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História Pólos - Toca dos lobos


Escrita por: almightymag

Notas do Autor


HAAA! Demorei? Demorei. Por que eu demorei? Pq eu andei meio desanimada, mas tudo já se resolveu.
E já que entramos nesse assunto de demoras, queria já adiantar uma coisinha aqui.
Minha faculdade volta depois do carnaval, e talvez eu dê uma desacelerada na escrita, em época de provas talvez eu mal exista kkk Mas peço, por favor, que não desistam de mim e da fic, porque eu não pretendo pará-la (até porque já pensei quase que na história toda!), então também peço que, caso eu suma por duas ou três semanas, vocês não me abandonem, plis, vocês são todo o meu incentivo T--T ❤

Agora sem drama, e boa leitura *--*

Capítulo 7 - Toca dos lobos


Jung Chaelyn. Incheon, 2013.

31 de Janeiro, 21:05h

 

Era a sexta carga elétrica que eu recebia das algemas em meus pulsos, e eu mordia os lábios me recusando a gritar. O cenário era bem convincente para uma cena de tortura, mas era apenas treinamento de acordo com Kust.

Há quase um ano, quando recebi alta do hospital, o Kust simplesmente me levou para casa dele, ou melhor dizendo, mansão, sem me dar satisfação alguma. E desde que coloquei meus pés lá dentro eu tive mais certeza que não sabia nada daquele homem, ele era imprevisível o tempo todo, em tudo! Achava até que o Kust era apenas um bandidinho-bem-de-vida, que se virava assaltando joalherias, mas posso garantir que essa mansão, os carros bem polidos na garagem, as obras de artes exibidas nas paredes e em pilares, e a quantidade de seguranças e empregados espalhados pela mansão, não poderiam ser bancados apenas com assaltos à joalherias. Tinha mais alguma coisa. Ele era mais alguma coisa, talvez um monte de coisas que eu vou morrer sem descobrir.

Ao menos ele me concebeu dois meses de recuperação, o que foi bem diferente de descanso. Ele consumia meu tempo com treinos e exercícios para recuperar meu condicionamento físico.

No entanto aqui estou eu, em uma sala, sentada em uma cadeira com as mãos algemadas para trás. Tais algemas estão ligadas á uma bateria com botão liga e desliga. Kust estava sentado á minha frente e tinha essa bateria em mãos. E meu objetivo era conseguir me livrar das algemas com um grampo de cabelo em um minuto ou ele pressionaria aquele botão por cinco longos e torturantes segundos.

— Se concentra no seu objetivo — ele repetia toda vez que eu falhava. — Pronta?

— Não — resmunguei.

— Já.

Então ele acionou o cronometro em sua outra mão. E eu voltei á minha luta. Meus dedos tremiam tanto que a essa altura eu mal conseguia encaixar o grampo na algema, a dor em meus pulsos era maior, por estar em uma posição tão desconfortável, por estar recebendo tanta carga elétrica e por quase ter que contorcê-los para achar a fechadura da algema. O cronometro de Kust me oferecia apenas 10 segundos agora. Eu enfiei o grampo com tanta raiva que ele quebrou lá dentro.

Outra carga.

Meu corpo se retraia por inteiro, meus dentes trincavam. E quando ele soltava o botão eu me sentia desfalecer. De novo eu mordi os lábios para não gritar, mas lágrimas escorreram de meus olhos involuntariamente, em suplica.

Kust suspirou decepcionado.

— Pronta?

— Por favor, me dá um minuto! — gritei.

Kust me ignorou e acionou o cronometro de novo.

— O grampo quebrou! — eu insistia.

— Posso entrar? — ouvi alguém à porta, atrás de mim, provavelmente um homem.

Kust desviou a atenção de mim e desligou o cronometro. Seja lá quem for eu queria agradecer essa pessoa por ter chegado bem agora.

— Não sabe bater, Yong? — perguntou Kust.

O homem riu com deboche e entrou, eu só podia ouvir o som de suas botas.

— Espera! — censurou Kust. — Não entre assim, ela é novata — Kust pronunciou a palavra “novata” lentamente, como um tipo de código.

Yong entendeu e ouvi suas botas se afastarem por alguns segundos e depois ele voltou. Eu ainda tentava tirar o grampo de dentro da algema, mas aquela merda enrostou lá dentro de alguma maneira. Yong parou ao lado de Kust e me observou por um momento, gostaria de dizer que fiz o mesmo, mas ele vestia uma máscara que cobria metade do seu rosto, deixando apenas seus olhos à mostra que também eram sombreados pelos seus cabelos loiros, quase platinados, sobre a testa.

— Quem é essa? — Yong perguntou.

— Chaelyn — respondeu Kust olhando para mim.

— Chaeryn? — Yong riu.

— Jung Chelyn — repetiu Kust, com ênfase na pronuncia.

Eu aproveitei o papinho deles para relaxar um pouco, mas ainda preocupada com o grampo emperrado. Vez ou outra eu o balançava na esperança de que se soltasse por vontade própria.

— Já disse para não trazer qualquer um aqui — o Yong cochichou.

— Ela não é qualquer uma — Kust sussurrou de volta. Se eles queriam que eu não ouvisse, não estava funcionando muito bem.

— Você disse isso da ultima vez, não preciso lhe lembrar, certo? — Yong assumiu um tom quase ameaçador.

Kust bufou aborrecido.

— Pensei que você estaria ocupado hoje, num é seu grande dia? — Kust disse com deboche.  

— Seria se num me ligassem me contando as merdas que você tem feito.

Kust riu.

— Serve de consolo saber que ela já me roubou uma vez? 

Yong tombou a cabeça para o lado e soprou um riso.   

— Não se pode pegar catapora duas vezes — disse Kust rindo da própria piada. — Ela quebrou um sistema que até eu teria dificuldades para passar. Você sabe bem do que estou falando.

Ainda com um ar de descrença, Yong aproximou o rosto e olhou para mim. Com curiosidade talvez, seus olhos brilhavam como se eu fosse um produto novo. Era para ele que o Kust trabalhava? Acho que se fosse não se tratariam com tanta informalidade. E não era nenhum de seus seguranças, porque os seguranças de Kust nunca falavam nada — estou há um ano e meio aqui e nunca ouvi a voz daqueles homens. E esse era diferente, também não se vestia como um subordinado. Vestia calças jeans rasgadas nos joelhos e uma camiseta preta muito brega.

— Perdeu alguma coisa? — digo quando seu olhar começa a me incomodar.

Sua mascara pulsou quando ele soltou um riso abafado. Vi sua mão se aproximar do meu rosto e me encolhi achando que receberia um tapa. Meu sangue fervilhou na hora, mas foram apenas tapinhas de consolo, do mesmo jeito que se faz quando um cachorro se comporta. 

— Ela parece ser ousada — comentou Yong, e então ele voltou a se virar para Kust. — Só num pegue muito pesado, pode traumatiza-la.

Kust sorriu.

— Sei o que estou fazendo.

— Certo... e tira logo essa coisa — dizia Yong gesticulando para alguma coisa no rosto de Kust — Você fica ridículo assim.

E sem se despedir o Yong saiu da sala, e no lugar voltou a minha tensão. Só queria que aquilo acabasse logo.

— Sabe onde você está errando? — perguntou Kust colocando a bateria de lado, me fazendo suspirar de alívio. — Você está deixando se levar pelo desespero de ser eletrocutada.

Ele deu uma pausa estratégica para que eu pensasse sobre isso. Quis rir só de imaginar qual pessoa não entraria em pânico recebendo choques elétricos a cada minuto.

— Lembra-se daquela joelheira em Seoul? E em como todos entraram em desespero, inclusive você, por que o tempo estava acabando? 

Eu suspirei e assenti.

— Todo sistema de segurança tem uma margem de falha, quando você nos deu os sete minutos você não calculou essa margem. Era uma margem de um minuto e meio... Se eles perdessem mais um segundo sentindo medo aí sim o alarme soaria.

— Não fazia ideia disso — murmurei para mim mesma.

Tudo que sei sobre hackear, aprendi sozinha e me arriscando bastante. Não tinha alguém que me ensinasse ou livros que me oferecessem teorias, foi apenas uma questão de ver, tentar entender, tentar fazer e tentar esconder. Eu tinha conhecimento de algumas brechas e falhas de segurança, foi assim que consegui acessar a conta do Kust na época. Foi assim que vim parar aqui...

— Agora vou deixar você tentar se soltar sem o cronômetro.

— Por que eu tenho que fazer essas coisas? — perguntei. — Eu sou só a garota que fica no computador.

— Você faz perguntas demais, Chae — Kust disse com uma voz monótona.

— Eu só quero saber o que está fazendo comigo! — exclamei — Disse que me queria como hacker particular, mas isso está além dos limites.

E sem que eu percebesse o movimento de sua mão, tomei outra carga. Dessa vez breve, só para me fazer calar.

— Pode começar — ele ordenou.

Assim terminamos nossa conversa.

Kust cruzou as pernas e pousou as mãos sobre seu colo, eu esperava que ele as mantivesse ali. E agora que estava mais relaxada, sem a tensão de saber que seria eletrocutada, eu pude perceber que o grampo não havia emperrado, e que por mais que eu tentasse nunca conseguiria arrancá-lo. Porque era só girar. A algema fez um clique e afrouxou em meus pulsos.

Vi Kust sorrir com o canto dos lábios.

— Muito bem. — disse ele se levantando e dando a volta por mim. Kust puxou meus braços para trás de novo, prendeu as algemas e me deu um grampo novo. — Faça de novo.

Eu suspirei e tomei meu tempo dessa vez. Me concentrando nas travas, nos cliques, nos estalos minúsculos que se produziam dentro da fechadura. Não sei quanto tempo levou, mas não demorou muito até ouvir um clique um pouco mais alto e a algema se afrouxar.

Kust prendeu a algema em mim de novo. Que saco isso! E quando ele voltou a sentar na cadeira, pegou a bateria e pôs em seu colo. Meu coração começou a bater mais forte, mas eu engoli em seco e tentei ignorar o nervosismo, tentei ser fria comigo mesma.

— Já — disse Kust acionando o cronometro. 

×

Lee Seunghoon. Seoul, 2013.

31 de Janeiro, 20:00h

 

Quando terminei de arrumar minha mochila foi que minha ficha caiu por completo. Eu olhei para a parede e comecei a rir de tanta animação. Eu estava indo para YG. Eu fui aceito pela YG. Eu dormiria no dormitório da YG. Eu sou oficialmente um trainee da YG. Caraca YG! Era impossível de acreditar. Quando fui eliminado do Kpopstar, podia jurar que meu sonho tinha acabado ali mesmo. Porém, logo depois, o próprio Hyunsuk veio até a mim, me convidando para uma audiência particular na YG. Eu aceitei, poderia ser considerado um premio de consolação, mas vindo dele, de Yang Hyunsuk... logo o que mais me criticou durante toda a competição?

Talvez toda a birra comigo fosse só teimosia da parte dele em aceitar que eu de fato era um bom artista.

E agora eu estava pronto para me mudar para um dos dormitórios de lá. Hyunsuk não me deu muitas informações, só pediu para eu passar a noite lá e me entrosar com os outros integrantes. Isso me deixou meio nervoso porque nunca trabalhei com ninguém, pelo menos não formalmente, sempre gostei de dançar sozinho.

Joguei a mochila nas costas, apaguei todas as luzes do meu apartamento, inclusive no disjuntor, e saí. Eu fui andando mesmo, era só uns dois quarteirões dali — sabia que não tinha comprado aquele apartamento a toa.

Quando cheguei ao prédio da YG pedi informações à recepcionista, através de uma lista ela indicou em qual andar eu deveria ficar e o número do dormitório. E só quando eu estava indo em direção ao elevador que ela acrescentou que o prédio não era aquele.

— Como assim? — perguntei assustado.

— Esse é o prédio oficial e exclusivo para os integrantes da YG Enterteinment. O dormitório fica no hotel Namkyong — falou a recepcionista.

Eu assenti envergonhado e fiz uma breve reverencia antes de sair dali. Eu não fazia ideia de onde ficava esse hotel Namkyong. Peguei minha carteira no bolso e contei o quanto tinha de dinheiro, mal somavam 2mil Wons. Ainda assim eu acenei para um táxi.

— Boa noite, ajusshi... Sabe onde fica o hotel Namkyong? — perguntei ao taxista. — E também sabe me dizer se dois mil me leva até lá?

— Hotel Namkyong?! — o taxista riu. — Entra aí garoto, eu te levo lá.

Então entrei no táxi, no lado do carona mesmo e observei ele fazer o trajeto. Que durou só uns cinco minutos. De primeira achei que ele estivesse sacaneando com a minha cara. Mas as letras em hangul realmente escreviam Namkyong na entrada do hotel. Eu olhei para o velocímetro que mal havia saído do lugar, mas ainda teria que pagar a bandeira... fala sério, eu poderia ter vindo andando!

— Tudo bem garoto — disse o taxista quando voltei a catar moedas na minha carteira. — Não me deve não, vai lá.

— Sério?

O ajusshi assentiu e me sorriu com sinceridade, eu lhe sorri com gratidão.

— Aaaah muito obrigado! — exclamei o abraçando, ele pareceu se espantar, mas logo saí do táxi. — Hoje deve ser um dia muito bom pra mim! Muito obrigado ajusshi, muito obrigado — disse fazendo várias reverencias, até ele arrancar com o táxi e sair.  

Caminhei até o lobby, que não era tão diferente de onde eu moro, um prédio bege e sem graça. Mas não importa. Eu dei o meu nome ao moço da portaria e ele autorizou minha entrada, novamente me instruindo o andar e o quarto que eu deveria ficar.

— Espera! — gritei para as portas do elevador que quase se fecharam para mim.

Por sorte o cara que estava dentro teve tempo de apertar o botão e a porta do elevador voltar a abrir. Agradeci formalmente por instinto e ele sorriu assentindo. Mas quando encarei seu rosto por mais de dois segundos senti uma sensação estranha se instalar em meu estômago, varrendo toda a alegria que eu estava sentindo há segundos atrás. De início tentei ignorar, mas ficar ao lado dele dentro de um elevador, só fez essa sensação aumentar mais ainda.

— Você é novo aqui? — ele perguntou.

— Sim — respondi, tentando parecer natural. — Fui aceito faz uns dias.

Só percebi que chegamos ao quinto andar quando as portas do elevador se abriram e o cara saiu. Era esse o andar que me foi instruído. Eu fui andando atrás dele, devagar, ao mesmo tempo em que caçava na minha memória o rosto dele. Da onde eu o conhecia e o por que desse enjoo.

Foi então quando ele abriu a porta onde tinha em negrito o mesmo número que me foi indicado. Quinto andar, quarto 512... Eu sabia quem ele era.

— Você é daqui? — ele perguntou com um sorriso no rosto quando me viu parado em frente à porta.

Suas feições eram inocentes, me lembravam até as de um ator japonês.

— Entre! Seja bem vindo — ele disse animado. — Meu nome é Kim Jinwoo.

E mentalmente eu completei: o meu agressor, o homem que tentou me espancar há um ano. Ainda me lembro da raiva que ele disferia em seus socos, me lembro de sua expressão esbanjando medo, de como ele fugiu como um bicho encurralado só de eu ter visto seu rosto, e dos hematomas que me surgiram no dia seguinte.

Eu queria vomitar. Não podia acreditar que eu seria do mesmo time que ele. 

Jinwoo balançou a mão na frente dos meus olhos e eu despertei.

— Lee Seunghoon — respondi, seco. — O meu nome.

— Não seja tão tímido — disse Jinwoo me encorajando. — Vem, entra. Acho que algum dos garotos está fazendo ramyeon.

Suspirei e entrei no apartamento. Diferente do meu, esse era bem maior, mais que o dobro — e isso eu só julgava pelo tamanho da sala. Um dos integrantes estava jogado no sofá, com fones de ouvido e lendo alguma coisa no celular, acho que ele nem notou minha chegada. Jinwoo comentou algo sobre nunca interrompê-lo quando está compondo, e outros detalhes que minha mente descartou. Eu ainda estava tentando digerir o fato de que ele estava ali. É obvio que eu não guardei rancor durante um ano, mas a presença dele me fazia pensar que poderia receber um soco na cara a qualquer momento.

Nos minutos que se passaram os outros integrantes foram-me apresentados, Song Minho e Kang Seungyoon — de primeira seu nome me incomodou por ser tão parecido com o meu —, que me receberam calorosamente com apertos de mão e tapas nas costas, e mais tarde soube que o do sofá, o mais novo, era Nam Taehyun. O apartamento também me foi apresentado e fiquei feliz em saber que por ora não dividiria quarto com ninguém, havia cinco quartos ali, pequenos, mas a privacidade ainda era privilegiada.

— Então, o que você já fez na vida? — me perguntou o Seunyoon depois de entregar os hashis.

Já estavam todos à mesa. Na minha frente havia um prato com uma lama avermelhada que eles serviram dizendo ser o ramyeon. Eu agradeci brevemente pela refeição e ia começar a falar da minha vida e experiência de palco no KpopStar. Mas senti um beliscão do Taehyun, que estava do meu lado, e então apontar para Minho, o que estava com a cabeça baixa e mãos juntas fazendo uma oração silenciosa.

— Ele é meio religioso — comentou Taehyun.

Eu assenti e todos nós esperamos em silêncio Minho terminar seu ritual. Depois começamos a comer e eu voltei a falar sobre mim, e ao terminar pedi para que todos falassem um pouco de si também.

Estávamos ouvindo sobre o Minho e sua má sorte em relação debutar quando senti um espasmo repentino. Meu corpo se contraiu por não sei quanto tempo, gritaria se meus dentes não estivessem trincados, e quando o espasmo passou eu ofeguei tanto que tremia. Todos olhavam para mim assombrados. Havia uma poça enorme de sangue sobre a mesa. Pensei em Chaelyn, no dia que ela foi esfaqueada. No entanto, eu estava tão desnorteado que demorei a processar que era meu prato de ramyeon que havia virado, e não sangue. Minha vista foi ofuscada por outro cenário, que piscava, aparecendo e desaparecendo, uma sala com luz amarela se misturando à cozinha do dormitório. Chaelyn sentada em uma cadeira, algemada, se misturando à geladeira.

— O que houve Seunghoon? — ouvi a voz de Jinwoo.

— Seunghoon! — Yoon chamou sacudindo meus ombros meus ombros. — Yah Seunghoon!

Eu consegui murmurar alguma coisa e a tensão entre eles diminuiu um pouco.

— O que foi isso?

— Cãibra?

— Está se sentindo bem?

— Sim — Minha voz ainda estava abalada. — Eu to bem... eu só... Com licença — disse me levantando da mesa.

Minhas pernas tremiam tanto que manquei um pouco antes de conseguir andar direito. Assim que alcancei a porta de um dos banheiros senti meus músculos se contraírem de novo, principalmente os dos braços, a sensação era agonizante, como se eu estivesse sendo eletrocutado.

Eu me joguei no chão do banheiro, perto da pia, e dali pude entender melhor a situação. O cenário acompanhou meu campo de visão, se tornando extensão do banheiro. Notei que saiam fios das algemas que prendiam os pulsos de Chaelyn, e estavam ligados a uma bateria sob a posse de Kust. Eu de fato estava sendo eletrocutado.  

Não me lembro quanto tempo fiquei ali agachado, absorvendo os choques em silêncio. Eu comecei a chorar depois de certo momento, não de dor física exatamente, mas pela perturbação que os choques causavam. Eu também mordia o dedo para não gritar, para que ela não me notasse. Porque mesmo sendo ela a passar por isso tudo, a sua preocupação maior ainda era comigo, e... sinceramente, eu me sentia um completo inútil para ela.

— Seunghoon? — ouvi alguém chamar batendo na porta do banheiro.

Eu estava com a cabeça encostada na pia, completamente impotente.

— Hmm?

— Você está melhor? — parecia a voz do Minho.

— Sim, me dê mais alguns minutos — murmurei com a voz falha.

— Okay, qualquer coisa é só chamar.

Devo ter ficado ali trancado só mais umas meia hora. Enquanto isso, um homem — o qual não consegui ver bem seu rosto — havia entrado, depois ele voltou para cobrir a cara com uma máscara, não sei por que. Eu já ouvia pouco a essa altura, a minha vista turvava e sentia Chaelyn se acalmar, sentia seu coração aquietar-se junto com o meu. Não demorou muito até que sua imagem esvaísse por completo.

Eu me levantei, ainda meio cambaleante, lavei meu rosto na pia e me olhei no espelho. Eu estava ótimo para um primeiro dia com o meu time.

Fui até a sala e encontrei Yoon e Jinwoo jogando vídeo game. Eu ia voltar no mesmo passo e me ajeitar no meu novo quarto, mas Yoon me chamou.

— Ei! Está se sentindo melhor? — perguntou ele se levantando do sofá.

— Sim, valeu...

— Olha essa cara, você está horrível — falou Yoon, preocupado.

— Obrigado — disse rindo.

E ele riu também.

— Tenta vencer aquela partida do Jinwoo, vou pegar algo pra gente comer — disse Yoon e sumiu na cozinha.

A última coisa que eu queria era ficar sozinho perto daquele cara. Ainda assim respirei fundo, tomando uma dose invisível de coragem, e me juntei a ele no sofá.

— Acho que te conheço de algum lugar — comentei pegando o controle que estava no assento.

— Sério? — Jinwoo deu a partida no jogo. — De onde? — perguntou Jinwoo, despreocupado.

— Acho que nos esbarramos por aí... — respondi, apreensivo. — Você não lembra de mim, num é?

— Aish Seunghoon — Ele riu. — Desculpa, mas não.

— Você quase me meteu uma surra só porque esbarrei em você! — sibilei.

E então o sorriso sumiu de seu rosto, tão rápido como se apaga uma luz.

— Quanto rancor... — ele sussurrou. — Eu devia estar de péssimo humor naquele dia, peço desculpas se lhe causei esse importuno.

Eu franzi o cenho.

— Não pareceu ter sido só pelo esbarrão, Jinwoo — disse.

— Não guarde tantas mágoas — Jinwoo sorriu — Isso faz mal.

— BAM! — fez Yoon pulando no sofá e nos fazendo quicar. — E aí, conseguiram? — ele perguntou com a boca cheia de biscoito. — Aigoo... nem saíram do lugar. Que lerdeza — E tomou o controle de minha mão.

Jinwoo continuou sorrindo para mim antes de voltar sua atenção para o jogo.

-

12 de Maio, 21:45h

 

Eu não notei os dias passarem direito, minha noite era dia e às vezes meu dia era noite. Ás vezes nós cinco passávamos tanto tempo dentro da sala de prática que não sabíamos que horas o sol se punha, e muita das vezes ele já estava nascendo de novo. O final da primavera nos esmagava em uma nuvem densa de calor e os ensaios, tanto de dança quanto de canto, se tornavam mais difíceis e mais cansativos. Também havia as avaliações mensais, e amanhã seria a minha quarta avaliação com o Time A. Junto também com o Time B, que não eram exatamente nossos adversários. Éramos apenas dois times distintos, lutávamos pelo mesmo sonho e de vez em quando achávamos tempo para nos divertir juntos. Éramos onze.

Hoje quando entramos para dormir ainda não tinha dado nem 22h, já que teríamos que acordar mais cedo amanhã. Eu fui um dos últimos a tomar banho, e foi quando vesti minha camisa branca que notei uma mancha de sangue na gola. A primeira coisa que fiz foi tocar minha testa, mas não me lembro de ter caído ou me machucado.

E quando me olhei no espelho, vi que o sangue escorria do meu próprio nariz.  

×

Jung Chaelyn. Incheon, 2013.

12 de Maio, 21:40h

 

Ligo o chuveiro me encolhendo com a água fria tocando meus novos ferimentos. Permaneci parada ali até me acostumar e depois tomei meu banho tentando ao máximo não ocupar minha cabeça com nada.

Kust ainda insistia com aqueles treinamentos dolorosos e nunca me dava uma razão para eu estar fazendo aquilo tudo. E hoje foi dia de caçar pássaros. Só que com uma faca. Para aguçar minhas habilidades furtivas. Eu particularmente não gosto de ferir animais, mas também não me declaro em uma posição de desobedecer ou protestar contra o Kust, pois estou em sua própria toca, rodeada de lobos por todos os lados.

Puxei minha toalha do cabide e me enrolei antes de sair do box. Apesar de o banheiro ser dentro do meu quarto, e a porta do meu quarto está trancada, aprendi a ser assim em caso ter que acidentalmente bater de cara com... Ele. Que estava ali parado no meio do meu banheiro, se olhando no espelho, apavorado.

— Se deu conta da sua feiura só agora?

— Não brinca, Chaelyn — respondeu Seunghoon, indignado. Ele abriu o registro da pia e lavou as mãos sujas de sangue. — Meu nariz... caramba...

Um nível exagerado de preocupação me atingiu. E quando dei por mim estava segurando seu rosto entre minhas mãos, o analisando. Com meus polegares abaixei suas pálpebras inferiores e depois inclinei seu rosto para olhar seu nariz — o que o preocupava.

— O que está fazendo? — ele perguntou sem graça.

— Isso é normal — respondi. — Minha prima Hyunji... — Senti um calafrio só de pensar nela, e consequentemente neles. — Ela costumava ter isso. Vem cá — disse saindo do banheiro. — Senta aqui. — E indiquei minha cama.

Seunghoon sentou na beirada da minha cama e esperou enquanto caçava algum lenço no caos de minhas gavetas. Não era totalmente estranho ter o Seunghoon sentado na minha cama, porque todas as noites antes de dormir a gente dava um jeito de aparecer um para o outro. Ele tem passado por coisas preocupantes dentro daquela empresa, e eu estava encarcerada com o psicopata do Kust. Acho que pela primeira vez em nossas vidas, um servia de consolo para o outro, igualmente. Mas ele nunca esteve sentado na minha cama enquanto eu estava só de toalha. Me dei conta disso quando me virei e o vi encarando minhas pernas, como se num tivesse visto as mesma pernas nos últimos 20 anos — ou talvez 6 anos, se considerar só nossa puberdade.

— Aqui — disse entregando o lenço a ele e me sentando ao seu lado. — Pressiona no nariz e inclina a cabeça um pouco pra frente — Eu olhei no relógio. — Fica assim uns 10 minutos...

Seunghoon assentiu e fez o que eu pedi.

— Por falar na sua prima, sabe se... — Seunghoon começou, mas deu de ombros e não pareceu confortável o suficiente para continuar. Ele se inclinou mais e apoiou os cotovelos sobre suas coxas.

— Se eu sei se eles estão bem? — completei.

Seunghoon assentiu.

— Agora eu não sei — murmurei. — Mas Kust me deixou falar com eles uma vez, pelo Skype. Faz alguns meses, e a conexão estava horrível, mal durou dois minutos — disse franzindo o cenho. Aquele dia foi tão atônito que quando lembro parece ter sido apenas fragmento de um sonho nítido. — Pelo menos sei que estão vivos — convenci a mim mesma.

— Também faz um tempo que num falo com meus pais — ele comentou cortando a tensão. E continuo falando sobre como sentia falta da sua família, e até mesmo de Busan.

Ouvi-lo falando daquele jeito até me doía, porque até então eu era a única que havia sofrido uma série de desventuras desde que era criança. Era impossível de imaginar que ele poderia estar passando por isso também. Quer dizer, ele está realizando um sonho, eu estava caindo em armadilhas. Mas o Seunghoon que eu via agora era diferente do de alguns meses atrás. Esse Seunghoon tinha um sorriso cansando e raramente seus olhos sorriam junto, falava pouco, estava quase sempre indisposto, e quase sempre o pegava pensativo demais, perdido em pensamentos que eu não podia alcançar.

— Não quero que se perca — eu disse quando ele terminou de falar sobre seus dramas.

— Como assim?

— Sei lá... Essa coisa de fama e popularidade — Encolhi os ombros. — Algumas pessoas se perdem no caminho. E... — Olhei pare ele e seus olhos se encontraram diretamente com os meus. — Tenho medo que se perca também.

Seunghoon me deu um sorriso suave e humedeceu os lábios. Toda vez que ele fazia essa merda de passar a língua nos lábios eu ficava estranhamente nervosa, mas continuei sustentando seu olhar.

— Para certas cosias é bom se perder um pouco — ele sussurrou e senti sua mão pousar em minha coxa. Aquela mão grande, quente, úmida, macia.

Eu pigarreei de repente.

— Certo — disse com a voz meio trêmula, me levantando da cama e me livrando de sua mão. — Acho que você já está melhor agora — Eu me virei para ele e cruzei os braços. — Já pode ir.

Seunhoon riu e se levantou da cama.

— Por que sempre foge de mim? — ele perguntou semicerrando os olhos.

— Não estou fugindo.

— Não?

— Não mesmo — repeti convicta.  

— Certeza?

— Claro que — E então quando minhas costas bateram na quina da cômoda que me dei conta de que andava para trás enquanto Seunghoon se aproximava de mim. Ainda assim ergui o queixo e completei: — Não estou fugindo, só protegendo meu espaço.

Seunghoon riu e com mais um passo descartou os centímetros de segurança que ainda havia entre nossos corpos. Ele apoiou as mãos na cômoda, criando uma cerca em volta de mim, ou uma estufa porque eu suava e tinha dificuldade para respirar como se estivesse em uma. Desde quando eu fico assim perto desse garoto? Talvez depois que ele tirou o aparelho dos dentes há um ano e pouco, ou quando suas espinhas da adolescência sumiram de vez, ou talvez depois que ele começou a malhar...

Eu sentia sua coxa roçar na minha e isso me proporcionava uns calafrios muito estranhos. O cheiro do seu hálito me deixava salivando, seus olhos estavam focados nos meus lábios e eu definitivamente não conseguia me mexer. Na verdade eu nem pensava em me mexer, eu só... queria...

Então vi um sorriso fraco surgir em seu rosto e ele se afastou. A primeira coisa que senti foi frustração, e raiva, com certeza muita raiva. No entanto, de certa forma eu entendi. No segundo que se seguiu eu me vejo dando dois passos em sua direção. Vejo Seunghoon se virar para mim. Mal percebo minha mão se erguer e tocar seu rosto, e deixa-la deslizar para sua nuca enquanto aproximo meu rosto do seu, me erguendo na ponta dos pés.

E só quando me dou conta de que fiz tudo aquilo, eu já estou flutuando. Sinto apenas seus braços me envolverem com força, me levantando do chão. Seus lábios são delicados, talvez até receosos, escondendo seus desejos atrás de uma mordidinha e outra. Minha outra mão que estava em seu ombro também vai para seu rosto, para seus cabelos, puxando seu rosto mais para mim, pedindo mais, encaixando nossas bocas num beijo delicioso. Seunghoon senta na minha cama — ou na sua, não sei mais onde estamos —, e puxa meus joelhos para me sentar em seu colo sem romper o beijo. É em ondas que eu percebo meu corpo pedir por mais, uma onda mais rasa, outra maior, e outra maior ainda passando por cima da anterior, gradual e lentamente.

Talvez nós dois estivéssemos sentindo a mesma coisa... Melhor, tenho certeza que nós dois estávamos sentindo a mesma coisa. E soube disso quando o beijo foi interrompido e eu pude ver em seus olhos. Nós dois ofegávamos com as testas coladas. Eu quase podia sentir seus pensamentos e de repente tive vergonha dos meus.

— Isso é tão real — comentou Seunghoon ofegante.

— O que você acha de a gente... — comecei a dizer por impulso, e me arrependi.

— A gente o quê?

— Nada...

— Vamos?

— Vamos o quê?

Seunghoon riu e levou suas mãos ao meu rosto, mais quentes e úmidas do que antes.

— Vamos fazer isso — ele sussurrou.

Eu franzi o cenho, e poderia ter dado um tapa na cara dele. Ele era realmente um pervertido, ridículo e escroto.  

— Vamos — concordei. Porque era o que eu queria. Eu sentia a insanidade e a adrenalina disputando corrida em minhas veias. — Por que não, certo?

— Por que não? — Ele riu e voltou a me beijar.

De repente me veio à cabeça que eu poderia estar sendo manipulada pelos seus sentimentos, porque eu me sentia fora de mim, completamente. Mas ele também poderia estar sendo manipulado pelos meus sentimentos. Isso é uma coisa que nunca vamos saber.

Vi ele tirando sua camisa e senti uma onda maior ainda bater dentro de mim, porque havia um abdômen ali, não apenas aquela barriga magra que eu estava acostumada a ver. E acho que ele ouviu isso da minha cabeça, porque riu e pegou minhas mãos, as levando para o seu mais novo abdômen. Senti a ponta dos meus dedos pegarem fogo ao tocá-lo, e os senti escorregar até a bainha de seus shorts, guiados pela curiosidade. Com as mãos firmes em mim, Seunghoon puxou minha cintura para mais perto e eu apertei mais minhas coxas em seu quadril. Nosso beijo não era como os outros beijos que experimentei na vida. O nosso era como se fosse... só nosso. Como se nossas línguas já se conhecessem e soubessem exatamente o que fazer, nos envolvendo como uma melodia.

Então me dei conta de que era isso que eu queria. E fiquei espantada em saber o quanto eu queria.

Seunghoon se virou e me deitou na cama. Não sei como minha toalha ainda se segurava em meu corpo, mas tinha receio de que ela saísse a qualquer momento. Vi Seunghoon pairar sobre mim, mas dessa vez seus lábios não foram de encontro aos meus, foram para o côncavo de meu pescoço. Uma de suas mãos me fazia um cafuné hipnotizante enquanto a outra vacilava na costura da toalha, seus dedos invadindo, também curiosos, onde minha pele se encontrava coberta. Seus lábios descendo pela minha clavícula, beijos se misturando a mordidas e chupões, seus dedos descendo mais e mais a minha toalha até ele achar o que queria. Seunghoon espalhava beijinho em volta de meus seios e aquilo me deixava mais nervosa ainda, tanto que ri, e o ouvi rir junto. Sua boca envolveu uma de minhas aréolas e eu mordi o lábio, puxando seus cabelos e arranhando sua nuca instintivamente. O prazer proporcionado ali se expandia para outros pontos, se expandia pelo meu corpo todo, como ondas e mais ondas. E crescia. Crescia tanto e de uma maneira que não sabia explicar, mas ouvi um gemido, fraco e tremulo. Depois notei que era o meu.

Seus lábios e língua me estimulavam descendo do meu decote, se demorando na minha barriga e parando no meu umbigo. Era uma sensação da qual quanto ele mais me dava, mais eu queria.  Seunghoon ficou de joelhos para tirar as peças que ainda lhe faltavam, os shorts e uma boxer branca — que deixava visível a sua situação. Quando ele voltou para mim eu já estava sem toalha. Nem sabia onde foi parar minha toalha. Seunghoon separou meus joelhos, ajeitou seu quadril entre minhas pernas e apoiou seus cotovelos no travesseiro. Eu não tive o que fazer além de segurar seus braços, sentia seus músculos rígidos sob meus dedos.

E no segundo seguinte eu o senti entrar, o suficiente para me fazer gritar:

Caralho Seunghoon!

— O quê? — ele perguntou assustado, saindo de mim.

— Que merda... — resmunguei com a voz chorosa, contorcendo as costas com a dor repentina. 

— E-eu... eu te machuquei? — ele perguntou, extremamente surpreso.

— Claro que machucou!

Seus olhos se arregalaram, e Seunghoon parecia mais surpreso ainda.

— Você é virgem, Lyn?

Fiquei boquiaberta, e ligeiramente ofendida. Eu sentia meu humor desabar.

— Você também é! — exclamei dando um tapa forte no seu braço.

— Sim... — Seunghoon respondeu sem graça. — Mas...

Mas o quê?

— Você sempre me pareceu tão... determinada...

Eu ergui uma sobrancelha e ele riu. Ele riu!

— Ca-ram-ba Seung-hoon! — A cada sílaba eu dava um tapa em seus braços. — Como pode ser tão idiota?

Seunghoon continuava rindo e eu num conseguia me conter. Acabei rindo junto e disferindo mais tapas nele. Seunghoon mordeu minha bochecha quando comecei a listar uma série de ofensas, e depois me beijou me fazendo calar. Me retomando para ele lentamente e também me fazendo voltar à excitação de antes. Eu já estava ofegando de novo quando seus beijos foram para meu rosto, maxilar, pescoço, me provocando uns arrepios gostosos.

— Posso começar de novo então? — sussurrou ele ao pé do meu ouvido, mordendo meu lóbulo e puxando de leve.

Eu assenti ansiosa — ainda acho incrível a habilidade dele de brincar com meus humores —, ele voltou a se ajeitar, intensificando o beijo e emaranhando seus dedos em meus cabelos. Sua outra mão eu senti tatear meu abdômen, seus dedos caminhando para baixo e mais para baixo, explorando cantinhos da minha intimidade. Ele me tocava em pontos sensíveis e massageava com delicadeza me fazendo soltar gemidos vacilantes entre o beijo. Senti um de seus dedos descerem um pouco mais e então entrar em mim, fazendo lentos movimentos de vai e vem, abrindo espaços em mim e atingindo mais pontos que eu desconhecia. Pontos que estavam degradando com minha sanidade.

Depois de um tempo eu senti seus dedos saírem, dando lugar a algo maior. Dessa vez eu o senti devagar, penetrando centímetro por centímetro. Ainda doía — mas dessa vez a dor era compreensível —, minhas costas arqueavam e havia algo preso na minha garganta. Eu afundei minhas unhas em sua pele procurando por algum apoio, apertando seus braços com força. E quando finalmente pude senti-lo por inteiro, o que estava em minha garganta se soltou. Eu me surpreendi com o som que saiu de mim. Seunghoon me analisou preocupado, então com uma mão puxei seu rosto para mais perto e o beijei. Demonstrando que estava tudo bem.

Demonstrando que eu queria mais.

Seunghoon se movimentou ainda inseguro, indo e vindo, indo e vindo, e a cada ida uma parte da dor e do incômodo iam juntos, se desmanchando, dando espaço apenas para o prazer. E quando não havia mais dor nenhuma, eu mal conseguia controlar meus lábios nos seus, deixando escapar gemidos entrecortados e tremidos que saiam da minha garganta involuntariamente. Ele puxou uma de minhas pernas e escondeu o rosto em meu ombro, instintivamente eu envolvi sua cintura com elas, pressionando suas costelas com meus joelhos. Não demorou muito e eu o senti aumentar o ritmo, fazendo eu me balançar junto com um ruído irritante, quase ignorável. Gradativamente meus gemidos aumentavam e eu o ouvia gemer também, baixinho contra a minha pele.

Não teria como comparar essa sensação com qualquer outra. Meus olhos giravam nas orbitas e eu estava dominada por êxtase. Só conseguia pensar em uma coisa, só conseguia desejar uma coisa, e vez ou outra eu só conseguia dizer uma coisa: Hoonie, Hoonie, Hoonie, seu nome escapando de minha boca, incompleto e trêmulo. E seu ritmo aumentava cada vez mais, o ruído também. Ondas maiores me envolviam. Minhas mãos estavam loucas e escorregadias tateando, arranhando e apertando suas costas.

De repente ele nos virou, me deixando por cima. Seu rosto estava levemente cansado, em sua testa tinha uma mistura de cabelos e suor. Também sentia meus cabelos colados em minhas costas, ombros e bochechas. O quarto todo estava tomado pelo nosso cheiro. Eu demorei um pouco para relembrar que eu sabia me mexer, e comecei a me movimentar devagar. Era bom estar por cima, e deixei um sorriso escapar pensando nisso. Seunghoon me sorriu de volta e ergueu seu corpo para abraçar minha cintura, eu envolvi seu pescoço com meus braços e deixei minhas mãos apoiadas em sua cabeça, deixando nossos corpos bem colados enquanto eu tentava retomar o ritmo anterior. Meu peito estava colado ao seu que eu podia sentir seu coração imediatamente ecoando as batidas do meu. Ambos frenéticos e fortes, como se nossos corpos estivessem conversando entre si, um implorando pelo outro, um querendo tomar o outro para si.

Eu ouvia seus gemidos se igualarem ao volume dos meus, dessa vez eram suas mãos que arranhavam a base de minhas costas, deixando rastros ardentes pelo caminho. Seunghoon apertou minha bunda com firmeza, fazendo eu me movimentar com mais intensidade. E logo eu o senti desmanchar, se derreter dentro de mim. Suas mãos perderam as forças, o ritmo diminuiu bruscamente.

Seunghoon caiu para trás, deitando a cabeça no travesseiro, eu me inclinei para beijar sua testa. Acariciava seu rosto, enquanto descia os beijinhos pela ponte de seu nariz. E sorrimos quando nossos lábios se encontraram de novo.

— Senhorita Jung?! — ouvi uma voz masculina me gritar.

Mas só Seunghoon se assustou. Eu continuei, agora mordiscando seu maxilar. 

— Jung-ssi!

— Que é?! — gritei de volta, e ri.

— Quem é esse cara? — perguntou Seunghoon, franzindo o cenho.

— Meu segurança — murmurei dando de ombros.

— A senhorita está bem? — perguntou o segurança. — Ouvi barulhos estranhos.

As bochechas de Seunghoon inflaram quando ele reprimiu um riso, e eu tapei a boca também tentando não rir.

— Eu estou ótima! — respondi.

E isso pareceu ser o suficiente. Ouvi o segurança resmungar sobre o quanto eu era esquizofrênica e que seu salário não era o suficiente para isso. Mas logo ele se calou e provavelmente caiu no sono de novo. Ele sempre dormia.

— Acho que ele já dormiu — sussurrei. Saí de cima do Seunghoon e deixei meu corpo cair no seu lado, me deitando de bruços.

— Tem certeza? — ele sussurrou de volta, também se virando para ficar de bruços.

Eu parei um pouco para ouvir, e então ouvimos o ronco vindo do lado de fora, servindo como resposta.

— Como se sente? — ele perguntou, sua voz abafada contra o travesseiro.

— Invadida.

Seunghoon riu.

— Como se sente de verdade...

Foi minha vez de rir, sem graça.

— Temos mesmo que ter essa conversa estranha? — murmurei envergonhada.

Seunghoon fez beicinho, e isso me fez sorrir, mordendo o lábio.

— Você só quer ouvir isso da minha boca, seu pervertido — acusei — Você sabe como eu to me sentindo.

Ele riu. Alguma vez eu já citei que seus risos me causavam cócegas? Provavelmente não, nem para mim mesma eu admitia isso.

— Você sentiu o... hmmmm — Seunghoon mordeu o lábio sem completar a frase.

— Se eu senti o quê?

— No finalzinho... sevocêsentiuorgamos — ele disse tão baixinho que demorei a entender.

— Aaah — Escondi meu rosto no travesseiro, toda sem graça. Voltei a olhar para o Hoon e respondi: — Não...

— Não? — Seunghoon franziu o cenho. — Pensei que éramos pra sentir o mesmo que o outro sente.

— Uhum — Fiz pensativa. — Mas não é recíproco quando um provoca a sensação no outro.

— Quê?

— Eu meio que descobri isso sem querer, no ensino médio, quando dei um tapa na sua cara, porque você estava bancando o idiota — disse. — E também naquele dia que você estava bêbado com seu amiguinho, e eu te taquei um controle na cabeça e você sangrou.

Seunghoon meio que se encolheu só de se lembrar, e eu ri.

— Eu num senti o tapa e nem a pancada na cabeça. Acho que isso se aplica aqui também — concluí. — Mas se uma outra pessoa te bate, eu sinto.   

Ele ergueu as sobrancelhas em entendimento e assentiu.

— Vinte anos, e ainda não nos conhecemos por inteiro — ele comentou.

— Vinte anos... — ecoei.

— Mas então se eu transasse com outra pessoa, você sentira?

— Não quero imaginar você transando com outras pessoas — murmurei.

— Está com ciúmes de mim? — ele perguntou sorrindo. — Hein, Lyn?

— Claro que não.

— Aigooo — Seunghoon fez, rindo. — Como pode ter um coração tão duro depois disso... Aahn, já sei.

— O quê?  

Seunghoon mordeu o lábio, se sentou na cama e me virou de barriga para cima. Ele estava hábil e mais confortável agora, e de repente já estava beijando meu pescoço, minha clavícula. Desceu e foi direto para abaixo do meu umbigo, descendo mais e mais, e cada beijo era um calafrio mais intenso. Foi tão de repente que mal tive tempo de reagir.   

— Para Seunghoon! O que está fazendo?

— Sshh — ele fez para mim, e continuou seu caminho.

Seunghoon se ajoelhou na cama e segurou minhas pernas, beijando o interior de minhas coxas.

— Para! — Os beijinhos me causavam cócegas e outras coisas. — Hoonie, para!

Todas aquelas sensações de antes voltavam, mas dessa vez voltaram em uma única onda.

— Hoonie — arfei. — Para, para...

Mas ele me ignorou e continuou a trilhar seus beijos entre uma coxa e outra, até minha virilha. E sem cerimônia alguma eu senti sua língua me tocar, minhas costas arquearam com o prazer repentino e eu engoli o ar entre os dentes, minhas mãos foram para sua cabeça, lhe arranhando e puxando seus fios.

— Não para...

Sua língua dançava sobre um dos meus pontos mais sensíveis, me fazendo gemer, causando uma pressão estranha em meu abdômen. Ele se manteve assim, lambendo e chupando, até conseguir o queria, e não demorou muito. Primeiro foi um espasmo, fazendo todos os meus músculos se contraírem. Eu ouvi um grito e de repente tudo explodiu. De dentro para fora. Como se me estilhaçasse em mil pedaços, em faíscas, em gotas, tudo ao mesmo tempo. Minha vista estava desfocada, o ar havia sido completamente roubado de meus pulmões, e eu ofegava pesadamente tentando recupera-lo. Minhas pernas tremiam, e tremiam muito, estavam completamente moles. E entre minhas pernas ainda latejava aquela sensação maravilhosa.

— E agora, como se sente? — Seunghoon sussurrou perto do meu rosto. Nem havia notado que ele já estava do meu lado.

— Cala a boca — disse tapando o rosto.

Ele riu e me puxou para perto, me abraçando. Eu envolvi o seu peito com meu braço e deixei minha perna descansar sobre sua. E ficamos assim, emaranhados.

O sono demorou um pouco até nos alcançar, acho que ficamos ocupados e perdidos demais em nossos pensamentos, que dessa vez até dividimos. Pensávamos em estar em um lugar mais frio, com neve no lado de fora, acho que de qualquer maneira não sentiríamos frio. Depois Seunghoon começou a imaginar em como seria se estivéssemos juntos de verdade, de acordo com todas as leis ditadas pela física. Esse pensamento ele deixou expandir, me exibindo outros relacionados ao mesmo: como sonhos, lembranças, milhões de fragmentos imaginários de como seria nosso primeiro encontro e possíveis decepções que poderia ocorrer — como quando ele foi me visitar no hospital. Seunghoon sabia o que eu estava fazendo, sabia que mesmo estando tão perto eu não poderia nem sonhar em vê-lo, não podia permitir que nenhum laço fosse criado entre nós dois. Nenhum além desse, que apesar de ser quase real, já não parecia o suficiente para ele.

Ainda assim eu preferia não pensar sobre isso. Não queria trazer aquele drama de volta. Então calei seus pensamentos com um único pensamento meu, uma frase relativamente curta para descrever o que eu sentia. E que talvez já estivesse tempo demais presa aqui dentro.

Eu te amo, e isso ninguém vai tirar de mim.

 


Notas Finais


Awwm gente, vocês gostaram? *---* Eu estava de bom humor e resolvi dar um finalzin feliz pra Chaelyn nesse capítulo KKKK mas não se acostumem, isso vai acontecer poucas vezes, tadinha <3
E sobre o Jinwoo gente! sdjkfhkads não vou falar sobre, não vou falar sobre ninguém, mas se preparem que no próximo capítulo vai ter mais uma revelaçãozinha marota ~moon face~

Um cheirinho bem fungado e até a próxima ❤


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