História Por acaso... - Clexa (Continuação de E se...) - Música 2.8

Lexa

É impossível não sorrir pela manhã quando ouço o reclamar rouco da Clarke com o despertador, o lado pouco matinal dela é adorável, beijo-lhe o ombro enquanto ela afunda um rosto na almofada e solta um grito baixo frustrado. Mordisco-lhe o pescoço e sou brindada por dois olhos azuis ainda sonolentos, abre um sorriso antes de me roubar um beijo suave, não esperei ficar a dormir em casa da Clarke e tenho ainda um quarto reservado num hotel mas a loira não me deixou sair. A verdade é que eu também não queria estar afastada dela!

- Queres que vá acordar a Madi?!

- Hum... - Sou novamente beijada, o corpo dela vem para cima do meu e logo me sinto quente, estamos juntas já faz quarenta e oito horas mas não conseguimos estar juntas em todo o sentido da palavra. - Até te perguntava se queres ir comigo tomar banho mas... - Vejo-a mover o corpo sobre o meu e um gemido rouco sai da minha garganta, dizer que a desejo é pouco, todo o meu corpo está em chamas, sinto os lábios dela no meu pescoço antes de chegar a minha orelha. - A minha mãe vai ficar com a Madi hoje a noite e eu quero muito estar contigo hoje!

- Fodasse...

- Vai lá acordar a Madi enquanto eu vou tomar banho...

Ajeito desconfortável os calções, aquela mulher deixa-me logo pronta pela manhã e sinto-me molhada, entro no quarto da Madi e logo a acordo com um mimo no cabelo, aquele sorriso consegue desarmar-me da mesma forma que a Clarke. Ela esfrega os olhos, depois de um fim-de-semana onde a acompanhei em algumas actividades entendo que esteja cansada, pelo que a loira me explicou a Madi faz todas as actividades que quer enquanto isso não a afectar mas até nisso ela é “adulta” e logo fala com a mãe. A relação delas lembra-me muito como eu e a minha mãe éramos, há um ligeiro aperto no meu peito mas acabo por sorrir ao recordar isso e não chorar como era o meu normal! Até nisto elas me ajudam...

- O que queres para o pequeno-almoço almoço piolho?

- Hum... Sumo e torradas e cereais!

- Mais nada?!

- Um ovo!

- E essa comida toda cabe aí? - Ela olha para a barriga dela e ri, aproveito e faço-lhe cócegas única e exclusivamente para ouvir aquela gargalhada incrível que uma criança feliz tem. - Se eu der um jeitinho assim talvez caiba tudo!

- Lexa... Faz cócegas!

- Vai-te preparar para a escola que eu faço a comida!

Sinto um abraço apertado pelas minhas costas quando estava a terminar os ovos que a Madi pediu, o corpo quente arrepia-me e esse contra-senso não parece passar despercebido a minha loira que logo me beija o pescoço e ao se afastar de mim arranca um gemido rouco da minha garganta. Vai ser muito difícil partir daqui a um mês, vou ter que pensar numa forma de não abrir mão disto, eu não quero nem me sinto minimamente capacitada a dizer adeus novamente a minha felicidade.

- Tu estragas a Madi com mimos... Os ovos mexidos estão bons!

- Senta e come amor... Vou só meter o café nas chávenas... - Estou já a caminho da mesa com duas chávenas quando a Madi corre a minha frente e se senta no lugar, sorri abertamente ao olhar para o prato dela com um torrada com ovos mexidos em cima. Bebe um pouco de sumo de laranja natural e os olhos dela brilham ao ver que lhe coloquei os cereais favoritos de unicórnios na taça. - Está tudo como queria Sra Madi Griffin?!

- Está Lexa, obrigada... - Ela começa a comer com satisfação e abre mais o sorriso quando prova os ovos. - Mãe será que podemos ficar com a Lexa?! Ela faz ovos melhor que tu ou a avó!

- Já fui trocada!

- Ela só me quer pelos ovos Clarke... Eu dou-te a receita não seja por isso!

- Não... - Vemos confusão nos olhos da pequena que salta do seu lugar e se aninha no colo da mãe, mordo o lábio inferior perante aquele momento de carinho e aparece um lembrete no fundo da minha mente, há algo que preciso falar com a Clarke mas na verdade tenho um enorme medo da sua reacção. - Gosto de como ficas quando ela está aqui mãe, é como se estivesses mais feliz que antes, quero que sejas feliz!

- Eu sou feliz piolho... Tenho agora as duas mulheres que mais feliz me fazem comigo, que mais posso pedir?!

- Então posso ir comer os meus ovos que não ficas mais com ciúmes?!

- Podes! Mas talvez devas saber que existiu uma altura que a Lexa não sabia fazer ovos...

Acabamos de comer animadas e enquanto tomo um banho rápido as duas limpam a mesa e a cozinha, quando desço estão já a minha espera, impossível não sorrir perante a imagem daquelas duas a conversar. Na garagem entro no lugar do motorista, a Clarke logo coloca a pequena na cadeira do bando detrás antes de se sentar ao meu lado, as nossas mãos dadas são o céu na terra. Avançamos pelo transito matinal, primeiro para a escola da pequena, saio do carro com as duas e uma data de pais olham para mim mordo o lábio inferior porque ainda me sinto um pouco desconfortável quando me observam assim. Uma mulher aproximasse da Clarke e trocam dois beijos, sinto um aperto no meu peito e não controlo uma leve onda de ciúmes que aparece ao denotar como aquela bela mulher olha para minha loira com um palpável desejo. Elas conversam um pouco quando decido me aproximar, a Madi está animada com uma miúda que penso ser filha da mulher que está demasiado próxima da Clarke!

- Oh Lexa... Esta é a Becca, mãe da Charlotte que é a melhor amiga da Madi!

- Muito gosto... - Ela estende a mão mas o seu olhar é frio em mim, aperta demasiado e sinto que a sua vontade é mais de me mandar embora que propriamente de ser minimamente educada. - Amor temos que ir, começa a ficar apertado para chegares ao hospital!

- Oh... Pois é... Meninas comportem-se na escola hoje... - Vejo a Clarke beijar a testa da Madi que depois saltita para mim e eu beijo-lhe a bochecha sob o olhar castanho daquela mulher que já me começa a irritar um pouco. - Até logo Becca...

- Até logo Clarke!

Sei que a Clarke me observa, sinto o seu azul preso em mim, estou ainda a tentar racionalizar este ciúme que apareceu com aquela pequena interacção entre elas duas. Respiro fundo enquanto me concentro no caminho, observo o carro que nos segue desde que saímos do complexo onde a Clarke tem a sua casa, o Emerson não me consegue deixar sozinha de forma alguma e já estou demasiado habituada a isso. Os paparazzi podem ser um problema grave! A mão que agarra a minha está quente e o contacto é carinhoso, estamos paradas num vermelho e ela aproveita isso para me puxar para fora do meu silêncio repleto de pensamentos que gritam sem parar. 

- Fala comigo...

- É parvo!

- Pensei que tivéssemos concordado com falar sempre Lexa, tu pediste para eu confiar em ti e te contar tudo o que sentisse, não mereço a mesma consideração?!

- Ciúmes... Ela olhou para ti de uma forma... É irracional eu sei mas não consigo controlar estes ciúmes que explodem em mim de um forma que sei que não é algo saudável...

- Também tenho ciúmes Lex... Então da Karina nem se fala... - Abro um sorriso pequeno quando vejo que ela bufa a dizer o nome da minha ex, o azul olhar fica preso em mim e tento reduzir a minha vontade de sorrir mas não consigo. - Não tem piada Lex... 

- Talvez o nosso problema seja pensarmos demasiado na distância com que vivemos constantemente... - Avanço pela cidade a caminho do hospital, ela continua a observar-me e tem agora um sorriso leve de quem está feliz por me meter a falar. - Tenho medo de como será quando este mês que meti de férias terminar, quando a minha perna ficar funcional novamente e eu conseguir voltar a corrida do meu dia a dia... Não quero ir embora Clarke!

- Não vás Lexa!

- Estás a convidar-me para viver contigo?! 

- Por acaso estou! - Olho para ela surpreendida com a forma como fala, está segura nas suas palavras, um assunto que pensei que conversávamos em brincadeira é na verdade algo que ela levou para caminhos concretos. - Sei que tens quarto no mesmo hotel que o Emerson mas quero testar este mês a viver contigo e se tudo correr bem... Porque não te mudares?! Hoje em dia com a tecnologia que nos rodeia podes trabalhar em qualquer parte do mundo, tenho até uma boa internet em casa por isso não tens como fugir Woods!

- Clarke... - Mordo o lábio inferior o meu coração explode no peito e pergunto-me se ela tem a certeza do que acabou de me dizer, há tanta sinceridade no seu olhar que me esqueço de como devo respirar. - Podemos testar mas só se tiveres total e absoluta certeza de que é isso que queres, que queres que eu entre na tua vida e na Madi por completo...

- Nada me iria fazer mais feliz que isso Lexa, mas se te tranquila podemos falar disso com a Madi amanhã!

- Claro... - Estamos no estacionamento do hospital e saio a correr para lhe abrir a porta, vejo que solta uma gargalhada com a minha atitude e quando lhe estendo a mão para a ajudar a sair ela agarra com um sorriso pequeno porque repara que estamos a ser fotografadas. - O jantar de hoje é por minha conta! - O sorriso dela está aberto quando me afasto do pescoço dela onde depositei um beijo casto antes de a apertar num abraço apertado, depósito-lhe a chave do carro na mão e vejo-a a olhar para mim um pouco confusa. - A minha boleia está ali, tenho que ir a editora que tenho uma reunião daqui a nada!

- Não me apetece nada deixar-te ir...

- Loira anda trabalhar... - Vemos a O aparecer com o Bell ao lado, caminham com um sorriso enorme quando reparam como estamos juntas, logo olham para os fotógrafos que cismam em me seguir e bufam. - Lexa larga a Clarke que ela tem pessoas para tratar!

- Vai lá meu amor... Até logo...

- Até logo meu anjo, estou louca para te ter com aquela casa vazia só para nós!

Caminho para perto do Emerson que abre a porta do carro para mim, não conheço o motorista que está connosco e logo me dedico a ler algumas letras que tenho andado a preparar para outros artistas, avançamos pela cidade e ao olhar pela janela entendo porque esta cidade desperta uma paixão enorme em mim. Observo o antigo sargento do exército, era suposto ser só meu segurança mas tornou-se um amigo e alguém em quem confiei todas as partes da minha pequena vida, ela hoje parece alheio a tudo. Entro no meu Instagram profissional e a fotografia que postei ontem referente a estar em NY parece estar ao rubro com likes e comentários, os meus fãs parecem animados com o meu regresso a grande maçã e claro que apontam a loira como sendo a razão de estar aqui. Não se fala da minha lesão por pedido do pessoal da editora, não querem que pensem que o lançamento do álbum pode estar de alguma forma comprometido, voltar a NY teve também os beneficio de que todas as músicas vão agora passar pelas mãos do Titus e eu vou estar por perto para ajudar. Entre hoje ou amanhã os outros juntam-se a mim depois terei que ir a umas entrevistas aqui mesmo e pensar em como irei resolver o momento em que terei que partir e se terei de partir...

Entro da editora e logo a secretária abre um enorme sorriso para mim, estou com a minha normal aparência que todos na editora gostam, o meu cabelo está cuidadosamente arranjado e os meus óculos estão em casa e as lentes são um disfarce que uso com facilidade. Logo me apontam que tenho que seguir para o escritório da CEO da editora, eu já me encontrei várias vezes com a Nia desde que assinei o contrato com o Lincoln, ela é uma mulher forte e decidida que luta por tudo o que quer. Fez deste negócio a sua prioridade após a morte do marido, a sua garra é conhecida bem no meio e poucos são os que ainda tentam bater de frente contra ela.

- Lexa minha querida... Como está essa perna?

- Bem Nia... - Ela logo me abraça o que é algo um pouco estranho para a sua forma natural de ser antes de apontar que me sente no sofá que tem no escritório, as suas reuniões tem sempre estes jeitos informais que me deixam mais relaxada. - Um pouco de descanso e fico como nova!

- Achei de muito mau tom que a emissora do programa onde ias actuar não tivesse exposto uma nota a pedir desculpa pelo sucedido, se quiseres podemos avançar com um processo por terem lesado a tua agenda.

- Acho que não há essa necessidade... - Ela abre um sorriso pequeno quando a secretária entra com um café e um chá, pelos vistos não esqueceu que gosto de chá depois do pequeno-almoço. - Estou a ter cuidado comigo e a verdade é que com estes dias sem actuações eu posso trabalhar para finalizar o álbum...

- Esse era um dos assuntos que queria falar contigo... O Lincoln informou-me que queres concertos mais pequenos, algo mais intimista e assim sendo menos cabeças logo uma redução substancial do lucro... Lamento informar que isso não me agrada de forma alguma!

 - Compreendo que queremos ter uma cota de lucro, sempre fui lucrativa durante estes dois anos, contudo espero que entenda que este álbum é diferente dos dois últimos e por isso mesmo teremos que fazer algumas coisas tremerem um pouco...

- Porque vamos mudar algo que funciona Lexa?!

- Porque sabes que aquilo que fizemos embora lucrativo e repleto de prémios não é de perto nem de longe música que nos possamos orgulhar! - Observa-me por cima da chávena de café enquanto abre um sorriso para mim enigmático. - Só quero fazer algo que me deixe feliz...

- O meu marido nunca quis ter filhos, nunca me importei com isso até me descobrir totalmente sozinha quando o perdi, não foi fácil mas encontrei aqui no trabalho algo mais e embora digam que sou a rainha de gelo eu sei ver quando as pessoas precisam de um pouco mais... Estava a espera que me dissesses o momento em que querias voltar a ser tu mesma... - Bebe um pouco mais de café antes de colocar a chávena na mesa que está perto de nós, no alto dos seus cinquenta anos é uma mulher atraente e sabe bem disso. - Por isso mesmo eu vou concordar com os teus pedidos se acederes a um pequeno pedido meu...

- Qualquer coisa...

- Encontrei uma miúda talentosa, tem uma voz sublime e uma capacidade acima do normal, quero que a ajudes a entrar no meio e que sejas a responsável pelas letras e melodias, és das melhores compositoras dos nossos tempos e está na altura de colocarmos essas tuas capacidades um pouco mais na linha da frente. Gosto muito do facto de que tudo em que tu tocas normalmente dá um prémio!

- Quem é ela?

- Luna Winters... Espera que mostro-te algo... - Levantasse e avança até a sua mesa onde agarra no iPad, o vestido vermelho é chamativo e por momentos sinto-me levemente tímida perante aquela mulher. - Diz-me o que achas!

Estou atenta ao vídeo que me mostra, ela tem razão a rapariga é talentosa, uma força vocal bem maior que a minha embora a sua voz seja um pouco menos melodiosa. É uma mulher atraente que usa bastante isso com a roupa demasiado reveladora, mordo o lábio inferior visto que também fiz o mesmo, será fácil escrever para alguém com aquele tipo de voz forte e possante. O sorriso com que a Nia me olha é pequeno mas mostra que entende bem o meu interesse na proposta que acabou de me fazer, adoro cantar o que escrevo mas há algo de muito reconfortante em escrever uma música para outro cantor. 

- Ela é boa...

- Também achei... Tem tudo para entrar facilmente neste mundo, o teu talento e visão podem ajudar a criar uma nova estrela para a editora, uma mão lava a outra... Tu fazes essa experiência de reduzir as coisas e criares o novo conteúdo e espetáculos como quiseres, enquanto me ajudar a tornar a Luna numa nova cara para a editora... O que me dizes?

- Temos trato Nia...

- Quanto tempo pensas ficar em NY?!

- Um mês, foi o tempo que o médico me deu para descansar e fazer o mínimo de esforço possível para que eu volte com toda a força...

- Então teremos um mês contigo a trabalhar com ela lado a lado, o estúdio é vosso por isso espero bem que o usem, o Titus já está avisado que terá que trabalhar para o teu álbum e para o primeiro álbum da Luna... Estamos entendidas então?!

- Claro Nia, precisas de algo mais?!

- Não querida... - Vejo-a levantar e voltar para a mesa, sorri abertamente para mim claramente feliz por ter conseguido o que queria, não me sinto propriamente lesada por ter acedido ao pedido que ela me fez. - A menos que queiras almoçar comigo!

- Agradeço imenso o convite Nia mas estou a pensar surpreender a minha namorada... - Sinto-me corar e baixo o meu olhar para as minhas mãos que ainda seguram a chávena de chá, há algo em mim que ainda fica melindrada em expor a minha vida pessoal. A ouvir a gargalhada dela forço levantar o meu olhar para a ver animada, pelos vistos a minha timidez consegue sempre animar quem a vê. - Mas podemos sempre marcar para outro dia!

- Claro querida, vai lá aproveitar a tua namorada, posso marcar um almoço contigo e com a Luna para oficializarmos as coisas?!

- Sim... Venho cá ter então amanhã de manhã e trabalho um pouco com o Titus antes de irmos lá oficializar o meu novo cargo!

- Gosto do termo novo cargo... - Logo começa a escrever algo no computador e eu decido me levantar para sair, pouso a chávena na mesa a minha frente, começo a movimentar-me para sair quando noto que ela me observa. - Lexa... Há algo que preciso que entendas, quero a tua felicidade se e só se isso não mexer com o quadro maior que é o meu negócio... Adoro as novas músicas mas quero sinceramente que esse meu gosto se reflita num aumento gradual do meu lucro!

- Nunca te falhei Nia, não quero começar agora... 

- Eu sei Lexa... Era só para ter a certeza que estávamos as duas no mesmo ponto!

O Emerson levantasse assim que me vê, aquele castanho olhar analisa-me e quando abre a porta do carro para mim e se senta ao meu lado sei que está a pensar em mil e uma razões para o meu semblante mais carregado. Ainda não sei bem o que pensar de tudo o que a Nia me disse, estou animada com a perspectiva de ajudar alguém a arrancar a carreira e criar novas músicas contudo sinto que o aviso dela é mais importante que ser a ama de uma cantora nova que adora andar com pouca roupa. 

- Quais os planos para o resto do dia?!

- Queria surpreender a Clarke com o almoço... - Observo o meu relógio, ainda há tempo para fazer algo que tem andado a martelar no fundo da minha mente. - Emerson por muito que adore andar sempre contigo eu quero conseguir movimentar-me sem problemas quando quiser, achas que podemos ir as compras?

- O que pensar comprar?!

- Hum... - Abro um sorriso, ele que me conhece muito bem entende logo o que eu quero ir comprar, vejo que começa a pesquisar algo no telemóvel e logo passa algumas indicações para o motorista. - Obrigada!

- Queres falar?

- Pelos vistos estou a ser observada agora que quis mudar um pouco as coisas mas tudo fica bem se der lucro e escrever umas músicas para a nova cantora da editora, tenho que basicamente ser uma baby sitter para uma menina que gosta de andar com menos roupa do que eu andei nestes dois anos...

- Vai ser engraçado ver como a Clarke vai reagir a isso... - Sinto uma pequena onda de pânico a entrar no meu corpo, quando o Emerson solta uma gargalhada eu tenho a certeza que o meu rosto revela tudo o que estou a sentir neste momento. - Algo me diz que não tinhas pensado nisso...

- Não...

- Vocês são o casal mais apaixonado uma pela outra que eu conheço e mesmo assim parecem morrer de ciúmes até das sombras!

- Idiota...

Estou encostada a minha nova mota, engraçado como ter o nome que tenho facilita tudo, consegui sair do stand com a mota como queria e com o registo e seguro logo tratados, a minha nova Triumph Thruxton é uma paixão antiga. A minha mãe era capaz de me matar se me visse a conduzir isto e depois de me matar trazia-me a vida única e exclusivamente para voltar a ter o prazer de me matar! Recordar-me dela cria em mim um sorriso pequeno, a dor é uma constante e embora me tenham dito inúmeras vezes que o tempo cura tudo a realidade é que acredito piamente que a dor pode ficar amenizada mas nunca passará. Baixo o meu olhar para o telemóvel e passo uma vista de olhos ao meu feed profissional, tento sempre manter-me diariamente actualizada e faço questão de comentar algumas coisas da mesma forma que respondo a alguns fãs. Se tenho a sorte de ter a posição que hoje ocupo é graças as milhares de pessoas que me seguem, que me apoiam e que fazem a minha música crescer de uma forma que nunca imaginei que fosse possível!

- O que raio fazes tu aí?! - A voz da O chega a mim animada e quando sinto um abraço apertado, esta mulher bem que gosta de chamar a atenção de todos, procuro rapidamente se há alguém que possa registrar aquele momento mas parece que fiz um bom trabalho quando sai do stand e acelerei pela cidade até ao hospital. - Já não consegues estar longe da tua loirinha?!

- Na verdade vim trazer-lhe o almoço para ela... Por acaso já pedi a mais considerando a tua fome por duas partes!

- Se eu não gostasse tanto de homem até que me atirava a ti só porque sabes bem como conquistar uma mulher pelo estômago... O que é o meu almoço?!

- Não é teu... - Vejo um carro parar por perto e logo abro um sorriso, o recebo duas pizzas da pizzaria onde conheci a Clarke e vejo um brilho esfomeado no azul olhar da O. Pago e assino um autografo que o rapaz da entrega me pediu, pelos vistos a namorada é minha fã e vai adorar, sem problema algum tiro também uma fotografia antes de caminhar com a O para dentro do hospital. - É o almoço da Clarke, a tua sorte é carregares o feijão de quem serei madrinha e por isso mesmo sinto-me tentada a alimentar-te um pouco... 

- Tu já foste bem mais simpática... - Vamos andando pelo hospital e reconheço estes corredores, há um aperto no meu peito ao relembrar tudo o que a minha loira me contou, sinto um nó no estômago perante a possibilidade de encontrar a Niylah, tenho medo de não conseguir responder por mim. - Está de folga hoje não a encontras...

- Quem?!

- A Niylah... Está de folga hoje... Escolheste um bom dia para fazer a loira feliz... Lex isso cheira bem deixa-me roubar já uma fatia!

- Nem penses... - Vejo-a fazer um beicinho e o meu coração dispara quando vejo a porta do consultório da Clarke, a O acelera e passa por mim com um sorriso enorme no rosto e algo me diz que vai fazer asneiras. - O... Calma...

- O que raio queres Octavia Whittle?! Normalmente uma pessoa bate antes de entrar... - Aquela voz rouca abre mais o meu sorriso, a O entrou sem bater sequer, consigo imaginar o seu jeito irritado e ainda o vejo por milésimos de segundos até ela processar que sou eu na porta do consultório com duas pizzas na mão. - Meu anjo...

- Olá amor... - Logo se levanta e caminha para mim, aqueles lábios quentes encostam aos meus com suavidade, quando a língua dela pede passagem para a minha boca eu cedo sem pensar duas vezes. Sorrio ao ouvir a O reclamar antes de arrancar as caixas de pizza da minha mão e puxo mais para mim a cardiologista mais sexy que alguma vez vi, solta um gemido no nosso beijo e por momentos quero esquecer tudo e puxá-la mais para mim. - Ela é bem capaz de comer tudo...

- Espero bem que deixes pizza O! - Afundo o meu nariz no pescoço da Clarke quando a ouço falar, mordisco-o antes de depositar mais um beijo, sinto as mãos dela agarrarem-me um pouco mais e o meu controlo depois de dois meses longe e duas noites na mesma cama sem algo mais está definitivamente a ir para o espaço. - Vamos comer antes que ela coma tudo que estou com fome...

Comemos calmamente, a O definitivamente comer por quatro e não dois dois, perco-me nos momentos em que a loira me prende num abraço ou entrelaça as nossas mãos ou quando me olha intensamente. Este amor que explode em mim é algo capaz de mover mundos, o meu mundo está naqueles olhos azuis que me acalmam de uma forma que nunca pensei que fosse possível. Há silêncio na minha mente e nada vale mais que isso!

- Alexandra Woods o que é isso?! - Estamos no estacionamento do hospital e ela olha para a minha mota com rasgos de quem me quer matar e não de uma forma muito carinhosa, sinto-me nervosa mas há coisas que preciso partilhar com ela e agora neste momento está na hora de mostrar um pouco mais. - Isso são mortes em duas rodas...

- Olha... - Mostro-lhe uma fotografia no meu telemóvel, há compreensão no azul quando observa com atenção o que quero que veja. - A minha mãe odiava a ideia de que eu adorava andar de mota, a realidade é que ela adorava andar de mota... Tinha uns 24 anos nessa fotografia e uma vida pela frente... Nos meus momentos rebeldes eu andava de mota única e exclusivamente para a irritar um pouco, agora ando porque por um milésimo de segundo... Por um mísero milésimo de segundo é como se ela estivesse ao meu lado, não dói assim tanto não a ter por perto...

- Lex... - Tenho os meus olhos marejados e ela puxa-me para um abraço apertado, deixo a minha dor fazer com que caia naquele abraço que mais ninguém tem e esqueço que posso estar a ser fotografada neste momento para me deixar ficar perdida na calma que é amar a Clarke. - Ela amava-te muito, irá sempre amar, a dor não passa e bem sei como consegue ser torturante mas espero eu saibas meu amor que estarei sempre contigo aconteça o que acontecer, onde tu estás eu estou!

- Obrigada amor... Vemo-nos logo?!

- Claro... A Madi vai logo para casa da minha mãe por isso vou direta para a nossa... Hoje não me escapas Woods...

- Não tencionava fugir Griffin... - Roubo-lhe um beijo, a minha língua é directa e possessiva, puxo-a para mim sem pensar em nada e uma das minhas mãos encontra caminha por baixo da sua farda, faço as minhas unhas arranharem as suas costas e como recompensa ouço um glorioso gemido que mexe com todas as fibras do meu ser. - Logo és minha...

- Sou sempre...

Velas... Check!

Vinho... A respirar, espero sinceramente que uma garrafa chegue!

Música... Sinatra nunca me falha!

Comida... Wellington no forno, batatas prontas e redução de vinho tinto para lá de deliciosa, seguir uma receita tão complicada foi interessante!

Nervos... Acima do que é normal, preferia actuar perante centenas de pessoas a perder-me na possibilidade de falhar neste jantar romântico com a Clarke!

Vejo o meu reflexo, o vestido preto traça o meu corpo com todas as suas curvas, mordo o lábio inferior e a minha vontade de estar com ela é agora tão forte que tenho que correr para o quarto para mudar de roupa interior, estamos a abrir um novo mundo repleto de possibilidades que estou aberta a abraçar com todas as minhas forças. Na minha mala pego na caixinha vermelha que fui levantar numa ourivesaria antes de viajar para NY, o meu mundo está a crescer...