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História Por entre as esquinas - 7 - Saudades


Escrita por: suuh_suuh_

Capítulo 7 - 7 - Saudades


Fanfic / Fanfiction Por entre as esquinas - 7 - Saudades


Já faz duas semanas  que tô morando na rua, e sem ver minha família.

Até agora não tive problemas por morar na rua. Tipo brigas ou confusões.

Tem um ou outro morador que vem encher o saco da gente, ainda mais quando eles tomam alguma coisa ou usam. Se é que vocês me entendem.

Eles não conseguem dormir ai não deixam você dormir também.

A parte mais complicada é passar dias e dias sem comer, sem tomar água, sem trocar de roupa, sem tomar banho.

Estou me sentindo um lixo. Literalmente.

A saudade da minha mãe e de Sofia estava tão grande que eu comecei a andar, e quando percebi estava agora em frente à minha casa. Pra ser mas exata, estava do outro lado da rua atrás de uma árvore.

Não sei exatamente o horário mas, acho que está próximo do horário da minha mãe chegar com Sofia do colégio.

Tô com muita saudade daquela pequena. Saudade de nossas conversas, das nossas brincadeiras, saudade de tudo.

Só quem tem uma irmã ou um irmão que se dão bem sabe o que eu tô falando.

Vejo um senhor se aproximando, ele está com umas sacolas na mão, ele deve ter ido no mercado fazer umas comprinhas.

Ele vem se aproximando de mim, caminhando lentamente.

Resolvi perguntar as horas para ele, mais no momento que ele percebe minha presença ele se assuta.

Também né. Imagina aí você caminhando de boa na rua e aparece uma moça toda suja, com as roupas rasgadas e cabelo todo desarrumado.

Você iria se assustar né? Claro que iria!.

Como percebi isso nele, fui como eu sempre faço. Chego na educação e com calma.

-Senhor. Por favor, o senhor poderia me informar as horas?.

Ele fica apreensivo. Deve estar com medo de eu roubar o relógio, celular e dinheiro dele.

Ele olha para os lados, com medo de que eu esteja ali somente pra servir de isca para os outros bandidos assaltarem ele.

Mais ele vê que não tem nada disso, então olha no meu rosto e deve ter visto na minha fisionomia que não faço mau pra ninguém.

-Não se preocupa. Eu não sou bandida, eu não vou roubar o senhor!

-Claro mocinha - ele sorri - Desculpa te julgar assim, mais esse bairro é perigoso.

-Sim, eu sei muito bem. Até duas semanas atrás eu morava ali - aponto pra casa da minha mãe - Mais aconteceu uma coisa nesse tempo aí, que me fez estar onde estou agora.

-Eu sinto muito. - diz ele sentido com minha pequena história de vida.

Ele erguer o relógio do braço até próximo do rosto para verificar as horas.

-Bom.... deixe-me ver aqui. Agora são 5:25 da tarde. - diz abaixando o braço.

-Muito obrigado senhor. Eu agradeço!

-Imagina. Você deve estar com fome né.

-O senhor não faz ideia. Mais tenho que me acostumar com isso né.

Ele coloca a mão dentro de uma sacola verde com o nome do mercado e tira de la um pacote de bolacha. Ele pega a bolacha e coloca em outra sacola desta vez branca. Da um nó e me entrega.

-Toma. Pode pegar, uma mocinha linda que nem você precisa se alimentar.

-Não precisa senhor. - recuso o alimento.

-Eu insisto. Pode pegar.

Eu meio sem jeito pego a sacola branca da mão do senhor.

-Muito obrigado tá. Eu agradeço de coração.

-Imagina. Agora preciso ir. Até mais mocinha que não sei o nome. - ele ri - e se cuida.

-É Camila. - Falo meu nome para o senhor quando ele passa por mim.

-Eu sou João. - ele para e se vira pra mim novamente e estende a mão pra me cumprimentar - prazer em conhecê-la e tchau Camila até qualquer hora.

-O prazer é todo meu - retribuo o aperto de mão - Tchau seu João, até.

Ele continuou seu caminho, e eu fico ali atrás da arvore á espera de ver minha mãe e minha irmã novamente.

Fiquei mais uns 5 minutinhos esperando, até que as vejo!

Mamãe está com uma blusa florida e uma calça jeans e seu inseparável tamanco no pé. Já Sofia está com seu uniforme e sua mochila nas costas e o seu cabelo amarrado um rabo de cavalo bem no alto da cabeça, ela está comendo jujubas ela é doida por essa bala.

Eu fico pensando se devo ou não me aproximar mais eu estou toda suja, sem escovar dente, sem pentear cabelo, sem tomar um banho decente. Elas não vão querem ficar perto de mim.

Será que elas vão querer ficar perto de mim?

Penso bem, e decido não me aproximar. Prefiro observar elas de longe. Elas estão bem, parecem felizes sem minha presença.

[...]

Mais duas semanas.

Oficialmente um mês na rua.

Estou andando há mais ou menos uns 20 minutos pelo centro da cidade, até que vejo uma loja de eletrônicos, aí eu lembro do meu celular que estava abandonado no bolso da minha blusa.

Eu nem pegava ele porque estava a umas duas semanas descarregado, aí nem tinha como eu mexer.

Eu decido ir lá pra ver se eles me emprestam  carregador pra poder ter pelo menos uma distração. Por que tá complicado essas semanas.

Estou na frente da loja, eu não estava com uma bela apresentação por conta das roupas sujas, o sapato que agora esta estourado, meu cabelo bagunçado. Eu não estava apta para entrar nessa loja, na verdade em nenhuma loja. Mas eu vou tentar entrar lá e falei com o vendedor.

-Com licença moço. Você poderia me emprestar o carregador por cinco minutinhos.

-Não posso moça. Meu chefe não permite que a gente empreste o carregador ou qualquer outro produto para moradores de rua,  desculpa.

O atendente era um rapaz jovem. Tinha no máximo seus 20 anos e entendo que ele tava fazendo o trabalho dele. Meu não vou desistir.

-Por favor. Eu tô esperando uma ligação muito importante, pode ser minha mãe sei lá...querendo que eu volte para casa.

-Moça isso vai acabar me complicando!. - sinto desespero em sua voz.

-Você mesmo pode colocar, toma pegue. - Aponto o meu celular para ele. Ele recua um pouquinho mais pega o celular.

-A tua sorte é que meu chefe está no almoço, então uns cinco minutinhos pode ser tá?.

-Serio? Você não saber o favor que está me fazendo! Obrigada. - Nisso ele coloca o celular para carregar - É eu vou aguardar ali na frente tá. Não quero encomodar aqui dentro.

Eu me encaminho pra frente da loja, me sento encostada na parede.

Algumas pessoas passam e eu acabo pedindo umas moedinhas que seja, pra tentar comer.

Meu celular ficou 20 min carregando. Agradeci demais ao atendente e esse meio tempo consegui uns 5 reais.

Pelo menos hoje vou ter algo pra comer.

Eu estava com pressentimento bom, não sei mais eu estava me sentindo tão bem hoje.

Peguei meu celular e agradeci o rapaz muitas vezes por sua boa ação.

Voltei até a frente da igreja e peguei meu celular e liguei. Começou a chegar umas notificações e mensagens. Mais uma delas me chamou mais atenção.

Era um número desconhecido e eu com toda minha curiosidade fui lá e abri.

Arregalo os olhos surpresa quando comecei a ler. EU NÃO ACREDITO!!!

Mensagem...

___________________________________

Olá, boa tarde.

Aqui é do escritório do senhor Mendes. Da Mendes Enterprise.

Vimos o seu currículo e achamos interessante.

Gostaríamos de marcar uma entrevista com você.

Eu sou a secretária do senhor Mendes e vou até Miami fazer entrevistas para a nova secretaria do filho dele. Vai ser inaugurada a nova sede da empresa aí.

Se ainda se interessa pela vaga é só responder.

" sim ainda quero concorrer"

E em seguida mandaremos o dia e o endereço do local.

Aguardamos por você.
___________________________________

MEU DEUS.....

Eu não tô acreditando...

Se for um sonho por favor não me acorde...

EU TENHO UMA ENTREVISTA....

Começo a dar pulos de alegria nas escadas da igreja e fico correndo entre os degraus. Tem algumas pessoas que estão passando pela rua. Mais eu não estou nem aí.

-Eu tenho uma entrevista....eu tenho uma entrevista. - começo a dançar e a rir que nem uma idiota, mais foda-se tô mega feliz....

E agora eu precisava estar com roupas novas, banho tomado, dentinho escovado e cabelo penteado eu estava pronta para tentar uma nova vida.

Droga. Estava até esquecendo, eu preciso responder!!!

Na mesma hora eu me sento nas escadas, e começo a escrever a mensagem de retorno para a secretária do senhor Mendes.

"Sim ainda quero concorrer" - escrevo respiro fundo e aperto em  enviar.

Dois minutos depois ela responde.

___________________________________

Ótimo que ainda está interessada.

A entrevista será dia 03/03.
Av. Brickell ave, n°1994.
No centro de Miami.
As 08:00 em ponto e sem atraso.

Aguardo você... E por favor seja pontual, isso vale muito.

Até breve.

___________________________________

A sorte está lançada, e eu vou conseguir.

masssss...

Minhas roupas estão na minha casa. Agora como que eu vou fazer para pegar!

Se eu entrar lá minha mãe vai me matar.

Olho as horas no celular e são 15:23 da tarde e hoje é dia 02/03. Meu Deus é amanhã!

-Bom nesse horário normalmente minha mãe não tá em casa - falo sozinha. - Quer saber eu vou tentar. É minha única chance.

As 16:00 tô na frente do portão da casa da minha mãe. Entro e vou até a porta. Testo o trinco e fechada.

Murmuro um droga...

Vou caminhando até a lateral da casa, onde fica meu quarto e olha a novidade fechado também.

Minha mãe tem a mania de deixar a porta que dá para a cozinha aberta, a porta fica nos fundos.

Vou até lá e é minha última chance, porque quebrar a janela eu não vou.

Vou até a porta de vidro e coloco a mão na fechadura e viro.

Tcharamm.... Ta aberta.

-Isso - comemoro

Entro dentro da casa e observo cada cantinho de cada canto. Vou em todos os cômodos. Passo pela cozinha vejo tudo arrumadinho, passo pelo quarto da minha mãe e sinto aquele cheirinho maravilhoso dela, e também vou até o quarto da Sofia, vou até a cama dela e passo a mão delicadamente sobre o travesseiro, vou até a escrivaninha dela e observo nossas fotos. E me bate uma saudade.

Por último entro no meu quarto, e vejo todas minhas coisinhas no mesmo lugar que eu deixei.

Estava tudo limpinho, isso quer dizer que minha mãe entrava aqui para limpar, como sempre fazia e ainda dá pra sentir o cheiro dos produtos de limpeza que ela usa.

Vou até meu armário e pego minha mochila de colégio, retiro todo meu material de dentro, e deixo em cima da cama. Logo em seguida volto até o armário pego algumas mudas de roupa, dobro e deixo arrumada em cima da cama.

Depois que pego tudo que eu preciso, começo a colocar dentro da mochila. Pego a última peça de roupa coloco na mochila e fecho o zíper.

Vou até a pasta que fica em baixo das camisetas e pego meu documento de identidade, e coloco na bolsa também.

Vou até o armário pego uma camiseta, uma calça de moletom que eu amo e um conjunto de roupas íntimas, abro uma gaveta onde ficam as toalhas de banho e pego uma.

Decido tomar um banho.

Vou até o banheiro tiro minha roupa e abro o chuveiro. Entro debaixo daquela água quente e deixo meu corpo relaxar. Depois de uns minutos que pareceram horas eu sai e voltei até meu quarto.

Coloco a mochila no ombro e vou caminhando até a porta, coloco a mão na fechadura para abrir, e paro no mesmo instante que escuto aquela voz.

-Sofia porque você deixou a porta aberta filha?. - minha mãe pergunta pra Sofia.

Mais que droga elas chegarem mais cedo. Fudeu!!!

-Mais eu não deixei mãe, eu encostei a porta antes de sair. - ela responde com a voz calma.

-Você tem certeza? - mamãe insiste.

-Sim mamãe!

-Tudo bem. Fica aqui Sofia, não se atreva sair. - dá pra ver na sua voz que ela está apreensiva - Acho que alguém entrou aqui.

-O QUE UM LADRÃO. - assutada Sofia fala um pouco alto demais, nossa mãe repreende.

-Quieta Sofia. Eu vou verificar.

Aí caramba ferrou e agora !!!

Tiro a mão da porta e vou até a janela, deixo ela aberta enquanto pego minha mochila e jogo para o lado de fora.

-TEM ALGUÉM AQUI! - Exclama minha mãe, e sua voz mais próxima do meu quarto.

Coloco um pé pra fora da janela, olho pra trás e vejo o porta retrato da nossa família.

Pego ele e voltando até a janela pego o carregador em cima da escrivaninha. Só que como boa desastrada que sou deixo algumas canetas caírem e minha mãe escuta.

-EU TO LIGANDO PRA POLÍCIA, TA ME ESCUTANDO? NtAO TEM PRA ONDE FUGIR.

Deixo as canetas pra trás, e pulo a janela. Já do lado de fora fecho a janela devagar pra não fazer barulho.

Quando tô terminando minha mãe abre a porta e no mesmo momento eu me abaixo.

Fico um tempo ali até não escutar mais nada e vou abaixada próxima a parede até a frente da casa.

Chegando lá corro até o portãozinho de entrada. Passo por ele e corro, mais corro tanto, corro sem olhar pra trás o mais rápido que posso.

Até que chego no meu lugar.

A minha casa.

A rua.

Naquela noite, de todo o tempo que eu to na rua, essa é a primeira vez que eu me sinto em casa.

Mesmo estando longe, por aquele simples porta-retrato, amenizou um pouco da saudade que eu sinto da minha família.

Dormi agarrada nele, e acordei da mesma maneira. Não desgrudava por nada daquele porta-retrato.

See you later *-*

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