1. Spirit Fanfics >
  2. Por Detrás do Sorriso >
  3. Destino (Parte 1)

História Por Detrás do Sorriso - Destino (Parte 1)


Escrita por: ArikaKohaku

Notas do Autor


oiee pessoal, estou muito cansada aqui, estou quase a dormir na realidade. Trouxe apenas metade do capitulo, normalmente nao gosto de dividir os caps em dois, mas neste caso é necessário. Quando acordar trago o resto do cap e respondo aos vossos reviews, ok? Obrigada.
Boa Leitura

ps - Sem revisão

Capítulo 18 - Destino (Parte 1)


Eu tremia. As minhas lágrimas caiam pelos meus olhos silenciosamente. Eu sabia que ele tinha tentado. Eu sabia que ele ainda tentava, mas também sabia que se continuasse ao seu lado acabaria certamente morto naquela vida. Mas a sabedoria dos ultimos tempos também me ensinara que tentar só, por vezes, não chega. Por vezes, temos que deixar o que nos prende, nem que seja o amor da nossa vida, para pudermos avançar, para não nos suicidarmos.

Com oito meses de gestação eu já devia saber o sexo do meu filho, já devia ter uma imagem dele retirada de uma ecografia. Devia ter uma cama onde pudesse deitar as costas que doiam louca e constantemente, devia poder comer tudo o que pudesse sem passar fome, porém não era tinha nada disso. Portanto, devia, mas não acontecia. Eu continuava a dormir num carro, podia contar pelos dedos as vezes que dormira numa cama nos ultimos meses, e passava fome. Antes isso não me incomodava, antes eu só precisava de pensar na minha sobrevivência, agora um ser crescia dentro de mim e precisava que eu agisse. Além disso, eu preferia um pedaço de pó do que comida...

A noite estava gelada. Não conseguia dormir por causa disso. Eu e Bin Sung estavamos enrolados. Sentados, comigo no seu colo, ele abraçava-me possessivamente, tentando inutilmente aquecer-me. Dera-me o seu último casaco em estado decente, e adormecera profundamente depois de ter a falta de vergonha de consumir à minha frente. Eu sabia que ele não iria acordar facilmente. Ele estava pedrado e eu com fome. Ele gastara o nosso escasso e quase nulo dinheiro em doses e eu apenas queria um pequeno pacote de bolachas.

Senti o bebé inquieto. Ele sentia o mesmo que eu. Andava com dores constantes nas costas e na barriga, nem sequer sabia se era dores normais ou não. Apenas não me queixava, porque sabia que não valia a pena. Passei as mãos sobre a minha barriga, sem saber como acalmar o bebé.

Mas eu não era burro, nunca fora, talvez ingénuo e mimado, burro não, por isso, sabia que aquela era a noite de avançar. Mesmo sentido que a minha alma me queria abandonar, mesmo sentido que o coração se iria despedaçar, mesmo com a porcaria do instinto omega a lutar contra o meu poder de raciocinio, eu iria fugir daquilo. Daquela vida que não era vida. Iria engolir o orgulho e pedir ajuda. Não podia ter orgulho, numa vida sem honra. Eu ia abandonar o meu alpha, de quem eu estava grávido. Era um pecado por natureza e parecia que isso fazia o meu corpo doer ainda mais.

Devagar, com dores, silenciosamente afastei os braços de BinSung de cima do meu corpo. E deslizei para o lado da porta do carro. Retirei o casaco e tentei cobrir Bin Sung com ele. Engoli todos os soluços que a minha garganta quis soltar mordendo os lábios o mais que podia. Eu amava-o tanto que me provocava enormes dores de cabeça, de tal maneira que estava quase cego. No entanto, eu tomara a decisão e não voltaria atrás. Era pelo meu filho que eu fazia aquilo, mais por ele, do que por mim.

Abri a porta do carro e o frio tornou-se ainda mais insuportavel. Não tinha roupas feitas para ele. Um vento humido soprava, fazendo com que o frio entrasse no meu corpo até aos ossos. Saí para fora, sentido que o mundo estava demasiado grande e aberto para mim. Metia medo. Estava no limiar, ainda podia recuar. Bin Sung continuava a dormir, nem o frio o acordava. Fiquei alguns momentos a olhar para ele. Pensei, se ele acordar eu fico. Mas ele não acordou. E eu fechei a porta.

Os passos que dava doiam, por fora, pois o meu corpo estava fraco, e por dentro, pois o meu coração sangrava. O raciocinio era minimo perante as dores. Não sabia porque estava com tantas dores. Seria do frio? Seria da fraqueza? Seria de tudo? Sentia medo, sentia que o mundo estava a trabalhar contra mim. Por causa da incerteza, não soube quanto tempo estive a andar pelas ruas daquela cidade.

A minha ideia era procurar uma associação, algum abrigo para omegas solteiros, e pedir ajuda. Existiam pessoas dispostas a ajudar-me, eu só precisava de me erguer e falar. Dei comigo a cambalear. E procurei um lugar para me sentar. Acabei no jardim de uma igreja. Ultimamente, por coincidência ou por costume, começara a acreditar que algo me guiava os passos e acreditei naquele momento que me sentara ali para ser protegido. Sentei-me num banco de madeira e deixei que o vento batesse contra o meu corpo.

Percebi que estava a arfar por causa do esforço. A noite já devia estar na madrugada e talvez a manhã estivesse para chegar. Foi quando uma dor cortante subiu desde o meu baixo ventre e se espalhou como um choque. E senti como se algo no meu interior tivesse explodido. Gritei. Não me conseguia mexer. Algo estava terrivelmente mal, senti liquido entre as pernas, mas como não conseguia ver, não sabia se era sangue ou outra coisa. Entrei em pânico e comecei a gritar, alguém teria de me ouvir. Berrei até ouvir vozes. Alguém me perguntava o que se passava, mas um novo assombro de dor fez-me perder os sentidos.

Quando a lucidez regressou ao meu cérebro tudo estava escuro, mas isso apenas porque eu ainda não tinha descodificado como é que se abria os olhos. Sentia-me calmo, mas era cansaço, e também compreendi que estava sedado. Existia o som do meu coração, que era motorizado por um máquina. Existia o cheiro a hospital esterilizado. Pelo menos, não existia dor, só dormência. Finalmente o meu cérebro lembrou-se de como era abrir os olhos e eu pude finalmente perceber que estava num quarto de hospital.

Era um quarto normal e sóbrio. Além da minha cama existia outra, que naquele momento não tinha ninguém, o que significava que estava sozinho. Reparei que estava a ser alimentado de forma intervenosa com um soro qualquer, pois tinha um catéter no braço. E uma pequena mola de leitura de batimentos cardiacos no dedo indicador esquerdo. Mas o que estava verdadeiramente diferente era a minha barriga. Eu sabia, o bebé já não estava lá. Onde estava?

Sentei-me. Estava realmente sedado, os meus movimentos estavam lerdos. Procurei pelo botão que normalmente existia para se chamar os enfermeiros. Encontrei-o ligeiramente acima da minha cabeça. Carreguei-o e esperei. Não veio só um enfermeiro, como também um médico. Tinham sorrisos nos seus rostos. Sorrisos de quem gostavam de me ver acordado.

- Sr. Kim, ficamos muito contentes por o ver acordado. Deu-nos um grande susto ontem quando chegou aqui. - Falou o médico enquanto escrevinhava qualquer coisa na placa de informações sobre a minha pessoa que se encontravam aos pés da cama. Não estava minimamente supreendido por ele saber o meu nome, devia ter fasculhado as minhas roupas, onde existiam os meus documentos. - Alguns cidadãos ouviram-no a gritar em frente da igreja, por isso, trouxeram-no para cá imediatamente. O senhor estava completamente desitradado.

O médico explicou-me o que se tinha passado comigo. Eu estava num estado de fraqueza extrema, de tal forma que o meu corpo, para me manter vivo achou melhor expulsar o que me podia matar, ou seja, o meu bebé. Pois o bebé a certo ponto tinha-se tornado num problema para o meu organismo, por causa disso, tinha entrado em trabalho de parto. Os médicos tinham feito o bebé nascer com uma cesariana.

- Não lhe vou mentir sr. Kim, apesar do bebé já estar completamente formado ele é demasiado pequeno, está demasiado fraco e tem alguns problemas respiratórios. O senhor já está estavel, portanto, agora a nossa prioridade é ele. Ainda estamos a fazer alguns exames e vamos precisar da sua ajuda para percebermos o estado do seu bebé. - O que ele queria dizer, é que precisava de saber certos aspectos da minha vida. E eu não lhe ocultaria nada. - Neste momento queremos apenas que o bebé ganhe força, até para poder receber tratamentos.

- Onde é que ele está? - Não me disse logo onde estava. Primeiro quis saber que tipo de vida levara até ali. A conversa foi longa e pelo meio fiquei a saber que o bebé nascera com apenas 1k e 800g e que era um pequeno alpha. O médico obrigou-me a comer antes de me deixar ir a outra parte do hospital onde puderia finalmente encontrar o bebé que tanto desejara proteger e conhecer nos ultimos tempos. A comida passava dura pela minha garganta apesar de ser um caldo de galinha. Era como se estivesse inchada de tanto choro e eu ainda não tinha chorado nada. Sentia a terrivel sensação de sentir a comida a descer desde a boca até ao estômago, um processo bastante normal se pensarmos que não tinha nada dentro do estômago.

Depois levantei-me da cama com a ajuda de um enfermeiro. Uma dor percorreu-me a barriga e eu percebi, pois antes disso não percebera, que o meu filho tivera de ser arrancado do meu corpo. Como eu detestei ter perdido os primeiros momentos do meu bebé no mundo. Do sofrimento do seu nascimento e da alegria de ouvir o primeiro choro após a primeira respiração. Como eu gostaria de o ter aninhado contra mim, ainda com ele quente do meu próprio corpo. Mas também tinha sido privado disso, como sem saber seria privado de muitas outras coisas.

De passos pesados apoiado em braços desconhecidos caminhei, puxando comigo um pequeno poste onde estava o soro que continuava a dar-me nutrientes e sedativos. Sai do meu quarto e encontrei um grande corredor. Não ouvia bebés, por isso, podia concluir que não estava numa maternidade e sim num hospital regular, talvez mais tarde fosse transferido. O meu bebé estava numa unidade de cuidados intensivos. Eu não sabia muito bem como me conseguia suster ou andar, as minhas pernas não tinham força, porém eu caminhava. Só não caminhava era rápido, parecia um caracol e isso irritava-me. Tinha uma ânsia gigante em conhecer o bebé. E aquele maldito corredor era enorme, tinha a sensação que nunca mais chegava ao fim. Gostaria de correr, mas nem o enfermeiro, nem o meu corpo me deixavam.

Descrever a sensação de olhar um ser pela primeira vez que nós conhecemos, mas que não vemos, que nós criámos, amámos e desejamos e finalmente vemos à nossa frente em palavras vai sempre ter um resultado infeliz, nunca vão existir palavras suficientemente bonitas para fazer essa descrição.

Não foi calma, não foi chocante, foi simplesmente aquilo que tinha que ser. Um misto de tudo. Ao meu lado o enfermeiro sorria ao mesmo tempo que me deixava aproximar da incubadora onde eu institivamente sabia que estava o meu filho. Era incrivel aquele poder omega. Mesmo sem nunca ter olhado para o meu bebé, eu sabia o seu cheiro, pois tinha um misto do meu.

Acho que sorri e chorei naquele momento. Finalmente estava ali aquilo que eu mais amava na minha vida, mais que a minha vida. A música era a paixão e o meu filho era o meu amor. Ele era pequeno e frágil. Estava ligado a oxigénio e a fralda que o envolvia era mais um vestido do que um acessório para ele libertar escrementos fisicos. Mas ele era perfeito.

- Que nome lhe vai dar? - Perguntou-me o enfermeiro, enquanto agarrava na pequena placa identificativa, que apenas tinha o meu nome ainda.

- Kim... Kim Bin Hyun... - Eu e Bin Sung tinhamos decidido que esse seria o nome há meses atrás, e eu habituara-me a ele.

- Adorável. - Respondeu o enfermeiro, escrevendo na placa o nome do bebé. - Agora está na altura dele comer...

- Está? - Espantei-me. Como é que eles dariam de comer a um bebé tão pequenino?

- Venha aqui sr. Kim.

A resposta veio depressa. Fui posto num sofá confortável, vestido com uma bata protectora e obrigado a esperar. Quando percebi a intenção do enfermeiro, senti o peito inchar, de medo e excitação. Aquele seria o meu primeiro passo como omma. Iria pegar em Bin Hyun ao colo. Iria ter o meu primeiro contacto com ele depois do nascimento.

O enfermeiro trouxe-o com todo o cuidado. E eu soube o que tinha que fazer instintivamente, ao mesmo tempo que caía em adoração. Tão pequeno e tão frágil, dependendo dos meus braços para ser protegido. Dependendo do meu corpo para se manter. Com cheiro tão doce e tão meu e dele. Ele era simplesmente tudo para mim. Um mundo novo dentro de um ser que era pouco maior que a palma da minha mão.

Um clique e um flash acordou-me da letargia em que tinha mergulhado. Pouco depois, o enfermeiro deu-me a fotografia que tirara com uma velha máquina polaroid.

- A primeira foto do omma com o Bin Hyun...

Sorri. Não sabia que seria a primeira e a unica...

- Diga-me, existem alguém que queira contactar?

- Não. - Pensei no meu omma. Mas perdera o direito até de lhe chamar omma. Como é que ele estaria? Triste, furioso, devastado, desiludido. Eu era o exemplo perfeito de desilusão de um filho.Era o filho que nenhum pai queria ter. - Não existe mais ninguém.

Eramos apenas eu e Bin Hyun...

oOo

Quando passamos por choques muito grandes, há parte das nossas memórias que se perdem. E eu perdi grande parte da memória do dia em que Bin Hyun deixou este mundo para ser uma estrela brilhantemente forte no céu.

Mas lembro-me da sensação horrivel de ouvir o seu coração parar. Ele estava nos meus braços quando isso aconteceu. Entrei em histerismo. Os médicos tentaram salvá-lo à minha frente. Nos meus ouvidos ainda existe o som dos meus próprios gritos. E nos olhos imagens borradas de toda a aflição.

Só parei quando fui domado pela força. Para me pararem tiveram que me tranquilizar. Eu acordei do meu sono induzido horas depois. A noite tinha caido, assim como a minha vontade de me manter naquele mundo. Estava cansado apesar de ter passado o dia todo a dormir. Tivera sonhos e pesadelos. Porém o meu maior pesadelo era aquela realidade. Estava lúcido suficiente para sentir que nada fora um sonho e que a realidade era aquela dor cruel.

Sentei-me na cama. Observava a chuva a bater contra a janela e não tinha outra palavra para descrever o que estava a sentir a não ser desolação. O que fazia ali naquele mundo? Não tinha qualquer sentido estar ali. Queria voltar à rua e afundar-me como a água na terra numa overdose de produto e morrer. Juntar-me a quem me tinha deixado.

Não tinha vida. Tinha-a desfeito com as minhas mãos em areia e Deus levara para os seus braços o ultimo grão de vida que existia no meu mundo. Ele fora justo, eu percebia que ele me dera uma grande lição. Aprendera a criar vida, mas não a mantê-la. Eu não tinha, se calhar nunca tivera, estatuto suficiente para ser Omma.

Mas então porque ele me tinha mostrado a maior forma de amor para depois me a tirar? Fora eu assim tão mau para que Deus me quisesse ver esmagado pela pior dor de todas? Ele fora tão injusto... Assim me levavam os sentimentos contraditórios de raiva ou de embaraço. Embaraço por ter falhado a minha função de proteger um inocente. Não seria eu considerado um assassino?

A porta do quarto foi aberta. O médico encarregado da minha pessoa entrou acompanhado de enfermeiros. Ao contrário das outras vezes que me visitara não vinha com sorriso, existia tristeza nos seus olhos. Eu sabia que também era penoso para os médicos perderem pacientes, mas era a profissão dele. Tinha que estar habituado. Mas naquele momento ele não estava ali para estar comigo. Vi-o fazer um gesto para o corredor. Pouco depois mais alguns enfermeiros entraram, mas traziam uma maca, assim como máquinas.

- Desculpe. Não tinha outro quarto disponivel. - Falou-me o médico. A sua voz soava suave. Parecia com medo das suas próprias palavras. E mesmo tentando com que eu não percebesse, percebi que ele me observava. - Vou mandar que lhe tragam comida... Mesmo que não queira... tente...

Não lhe respondi de maneira nenhuma, apenas voltei a minha cabeça novamente para a janela e continuei a ver a chuva a cair contra a janela. A água conseguia ser hipnotizante. E deixei-me ficar no meu silêncio, roendo o meu silêncio naquela dor que parecia que desfazia as células dos meu ser lentamente. Tortuosamente. Eu tinha apenas a esperança de que aquela dor me matasse. Eu queria agarrar o pequeno Bin Hyun novamente nos meus braços, nem que fosse no céu...

Ao meu lado as coisas ficaram silenciosas. Os enfermeiros e o médico tinham verificado todas as máquinas e deixado o paciente insconsciente quieto ali ao meu lado. Não me chateava a sua presença, no estado em que estava, fechado em mim mesmo, não me importava minimamente com o exterior. Além disso ouvira algo como “acidente” e “coma”, vindo da boca da equipa médica. Se calhar aquele ao meu lado ainda morrerria mais depressa que eu. No entanto, eu é que queria morrer.

Mais tarde, chegou um auxiliar hospitalar para me dar comida. Comer foi a ultima coisa que fiz. Ele saiu derrotado, depois de tentar falar comigo de todas as formas pessoas, recebendo o mesmo silêncio de sempre. Não tinha vontade de abrir a boca para nada. Não tinha forças sequer para pensar, queria apenas sentir aquela dor. Julgando cada vez mais que a merecia, que eu nascera para a ter.

O dia seguinte, que chegou perante os meus olhos, pois não pregara olho, teve uma actividade que me levou ligeiramente para fora de mim. Estava deitado na minha cama, os enfermeiros já tinham vindo dar-me um analgésico para as dores e tinham-me obrigado a comer uma barra de nutrientes, uma vez que não comera nada no dia anterior. Via as nuvens grandes e cinzentas a passarem no céu, quando a hora das visitas chegou.

Não sabia que era hora das visitas deitado na minha solidão, só compreendi quando a porta se abriu e quem entrou não era enfermeiro. Um adulto e duas crianças pequenas. Só os olhei por um pouco, pois fora desperto pelo som de passos e depois voltei a deitar-me. Porém fiquei a pensar. Aquela pessoa ao meu lado já era omma de duas crianças? Eu não olhara propriamente para o outro omega, mas tirei a conclusão que ele era bastante novo.

- Vô, appa está a dormir? - Questionou a voz cristalina, doce e inocente.

- É. O appa está a dormir. - Confirmou o mais velho. Notei cansaço na sua voz. Provavelmente tinha a noite inteira acordado.

- E quando é que vai acordar? - A voz de uma outra criança. Compreendi a tristeza que as crianças transportavam. Ainda não compreendiam muito bem o que se tinha passado com o seu progenitor, mas estavam abaladas com isso. Como podia o avô delas trazer aquelas criaturas tão pequenas para um sitio daqueles?

Ouvi as duas crianças murmurarem palavras bonitas. Ouvi os seus soluços. E fiz a comparação da situação delas com a minha. Eu perdera o meu filho, elas estavam prestes a perder um pai. O mundo era assim tão confuso?

A hora das visitas terminou. A noite chegou, os enfermeiros passaram pelo quarto para verificarem como eu estava e como estava o meu companheiro silencioso hospitalar. Trouxeram-me comida, que eu fui obrigado a comer com a ameaça que me metiam sobre soro agarrado à cama. E preparei-me para mais uma noite, da qual sabia que não dormiria.

Nessa noite pensei na minha guitarra. Ela ficara dentro do carro de Bin Sung. Pensei em Bin Sung. O que pensaria ele de mim naquele momento? Como estaria? Provavelmente estaria completamente furioso por o ter abandonado. Também deveria estar preocupado. Era tão irónico eu ter fugido dele para salvar o meu bebé e... ter acabado como acabara. Se calhar aquilo era um castigo, mais do que uma aprendizagem. Eu fora castigado por ter abandonado o meu alpha.

Naquele momento queria os braços dele ao meu redor... Lágrimas. Não vale a pena falar de lágrimas, devo ter passado aqueles dias todos com lágrimas nos olhos e nas bochechas, por isso, é desnecessário escrever sobre algo que era óbvio.

Levantei-me na manhã seguinte, pois apesar do meu coração apagado o meu lado humano continuava a funcionar e eu precisava de ir à casa de banho. Quando regressei ao quarto parei por momentos em frente do paciente em coma. Ele tinha uma beleza incrível. Os seu traços eram finos e bem desenhados. O seu cabelo ligeiramente encaracolado, com um corte, diferente.

Olhei para a sua folha clínica, que estava pendurada nos pés da cama. Chamava-se Kim Kibum, tinha menos um ano que eu, sofrera um coma provocado por um acidente de aviação e era... um beta? O que era um beta?

A hora das visitas chegou novamente. Desta vez, não dei pelas visitas chegarem. Depois de duas noites sem dormir, mesmo sem querer, o meu cérebro apagou-se. Quando acordei, ao final da tarde, porém, senti que algo estava diferente. A minha dor continuava, a minha vontade de me afundar também. Mas existia algo diferente no ar, uma sensação qualquer. A começar pelos dedos suaves que me acarinhavam o cabelo.

De olhos fechados, apreciando aquele carinho, eu ainda não sabia, mas o meu destino acabara de chegar, para me abraçar e para me puxar para cima. Ou para me puxar para o verdadeiro caminho da minha vida.

Abri os olhos e perdi-me na face que se encontrava à minha frente com um sorriso terno, como se fosse ontem que eu tivesse saído de casa. Um soluço subiu rapidamente pela minha garganta. Não sabia como é que ele me tinha encontrado. Não reparei nas suas rugas. Para mim, ele sempre seria bonito. Ele não me fez perguntas, eu não lhe fiz perguntas. Apenas nos abraçamos e eu chorei. Chorei a estupidez da juventude. Chorei a estupidez do meu eu adulto. Chorei os meus erros e as minhas desilusões. Chorei até as minhas aprendizagens. E o meu omma estava ali comigo, para chorar comigo. Para ser aquilo que sempre significara para mim, o meu porto seguro.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...