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História Pólos - Segundos para ilusão


Escrita por: almightymag

Capítulo 4 - Segundos para ilusão


Jung Chaelyn. Incheon, 2010.

06 de Agosto, às 12:58h.

 

– Ajusshi! Já estou indo – gritei do balcão.

Yohan, o meu chefe, estava na cozinha, e de lá mesmo acenou para mim.

– Você trabalhou bem! – ele disse – Até amanhã.

– Até! – eu gritei de volta, tirando meu avental e o deixando no balcão.

Há algumas semanas estou trabalhando no primeiro turno de uma cafeteria. A parte ruim era ter que acordar 5h da manhã, mas a parte boa era estar livre a partir das 13h. E eu também devia isso à tia Seokyung.

Assim que tinha ganhado aquele apartamento do Joohyuk, ela perguntou em que eu estava trabalhando – não contei a ela que foi o Joohyuk que me deu –, então eu disse que estava trabalhando em uma cafeteria, mas nunca havia entrado em uma cafeteria na vida. Por fim, cá estou.

Também nunca poderia contar a ela o que realmente faço para me virar.

Ao chegar em casa eu me livrei dos tênis e da calça jeans, estava pronta para cair na cama quando meu celular vibrou.

– Aish fala sério – eu resmunguei e peguei o celular.

Minhas mãos gelaram na hora.

O nome que brilhava na minha tela era Kust.

E isso poderia significar que ele teve a gentileza de me ligar para avisar que me mataria tal hora. Ou... Talvez o que eu fiz tenha dado certo.

Apreensiva eu atendi o celular e esperei ele falar primeiro.

– Chaelyn? – ele chamou depois de uns segundos – Chaelyn, não seja rude. Você deve falar primeiro.

– Oi.  

– Oohh, como você está? – Sua voz era simpática. – E sua saúde, ahn? Estava sentindo sua falta.

– O que você quer? – minha voz era monótona.

– Aish, essa menina é muito rude – Ouvi Kust rir. – É melhor você se comportar bem comigo. Não fique guardando mágoas daquele dia. Eu estava um pouco estressado, você sabe.

Eu respirei fundo e me sentei na beirada da cama.

– E aliás, eu descobri quem foi o filho da puta que desviou meu dinheiro. Então... bem... foimaldesculpa – disse ele, tão rápido que levei uns segundos para entender.  

Instantaneamente eu me levantei. E tive que me conter para não pular e nem demonstrar nenhuma animação na minha voz. Mas me permitir sorrir para as paredes, um sorriso bem largo. Meu coração palpitava tanto que não demorou muito para minha vista começar a embaralhar com outro lugar, e cheiro de suor e mofo invadirem minhas narinas. Eu o vi de costas, sem camisa, por um breve segundo...

Então tratei de conter minhas emoções.   

Eu sabia que mais cedo ou mais tarde o Kust conseguiria identificar o endereço de IP de quem mexeu na conta dele. E sabia também que ele não ia parar até achar um culpado. Eu num queria ter que ficar esperando na forca, muito menos ser descoberta e morta. Então desde o dia que ele invadiu o meu apartamento, eu me dediquei a achar um jeito de transferir esse fluxo de dados para outra pessoa. Era como colocar duas saídas em um labirinto, e o Kust entrou na primeira que achou. Sendo assim, ele nunca desconfiaria de mim.  

É a primeira vez que eu faço uma loucura dessas, não tinha como eu saber se tinha dado certo ou não.

Eu pigarreei e voltei a falar.

– Okay. Quem era?

– Algum presidiário em condicional. Ninguém importante.

– Hmm – Tentei parecer desinteressada. – E me ligou só para dar essa notícia?

Kust suspirou e deu uma breve risada.

– Vou precisar de você.

– Para quê?

– Hoje. Nove da noite. No armazém.

– Entendi.

Kust desligou.

Não me lembro da última vez que me senti tão aliviada assim, a ponto até de dizer que estava feliz. Mas no fundo eu não estava. Eu estava pior do que o de costume desde que a tal da Jeunhee resolveu “dar um tempo” com o Seunghoon. Ele me fez o favor de entrar em uma espécie de depressão. Assim até eu sentia falta da Jeunhee.

Aliás, de uns dias para cá eu também tenho sentido uma formigamento estranho na nuca. E tenho visto o Seunghoon com mais frequência do que queria. Não sei por que, mas juntei uma coisa com a outra. Foi muita coincidência.  

O pior é que ele ainda não fala comigo.

×

Lee Seunghoon. Seoul, 2010.

06 de Agosto, às 18:30h.

 

Meus braços ardiam de dor, mas em compensação eu me sentia um pouco mais... muscular. Heonduk já estava jogado no meu sofá bufando de cansaço, e eu me juntei a ele, colocando os pés em cima da minha mesa de centro. A independência e liberdade é um prato cheio de doces. E minha mãe não estava aqui para bater na minha cabeça e me mandar tirar os pés da mesa.

Porque era o meu apartamento. 

Mas vou sentir muita falta dela...

– Diz pra mim que essa foi a última caixa – Heonduk disse ofegante.

Passamos as últimas nove horas das nossas vidas subindo e descendo cinco andares, carregando caixas consideravelmente pesadas cheias com os meus pertences de Busan.

– Foi sim – respondi coçando a nuca.  

Eu oficialmente acabei de me mudar para o meu novo apartamento em Seoul. Perto o suficiente do prédio da YG, o qual eu podia enxergar do telhado. Definitivamente um dia eu faria parte da YG, era o meu maior sonho. E meus pais sempre me apoiaram nisso, por isso me deram esse apartamento, mas com a condição de que eu me sustentaria sozinho.  

– Não tem cerveja aqui? – Heonduk já estava dentro da minha geladeira.

– Eu nem bebo, você sabe disso.

Heonduk é meu amigo desde o começo do ensino fundamental. Mas ele se mudou para Seoul para cursar o ensino médio e entrar para uma faculdade. Estava cursando engenharia mecânica, apesar de que o seu sonho, na verdade, era similar ao meu. Porém, seus pais eram bem imponentes.

– Nunca bebeu?

– Claro que já – murmurei.

– Fala sério Hoon.

– Estou falando sério!

Heonduk riu.

– Vamos beber alguma coisa. Eu pago.

Eu olhei para ele tentando expressar meu mal humor e cansaço com minha cara feia, mas ele parecia tão animado com a ideia que juntei minhas ultimas forças para me levantar do sofá. Peguei uma camisa qualquer em uma das caixas, Heonduk jogou a mochila em suas costas e saímos. 

Andamos pouco até achar uma tenda. Acho que em Seoul tinha uma em cada esquina para alimentar a sede da população. O pouco que andamos, eu pude notar algumas poças de vômito na calçada, e um homem de terno e gravata dormindo no canteiro com uma garrafa verde ao seu lado servindo de evidência. Era sexta-feira, sete da noite, o sol mal havia terminado de se despedir e já tinha pessoas extremamente bêbadas nas ruas. Mas ninguém parecia se incomodar com ninguém, nem com as poças de vômito.  

Assim que entramos, três amigos estavam saindo, um se apoiando no outro, dois rindo e um chorando. Isso poderia ser o suficiente para me fazer pedir desculpas ao Heonduk e voltar para o conforto do meu apartamento. Mas eu precisava me distrair, de verdade. Nos sentamos em uma mesa na calçada e Heonduk logo pediu duas garrafas de soju.

– Não quero ter que sair daqui daquele desse jeito – avisei a Heonduk, apontando para os três amigos.

– Beber é um esporte – dizia Heonduk abrindo as duas garrafas, entregou uma para mim e brindou. – Se você souber jogar você não se machuca.

Eu ri.

– Tão experimente – disse cheirando o liquido dentro.

Heonduk já tinha tomado uma golada grande da sua.

– Eu comecei a beber com dezesseis, na época eu ficava bêbado muito rápido e também me pregavam muitas peças então precisei aprender – Mais um gole. – Não vai tomar?

Eu sorri sem graça e cheirei mais uma vez antes de dar uma golada. O liquido desceu queimando pela minha garganta. E continuou queimando no meu estomago, até meus olhos lacrimejaram. E podia jurar que por um segundo eu a vi. Por que eu não sei, ela só estava comendo alguma coisa. Ultimamente eu tenho visto a Chaelyn sem nenhum motivo aparente.

– Como está se sentindo? – Heonduk perguntou, já estava mais da metade de sua garrafa.

– Não sei como conseguem.

– Tem alguma mágoa para contar?

– Quê?

– As pessoas bebem melhor quando estão tristes ou com raiva.

– Ah...

Primeiro eu pensei na Jeunhee. Desde que “demos um tempo” ela não falou mais comigo, não atendeu minhas ligações e tampouco me retornou. E antes de mudar para cá, deixei inúmeras mensagens de texto e de voz... mas nenhuma foi respondida. Duvidei muito que esse nosso “tempo” tivesse um prazo. Então empacotei meu coração e vim para cá, sem me preocupar em estar abandonando alguém.

– Quer falar sobre isso? – Heonduk perguntou já que eu havia me calado.

Eu tomei um gole grande da bebida e me arrependi, queimou mais ainda. Desabafei tudo o que havia acontecido comigo e a Jeunhee, desde que começamos a namorar até o término eu já estava nos últimos goles do soju. Mas ainda consciente para saber esconder qualquer detalhe que entregasse a Chaelyn.

Era incrível como aquela garrafinha pode mudar você. Lembro que na segunda eu estava me acabando de rir. Na terceira eu estava xingando e quando tomei o último gole eu estava chorando.

Chorando muito. 

– Por que ela me deixou afinal? – Eu estava abraçado ao Heonduk, que largou sua quinta garrafa para me consolar. Ele bebia muito rápido. – Eu sempre fui um bom namorado para ela. Sempre fazia as vontades dela.

– Essas mulheres nunca sabem o que querem! – disse Heonduk exagerando no tom de voz. – Nunca estão satisfeitas com nada. Por isso desisti delas! Desisti. De. Mulheres!

Meus olhos se arregalaram e eu o larguei, afastando minha cadeira.

– C-como assim?

– Eu, Son Heonduk, desisti das mulheres – ele repetiu. – Não me preocupo mais com os sentimentos delas, simplesmente fico com quantas eu quiser, pelo tempo que eu quiser.

Eu respirei de alívio, por um momento achando que ele ia se revelar gay.

– Tem razão – concordei com ele. – Elas são muito cansativas.

– Sabe qual o segredo delas? – Heonduk fez um sinal para eu me aproximar e disse, sussurrando: – Na realidade elas só querem saber de serem bem comidas. Se é que me entende.

– Sério?

– Sério! Eu já fiquei com várias, e todas elas só se interessam por uma coisa.

– Como uma pessoa consegue soltar tanta merda pela boca?

Eu olhei para o lado e lá estava ela, Chaelyn, sentada em nossa mesa com um notebook em sua frente. Não lembro há quanto tempo ela estava ali, mas pela sua cara parece ter ouvido o suficiente.

– Vocês são realmente imundos – ela sibilou.

Eu ri. Quase gargalhei.

– Que foi?

– Sabe outro segredo? Quando elas estão mais mal-humoradas, é quando elas mais precisam.

Nós dois rimos.

E no segundo seguinte eu senti uma pancada na cabeça e dei um grito. Quando vi, Chaelyn estava segurando um controle de televisão em uma mão, o objeto que me feriu. Ela bufava de raiva.

– Ou você e seu amiguinho tomem um rumo descente para esta conversa, ou eu juro que faço um rombo de verdade na sua cabeça com esse controle.

– O que foi cara? – Heonduk perguntou preocupado, mas ainda rindo.

– Nada. Só uma dor de cabeça muito forte.

– Jura? Nossa... ta até sangrando.

Eu passei os dedos em minha testa e estava de fato com sangue. Eu tateei mais um pouco e achei uma feridinha, bem pequena, entre minha testa e meu couro cabeludo.

– Essa garota, realmente – eu sibilei coçando a nuca.

– Que garota?

Heonduk estava completamente confuso. E sinceramente, eu também estava.

Então nós rimos de novo.

×

Jung Chaelyn. Incheon, 2010.

06 de Agosto, às 20:27h.

 

Eu fechei a porta do armarinho e me encarei seriamente no espelho. Apesar de estar aliviada em saber que não corro mais risco de vida, as horas que eu deveria ter gasto com um belo cochilo, eu perdi pensando e remoendo razões das quais eu deveria parar de trabalhar para o Kust. Porque de qualquer maneira era um risco de vida, o tempo todo, ou o risco de ser presa.

Então prometi a mim mesma que esta seria a última vez. E depois eu daria um jeito de sumir. Ainda sou bem nova e poderia perfeitamente recomeçar minha vida.   

Vestia roupas completamente pretas, calça, blusa, jaqueta e coturnos, para me misturar com a noite. Uma mochila para carregar meu notebook e todos os meus quatro celulares. Antes de sair prendi os meus cabelos em um rabo de cavalo.

Estava à caminho do ponto de ônibus quando um carro diminuiu a velocidade ao meu lado e buzinou.

Era o Joohyuk.

– Precisa de carona? – perguntou ele abaixando a janela do carona.

Eu me abaixei um pouco para ver seu rosto.

– Para onde você vai?

– Kust me chamou para uma reunião no armazém – respondeu ele dando de ombros.

– Você vai?! Enlouqueceu?

Joohyuk sorriu.

– Eu que deveria estar fazendo essa pergunta. Não foi para a minha cabeça que ele apontou uma arma – disse ele erguendo uma sobrancelha. – Entra aí.

Eu abri a porta do carro e me sentei no banco, puxando o sinto de segurança.

– Isso significa que você conseguiu?

– Sim. E isso livra você também.

– Bom saber.

Vi ele sorrindo pelo canto do olho e não resisti a lhe dar um beijo na bochecha.

– Mas promete para mim que essa vai ser a última? Depois de hoje à noite eu vou sumir. E queria que você fosse comigo.  

Ele não me respondeu e a sua expressão mudou completamente, parecia aflito.

– Não é bem assim – ele disse secamente.

Eu respirei fundo e engoli a raiva por ele ser tão idiota e ganancioso.

Permaneci calada até que a gente chegasse ao estacionamento do armazém. Aquele lugar me dava medo, parecia que a qualquer momento alguém ia saltar de trás das moitas ou das caçambas. Instintivamente eu segurei o braço de Joohyuk e nós entramos. O lado de dentro era desnecessariamente enorme, já que só usávamos o escritório no segundo andar.

Quando entramos o Kust ainda estava arrumando o quadro de estratégias, onde tinha o mapa do local, todas as possíveis entradas e saídas do estabelecimento, localização de câmeras e alarmes, e rotas de fuga principal e alternativa. Pelo o que eu consegui ver, parecia uma joalheria. Uma das mais famosas em Seoul. E, presumivelmente, uma das mais bem protegidas... Isso me daria trabalho.

Kust nos cumprimentou formalmente e começou a explicar tudo o que cada um deveria fazer. Primeiro os dois caras que entrariam junto com ele, o Jongdae e o Youngji, com bolsas enormes que ele jogou no colo dos dois. Depois o Joohyuk e Minseok, nossos hábeis motoristas que tinham apenas três rotas de fuga alternativa, se algo desse errado. E por fim...  

 – Jung Chaelyn – Kust cantarolou meu nome quando chegou minha vez. – Temos um sistema de câmeras e alarmes bem reforçados, tanto na loja como nas vitrines. Tudo que eu preciso é que você as desative por tempo o suficiente.

– Não depende de mim, depende do sistema.

– Se vira – Kust respondeu sorrindo – Só saio de lá quando conseguir mais que oitocentos milhões de wons*.

Eu ergui uma sobrancelha, mas mordi a língua para ficar quieta. Joohyuk pousou uma mão na minha perna e eu percebi que a balançava nervosamente. Ele se inclinou para beijar minha bochecha.

– Vai dar tudo certo – Joohyuk sussurrou para mim.

Depois de quase uma palestra sobre como todos deveriam agir e cooperar, nós saímos. Já estava perto 23h.

Minseok entrou no carro da frente junto com os outros. Eu entrei na parte de trás da van que o Joohyuk dirigiria, essa estava montada com o computador, que para maior eficiência eu acoplei com meu notebook. Coloquei os fones de ouvido e fiquei ouvindo música até chegarmos.

A viagem durou um pouquinho mais de uma hora, de Incheon para o centro de Seoul. E no caminho aquele formigamento estranho na nuca voltou me incomodar, agora parecia mais do que antes. Isso me preocupava muito. E o Seunghoon parecia um sinal fraco de TV, não importa pra onde eu olhasse. Ele aparecia e sumia, sua imagem era fosca e trêmula, sua voz chiava e com muita dificuldade eu conseguia escutar alguma coisa direito. Ele ainda estava com aquele garoto idiota, mas não estavam fazendo nada demais.  

E de certa forma eu também não estava nervosa para ele estar aqui...

Quando chegamos, Kust, Jongdae e Youngji se posicionaram. Joohyuk e o Minseok continuaram nos veículos, com os motores ligados.

– Quando você mandar, Chae – a voz do Kust saiu no meu fone de ouvido.

Fiz todos os procedimentos para invadir o sistema de câmeras e alarmes. Era incrível como tudo nesse mundo era conectado a internet. Em alguns minutos eu tinha todas as imagens das câmeras na tela do meu computador.

– Kust?

– Sim.

– Vocês têm sete minutos. Mais do que isso um sinal automático será enviado para a polícia, que estará aqui em menos de trinta segundos. Aqui no centro tem patrulha em todo lugar... – disse assustada olhando para o mapa que mostrava na tela do meu notebook.

O mapa do centro de Seoul parecia uma arvore de Natal de tantos pontos vermelhos que tinham, e cada um era uma patrulha.

Congelei a imagem das câmeras para que a unidade de segurança que tomava conta delas não visse nada, deixando as imagens somente para mim.

– Pode começar – eu mandei.

Kust entrou pela porta da frente, como todo cliente entraria. Eles começaram a quebrar as primeiras vitrines com a coronha de suas armas e a despejar bandejas de joias em suas bolsas. E só quando se moveram para o canto esquerdo da loja que notei que a câmera daquele lado estava sem sinal nenhum, apenas com aquela tela de estática.

– Temos cinco minutos – Eu me aproximei mais da tela sem sinal. – Mas que merda...

– O que houve? – Kust perguntou exaltado, uma música de A.M. Kidd se misturava com a sua voz.

– Nada!

Pude notar dois garotos dançando. Gradativamente o sinal foi melhorando até eu poder vê-los por completo. A coreografia não parecia ensaiada, mas os movimentos muito bem feitos... Não pode ser possível uma coisa dessas. Só podia ser eles dois. O Seunghoon e o amigo dele, Heonduk.

Mas o que eles estavam fazendo na minha tela?  

Depois de um bom tempo eu despertei voltando a olhar para o cronômetro. E gelei.

– Um minuto. Vocês tem um minuto – disse tentando esconder o nervosismo na minha voz.

– Como é?!   

– 47, 46, 45... – Eu contava.

– Você está achando que isso é brincadeira?! – Kust gritava no fone.

Engoli em seco a raiva.

– 32, 31, 30... Kust sai daí.

– Ainda não tenho tudo o que preciso!

– 20 segundos... Kust...

– É melhor a gente parar por aqui – disse Jongdae.

– Nenhum dos dois sai daqui sem mim – Kust levantou a arma apontando para os dois. – Entenderam bem? Agora rápido, termine com aquela vitrine.

Eu me levantei tirando os fones e os tacando em cima da cadeira. Abri a janelinha que dava para o motorista.

– Vamos sair daqui – sussurrei para o Joohyuk.

Suas mãos apertavam o volante, mas ele me acenou um não com a cabeça.

– Joohyuk!

Eu já podia ouvir as sirenes, já tão perto.

– JOOHYUK!

E então vi os outros entrarem no carro da frente. O carro acelerou e cantou pneu antes de sair em velocidade. Joohyuk deu a partida na van e saiu calmamente. Certo que não era nós que estávamos com oitocentos milhões de wons, mas não precisava debochar. As sirenas estavam cada vez mais altas, mais perto. Eu estava tão nervosa que ofegava, sentia até minhas pernas tremerem.  

– Corre Joohyuk! – eu exclamei tentando enxergar pelo vidro da frente. 

– Correr de quê? 

– Da polícia, seu idiota! – eu quase gritei.

Joohyuk riu e olhou para mim pelo retrovisor.

– Por que tão assustada? Não tem polícia nenhuma nos perseguindo... – ele disse calmamente.

– O quê?

– Parece que vocês fez um trabalho muito bom! – ouvi Joohyuk dizer.

Eu voltei para a tela do notebook, onde estava o mapa de patrulhamento. De fato, nenhum dos pontinhos vermelhos que indicavam cada viatura não havia se mexido do lugar. Ainda assim meus pelos se eriçaram quando passamos perto de uma viatura, mas esta não estava com as sirenes ligadas.

Ninguém estava nos perseguindo.

E eu ainda podia ouvir as sirenes.

 

*₩800.000.000,00 (oitocentos milhões de won) equivale aproximadamente $700.000,00 (setecentos mil dólares)  

×

Lee Seunghoon. Seoul, 2010.

07 de Agosto, às 00:47h.

 

Assim que ouvimos a sirene vi Heonduk correr para um lado, eu peguei o notebook no chão e corri atrás dele. Rindo. No entanto e ao mesmo tempo tão nervoso que minhas pernas mal me obedeciam. Entramos no primeiro beco que achamos, mas era sem saída.

– Porra! – ouvi Heonduk exclamar.

Segundos depois a viatura da polícia nos alcançou e um policial saiu, em uma mão segurava uma lanterna e a outra estava sobre a arma ainda em seu cinto. O que era bem desnecessário. Nós dois só estávamos nos divertindo. O que há de mal dois caras invadirem o pátio de uma empresa para expressar seus talentos artísticos através da dança? Isso mesmo. Invadimos o prédio da YG Entreteniment. Não o prédio em si, mas o pátio de trás – e isso já vale bastante.

A ideia foi toda minha. Nós poderíamos apenas ter dançado em frente a YG, mas qualquer um poderia fazer isso. E como todo bom artista, eu só queria captar a atenção do Yang Hyunsuk de um jeito especial. Porém, parece que a área é bem protegida, bem particular – eu estava bêbado, mereço um desconto. Por isso estamos aqui, com as mãos estendidas, prontos para serem algemados.

Heonduk parecia familiarizado com essa situação.

Eu ainda achava graça, mas não podia negar a inquietação.

Nós entramos na viatura sem muito esforço. E confesso que minha ficha só caiu quando me disseram:

– Mostre seus documentos – pediu o delegado.

Eu olhei para Heonduk, sentado ao meu lado, em busca de esperança, mas ele já estava apavorado, cavando e cavando a mochila.

– Bem... – dizia Heonduk – Parece que nós fomos assaltados...

– Você deixou lá – eu sibilei.

– Sshh!

– Você esqueceu a carteira na barraca!

– Shiu!

– Shiu pra você!

– Seu idiota, eu poderia tirar a gente dessa – ele sussurrou.

– Ah jura? Ia fazer o quê? – sussurrei de volta. 

– Eu ia dar meu jeito!

– Dar seu jeito? Dar o cú, só pode.

– Só se fosse o seu, viado!

– Viado é você!

O delegado pigarreou alto, interrompendo nosso diálogo entre sussurros agressivos.

– As mocinhas já terminaram de tagarelar? – o delegado perguntou, seu cenho franzido me dava medo. – Eu vou ter que mantê-los aqui, até que um responsável apareça. – E com um aceno de mão ele chamou os policias.

– Não espera! Liga para o meu pai – pediu Heonduk.

– Sinto muito, o horário não é apropriado.

– Não, por favor, por favor! – Heonduk implorava.

– Um dia na cadeia nunca matou ninguém – o delegado respondeu friamente. – Pode leva-los.

E os dois policiais nos encaminharam para selas separadas, uma do lado da outra. A sela era apertada, fria e com iluminação fraquíssima, de um lado havia uma cama sem colchão e do outro um vaso sanitário e uma pia. A janela que tinha era bem no alto, pequena e com grades.

– Eu vou processar vocês! – Ouvi Heonduk gritar do outro lado. – Quero meu advogado! 

Eu sentei na cama e massageei meus pulsos, algemas machucam mesmo. E fiquei ali pensando o que faria para a hora passar.

– Meu pai vai acabar com vocês!

– Heonduk, não adianta – eu disse.

– Aish! – ele fez batendo na grade com força. – Eu nunca fiquei em uma sela, Seunghoon! Isso é humilhante.

– Mas já foi pego?

Heonduk pensou e depois riu.

– Sim, várias vezes.

– Vou nem perguntar...

– Nunca fiz nada demais – disse ele na defensiva. – A maioria das vezes era por estar com bebida alcóolica.

– E na minoria das vezes?

– Por estar perturbando a paz nas vizinhanças – ele respondeu rindo. – Eu me juntava com meus amigos para ficar jogando bombinha no quintal dos outros. Era legal, eles acordavam desesperados gritando é tiro é tiro!

Nós dois rimos.

– Mas meu pai sempre vinha pagar a multa e eu era liberado na hora.     

– Entendo...

Eu suspirei e me ajeitei, esticando as pernas sobre a cama e encostando as costas na parede gélida.

– Hein, Heonduk... – chamei depois de um bom tempo em silêncio – Hyung? Já ta dormindo?  Fala sério.

Eu bufei e me encolhi, apoiando a cabeça em meus joelhos. Nunca que eu ia conseguir dormir em um lugar daqueles.

– Conseguiu me superar – disse a voz dela com ar de deboche. – E olha que a criminosa sou eu.

Apertei mais os olhos e tentei fingir que estava dormindo, mesmo achando que isso não funcionaria.

– Você vai continuar com isso... – ela resmungou – Se eu estou inquieta sem conseguir dormir, você provavelmente também está.

Levantei a cabeça para olhar para ela. Ela vestia uma camisa preta masculina grande o suficiente para cobrir metade de suas coxas. E o fato de que ela não vestia sutiã era visível, ainda mais nesse frio... Eu já deveria ter me acostumado muito bem com isso, de vê-la de camisola, pouca roupa, calcinha, até mesmo nua – não que ela saiba a parte da calcinha e da nua, porque todas as vezes que vi ela estava distraída e de costas. Mas a cada ano que passava isso só se tornava cada vez mais difícil.

– O que houve, hm? O que vocês fizeram? – Chaelyn perguntou se sentando na beirada da cama.

– Só estávamos dançando.

Chelyn ergueu uma sobrancelha.

– Dentro de uma área particular.

Ela sorriu achando graça. Eu sorri de volta, instintivamente.

– E você? Por que está inquieta?

Chaelyn suspirou e ficou séria.

– Algumas coisas parecem meio bagunçadas – Ela deu de ombros. – E ainda não sei como aquele alarme não tocou – ela disse quase que para si mesma. – Era para ter acionado...

– Alarme?

– Uhum.

– De quê?

Ela pensou um pouco e depois revirou os olhos.

– Assaltamos uma joalheria – ela disse com naturalidade.

Mais uma vez eu a olhei de cima a baixo, dessa vez procurando algum vestígio da Chaelyn que tinha medo de fogo e de altura. Eu não diria trágico ainda, mas era triste vê-la vivendo dessa maneira. Queria poder ler seus pensamentos mais profundos, mas não há como, a não ser que ela queira que eu escute. Pude notar isso no dia que ela estava com uma arma apontada em sua cabeça, e em pensamentos ela implorava para que eu saísse dali, sumisse, que não visse aquilo, ela tinha certeza que morreria naquele momento. E tudo o que ela queria, tudo que ela me pedia, era que eu não visse ela ser morta.

– Por que está vivendo essa vida, Lyn? – perguntei com um pesar em minha voz.

– Por que você se importa?

– Por que não me importaria?

Ela riu debochada.

– Pensei que fosse só uma maldição para você.

– Você é parte de mim de qualquer maneira. 

– Você vai falar sobre isso de novo?

– Eu só estou tentando dizer – minha voz saiu um pouco mais alta do que eu pretendia – Só quero dizer que – disse calmamente me aproximando um pouco – eu me preocupo com você, de verdade. Tenho medo das coisas que você faz, e só queria poder te proteger disso. Só queria poder cuidar de você. Você não tem necessidade nenhuma para isso. As coisas poderiam ser diferentes... sei lá, mas poderia.

Chaelyn abaixou o rosto e quando o levantou novamente seus olhos brilhavam, aflitos. Por impulso eu ergui uma mão ao seu rosto e impedi que uma lágrima escorresse. Ela enxugou o restante e pigarreou se recompondo.

– Eu vou parar, já decidi – ela disse determinada – Não porque você pediu – acrescentou rapidamente, e eu prendi um riso. – Eu já tinha decidido antes, não é exatamente seguro trabalhar com aquele cara. E eu vou... sei lá, tentar algo diferente. Talvez continue na cafeteria.

Eu sorri para ela.

– Ta mesmo trabalhando naquela cafeteria?

Chaelyn assentiu.

– É bem legal lá – ela disse com meio sorriso – Eu posso me servir da quantidade de chantilly que eu quiser.

Eu ri, mas o riso dela foi bem fraco. E quando voltou a olhar para mim seus olhos estavam brilhando de novo.

– Por que está falando comigo? Pensei que me odiasse.

– Não tem como te ignorar muito bem – respondi – E eu não te odeio. Só estava com raiva naquele dia. Desculpa – pedi olhando em seus olhos.

Chaelyn desviou os olhos do meu, vi seus lábios franzirem escondendo um sorriso e então ela voltou a olhar para mim.

– Okay.

E ficamos assim, não sei por qual motivo, mas queria que isso durasse. Nossos olhos num encontro particular enquanto ela tentava esconder um sorriso bobo a todo custo. Eu havia desprendido o meu, o meu “sorriso bobo”. Porque agora eu podia ver breves flashes da Chaelyn de uns dez anos atrás.

Com certa cautela me aproximei mais. Ela nem se mexeu, então tomei a liberdade de descartar mais alguns centímetros, milímetros, até nossos narizes se tocarem. Não me lembrava da ultima vez que estive tão próximo assim. Chaelyn umedeceu seus lábios discretamente e eu os toquei com os meus, chupando seu lábio inferior, saboreando sua textura, maciez e mornura.

Segurei seu rosto com uma mão, progredindo. Mas ela me afastou.

Seu rosto tinha voltado para aquele ar de deboche, para a Chaelyn atual.

– Você deve estar mesmo bêbado – ela disse limpando a boca com a mão.

Eu engoli em seco e me afastei sem acreditar. Acho que esse jeito dela não mudaria nunca. Eu que devia ser muito idiota mesmo por acreditar. Acho que a Chaelyn que eu conhecia foi enterrada quando ela começou a sair com aquele Joohyuk.

No fundo era tudo culpa dele! Ele que apresentou esse mundo escroto para ela, a convencendo de como as coisas eram mais fáceis e melhores.  

Encostei minha cabeça na parede e fechei os olhos tentando dormir.

Mas ao invés disso senti vontade de chorar.

Eu devia mesmo estar muito bêbado.


Notas Finais


Mais um! eeehhh kkk Consegui terminar esse mais rápido do que eu previa.
Também com o incentivo de vocês, quem não? <3
Espero que tenham gostado.
O próximo estará mais... hmmmm... hmmm não saberão ~moon face~

Cheirinhos *--*


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