1. Spirit Fanfics >
  2. Popular girl >
  3. E o passado retorna

História Popular girl - E o passado retorna


Escrita por: soulliber

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 21 - E o passado retorna


JUSTIN

 

Após a conversa com Maria Alice eu fiquei obcecado, louco por mais informações mas ao mesmo tempo não podia deixar de pensar se gostaria de descobrir quem Ágatha era quando eu não estava por perto. Em minha mente o que eu havia ouvido era acompanhado de cenas que eu mesmo fantasiava. 

 

Ágatha humilhando um garçom, sua arrogância o fez achar que assim poderia comer outra menininha rica de um clube qualquer e por fim ele a agarrando. Me lembro de seu medo, sua vulnerabilidade, expostas em seus olhos, sua voz fraca pedindo para que eu ficasse... 

 

- Jesus... - suspirei me virando na cama e fechando os olhos com força. 

 

Em seguida a imagem de Dylan veio em minha direção, sua prepotência e sua possessividade, Ágatha dançando bêbada em uma mesa, após isso ela o procuraria, o álcool despertando o tesão adormecido pelo seu namorado, e então Maria Alice apareceria... 

 

Um enjoou forte veio em meu estômago, o que estava acontecendo comigo? Respirei fundo tentando ao máximo reassumir o controle do meu corpo, por fim acabei pegando no sono enquanto fazia exercícios respiratórios. 

 

Abri meus olhos tentando reconhecer onde eu estava, havia dormido tão pesado que demorei uns segundos para me localizar. A cortina não deixava a luz no sol passar, mas em suas extremidades podia ver que o sol já estava lá fora. 

 

Me levantei sentindo meus músculos doerem e estralei o pescoço, coloquei minhas mãos na borda do colchão e tentei organizar meus pensamentos. 

 

Ágatha havia humilhado um garçom, havia sido atacada por ele. Ethan não era um suspeito, pois estava bem longe daqui. Dylan por outro lado era alguém que podia e tinha motivos para querer machucá-la, mas até onde iria seu desejo de vingança? 

 

Se Maria Alice estivesse certa, Ágatha estava correndo perigo agora, neste exato momento e para piorar, talvez sua perca de memória poderia estar a protegendo. 

 

Após o episódio traumático, eu havia focado em minha vida é claro, me dedicado ao trabalho mas é óbvio, havia feito pesquisas, a medicina não era algo incluído no meu âmbito de conhecimentos, então fiz inúmeras leituras, vi inúmeros vídeos explicativos. Era constrangedor quando minha mãe me pegava lendo livros sobre pessoas que haviam perdido suas memórias ou sobre o assunto em si, não sabia quem sofria mais nessa casa, minha mãe por me ver assim ou a mim... 

 

Eu era tão patético as vezes que era constrangedor, até para mim. 

 

Me levantei sabendo que o dia não seria fácil e peguei meu celular, eram nove da manhã. Me arrastei até o banheiro e após escovar os dentes decidi tomar uma ducha rápida, após ter me secado e colocado shorts e blusa sem estampa, desci as escadas. 

 

O que eu mais apreciava na minha casa era o silêncio, ao contrário da casa do meu pai cheio de filhos e inúmeros parentes, aqui vivíamos eu e Patrícia. Apesar da minha mãe ter sua família próxima, eu me sentia mal toda vez que via que ela era a única solteira, sabia que isso era uma escolha dela, mas por que deixá-la viver sozinha? Eu não me sentia envergonhado de ter minha mãe morando comigo ou incomodado, minha mãe havia cuidado de mim a vida inteira, estava na hora de alguém cuidar dela. 

 

E pensando nela, avistei sua cabeleira escura, muito diferente da minha, sentada enquanto lia algo em seu celular. 

 

- Bom dia. - falei baixo e ela sorriu. 

 

- Bom dia. - ela me olhou ainda sorrindo - Trabalhou até tarde ontem a noite? 

 

Dei de ombros. 

 

- Conversei com uma das amigas próximas de Ágatha ontem - fiquei em silêncio por uns segundos tentando organizar as palavras sem expor o que eu estava fazendo - foi bastante esclarecedor. 

 

Patrícia me olhou preocupada. 

 

- Então? - ela ainda me olhava. 

 

- Tenho novas suspeitas, quero falar com outras pessoas, acho que o fato de não ter feições tão formais como os do delegado ajuda as pessoas a falarem mais. - respondi pegando uma xícara e despejando café - Aliás, não comente isso com ninguém. 

 

Minha mãe deu de ombros. 

 

- E como foi ver ela ontem? - seu tom cauteloso me fez sentir como uma criança novamente. 

 

Como eu me senti? 

 

Mal. 

 

Um pouco feliz. 

 

Mas na maioria do tempo, mal. 

 

- Deixe isso para lá. - bebi um gole e fiz uma careta, estava quente a ponto de queimar a língua. 

 

- É importante desabafar as vezes sabia? - minha mãe me olhou - Eu só... você trabalha tanto meu filho, sempre estudou tanto, sempre se dedicando tanto, quando terá tempo para você mesmo? 

 

Estralei meu pescoço novamente. 

 

- Juro que, quando essa história toda acabar e o culpado estiver na cadeia, vou tirar férias. - ela sorriu fraco - Você não acredita em mim. 

 

- Acredito, bem tento acreditar. - ela sorriu fraco - Me desculpe por não estar mais por perto ontem, deve ter sido difícil. 

 

Ah. 

 

- Não se preocupe. - peguei um pão e preparei um sanduíche com um patê que havia sido recém tirado da geladeira. 

 

- É só que, o psicólogo conversou com Jessica sabe, ele acredita que o episódio tenha causado um trauma tão grande que essa foi a defesa dela, se esquecer de tudo. - Patrícia continuou falando e eu ri ironicamente. 

 

- O destino pode ser irônico. - consegui apenas responder isso e me fechei em minha mente, como sempre, existia apenas uma pessoa a quem eu podia confiar meus pensamentos, eu mesmo. 

 

Comi meu pão com tranquilidade e terminei minha xícara de café, subi as escadas me lembrando que nem água eu havia bebido, ótimo Justin, sua saúde agradece. 

 

Voltei os degraus e peguei uma garrafa de água da geladeira, subi até meu escritório e vi que ainda havia uma foto de Rebeca e eu no canto. Olhei para o porta retrato e mordi meus lábios, quando eu disse que o destino era irônico, eu não brinquei. Rebeca havia conseguido uma oferta de sociedade em uma advocacia próximo da casa de seus pais no estado vizinho, era óbvio que sua carreira era mais importante, eu não fingi estar triste quando ela me chutou, mas não doeu, nem de perto como doía pensar em Ágatha. 

 

Organizei minhas anotações junto a cada depoimento, guardei tudo em uma pasta e os coloquei no cofre. Eu sentia que algo grande estava prestes a acontecer, sentia que estava no rumo de algo certo e talvez algo tenebroso, algo obscuro que envolvia a garota por qual eu gostava muito... 

 

Mas enquanto eu não descobria, eu podia fingir que tudo estava bem, que nada disso estava acontecendo. 

 

Peguei meu celular e digitei o nome Ágatha, cliquei em ligar e torci para que ela já estivesse acordada. 

 

- Justin? - ouvi sua voz insegura e foi quase impossível não sorrir. 

 

- Oi gatinha. - comecei a andar em círculos em meu escritório - Te acordei? 

 

- Na verdade não, acabei de tomar café. - respondeu agora tranquila - A que devo sua ligação? 

 

- Acho que te devo respostas não? - vamos lá flerte comigo de novo. 

 

- Ah. - ela sorriu sem graça - Bem se quiser falar sobre isso, ok. 

 

- A gente podia se ver. - eu odiava soar tão insistente, mas se eu não tentasse me aproximar ela não tentaria... 

 

- Sim, claro, o que você tem em mente? 

 

Obrigada Deus, não fui rejeitado. 

 

- Que tal sei lá, só darmos uma volta por aí. - eu não havia pensando nessa parte. 

 

- Seria legal, só eu e você? - seu tom inseguro havia voltado. 

 

- Só se você quiser, podemos ficar em casa e assistir filmes, a escolha é sua. - falei tentando soar tranquilo, ela precisava de alguém compreensivo, não de alguém grudento. 

 

- Por mim, podemos fazer os dois. - ela sorriu e eu também - Que horas? 

 

- Agora? - eu estava louco para estar próximo a ela de novo. 

 

- Pode ser. - riu - Vou tomar um banho, por favor demore. 

 

Soltei uma risada. 

 

- Tudo bem, quando eu estiver a caminho ligo. - ela respondeu com um ok e eu desliguei. 

 

Abri um sorriso animado, há dois dias atrás Ágatha mal sabia sobre minha existência, hoje iríamos sair, eu havia reclamado do destino? Nah... 

 

Soltei uma risada e voltei minha atenção para o que precisava ser feito, organizei os próximos nomes da lista que eu iria conversar depois e mais alguns compromissos. 

 

Sai do meu quarto pensando em algo para melhorar o estilo que vestia e acabei pegando um óculos, boné e tênis, tudo preto. Coloquei uma corrente de prata e sai do quarto colocando minha carteira no bolso, peguei a chave do meu carro e não me preocupei em dizer para minha mãe o que eu ia fazer, nossa conversa no café da manhã havia sido constrangedora demais. 

 

Ao dirigir pelas ruas de Los Angeles, tentei imaginar como seria as coisas se eu não tivesse agido como um covarde... 

 

Se eu tivesse revelado ao mundo que Ágatha e eu estávamos saindo, Jessica realmente faria a denúncia? Eu havia escutado sua ameaça a Ágatha e fiquei tão assustado, tão apavorado de perder tudo o que eu tinha suado tanto para ter... 

 

Não me leve a mal, mas a minha vida inteira eu havia esperado pelo momento em que superaria meu pai, mas primeiro eu teria que começar debaixo e depois estaria a seu nível, de homem para homem. O que meu pai diria se tivesse sabido na época que eu me envolvia com uma menor de idade? 

 

Pagaria minha finança da prisão? 

 

Ri em negação, não tínhamos chances de ter um futuro bom quando Ágatha não tinha 18, agora se quer existia a chance de termos um agora... 

 

Naquela época eu não possuía respeito, era constantemente desafiado em diversas áreas, a primeira vez em minha vida que havia sido considerado estupido pelas pessoas ao meu redor e eu só queria ser o melhor, eu era um filha da puta competitivo e seria assim até morrer. 

 

Dirigir por Los Angeles, principalmente quando eu morava tão longe do meu tio era entediante, o trânsito mesmo em um domingo não era nada tranquilo e podia se ver gente pelas ruas o tempo inteiro. 

 

Após trinta minutos eu havia chegado ao condomínio, não havia pensando muito sobre o que dizer para Jessica ou Robert, mas já estava na hora de Ágatha sair um pouco de casa, voltar a viver. 

 

Eu acreditava que se ela estivesse com alguém próximo a ela, estaria a salvo, então me tranquilizei em sair com ela. 

 

 

 

ÁGATHA

 

 

 

Eu não sabia o que vestir. 

 

Realmente não sabia, o que Justin queria dizer com sair por aí? Iríamos tomar café da manhã fora ou íamos sei lá até algum lugar? Eu não gostava da ideia de não saber o que vestir e para piorar meu nervosismo, era a primeira vez que eu sairia de casa sozinha. 

 

Em meu íntimo eu me perguntava se tinha feito o certo, Justin era um cara legal e me cativava, mas eu não podia deixar de pensar que talvez eu devesse ter dito não. Eu queria sair com ele é claro, mas eu não sei, havíamos retomado contato ontem e... 

 

Isso, eu ficaria em casa. 

 

Justin deixou claro que as decisões seriam minhas e eu me sentiria segura em minha própria casa. Dora, apesar de ser domingo, estava aqui em casa, provavelmente ela iria ganhar folga algum dia, eu não sei, mas era grata por ela estar ali. 

 

Quando ouvi a campainha tocar lá em baixo, dei um pulo e sai correndo do quarto, desci as escadas com pressa e só parei na porta da frente. Ajeitei meu vestido, usava um solto e confortável, e abri a porta. 

 

Abri um sorriso ao ver Justin, ele estava lindo, seu look todo preto ganhava um charme com sua corrente no pescoço, eu havia adorado. 

 

- Você está muito arrumado. - falei sentindo vergonha do que vestia. 

 

Ele abriu um sorriso e algo em meu estômago se acendeu, uau, ele realmente era muito mais bonito sorrindo. 

 

- Bom dia para você também. - falou rindo e se escorou na porta - Então, vamos sair ou vamos ficar? 

 

- Se importa se ficarmos? - perguntei insegura - Não sei Justin se sair é uma boa ideia, eu prefiro ficar em casa. 

 

Algo em seu rosto me fez acreditar que ele seria compreensivo. 

 

- Claro não se preocupe, ficamos por aqui. - sorriu e eu abri espaço para ele entrar - Robert e Jessica estão em casa? 

 

- Eles foram a igreja, devem voltar daqui uma hora. - o olhei tentando achar algo em seu rosto e não identifiquei nada. 

 

- Ah, não sabia que meu tio era religioso. - deu de ombros e tirou seus óculos - Podemos ir para seu quintal? 

 

- Claro. - respondi rápido e ao passarmos pela sala notei que Justin ficou olhando tempo de mais para o lavado - O que foi? 

 

Ele pareceu dar um pulo ao ser pego olhando para o lavado, soltei uma risada, o quê?

 

- Nada. - deu de ombros e voltou a caminhar atrás de mim. 

 

Nossa piscina possuía uma parte com sombra, então me direcionei até essas cadeiras. 

 

Me sentei me sentindo animada e ansiosa para o que iríamos conversar, queria muito saber que tipo de relação eu poderia manter com um homem tão bonito quanto esse. 

 

- Estou animada por finalmente alguém me contar a verdade, sem rodeios. - sorri - Aliás, obrigada por vir. 

 

Justin tirou seus óculos e colocou na mesa, seus olhos estavam clarinhos naquela luz. 

 

- Não precisa agradecer. - falou sério - Ah, tem certeza que isso é uma boa ideia? 

 

Ah não. 

 

- Como assim? - por que ele não estava mais disposto a contar? 

 

- Eu não sei, não quero despejar informações demais em cima de você e sei lá... 

 

- Entendo. - acenei positivamente - Olha, não sei sabe, talvez você possa começar por informações mais superficiais. 

 

Ele sorriu de lado. 

 

- Na minha festa de aniversário foi a primeira vez que eu e você ficamos. - falou baixo e eu arregalei os olhos. 

 

- Eu sabia! - ele me olhou assustado - Você não me engana Justin, e bem nossas mães também não. 

 

- Como assim mães? - ele franziu os olhos e eu dei de ombros. 

 

- Quando perguntei de você elas ficaram tão estranhas. - suspirei - Mas enfim, a gente namorava era isso? 

 

Ele me olhou mordendo os lábios. 

 

- Não. - respondeu cauteloso - Digamos que preferíamos uma certa privacidade. 

 

- Entendo. - mentira, eu não entendia nada, por que eu iria ficar com Justin com as nossas mães sabendo, mas não namoraríamos? 

 

- É que, é complicado. - ele passou as mãos pelos cabelos - O que mais posso dizer? 

 

- Não sei. - ri fraco e ele me olhou. 

 

- A gente costumava brigar bastante também. - levantei minhas sobrancelhas - Mas as vezes nos dávamos bem. 

 

- Tá isso é estranho. - eu não entendia mais nada, brigávamos, mas ficávamos? 

 

- Superficial gata. - passou a língua pelos lábios - Não sei o que posso te dizer sem te traumatizar. 

 

Soltei uma gargalhada. 

 

- Você pode me responder coisas que eu não me atreveria perguntar a minha mãe por exemplo. - mordi os lábios - Rolava sexo entre a gente? 

 

Justin parecia que iria virar um pimentão. 

 

- Sim. - respondeu dando de ombros. 

 

- E foi com você que eu perdi a minha virgindade? - perguntei curiosa. 

 

Eu não sabia por que estava tão contente em saber que entre eu e Justin, já havia acontecido, mas era tão injusto, eu não podia me lembrar de nada. 

 

- Não. - respondeu mais rápido ainda e eu ri - Meu desconforto é engraçado? 

 

Ele beliscou a minha perna e eu me afastei rindo. 

 

- Eu realmente não tenho ninguém para perguntar sobre isso. - dei de ombros - E com quem foi então? 

 

Ele me olhou. 

 

- Nunca te perguntei. - respondeu - Digamos que eu não era muito interessado em seu passado. 

 

- Que bonitinho você sentia ciúmes. - falei rindo e ele se jogou contra o acento da cadeira e bufou - Foi com o meu antigo namorado? 

 

- Não sei. - respondeu mal humorado. 

 

- Tudo bem, outra pergunta. - decidi mudar de assunto. 

 

- Amém. - tirou seu boné e passou as mãos pelos cabelos. 

 

- A gente saia juntos essas coisas? - Justin pareceu mais calmo agora. 

 

- Sim. - ele sorriu - Te levei em uma sorveteria uma vez, você gostou daquela vez, se quiser ir algum dia eu posso te levar. 

 

- Eu gostaria sim. - sorri com os lábios fechados - Justin não sei mais o que perguntar, você precisa me dar uma luz aqui. 

 

Ele pareceu pensar por alguns instantes. 

 

- Bem, a gente começou a sair escondido Ágatha, e bem você foi para a França e depois voltou, estávamos retornando a relação quando tudo aconteceu. - ele parecia triste agora. 

 

- Parece que nunca tivemos uma chance de realmente estarmos juntos né? - apoiei meu rosto em meu braço - Fico triste por isso, sério, agora entendo sua reação no sábado. 

 

- Está tudo bem. - sorriu fraco - Eu não quero te forçar a nada Ágatha, você não me deve nada. 

 

Eu o olhei. 

 

- Não me sinto assim quando estou com você. - respondi sincera - Não me sinto na obrigação de nada na verdade. 

 

Ele sorriu fraco. 

 

- Bem, eu sinto muito em dizer, mas não sinto nada, nenhuma lembrança veio. - falei me sentindo culpada, mas precisava dizer isso, Justin não podia criar falsas esperanças - Você não me traumatizou. 

 

Ele não sorriu. 

 

- Acho que a vida tem dessas ironias não é? - engoliu seco. 

 

- Me desculpe, só não quero que crie falsas esperanças. - respondi me sentindo culpada. 

 

- Está tudo bem, o que mais importa é que você está bem e viva. - ele me olhou, seus olhos eram tão intensos - Não se preocupe comigo, só quero seu bem estar, acredite em mim. 

 

Sorri. 

 

- Bem, obrigada. - desviei o olhar e tentei pensar em que mais perguntar - Por que nos víamos escondidos? 

 

Ele ficou visivelmente desconfortável. 

 

- Se lembra do seu ex? - respirou fundo - Meio que tivemos um caso, você não gostava mais dele. 

 

- Mas eu terminei? - precisava saber disso. 

 

- Sim. - concordou com a cabeça - Não se sinta culpada Ágatha, foi algo... 

 

- Que simplesmente aconteceu? - completei eu frase. 

 

Eu não iria mentir, não me agradava em saber que eu havia traído alguém, mesmo essa pessoa sendo desconhecida por mim. 

 

- Sim. - ele me olhou e eu me lembrei de algo. 

 

- Falou com a tal amiga? - perguntei me sentindo brava agora. 

 

- Falei sim, obrigado. - deu de ombros e sorriu cafajeste. 

 

- Uau. - consegui apenas dizer isso e cruzei os braços. 

 

Justin vinha na minha casa, me dizia que tínhamos algo no passado, que há pouco mais de um mês estávamos tentando voltar e... 

 

- Que bonitinho você está com ciúmes. - olhei para ele de mal humor e ele gargalhou - Não falei com sua amiga por motivos amorosos. 

 

- Bom, isso não é da minha conta. - dei de ombros, por que aquilo me deixava tão brava? 

 

Por Deus eu estava puta. 

 

- Bom eu digo que é da sua conta. - sorriu - Não estou interessado nela ou algo assim, se eu estivesse não estaria aqui. 

 

- Então você está interessado em mim? - minha pergunta saiu pelos meus lábios antes que eu pudesse pensar mais. 

 

- O que eu sinto por você é bem mais que interesse. - agora não havia mais sorrisos. 

 

- Justin? - perguntei aflita, eu sabia se podia começar com um relacionamento ou qualquer coisa do tipo no estado me que eu estava, emocionalmente falando. 

 

E ele me olhou em silêncio, podia ver que dizer aquilo havia sido desconfortável. 

 

- Eu não te prometo que vou me lembrar de algo, mas será que podemos ir devagar, começarmos com uma amizade? - eu odiei o tom da minha voz e odiei a expressão de dor que Justin mascarou em segundos. 

 

- Claro. - tentou sorrir - Aliás você me disse que estava assistindo filmes, não me lembro da última vez que assisti algum. 

 

Tentei acompanhe seu ritmo na conversa. 

 

- Bem, não sei se você vai aprovar, mas ando assistindo muitos filmes com temáticas criminais. - ele me olhou cauteloso - Eu não tenho a quem recorrer Justin, não entendo sobre o sistema criminal, então... 

 

- Você tem a mim, sempre pode recorrer a mim. - se apressou em dizer. 

 

Isto era estranho, Justin era praticamente um estranho até ontem de manhã e agora estava aqui, dizendo que de todas as pessoas no mundo, eu podia recorrer a ele e pior, este mesmo homem havia a poucos segundos se declarado para mim, e eu não podia fazer nada sobre isso. 

 

Justin era lindo, se brincar um dos homens mais bonitos que já pude conhecer, mas eu não o conhecia, bem o conhecia, conhecia bem até demais se o que ele tivesse me dito fosse verdade, mas eu não me lembrava dele. 

 

- Então você está disposto a comentar sobre a pessoa que... - tentei encontrar palavras para dizer em voz alta. 

 

- O homem que tentou matar você. - falou com seriedade - O que quer saber sobre o caso? Quer saber se o delegado está próximo de descobrir algo? Quer saber sobre os depoimentos? 

 

- Depoimentos? Como assim? - franzi minhas sobrancelhas, como pude me esquecer que existiam pessoas que estavam depondo? 

 

- Pessoas próximas a você, eu não diria que todos eram amigos, deram depoimento sobre o que fizeram na festa, se existia alguém com motivos para fazer isso, essas coisas. - foi quase impossível não abrir a boca diante do que ele dizia. 

 

- Acha que alguém próximo a mim teria motivos para tentar me matar?- se ele me dissesse sim, então minha teoria de que eu era um monstro estava correta. 

 

- Não gatinha. - respondeu até carinhoso - Os depoimentos giram em círculos, tudo o que eles dizem é que todos na sua antiga escola idolatravam você, pela sua popularidade, sua aparência, seu namoro com Dylan... 

 

Ele olhava para o chão enquanto falava tudo isso. 

 

- Então acha que alguém pode estar, sei lá, obcecado por mim e tentou me matar? - aquela conversa estava tomando um rumo estranho. 

 

- Não sei. - suspirou e encostou as costas na cadeira - Você mantinha muitos segredos de mim. 

 

O olhei com curiosidade. 

 

- Achei que éramos próximos. - falei mordendo os lábios, por que eu tinha ficado tão insegura? 

 

- Eu também. - ele me olhou - Mas bem, não acho que isso adiante muito agora? 

 

Aquilo enviou uma pontada de dor direto em meu coração. 

 

- Você está sendo cruel Justin. - falei me sentindo transparente, o que ele havia dito tinha me magoado. 

 

Não adianta tentar se aproximar de mim por que eu havia pedido a memória e não poderia revelar a ele meus segredos? 

 

Não gostei dessa mudança de humor repentina, aliás, eu não havia gostado do rumo que essa conversa estava tomando. 

 

- Tem razão. - apertou o topo do nariz com os dedos - Me desculpe, estou muito estressado com o que diz respeito a esse caso, podemos mudar de assunto? 

 

Engoli uma pitada de ressentimento, tentei deixar passar, devia ser difícil gostar de alguém e essa pessoa não gostar de volta, pior, descobrir que esse alguém havia guardado segredos. 

 

Tentei pensar em Justin e no fato de que devia ser difícil estar em seu lugar, então deixei para lá o que ele tinha dito. Cai em pensamentos e tentei achar em mente algo para conversamos... 

 

- Justin? - o chamei e ele me olhou - Você sabe muitas coisas sobre mim, mas eu não sei nada sobre você... 

 

Ele sorriu. 

 

- Sabia que eu te disse isso há muito tempo atrás? - se levantou e estendeu a mão - Quero ver as roseiras da sua mãe. 

 

Peguei em sua mão e não me afastei enquanto andávamos pelo jardim. 

 

- Disse é? - tentei me concentrar no que dizíamos e não no calor da sua mão macia. 

 

- Sim. - me olhou sorrindo - O que quer saber? 

 

- Como se tornou advogado tão novo? - perguntei o básico. 

 

- Não sou tão novo assim, tenho vinte e seis. - levou uma rosa ao nariz e me olhou - Me formei mais cedo no ensino médio, em seguida comecei a faculdade e logo comecei a escola de Direito e enfim, me formei no último ano. 

 

Tínhamos afastados nossas mãos mas ainda estávamos próximos, as roseiras em tons rosas e vermelhas, estavam verdadeiramente lindas. 

 

- Você sempre quis ser advogado? - perguntei enquanto passava a mão por uma rosa. 

 

- Sempre. - sorriu fraco. 

 

- Tá, outra pergunta. - ele riu - Qual a sua cor favorita? 

 

- Essa é a sua pergunta? - sua voz saiu sarcástica. 

 

- Preciso conhecer você ué, e sua cor favorita diz muito sobre você. - respondi na defensiva. 

 

- Por do sol. - respondeu rápido e eu o olhei, isso era meigo. 

 

- Sua comida favorita? - perguntei com rapidez. 

 

- Macarrão ou qualquer tipo de massa. - deu de ombros se aproximando de mim. 

 

- Sua banda favorita? - o olhei em expectativa. 

 

- Na verdade não tenho uma. - deu de ombros. 

 

- Quando é seu aniversário? - também queria saber sobre seu signo. 

 

- Primeiro de março. - respondeu monótono - Mais perguntas gatinha? 

 

- Acho que por enquanto não. - dei de ombros e ele me olhou. 

 

- Gosto que você parou de usar maquiagem. - passou os dedos por uma mecha que caia no meu rosto e eu me afastei por extinto, por um segundo pareceu que Justin iria me beijar? 

 

- Desculpa, eu só, eu só não... - por que eu havia ficado tão assustada? Era só Justin, mas por quê? 

 

Respirei fundo e não ousei olhar em sua direção, eu era uma pessoa horrível, estava praticamente pisando em Justin e seus sentimentos agindo assim. 

 

- Está tudo bem, fique tranquila. - sorriu e se afastou - Viu, distância. 

 

- Eu não tive contato com praticamente ninguém Justin e eu sei lá, sinto medo de praticamente qualquer pessoa que cruza a minha frente, não é você, juro. - em sua expressão eu via quão triste ele estava, mas não havia nada que eu pudesse fazer para evitar. 

 

Eu havia sido vítima de uma tentativa de assassinato, a pessoa culpada ainda estava a solta, minhas memórias foram roubadas de mim. Eu tinha direito de me sentir assustada, mas mesmo assim não queria transparecer isso. 

 

- Passo a passo uh? Um de cada vez. - sorriu fraco - Quer voltar a se sentar? 

 

Confirmei com a cabeça, a vontade que eu tinha de conversar havia sumido, eu me sentia péssima e podia ver que Justin também não estava lá essas coisas. Com apenas um gesto eu havia acabado com o clima da manhã inteira. 

 

Respirei fundo e tentei mudar o clima iniciando um novo diálogo. 

 

- Então senhor ocupado, eu ainda vou ver você essa semana? - tentei fingir que nada estava acontecendo. 

 

- Ainda quer me ver? - ele sorriu e eu dei de ombros - Sim, você tem o meu número. 

 

- Então posso te ligar a qualquer hora do dia? - ele acenou positivamente - Tudo bem, quando estiver cheia dos filmes ligo para você. 

 

- Obrigada. - respondeu ofendido e eu gargalhei. 

 

- Podemos nos conhecer melhor nesse meio tempo, eu ficaria feliz. - ele não escondeu suas emoções dessa vez, abriu um sorriso. 

 

De volta dentro de casa nos sentamos na sala e eu abri minha conta no catálogo de filmes, comecei a mostrar os filmes que eu havia assistido, as séries, como Justin trabalhava nesse meio ele me dizia coisas que eram verídicas ou não, séries em que eu estava perdendo meu tempo assistindo se não quisesse nada a não ser ficção e por aí vai. 

 

A conversa estava leve, Justin não estava próximo a mim e eu pude finalmente me sentir à vontade de novo, sem pensar muito sobre sentimentos não correspondidos ou memórias. 

 

Quando estava próximo ao horário de almoço minha mãe ligou, perguntando como eu estava, a que horas havia acordado, não pude deixar de notar seu estranhamento ao saber que Justin estava aqui em casa, mas no fim das contas minha mãe parecia confiar nele, pois não veio correndo para casa como eu esperei. 

 

Dora preparou um almoço simples e adorou a presença de Justin ali, parece que não era só eu que ficava encantada com ele. É que ele era o típico homem que impressionava as pessoas simplesmente por ser ele mesmo, sua aparência era apenas um bônus. 

 

- Bem, a comida estava deliciosa, mas eu preciso ir. - não pude deixar de ficar triste, eu estava tão por ter ele ali. 

 

- Mas hoje é domingo. - falei estranha e ele sorriu fraco. 

 

- Exatamente, eu tenho tempo livre e com isso tenho mais tempo para trabalhar. - bufei e ele riu - A gente ainda vai se ver essa semana, não fique tão triste. 

 

Revirei os olhos e me levantei, Dora havia ido embora após servir o almoço e bem, agora eu estaria sozinha de verdade, queria muito pedir para Justin ficar, mas parecia humilhação de mais. Ele havia ficado a manhã toda comigo, almoçado e bem, eu ainda não queria que ele fosse embora. 

 

- Muito obrigada por ter vindo. - o abracei por iniciativa própria e apesar de tudo, adorei como me senti em seus braços, sem nenhum sentimento negativo rondando meus pensamentos. 

 

Me afastei mas seus braços me prenderam minimamente, continuamos assim até ele beijar o topo da minha cabeça e se afastar. 

 

- Não esquece de me ligar. - piscou e colocou os óculos escuros de volta, caminhando até seu carro não pude evitar suspirar. 

 

Fechei a porta e tranquei ao ter certeza de que ele havia saído, me joguei no sofá da sala e encarei o teto. 

 

Justin era tão lindo, tão dedicado ao trabalho, tão inteligente, e gostava de mim, por que eu sentia que não merecia isso? Por que parecia que eu estava vivendo a vida de outra pessoa? 

 

Continuei pensando em diversas hipóteses até ouvir a campainha tocando, Justin havia voltado? 

 

Me levantei em um pulo, é claro que havia devia ser ele, se não quem seria? Era domingo, todo mundo estaria ocupado com suas famílias ou sei lá, destranquei a porta sem nem perguntar quem era e meu sorriso morreu ao ver um homem parado na porta. 

 

Algo em seu sorriso fez meu estômago afundar, quem era aquele? 

 

- Ágatha! - falou meu nome com um felicidade que ao meu ver era forçada e me apoiei na porta. 

 

- Desculpa, eu conheço você? - perguntei não fazendo ideia de quem era aquele homem. 

 

Ele possuía a pele parda, seu maxilar era bem definido, seus olhos eram castanhos escuros e seus cabelos estavam aparados tão curtos que não poderia dizer nada sobre. 

 

Ele abriu um sorriso maior. 

 

- Eu sou Dylan. - ah não - Posso entrar? 

 

Pisquei confusa tentando assimilar o que fazer, eu deixaria esse estranho entrar na minha casa? E por que suas feições eram tão estranhas? 

 

- Ah claro. - abri espaço não tendo certeza do que eu estava fazendo. 

 

Ele entrou e olhou minuciosamente para cada canto, colocando as mãos nos bolsos, ele usava calças jeans e uma blusa simples, tênis nos pés e só. 

 

- É desculpe, por não te reconhecer. - tentei começar um assunto e ele me olhou. 

 

- Não existe problema algum, assim podemos começar de novo não acha? - apertei meu celular em minhas mãos e o olhei confusa - Sou Dylan. 

 

E peguei em sua mão e não sei o que aconteceu, eu simplesmente comecei a suar frio, por que a presença dele estava me dando tanto medo? 

 

Bom eu havia estado com medo de Justin e ele não era nem próximo de assustador, devia ser isso, eu estava com medo de qualquer um que aparecesse a minha frente. 

 

- Ágatha. - eu estava começando a ficar envergonhada sob seu olhar - Me desculpe pelo meu jeito, não costumo receber muitas visitas. 

 

Ele deu de ombros como se não se importasse. 

 

- Como você tem andando? Recuperou alguma memória? - uau ele era direto e também não estava mais sorrindo. 

 

- Não. - respondi baixo e cocei minha garganta - Não, não me lembro de nada.

 

Silêncio. 

 

- Você estava na festa? Ainda éramos próximos? - perguntei tentando manter a mesma dinâmica que tive com Justin, mas ele não chegava nem aos pés da delicadeza do outro. 

 

- Sim, estava. - sorriu aberto, do mesmo jeito estranho - Saímos diversas vezes desde que você voltou, estávamos voltando a ser o mesmo casal de antes. 

 

Ou ele estava mentindo, ou Justin estava mentindo, por que eu me aproximaria de dois homens ao mesmo tempo se eu queira um relacionamento? 

 

- Sério? - sorri fraco, algo nele não me passava confiança. 

 

- Sério, estávamos falando até de irmos para a mesma faculdade. - deu de ombros - Escuta, você está sozinha? 

 

Tudo bem, aquilo era estranho. 

 

- Não, nossa funcionária está comigo. - sorri fraco mentindo e ele pareceu não ter gostado da resposta. 

 

- Ah entendo, então - parou ao meu lado - quando você estiver sozinha me liga, uh? Assim podemos ter mais privacidade. 

 

Ai que nojo, eu não havia gostado nem um pouco daquele cara. 

 

- Tá bom. - respondi incerta por seu olhar, ele parecia querer procurar algo enquanto olhava em meu rosto, muito estranho. 

 

- Foi muito bom ver você, não sabe como eu senti sua falta nessa último mês. - e me abraçou - Me desculpe por não poder te dar atenção, mas isso vai mudar em breve. 

 

Me afastei. 

 

- Obrigada Dylan. - sorri e ele sorriu de volta. 

 

E foi embora, não deixei de notar que seu carro era branco, da cor oposta do de Justin.


Notas Finais


Espero que estejam gostando!

Link para as minhas fanfics:

Cuba https://www.spiritfanfiction.com/historia/cuba-11358777

Athena (concluída) https://www.spiritfanfiction.com/historia/athena-13156464

The notorious B.I.E.B.E.R (2ª temporada de Athena) https://www.spiritfanfiction.com/historia/the-notorious-bieber-15044572

Até mais

XOXO


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...