5 ANOS DEPOIS
Nova Iorque, segunda semana de novembro de 2032.
Segunda-feira:
Diego fala alguma coisa sobre o que faremos quando a semana acabar. São os últimos dias de apresentações da peça que ele está estrelando e não temos nada em contrato para depois. Quanto a mim, o último trabalho que eu fiz foi há dois meses. Depois dos 3 anos de curso na Juilliard, continuamos morando em Nova Iorque porquê de lá pra cá, nunca ficamos sem emprego.
– Fedra? – Ele altera o tom de voz e me chama. Estamos na mesa tomando café da manhã. Solto a colher com a qual eu estava revirando o cereal no meu prato e o encaro levando uma mão às têmporas.
– Você não escutou nada do que eu falei, né? – Era verdade. Eu estava distraída e preocupada.
– Desculpa, mas não. Minha cabeça tá cheia.
– Não se preocupa, tá? Voltaremos pro Brasil se não aparecer nada. Lá sem dúvidas vamos ter oportunidades, somos formados na Juilliard. – Quis dizer que não era isso que estava me deixando assim, mas eu ainda não tinha certeza sobre o que me incomodava. Resolvi não dizer pra Diego até ter confirmado.
– Tudo bem. Você vai sair hoje?
– Vou passar no Teatro daqui a pouco, o Marc quer falar com a equipe sobre essas últimas apresentações. – Marc era o diretor de elenco de Diego nesse trabalho.
– Eu vou voltar pra cama e tentar dormir mais um pouco, tô me sentindo indisposta. – Levanto e arrodeio a mesa, dou um beijo nele antes de caminhar pro nosso quarto.
– Fica bem, se precisar de alguma coisa me liga.
– Tá bom, obrigada.
Escuto Diego recolhendo e lavando a louça, e em seguida um silêncio se segue pelo apartamento. Deduzo que ele já foi. Não consigo dormir de novo nem relaxar como eu pretendia. Na minha cabeça só existem pensamentos sobre o que faremos se minhas suspeitas se confirmarem e tiver um bebê dentro de mim.
Me levanto e vou até o espelho. O frio nova-iorquino dessa época do ano me fez usar os moletons de Diego, além das camisas para dormir. Tiro a roupa e observo meu corpo só de calcinha. Eu realmente ainda não aparento estar grávida. Continuo com a silhueta que sempre tive, mas todos os outros sintomas me fazem acreditar que posso estar prestes a ser mãe. Menstruação atrasada, sonolência exagerada, uma hora eu quero comer de tudo que vejo pela frente e depois estou enjoada. Cheguei a vomitar duas vezes, mas não deixei Diego saber. Eu não aguento mais ficar nessa. Decido ir numa farmácia e comprar um teste de gravidez.
Visto uma calça jeans e uma blusa de tricô por cima de outra camisa de mangas compridas. Solto meus cabelos que estavam em um coque desalinhado e ponho uma touca vermelha, a minha favorita. Gosto do contraste que a cor faz com os fios que agora tem um tom de loiro dourado feito com a técnica de ombré hair. Precisei pintar o cabelo assim pra minha última personagem e gostei tanto do resultado que não quis voltar ao cabelo castanho escuro quando terminou a temporada da peça. O meu cabelo agora também é mais curto do que quando deixei o Brasil. Está na altura dos seios. Quando estou saindo, calço botas pretas e pego meu sobretudo.
Sinto o ar frio da cidade sobre o meu rosto. Eu adoro Nova Iorque, e no outono a cidade fica ainda mais linda colorida em tons quentes pelas folhas das árvores em todo o lugar. Caminho até a farmácia mais próxima de casa e compro o teste. Antes de voltar, decido dar uma volta no Central Park.
Depois de andar um pouco, sento num banco e observo o pouco movimento do parque nessa época. Está frio e o horário não é o mais apropriado. A maioria das pessoas por aqui são turistas. Presto atenção em algumas conversas e identifico 3 brasileiros no meio de um grupo. Do outro lado do lago, avisto uma mulher com um carrinho de bebê e outra criança maiorzinha andando ao seu lado. Tento me ver no lugar dela. Ser mãe nunca esteve nos meus planos como uma prioridade, eu e Diego definitivamente não esperávamos isso agora. É inevitável não pensar na minha mãe biológica, Celeste. Ela engravidou mais cedo do que eu, também sem planejar nada, e é por isso que estou aqui hoje. Penso em como ela deve ter se sentido quando soube que me carregava dentro dela.
Quando volto pra casa, tiro toda a roupa e faço o teste. Só me lembro de ter ficado tão nervosa e apreensiva assim antes quando eu e Diego abrimos nossas cartas da Juilliard. Sinto meus olhos marejarem quando vejo que o resultado é positivo. Eu vou ter um filho.
Saio do banheiro e volto ao quarto indo ao espelho de novo e observo atentamente meu corpo, tentando me concentrar em cada detalhe que verei mudar daqui pra frente.
– A perspectiva de chegar em casa e te encontrar assim me excita completamente. – Diego diz quando aparece na porta do quarto, me tirando dos meus pensamentos. Ele caminha até mim e afasta meus cabelos do meu pescoço me dando um beijo ali. – O que é que você tá fazendo diante do espelho só de calcinha? Admirando o quanto é maravilhosa? – Ele me vira pra ele pondo as mãos na minha cintura enquanto eu passo os braços pelo seu pescoço, e me beija.
– Precisamos conversar. – Eu digo quando paramos.
– Espero que você não venha me dizer que quer colocar silicone ou algo do tipo, adoro seus peitos como são, nem grandes nem pequenos demais.
– Não, mas meus peitos vão acabar crescendo de todo jeito.
– Você acha que eles ainda vão crescer? Você já tem 24 anos!
– Esquece os peitos, a questão é a barriga.
– Lipoaspiração? Mas você não tem barriga nenhuma, seu corpo é lindo, eu acho até que você deve ter começado a malhar secretamente. – Ele diz se inclinando pra beijar o meu pescoço novamente.
– Meu amor, a única cirurgia que eu posso vir a fazer nos próximos meses é uma cesariana. – Diego para. Dois segundos depois ergue a cabeça devagar e me encara. Sua expressão é séria e totalmente surpresa. – Eu tô grávida. – Digo a notícia com clareza.
– Fedra... – Vejo um sorriso enorme se formar em seu rosto e seus olhos se enchem de lágrimas. Ele me abraça me tirando do chão e gira comigo pelo quarto passo minhas pernas pela sua cintura e Diego cai comigo na cama. – Você tem certeza?
– Acabei de fazer um teste. Tava no espelho prestando atenção no meu corpo e querendo que já desse pra ver que o seu filho tá aqui. – Pus minha mão sobre a minha barriga. Diego direcionou o olhar até lá e retirou minha mão depositando beijos ali.
– Isso é maravilhoso! Saber que tem alguém aqui... Vamos ser pais, eu não acredito! – Ele me beijou. – Você sabe de quanto tempo?
– Um mês e meio, mais ou menos. O que vamos fazer agora?
– O que você quer fazer agora? Voltar pro Brasil? Ter o nosso filho perto da família?
– Bom, sim, mas... Eu tô confusa, na verdade. Você voltaria comigo? – Ele ficou quieto por um instante.
– É claro que sim.
– Você demorou pra responder. Qual é o problema? – Ele desvia o olhar do meu e deita ao meu lado na cama.
– Você quer ir vestir uma roupa? Tá difícil conversar com você assim. Ou se você preferir, podemos fazer amor e ter essa conversa depois.
– Não. Vamos conversar, meu estado de nervos não consegue relaxar pra fazer amor agora, e eu também tô com frio. – Levantei e vesti o moletom que eu estava usando mais cedo. Diego senta e se encosta na cabeceira.
– O Marc me indicou pra um teste. Uma produção da Broadway. – Diego diz quando eu volto pra cama e sento ao seu lado. Fico surpresa e feliz por ele.
– Diego! Parabéns meu amor, isso é fantástico!
– Só que não vai rolar.
– Por quê? Se foi o Marc que indicou...
– Porque vamos ter um filho, e voltaremos pro Brasil.
– Não. Quer dizer, sou eu que vou ter o bebê, eu quero estar com a minha mãe pra me ajudar e tudo o mais, você não precisa ir.
– É claro que eu preciso. Você vai ter um bebê que eu fiz, quero estar ao seu lado em cada momento.
– Você não pode abrir mão de uma coisa tão incrível quanto a Broadway.
– Eu não posso abrir mão de uma coisa tão incrível quanto ver o amor da minha vida tendo um filho meu.
– Mas Diego...
– Sem mas, Fedra. Você, e agora essa vidinha que tá aí dentro, são a coisa mais importante pra mim. A minha prioridade. – Ele disse olhando para a barriga e depois fixando o olhar em mim novamente. Eu fiquei emocionada com o quanto isso foi lindo. Diego está deixando passar o que pode ser a oportunidade da vida dele por minha causa. – Eu também não tô rejeitando nenhum papel, é só um teste. Poderia não dar em nada.
– Eu tenho certeza de que você passaria. Mas tudo bem. Então vamos pro Brasil?
– Assim que a semana acabar e eu for liberado desse último trabalho, cuidamos disso.
– Eu te amo! Acho que eu escolhi o pai do meu filho muito bem... – Falei sentando em seu colo e lhe dando um abraço forte que foi retribuído por ele.
– Você não faz ideia. Eu vou ser o melhor pai do mundo pra esse bebê. Amo você demais, e também já amo quem quer que esteja aí dentro! – Espero ele terminar de falar e lhe beijo, afobada. Tudo isso vai se convertendo numa intensidade incrível e fico excitada rapidamente.
– Amor, acho que meus nervos já estão relaxados. Você ainda quer... – Digo enquanto ele passa da minha boca pro meu pescoço e ele me interrompe.
– Nem precisa terminar a frase. – Ele diz me deitando e ficando sobre mim enquanto começa a tirar a roupa. Alguns minutos depois, estou sentindo coisas que só ele me faz sentir. Só ele pode me amar desse jeito, e eu nunca vou conseguir ser grata o suficiente pelo destino ter sido maravilhoso colocando esse homem na minha vida.
Nova Iorque, terceira semana de novembro de 2032.
Quarta-feira:
− É só ligar pros seus pais e dizer que vamos voltar. – Parece bem simples mesmo. Mas eu estou uma pilha de nervos pelo momento em que eles vão perguntar o porquê.
− Certo. Vamos voltar, porque não temos emprego pelos próximos meses. – Paro e fico pensativa.
− Já pode ligar, viu... – Diego chama a minha atenção.
− Amor... Como vai ser quando a gente voltar? Quer dizer, vamos ficar cada um na sua casa? Ou eu fico com você e a sua mãe...
− Vamos pra uma casa nossa. Isso é, se você aceitar se casar comigo.
− Isso é alguma piada? Porque até um filho você já fez em mim, acho que eu já sou sua mulher o suficiente... – Digo me aproximando e passando as mãos pelo pescoço dele.
− É sério. Precisamos nos casar. Não somos mais só nós dois, Fedra, começamos uma família. Vamos nos casar e ter um lugar pra nós dois e o nosso filho.
− Deus, os pesadelos do meu pai vão se tornar reais. Eu vou me casar, e ainda por cima, grávida.
− A primeira coisa que eu vou fazer quando chegar no Brasil é o pedido oficial ao meu sogrinho. – Ele me dá um beijo. – Então, você aceita?
− Você ainda pergunta? É claro que sim! Eu amo você!
− Te amo, minha Brilhantina! – Sorrimos um para o outro e ele me enche de beijos.
Recife, quarta semana de novembro de 2032.
Sábado:
− Casar? – Minha mãe repete explodindo de felicidade.
− Grávida? – Meu pai repete com incredulidade.
− Que notícia maravilhosa! – Marina diz entusiasmada.
Desembarcamos no Brasil há algumas horas e depois de eu comer uma torta de limão quase toda sozinha, de matar a saudade dos meus pais e dos meus irmãos, e Diego da mãe dele, estamos conversando sobre os últimos acontecimentos da nossa vida. Observo minha mãe pegar a mão do meu pai e tentar encorajá-lo a reagir. Ele ainda precisa responder ao pedido de Diego.
− Bom, ainda bem que pelo menos você vai casar com ela. É claro que você pode casar com ela, eu te faria casar com ela se você não tivesse o bom senso de me pedir isso. – Todos nos entreolhamos e rimos.
− Obrigada, pai! – Diego me deu um selinho.
− Mas, esse casamento tem que acontecer rápido, eu não quero minha filha entrando na igreja com uma barriga gigante. Quero vocês casados em um mês!
− Um mês, mas dá tempo planejar um casamento em um mês? – Eu perguntei.
− Daremos um jeito, filha, vai dar tudo certo! – Minha mãe diz.
− Certo, então, em um mês. – Diego repete.
− E até lá, a Fedra fica na casa dela, sozinha. Você não toca na minha filha até ser marido oficial dela. – Meu pai diz se direcionando a Diego.
− Pai!
− Maxon! – Eu e minha mãe falamos ao mesmo tempo.
− É isso mesmo! Minha filha esteve longe pelos últimos 5 anos, e volta me dizendo que vai sair de casa definitivamente pra casar e me dar um neto. Eu quero estar com ela durante o último mês em que ela vai estar aqui sendo simplesmente a minha filha. Minha Princesinha Brilhante. – Meus olhos se enchem de lágrimas ouvindo isso.
− Pai... – Vou até ele e sento ao seu lado lhe dando um abraço forte. – Eu já te disse uma vez e vou repetir: Eu vou ser sempre a sua Princesinha Brilhante. Eu te amo muito!
− Eu te amo, meu amor! Mas é sério, você vai ficar em casa sem o Diego até casar. – Todos rimos juntos.
− Tudo bem, pai!!! – Falo olhando para ele e em seguida encaro Diego.
− Tudo bem, sogrinho!!! – Diego confirma para ele. Minha mãe vem pra perto de mim também e me abraça animada, me parabenizando pelo bebê. Então estamos todos juntos de novo, como eu senti saudade disso.
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