tem cinquenta anos. Não pode se aposentar agora. Se você está carente é só dizer e nos te damos um abraço.

Todos nós gargalhamos, inclusive Mark. No começo a risada dele era tão alta quanto a nossa, mas logo ela se desfez e ele nos olhou com carinho e a expressão divertida de Sarem desmanchou.

- Você está falando sério? - eu perguntei realmente preocupado. - Você vai mesmo se aposentar?

- É, eu vou. 

Bem, aquilo me pegou de surpresa. Então aquele foi nosso último jogo com Mark sendo o nosso treinador e aquilo era meio triste. Eu queria que ele tivesse nos dito isso antes, assim nós poderiamos ter caprichado mais. 

Mas no final da nossa pequena reunião, quando eu me levantei e respirei fundo, parte de mim já sabia que aquilo não era uma decisão simples para ele. Então eu poderia torná-la menos difícil. 

- Já que essa é a última vez que teremos você como nosso treinador - eu disse enquanto erguia a taça dos vencedores para ele. - Acho que eu falo não só como capitão, mas como... Bem, como alguém que te vê como uma figura muito presente. Acredito que na vida de todos nós.

Os rapazes concordaram. Pen deu um sorrisão. Ele era o único filho do treinador Mark e apesar de eles não serem tão parecidos, a paixão pelo hockey era um laço e tanto. 

- Nós todos agradecemos por você ser o treinador espetacular que é.

- Um pouco filho da mãe por deixar o Katsu marcar treino no sabado de manhã - Sarem lembrou.

- Mas o melhor que temos - Drake terminou.

- Obrigado por ser nosso treinador e nosso pai do hockey, Mark - eu disse e estendi a taça para ele. - Leva essa com você. Assim você vai lembrar do bando de moleques que você ajudou a criar. 

Todos nós batemos palmas quando Mark aceitou a taça e enxugou uma lágrima antes de nos abraçar. Nosso abraço coletivo quase fez o nosso treinador de cabelos grisalhos desaparecer, mas ele estava rindo e parecendo feliz.

- Agora vamos comemorar! 

- E nada de bebida hoje, hein! - Mark lembrou. - Vocês ainda tem horário para cumprir na escola amanhã! 

- Sim senhor! - nós urramos e fomos para o lado de fora, arrastando ele conosco. 

 

/ Izuku /
 

Fechei o piano e puxei o celular de dentro da bolsa.  Havia um monte de mensagens de Kacchan, Diaval e Sarem. Eu abri as mensagens de Kacchan primeiro. 

(Katsuki): babyyyyyyyyyy

(Katsuki): estamos aqui fora

(Izu): quem está ai com você? 

(Katsuki): Sarem e minha mãe

(Katsuki):  vou deixá-los em casa e nós vamos sair

(Izu): sarem vai dormir na sua casa?

(Katsuki): ele vai ficar com minha mãe

(Katsuki): assim nós podemos chegar mais tarde

(Katsuki): e eles se divertem

(Izu): já começou a chamar o sarem de padrasto?

Kacchan mandou uma mensagem de voz. Eu escutei primeiro a risada da mãe dele, depois a voz rouca de Sarem.

"Eu não vou deixar seu garotão me chamar de padrasto. Vamos parar com essa conversa!"

Logo depois, outra mensagem de audio.

"Mãe, você quer que eu chame o Sarem de padrasto?" risadas e mais risadas. Dorothea estava gargalhando e dizendo "naaaaaaao!"

Eu terminei de arrumar minhas coisas e desci depressa, despedindo-me do pessoal das aulas. O carro de Kacchan estava estacionado perto da entrada. Assim que abri a porta, dei de cara com a mãe dele usando uma blusa do time de hockey de Kacchan, calça jeans e uma jaquela preta que eu sabia que era de Sarem. 

- Oi, pessoal! - eu os cumprimentei animado. Me inclinei no banco para dar um beijinho em Kacchan e Sarem fez barulho de nojo.

- Fofo! - Dorothea disse com um sorrisinho. 

- Tá vendo? - Kacchan ergueu as sobrancelhas. - Minha mãe é uma romantica.

Dorothea riu e concordou. Ela era a coisinha mais linda do mundo com o cabelo loiro por baixo do boné preto, olhando toda boba para o filho enquanto ele dirigia. 

- Ei, Deku - Kacchan chamou. - Nós trouxemos café com creme de caramelo para você, benzinho.

- Oba! - eu exclamei e agradeci quando Sarem me passou um copão. Estava quentinho, o que era bom naquele frio da noite. - Para onde nós vamos? 

- Segredo, segredo - Kacchan brincou. Ele parecia relaxado e feliz, uma das mãos estendida para que eu segurasse, o que eu fiz imediatamente. Ele entrelaçou nossos dedos enquanto a outra mão estava no volante e ele dirigia devagar.

Cada minuto de risadas e conversa animada sobre como foi o jogo era perfeito. Sarem estava me contando que estava rouco de tanto gritar pelo jogo e que Dorothea e Diaval surpreenderam todo mundo comendo mais pizza de Kacchan. 

- Em minha defesa! - ele gritou animado enquanto paravamos na frente de seu prédio. - Eu estava cheio! 

- Cheio uma ova - Sarem resmungou. - Sua mãe come mais que você. 

Nós nos despedimos de Sarem e Dorothea. Ela parecia perfeitamente a vontade ao lado dele. tão relaxada e sorridente quanto ela normalmente ficava ao lado do filho. E eu jurei que a vi entrelaçar os dedos nos de Sarem enquanto Kacchan voltava a ligar o carro. 

- Qual a nossa programação de hoje? - perguntei timido.

- Quero te levar num lugar especial... Meu preferido da cidade - ele disse. - Não é nada demais e você provavelmente deve conhecer... Mas eu queria ir com você

- Tudo bem - eu disse com um sorriso. 


 

Um aquário.

O lugar preferido de Kacchan na cidade inteira era um aquário.

As paredes eram feitas de pedra natural, onde havia vidros grossos e luzes amareladas e azuis e tanques tão grandes que, pelo que eu sabia, deixavam a perder de vista.

Os corredores estavam vazios, silenciosos. O cheiro da água, dos peixes e de Kacchan era tudo que eu sentia ali.

Nós paramos no meio de um dos corredores, logo em frente a um tanque de peixes dourados e grandes, com barbatanas graciosas que pareciam dançar ao que eles se moviam. 

Quando Kacchan se virou eu não consegui desviar o olhar; as luzes amareladas cravadas no teto de pedra reluziam nos vidros e na água e criavam o espetáculo mais bonito que eu já havia presenciado na vida. E aquelas luzes estavam na pele dele, no cabelo dourado, nos olhos...

- É o lugar mais bonito que a cidade tem - ele sussurrou e eu concordei com a cabeça porque minha voz estava se afogando dentro de mim enquanto eu pensava que ele era a coisa mais bonita que aquela cidade tinha. - Venha até aqui.

Kacchan me indicou um caminho mais a frente, num corredor menos iluminado. Eu me virei curioso até que um som ainda mais alto que os outros chamou minha atenção.

Era um coração gigante batendo ali dentro. Passadas calmas e imensas, movendo-se graciosamente.

- Essa é a Sailor - Kacchan apontou para o gigantesco aquário na nossa frente onde havia nada mais, nada menos, do que uma baleia completamente branca.

Eu nunca havia visto nenhuma baleia. Eu sabia que havia um aquário na cidade, mas desde que chegara ali nunca me interessei em ir até lá. Talvez porque eu sempre tinha algo a mais com o que me preocupar. Ou porque nunca pensei em como aquilo podia ser encantador - e talvez não fosse se eu não estivesse com ele ao meu lado.

Como se a presença dos olhos vermelhos pudesse fazer qualquer coisa muito melhor.

- Ela é encantadora - eu sussurrei, descobrindo minha voz de novo.

E ela continuava a nadar, por vezes deixando um som distante e abafado soar.

- Ela é a última da espécie dela - Kacchan me contou com a voz calma, algo diferente do que normalmente lhe acompanhava. Era quase... Emocionado. - Ela foi encontrada bem, bem bebezinha. E eles a trouxeram para cá. Ela tem vivido aqui desde antes de eu e você nascermos. Todos os dias, tudo que ela faz, é nadar e nadar ai dentro.

- Eles fazem shows com ela?

Kacchan negou com a cabeça.

- Eles não podem. Ela é meio... Diferente. Ela não chama por outras baleias porque ela nunca as escutou. Ela não gosta dos barulhos do tanque externo, então ela só sobe para respirar e volta.

- Há quanto tempo ela é sua amiga? - eu questionei, entendendo enfim o porquê de ele me levar até ali.

Era como se ele estivesse me mostrando uma parte de si que ninguém mais conhecia. Como se estivesse me contando um segredo, eu entendia. 

- Quatro anos - ele respondeu. - Às vezes eu vinha aqui para o Aquário quando estava muito cansado de ver a minha mãe triste. Quando eu percebi que a Sailor tinha mais da minha mãe do que eu gostaria de dizer, passei a vir quase toda semana. 

Por algum tempo nós dois permanecemos em silêncio, somente observando a baleia nadar, tranquila, indo e voltando. Às vezes ela dava piruetas na água, passava com seu olho negro e brilhante nos encarando, por vezes abria e fechava a boca imensa. Kacchan se sentou em um banco no meio daquela sala e apoiou um dos braços no joelho, deixando o corpo relaxar. Eu também me sentei e mantive meus olhos grudados em Sailor e seu coração imenso. 

-  Eu pensei bastante sobre te trazer aqui - Kacchan disse de repente. - Não sabia se você iria gostar.

- Eu amei - garanti em voz baixa e estendi a mão para segurar a dele. 

Kacchan sorriu. Ele se inclinou e beijou minha mão. 

- Eu estava pensando - ele sussurrou. - E queria te pedir uma coisa. Mas... Se você... Se você não quiser fazer, tem que me dizer agora.

Eu ergui os olhos, curioso e nervoso de repente. 

- O que?

- Eu quero que você fique na minha vida - Kacchan disse sério, a voz tão calma que ele poderia estar falando sobre Sailor de novo. - Quero poder chamar você de meu. 

Minha mão livre se ergueu até minha boca e eu ofeguei. Aquilo não podia ser o que eu estava pensando.

- Kacchan? 

- Você não precisa dizer "sim" agora - ele murmurou. - Só precisa saber que eu quero você. Você só precisa me dar uma chance e eu prometo que vou te fazer feliz. 

Eu concordei e o abracei apertado, segurando-o contra mim. O coração dele estava batendo rápido e forte e eu sorri comigo mesmo pensando que aquele era um coração que eu queria proteger e encher de alegria.

E eu iria. 
 

/ Bônus /

/ Sarem / 

Eu saí do carro e segurei a porta para Dorothea poder descer também. Nós nos despedimos de Katsu e Izu com risadas. E antes que pudéssemos chegar ao portão do prédio, Dorothea segurou minha mão.

E nossos dedos de repente estavam entrelaçados. 

Claro, eu já havia segurado a mão de garotas antes. Algumas. Mas nenhuma delas era a mãe do meu melhor amigo e nem era tão bonita. 

Nenhuma delas se parecia com um anjo. 

Sorrindo para mim como se não fosse nada demais, Dorothea e eu entramos pela portaria do prédio e subimos pelo elevador até o último andar. 

- Eu adorei o jogo hoje! - ela disse toda animada enquanto abria a porta. - Foi tão divertido. Katsuki joga tão bem...

- Eu te disse, ele é incrível! - eu murmurei e ela concordou. 

- Você está com fome? - Dorothea perguntou e eu cocei o cabelo, envergonhado. Eu realmente estava morrendo de fome, mas não queria comer muito. 

- Só um pouquinho. Quer que eu faça um lanche enquanto você toma banho? Acho que o Katsu me mostrou algum bolo na geladeira hoje mais cedo...

- Ah! Tudo bem. Nós podemos subir para ver as rosas?

- Claro! - concordei imediatamente. - Vamos fazer o seguinte. Você toma um banho e me espera lá em cima. Eu vou levar algo para você comer e tomar um banho também. 

- É como um encontro - ela disse animada e saiu saltitando da cozinha, deixando-me de boca aberta.

Um encontro?! 

Bem, eu merecia aquela depois de ter tirado sarro com a cara do Katsu só porque ele não sabia o que dizer para o Izu. Mas, fala sério. Não era a mãe dele. 

Eu suspirei comigo mesmo, passando uma mão pelo cabelo. Katsu não parecia se importar porque eu e a mãe dele parecíamos interessados um no outro. Aquela nem era minha intenção mas... O jeito como ela me olhava, como se eu fosse algo que seus olhos não pudessem acreditar. 

E aquele sorriso lindo. E o cabelo que parecia um mar de ouro tão brilhante e macio. E aquele corpo perfeito. Eu suspirei de novo.

Caralho, Sarem, pensei comigo mesmo. Sua mãe iria te matar se soubesse disso.

Eu sorri ao pensar na minha mãe enquanto terminava de cortar um pedaço de bolo para mim e um para Dorothea, colocando um morango a mais no bolo dela. Minha mãe ficaria muito surpresa por eu estar interessado numa mulher mais velha. Mas talvez fosse de família. Minha mãe era mais velha que meu pai. 

Sempre que eu parava para pensar naquela situação - algo que eu fazia diariamente e talvez durante boa parte do dia -, eu ficava super ansioso. Sabendo de todas as coisas pelas quais Dorothea passou com o ex marido, minha única reação era de querer protege-la e deixa-la feliz até ela se esquecer que já foi triste um dia. 

No momento em que eu a vi pela primeira vez naquele vestido florido, quando ela veio sorrindo... Eu já sabia. Estava acabado. Ela me tinha na palma da mão. 

Eu encarei meu reflexo no banheiro do quarto do Katsu. Eu parecia nervoso. Será que ela iria me achar mais bonito se eu tirasse os brincos? Ou a corrente, talvez? E se ela achasse meus dentes muito afiados? 

Suspirei. Por que eu estava me perguntando sobre os meus dentes? 

Ora, retruquei para mim mesmo, por que você espera beijar ela!

Balancei a cabeça. Maldita fosse a minha ansiedade. Engoli em seco e respirei fundo. Ia dar tudo certo. Ia ficar tudo bem

Tomei um banho rápido, usando um dos sabonetes de dormir do Katsu e molhando o cabelo também; talvez aquilo me ajudasse a relaxar um pouco mais. 

Terminei de me secar e vestir e dei uma corridinha até a cozinha para pegar os pratos com bolo e subir para a cobertura. 

Lá em cima, Dorothea estava entretida olhando as rosas dela, sorrindo para elas e murmurando uma melodia conhecida. 

- Seu bolo, madame - eu disse em voz  baixa enquanto me aproximava.

O céu naquele momento estava espetacular, mas não se comparava a beleza da mulher na minha frente. 

Dorothea usava uma camisa de alças finas, azul escura. Acho que ela vestia um short também, mas o robe preto que estava enrolado ao redor dela não me deixava saber. E eu nem conseguia desviar o olhar do rosto dela - a luz da lua deixava sua pele clara como porcelana. 

Ela era como uma  bonequinha, tão pequena e preciosa.

Eu deixei os pratos com bolo em cima de uma mesa e me aproximei dela devagar, meu corpo todo parecia funcionar apenas para sentir o cheiro dela. Era como primavera. Eu não conseguia pensar em uma descrição melhor.

Quando dei por mim, uma das minhas mãos estava tocando a bochecha de Dorothea. As pontas dos meus dedos passeavam no rosto dela, tocando seus lábios cheios e rosados e a pele macia e quente dela. 

Senti as mãos dela contra meu quadril, onde ela as descansou antes de tocar minha nuca. 

- Você é espetacular - eu sussurrei encantado. Eu por um acaso já havia presenciado algo mais bonito do que os olhos dela se estreitando enquanto ela sorria para mim? Eu acho que não. - Eu estou completamente apaixonado pela sua existência. 

Suas bochechas se tornaram cor de rosa e depois vermelhas como as rosas. 

Minha mão livre encontrou a cintura dela e eu jurei que estava no paraíso ao sentir como aquela curva se encaixava perfeitamente na minha palma. Meu polegar tocou o lábio inferior de Dorothea e ela deixou um beijinho na palma da minha mão.

E seus olhos de oceano se fecharam enquanto meu nariz encostava em sua bochecha. 

Quando minha boca finalmente encostou na boca dela, eu tinha certeza que meu coração estava dando um pulo. Ou talvez fosse um ataque cardíaco se formando quando nossas bocas se moveram num beijo. 

Ela era tão leve e delicada e o beijo que nós estávamos começando era exatamente a mesma coisa. Cuidadoso era tudo que eu podia ser enquanto minha língua encontrava a dela e eu suspirava de satisfação com o quanto aquele beijo era perfeito

Dorothea estava na ponta dos pés enquanto eu abraçava seu corpo. Nós continuamos nos beijando pelo que poderia ser uma eternidade - eu realmente não me importaria se fosse. 

Uma das mãos dela afagava meu cabelo devagar, enquanto a outra mão apertava meu braço. Nós paramos de nos beijar por um momento e eu respirei fundo enquanto sentia ela deixar alguns beijos na minha mandíbula. 

Eu nunca havia sentido algo como aquilo antes. 

- Será que nós podemos fazer isso de novo? - ela perguntou com as bochechas coradas. 

Eu sorri enquanto a guiava para uma das mesas. Eu a carreguei para ajuda-la a sentar na mesa e me encostei ali até estar perfeitamente no meio das pernas dela. Ela era perfeita. 

Por sorte a mesa era alta o suficiente para que meu quadril não encostasse demais nela, então eu podia ficar tranquilo sobre não deixa-la desconfortável. 

- Quantas vezes você quiser - eu disse e segurei a mão dela para deixar um beijo na palma, como ela fez no dia em que machuquei com o espinho da rosa. - E nós podemos parar se você quiser também. 

Ela pareceu surpresa com o que eu disse. Eu segurei o queixo de Dorothea com o dedo indicador e deixei um beijo suave contra sua boca.

- Você decide. Eu só quero ser seu. 
 


Notas Finais


AAAAAAAH, SURTEI FOI TUDO COM ESSE FINAL (quem pegar a referencia ganha um bombom)

Gente pra quem não sabe Sarem = homem dos meus sonhos, cabô.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...