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História Please Eat - E que a balança não lhe dissesse mentiras


Escrita por: LuhDrama

Notas do Autor


Não sei, era para eu estar estudando geometria analítica.
Em vez disso decidi dar um puxão na minha própria orelha.
De qualquer forma, tenham uma boa leitura!

Capítulo 1 - E que a balança não lhe dissesse mentiras


Já era um costume rotineiro, como uma espécie de ritual ou uma promessa feita entre amigas.

“Conseguiremos juntas!” era o que costumavam prometer, fosse perder a virgindade apenas após os vinte ou alcançar o peso ideal mostrado nas revistas.

Jihyo compactuara com algo que Momo nunca fora de acordo e uma vez que o acordo fosse unilateral não deveria entrar em vigor, certo?

Não era bem assim.

Toda volta para casa Jihyo pedia para que fossem pelo caminho mais longo, assim poderia passar na farmácia para se pesar e fazer mais esforço físico. Momo acreditava que era loucura o que ela fazia.

“O que mais você quer perder de peso? Seu corpo já é bonito do jeito que é.” Resmungava já como um mantra de tantas vezes que repetia, suspirando ao se imaginar andando mais longos minutos até em casa.

Mas Momo sempre ia, como se temesse por algo ou tentasse entender as manias da mais velha. E Jihyo? Esta nunca ouvia.

Seus pés batiam nervosos a cada segundo mais próximo de poder ir até seu instrumento de tortura, as mãos suavam enquanto entregava a mochila para sua amiga e finalmente os números distorcidos saltavam em sua vista.

“Gorda! Ninguém jamais vai gostar de você enquanto comer esses salgadinhos!” Foi o que a balança lhe disse nas primeiras vezes em que se pesou, até passar a levar frutas no lanche.

Momo não se alertou com isso inicialmente, em seu ponto de vista era até bom que a amiga optasse por alimentos mais saudáveis. Coisa que também deveria fazer, mas ainda preferia seus biscoitos.

Por vezes ia até a casa de Jihyo para se aprontarem juntas, na maioria das vezes ficando arrumada horas antes da outra, acabando por catar alguma revista para ler e passar o tempo.

Mas as revistas de Jihyo estavam passando de revistas teen com enquetes sobre o namorado ideal para receitas de emagrecimento rápido.

“Emagreça 2 quilos em 1 mês!”

“Cardápio que emagrece 10 quilos em 30 dias!”

“Receitas sem carboidrato para comer sem culpa!”

Aquilo fez mais com que Momo desistisse das revistas do que realmente se preocupasse, entretanto, havia Jihyo se olhando no espelho e se martirizando por causa das curvas que a roupa marcava, da gordura em excesso que apenas ela via enquanto seu reflexo debochava de si.

“Gorda! Gorda! Ninguém jamais vai te querer enquanto vestir calças desse tamanho!” ele zombava em uma risada aguda, o que fez com que desistisse da ideia de sair, preferindo pular a janta daquele dia.

Nos dias que se sucederam, Momo viu as frutas sendo substituídas por barrinhas de cereal e por final nem elas mais existiam.

“Você não vai comer?” comentava mastigando um biscoito recheado, percebendo os olhos desejosos de Jihyo sobre ele.

“Não estou com fome hoje.”

Momo sabia que era mentira, ninguém fica sem fome por tanto tempo.

No almoço o prato era colorido em pontos estratégicos, montinhos empurrados um a um para fora dele. Afinal ninguém perceberia que estava tudo escondido em guardanapos dentro da lixeira.

“Gorda! Ninguém jamais vai te desejar enquanto comer essas porcarias!” garantia a balança e por mais que dissessem que não deveria ouvir o que ela diz, acabava por absorver cada ofensa, descontando em cada garfada não comida.

Enquanto isso seus olhos e olfato a traíam, tentando-a de todas as formas a roubar um pedacinho do lanche ou almoço de Momo, sua consciência pesando quando cedia.

“Você é fraca! Terá que correr o quarteirão todo se quiser se livrar disso.” Era o que normalmente a balança gritava para si nesses dias.

E Jihyo corria por horas mesmo sem nada no estômago, ainda que a fraqueza e os pontos escuros em sua visão a avisassem que estava sem energia.

Cada grama a menos era uma comemoração silenciosa e um pouco de preocupação a mais para Momo que via sua amiga sumir, dia após dia.

Tentava pará-la, incentivando para que Jihyo comesse e não se agredisse mais, congratulando por tudo que ingeria, fosse seus bolos, salgadinhos ou balinhas, percebendo certo dia sua compulsão por porcarias.

Quando, por acaso, Momo se atreveu a olhar para si, naquele espelho de corpo na casa em que habita, viu o que mais temia: seu próprio físico, espinhas e barriga. Os salgadinhos então foram substituídos por frutas, seguidas de barrinhas e, por fim, o vazio.

Silenciosamente o acordo fora estabelecido pelos dois lados e Momo no final era mais uma hipócrita, que defendia o amor próprio sem ao menos amar a si mesma, matando seu corpo e levando tudo que havia dentro dele junto.

E ela podia até mentir para si, para seus pais ou para Jihyo, mas as revistas cheias de modelos perfeitas em desfiles... Ah! Essas jamais mentiam.



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