História Por trás da vida virtual - EM HIATO - Ampliando a rede de mentiras?

Automaticamente fico tensa. Não estávamos fazendo nada de errado, quer dizer, estávamos, mas não sentido que imagino se passar em sua cabeça.

Movo nervosamente a cabeça, negando qualquer coisa que Sasuke ouse dizer e sinto meu corpo inteiro tão rígido quanto um diamante. Isso não pode estar acontecendo, não agora.

Uma avalanche de medo me atinge. Sei muito bem como Sasuke reage diante do ciúme e ainda lembro como se fosse ontem, como ele reagiu diante do ocorrido envolvendo Sasori. Não posso deixar as coisas saírem do controle logo agora.

Dou um passo a frente e sou parada por uma das mãos de Itachi-san em minha cintura. Estava ao ponto de encará-lo interrogativamente, enquanto recuava de suas mãos, até acontecer. Foi tudo muito rápido, tão rápido quanto um piscar de olhos. De repente me vejo presa num abraço apertado de Itachi-san. A mão que estava em minha cintura, escorrega espalmada para o meio de minhas costas, na altura da lombar e a outra, aninha minha cabeça em seu peito.

- Mas... Mas o que...? - balbucio, porque as palavras simplesmente não saem.

Da posição em que estou, não consigo ver mais Sasuke. Itachi-san está de costas para ele, ainda me prendendo contra seu peito.

Seus dedos se apertam sobre minhas costas e cabeça, antes de se afastar, apenas para sua cabeça ficar ao lado da minha e sua boca próxima ao meu ouvido - Cuide bem do meu irmãozinho tolo, Sakura. O faça um homem feliz. O faça conhecer, provar e agarrar o amor e eu ficarei feliz. - sussurra roucamente em meu ouvido direito e agora sim, posso ver por cima de seu ombro o rosto de Sasuke.

Está bravo. Furioso. Seus punhos fechados fortemente. Os ombros tensos, levemente erguidos. A expressão facial endurecida, apesar de impassível.

Sinto Itachi-san plantar um beijo casto no topo de minha cabeça e se afastar para me olhar, ignorando completamente seu irmão atrás de si. Sorri pra mim, um sorriso estranho. Um sorriso que nunca vi e que nunca mais quero ver, porque me incomoda. Me faz sentir a bile subir a garganta e um aperto no peito sem nem mesmo saber o motivo. Parece um sorriso triste, doloroso, mas por que?

Meu cenho franze e abro a boca para lhe perguntar, mas ele se vira para Sasuke, se afastando de mim.

- Estava esperando Sakura sair do banheiro e antes que ela fosse encontrar você, quis lhe dizer como sou um ótimo irmão e quero ser melhor ainda como cunhado. Então se por um acaso você não puder dar atenção a ela e ela sentir sua falta, me procurar. A consolaria de boa vontade para você e afastaria quaisquer sentimentos de abandono. - responde naturalmente, com um sorriso cretino nos lábios, despertando em meu interior até minha quinta geração de fúria. Como um tomate, imagino, tremendo de raiva e completamente constrangida, encaro a lateral do rosto de Itachi-san, que acena para Sasuke e depois se vira para mim - Não se esqueça, cunhadinha. Me procure se precisar. - em continência, bate levemente os dedos indicador e médio contra a testa, como fiz com ele mais cedo na Uchiha´s INC. e pisca para mim, me fazendo esquecer qualquer coisa que eu queria perguntá-lo pelo que aconteceu agora a pouco e apenas querer bater. Bater nele mais que tudo, não, melhor, será que tem alguma faca ou arma por aqui? - Vou ao banheiro. - diz, entrando e me deixando sozinha com Sasuke.

Cretino. Além de me deixar mais constrangida que uma "puritana num bordel", ainda me deixa sozinha para encarar Sasuke.

Vem até mim e é nítido que está analisando minhas reações. Merda. Não consigo nem respirar. A tensão pode ser vista e pior, sentida. No topo. No seu auge. No clímax eminente.

Inferno.

- O que falavam? - com a mão desocupada, prende meu queixo com os dedos polegar e indicador, erguendo meu rosto. Sua voz soa como um leve e cauteloso sussurro, longe de ser os sussurros que costumo ouvir ao pé do ouvido.

Bom, levando em conta como reagiu até agora às graças de Itachi-san, achei que no mínimo explodiria. Gritaria horrores como no dia envolvendo Sasori, voaria para cima de Itachi-san e me condenaria para o resto da vida, mas não, só há sua complacência paciente e ações e olhares atentos, porém neutros.

Estreito discretamente os olhos sobre seus finos lábios em uma simples linha reta e volto a subir meu olhar para o seu.

Há algo errado. Posso sentir. Está agindo assim apenas para mascarar seu real estado.

Mordo o lábio inferior nervosamente. O que respondo?

Seu rosto se aproxima do meu - Já disse para não morder o lábio. - sussurra roucamente.

Arregalo os olhos e observo seus cílios baixarem, enquanto seus ônix encaram com ferocidade meus lábios. Seu polegar roça meu lábio inferior, o desprendendo de meus dentes. Seus cílios sobem preguiçosamente e seus ônix encontram minhas esmeraldas - Fiz uma pergunta, Sakura. - seu polegar abandona meu lábio inferior e a mão se espalma em minha nuca, acariciando os pequenos fios eriçados.

Merda. Sasuke é um poço sem fundo de sedução, mal consigo raciocinar direito.

Meu ombro tenciona e forço centímetros minha cabeça para o lado, para aliviar a tensão que domina rapidamente a nuca, pelo contato com a mão de Sasuke.

- Itachi-san apenas qui-quis dizer que... Que está feliz por nós... - sussurro, fechando os olhos. Me deixando levar pelas carícias de Sasuke em minha nuca - Nã-Não com e-essas palavras... Sasuke para! - abro os olhos, completamente irritada pelo que está fazendo comigo. Cara, eu nem costumo gaguejar desse jeito!

Ele ri, um riso preso em sua garganta, mas mantém o carinho leve e sedutor em minha nuca. Dá mais um passo à frente, roubando completamente até o mínimo espaço entre nós e sussurra, de forma rouca, baixa, tão baixa que ouço suas palavras, mas não as compreendo de imediato - Quais palavras Itachi usou? 

Sua mão agarra meus fios e os puxam levemente para o lado esquerdo, tombando minha cabeça. Logo sinto seus fios fazerem cócegas em minha bochecha direita. Roça deliberadamente seus lábios em meu pescoço, traçando um maldito caminho da minha clavícula até a orelha e isso me hipnotiza.

No automático, ouço minhas palavras saírem fracas, perturbadas, mas claramente carentes, como um ronronar de um gatinho querendo mais carinho - Pra-Pra eu cuidar de vo... - um suspiro escapa ao sentir seus dentes no lóbulo - Vo-você... E... Oh... - uma leve mordida, seguida do toque de sua língua ali.

- E o que mais? - pergunta sedutoramente, instigando minha matraca a me ridicularizar.

- E te fazer fe-fe-fel... - minha língua trava, ao sentir sua língua úmida escorregar do lóbulo de minha orelha para meu pescoço.

- Feliz? - deixa meu pescoço apenas para questionar e quando percebe a cooperação de minha boca pelo entorpecimento da minha razão, retorna ao trabalho pervertido.

- Sim, sim... - digo rapidamente - Sa-Sasuke... - grudo num punhado de seu cabelo, quando o sinto morder meu pescoço.

- E o que mais? - impõe, quase que impacientemente agora.

- Para fazer você conhe-conhecer... - mordisca meu ombro de forma que até perco as palavras e depois de gemer involuntariamente, me dou conta do que está fazendo - PARA DE ME MORDER DESSE JEITO! - grito e o afasto com um empurrão e me viro, ficando de costas para ele - Mas o que diabos pensa que está faz...

Me abraça pelas costas, me pegando totalmente desprevenida e quase me engasgo com minha própria saliva.

- Conhecer? Conhecer quem? - por sorte, não há mais rastros daquele Sasuke que estava me levando a loucura com aquele jogo de sedução, há apenas curiosidade e uma alta e imatura dose de curiosidade.

Solto um riso curto e me viro, enlaçando seu pescoço - Conhecer, provar e agarrar o amor. - lhe dou um beijo singelo e o olho. Estou feliz por Sasuke não enlouquecer e não entender tudo errado como achei que entenderia - Disse que ficará feliz por nós.

Seus ônix nublam e os olhos se estreitam maliciosamente por segundos - Eu estou feliz por nós. - sussurra em meu ouvido - E você? Está? - seus lábios roçam meu pescoço de novo e me arrepio por completo.

Sinto sua mão no pescoço mais uma vez - Si-Sim... - ofego, sentindo sua língua passear pelo pescoço como mais cedo.

Kami! Vou enlouquecer!

Me arrepio, mais e mais.

Sua mão abandona minha nuca e desce por meu peito, até encontrar minha cintura. Num único movimento, me puxa para si.

Um ofego escapa com o movimento e hesitante, levo uma das mãos em seu ombro.

Sinto sua língua no lóbulo de minha orelha, depois seus dentes o prendendo e o puxando levemente - Com saudades? - sussurra, em um tom perverso e malicioso - Responda, Sakura. - impõe ao ter apenas meu silêncio.

- Sim... - minha voz sai trêmula e percebo minha respiração irregular - Oh! - um grito escapa junto a um suspiro, quando me prensa contra a parede. Kami! Itachi-san pode sair desse banheiro a qualquer momento - Sa-Sasuke! - seu nome escapa com meu ofego.

Um riso gutural causa ondas de arrepios por todo o meu corpo - Eu também estou com saudades de você. - sussurra contra meu ouvido. Sua boca desce para meu pescoço, onde roça os dentes - Do seu corpo. - morde na curva entre o ombro e pescoço - Dos seus gemidos. - o beija fervorosamente, entre chupões e mordidas, até arrastar a boca mais uma vez ao meu ouvido - Do meu nome em sua boca enquanto chegamos ao...

O som da porta sendo destrancada, praticamente atrás de nós, soa e Sasuke beija minha bochecha e rapidamente meus lábios antes de se afastar.

- Pegue seus dangos e vá embora. Sakura e eu temos muito o que conversar. - Sasuke recompõe sua postura firmemente. Nem parece que estava me torturando como estava.

Já eu, não sei onde enfiar a cara. Deve estar escrito em minha testa que estávamos fazendo algo que não deveríamos fazer nesse momento.

Levo uma das mãos ao pescoço e desvio do olhar curioso de Itachi-san sobre mim, depois do que ouviu de Sasuke.

- Mas que falta de educação, irmãozinho. Me convida para jantar, para me expulsar de sua casa. - o tom zombeteiro não deixa sua voz. Sorrindo, passa por Sasuke, pegando a caixa que estava em sua mão e para em minha frente - Foi um prazer finalmente conhecê-la, cunhadinha. - pega minha mão e a beija, me lançando um olhar claramente malicioso - Espero que sobreviva ao Sasuke.

Sasuke o puxa pelo ombro - Já se despediu. Agora vaza.

Itachi-san ri e pisca para mim - Até breve. - diz, acenando enquanto anda na companhia de Sasuke.

Fico sozinha ali parada tentando digerir os últimos minutos. Como Sasuke consegue mudar tão fácil suas faces? Kami, nem parecia que...

Um arrepio percorre meu corpo e de repente me sinto ansiosa. Solto um riso baixinho nervoso e olho para o quarto. Meneio a cabeça, prendendo o sorriso nos dentes. Droga. Sou uma boba pervertida.

Melhor eu sair daqui, antes que Sasuke apareça e desapareça com minha sanidade mais uma vez.

~*~

"- Sakura. - Sai me chama e o olho - Segredos enfraquecem laços."

~*~

Minhas pernas travam, antes mesmo do primeiro passo e meus olhos arregalados fixam em um ponto qualquer.

Sei que Sai tem razão, mas o que devo fazer?

Mais lembranças me atormentam.

~*~

"- Éramos irmãos. - ouço Sai dizer e assombrada, o encaro - Nos conhecemos em um orfanato e crescemos juntos. Mesmo sendo totalmente o oposto de mim, Shin nunca me deixava só. Quando atingimos a maioridade, decidimos que nunca nos separaríamos e então Danzou-sama nos acolheu e nos treinou e sempre ficamos juntos. - mais lágrimas surgem em meus olhos, dessa vez em peso. Então estava certa. Fungo e me encolho, me abraçando - Shin sempre se preocupou comigo e sempre me ensinou coisas boas. Eu era vazio demais para aprender sozinho. - mais e mais lágrimas saíam de meus olhos e mais ficava inconformada pelo que ouvia - Ele insistia em mostrar que nós fomos criados para sentir e que eu estava vivendo errado e quando eu finalmente estava aprendendo... - sua voz foi sumindo até que nenhuma palavra mais foi dita."

~*~

Deliberadamente as lágrimas se acumulam em meus olhos. A dor da perda substituí rapidamente qualquer coisa que eu sentia.

É impossível deixar de lado o que houve hoje. A notícia envolvendo Shin, tudo que Sai contou, tudo o que eu vi. A cena de Sai expressando verdadeiramente seus sentimentos frente aquela pintura, passa diante dos meus olhos como um filme.

~*~

"- Você pintou? - aponto para a tela. O vejo assentir, apesar de permanecer em silêncio. Me aproximo da tela e deixo meu indicador correr pelos traços negros, subindo e descendo com os montes sinuosos - É uma pintura muito...

Sai me interrompe - Vazia.

O olho assustada por seu tom e fico ainda mais quando vejo seu estado.

Sai encara a tela com os olhos carregados de emoção, de dor, de lágrimas. Lágrimas que escorrem por suas bochechas num choro mudo. Seus punhos estão fortemente fechados, trêmulos e sua postura levemente arqueada para frente. Os ombros sofrem espasmos, deixando explícito seus soluços mudos pelo choro inconsolável.

- Sai... - sussurro, automaticamente erguendo uma mão em sua direção.

Quero abraçá-lo e tentar aliviar um pouco de sua dor, mas não sei como fazê-lo. Sai sempre se manteve muito distante e completamente inexpressivo, não sei como vai reagir a algo tão sensível como um abraço.

O vejo abaixar a cabeça e chorar ainda mais. Se entrega completamente ao choro e quando percebo estou fazendo o mesmo.

Em meio as lágrimas, olho novamente para a tela, me questionando sobre sua história. O que há nela para fazer Sai chorar desta forma?

De repente ele cai sobre os joelhos e se encolhe. Parece uma criança assustada, parece eu quando era uma criança, completamente assustada no velório da mãe de Okasan.

Instintivamente me abaixo e abraço Sai. Afago suas costas e trago sua cabeça ao meu peito, acariciando seus curtos fios negros, como Okasan fez comigo naquela vez.

Sai não repulsa meu ato. Continua observando a tela, enquanto mais lágrimas caem.

Já estou ao ponto de soluçar entre ofegos de tanto chorar e Sai não está diferente de mim. Após um tempo, uma de suas mãos afagavam meu braço, que estava próximo ao seu rosto, como se quisesse retribuir o que fiz por ele.

Por todo esse tempo ficamos em silêncio. Sei que Sai já tem muito com o que lidar e não quero lhe dar mais. Palavras de conforto talvez o deixem pior.

O sinto me afastar cuidadosamente, enxugar as lágrimas e assentir para mim - Obrigado. Estou melhor.

Assinto e me levanto, o vendo fazer o mesmo."

~*~

Assenti e me levantei, como se estivéssemos de fato melhor, mas sabia que não estávamos. Perder alguém causa um buraco tão grande, uma dor tão sólida e onipresente, que é mais que óbvio que se entregar a ela por alguns minutos não é o suficiente. A ausência machuca, ainda mais quando estamos envoltos à lembranças, que insistem invadir nossa mente sem bater na porta, sem aviso prévio, sem pesar se é um bom momento para isso, como agora. 

E como uma coisa sempre leva a outra, num efeito dominó, lembro-me vividamente como se fosse hoje, as últimas palavras que troquei com Shin.

~*~

"Olho para Shin e tiro do seu rosto, alguns fios grisalhos que grudaram pelo suor - Me desculpe, Shin... Eu tentei... - as lágrimas fogem em peso agora e me debruço sobre ele.

Sinto sua mão fria sobre meu ombro e volto a ficar ereta, enquanto seguro sua mão.

Nesse momento, não consigo mais lamentar ter vindo. Imagine como seria estar a beira da morte desse jeito, sem ninguém por perto o acalmando.

Forço um sorriso e percebo que tenho que me manter calma, para acalmá-lo - Vai ficar tudo bem, Shin... Por Kami! Esses caras são osso ruim, mas vou tentar de novo... Eles vão ter que trazer a janta, né?

Ele sorri, mas volta a expressão de dor em seguida."

~*~

Uma enxurrada de lágrimas se faz presente e perco as forças nas pernas, caindo sobre meu joelhos. Levo as mãos ao rosto, fechando os olhos para tentar não ver diante deles aquele último sorriso que Shin direcionou a mim.

Foi um sorriso tão lindo, calmo, gentil, acolhedor e protetor. Mesmo sofrendo, mesmo sentindo dor, Shin sorriu para me proteger do desespero que me invadia pela simples possibilidade de ele não aguentar e não sobreviver.

- Sakura.

Ouço Sasuke me chamar e ergo a cabeça rapidamente. Está assustado com meu estado. Olha para todos os lados procurando por uma explicação.

De repente vê-lo me fez querer chorar ainda mais e nem sei o motivo.

Choro. Ainda mais que quando estava com Sai. Talvez porque com ele, me sentia na obrigação de tentar ser mais forte, para confortá-lo, mas aqui, agora, eu não preciso tentar ser forte. Não preciso maquiar o quanto a morte de Shin me afetou.

Sasuke rapidamente vem ao meu encontro. Ajoelhado, me aninha num forte abraço - O que houve? - uma mistura contraditória de calma e angústia pesa sobre sua voz.

- U-Um amigo... - soluço sem querer e enterro meu rosto em seu peito, segurando fortemente sua camiseta - Fale-leceu... - fungo e um suspiro pesado escapa - E... Dói tanto, Sa-Sasuke...

- Shhhhh... - beija o topo de minha cabeça e a afaga carinhosamente.

Não sei se lhe falta palavras, mas gosto de seu silêncio. Não exige de mim uma conversa e não diz mais nada, apenas me deixa chorar. Ouve pacientemente meus grunhidos aflitos e dolorosos, que a garganta insiste em soltar. Talvez grunhir é a forma de meu corpo mostrar que dói.

Em certo ponto, Sasuke me pega no colo e nos leva para a cama. Ainda estou aninhada sobre ele, que me abraça protetoramente.

Aquele silêncio que sempre nos foi confortável paira sobre nós. Em seus braços e no calor da sua proteção relaxo e sem querer, adormeço.

Não sei quanto tempo se passou, mas despertei com a voz de Sasuke. Parece falar no telefone.

- Não sei, mas essa é uma informação que faço questão de descobrir pessoalmente. - uma pausa em sua voz firme. Parece se tratar de trabalho - Amanhã mesmo lidarei com isso. - outra pausa, um pouco mais longa - Hoje? - ouço seu suspiro e abro os olhos. Me sento, ainda na cama e coço o olho direito, que não quis abrir direito. O vejo em frente a janela redonda do quarto, apoiado contra a parede, segurando o celular com a outra mão. Seu olhar está perdido distraidamente lá fora - Tudo bem. Precisa de mim? - me levanto sorrateiramente, o vendo dar outra pausa - Certo. Tem minha autorização para acionar a equipe presente para isso. Amanhã de manhã tenho uma reunião com minha equipe Tática e a tarde com a linha de frente. Vamos traçar a melhor estratégia para este evento. - no meio de mais uma pausa, me aproximo e lhe abraço pelas costas. Solto um pequeno riso ao sentí-lo endurecer e me olhar por cima do ombro e lhe dou meu melhor sorriso, quando meus olhos encontram o seu e diferente de hoje cedo, no quarto de hóspedes, onde seu olhar era frio, cruel e de completa indiferença contra mim, agora me presenteia com um olhar gentil e um discreto sorriso de canto - Entendo. Ficamos combinados assim, preciso desligar agora. Até amanhã. - depois de esperar pela resposta, desliga o celular, o guardando no bolso da bermuda e se vira, me abraçando - Já acordou. - alega, deixando um beijo no topo de minha cabeça.

Retribuo seu abraço - Por que não me acordou?

- Preferi deixá-la descansar. - me afasta minimamente, apenas para me olhar, enquanto acaricia meu rosto - Se sente melhor? - assinto e em troca, ganho um lindo sorriso que expõe parcialmente seus dentes. O primeiro sorriso aberto assim que recebi - Que bom. Ainda é cedo. Quer assistir um filme?

Nego com a cabeça e volto a abraçá-lo, apoiando minha cabeça em seu peito - Podemos apenas ficar assim?

Ri baixinho - Assim? Em pé? Que tal voltarmos para a cama?

- Ótima ideia. - nos afastamos e Sasuke me beija calmamente.

Vamos para sua cama e deitamos. Ao contrário do que normalmente faríamos aqui, apenas ficamos abraçados, no nosso silêncio confortável e isso faz com que eu me sinta a mulher mais sortuda do mundo. Além de tudo, Sasuke é compreensivo. Tenho certeza que tinha outros planos e até então eu também tinha, mas aí lembrei...

Até em minha linha de pensamento não consigo prosseguir. Imediatamente me contraio e fecho os olhos. Preciso controlar as lágrimas.

Seu celular toca e Sasuke se levanta, me sinalizando que já volta. Vai para a sala de estar de sua suíte, no outro cômodo e me sento, observando o local. Afasto minha mente de Shin e me concentro em qualquer outra coisa. Por sorte, rapidamente meus pensamentos vão para a Uchiha´s INC. e a adrenalina toma conta de mim. Nicole Braga volta amanhã e com ela, finalmente vamos retomar a Operação Quimera.

Estalo o pescoço e um sorriso ansioso domina meus lábios.

Contarei sobre o que descobri naquele cativeiro. Danzou e Orochimaru que me aguardem, porque vou lhes dar o que merecem. Danzou será o primeiro. Quero ver se ainda conseguirá jogar seus funcionários naquele lugar para morrer, enquanto anda por aí como se não tivesse nada a ver com seus atos. Maldito.

Uma raiva intensa atravessa qualquer vestígio de bom humor, calma e todas as emoções que Sasuke desperta em mim e logo sinto meus punhos se fecharem fortemente.

Se possível, eu mesma quero ter uma conversa particular com Danzou.

Isso me leva a pensar em Sai. O que será que Sai fez para contornar as consequências por ter me ajudado naquela fuga? Como tem agido com ele depois que descobriu tudo? Será que ficará ao meu lado ou ao lado de Danzou?

E novamente me vejo voltar a estaca inicial, envolvendo Shin, como será que está depois de ter se entregado a dor de forma tão intensa, quando olhava para o quadro e chorava em minha presença?

- Sakura? - Sasuke me chama, enquanto entra no quarto e o olho - Seu pai ligou para a Hinata e a quer em casa.

- Me quer em casa? Será que ele descobriu sobre nós?

Sasuke ri e pega minha mão, me puxando para um abraço - Não. Só quer vê-la. Quando vamos contar a eles? Quero falar pessoalmente com seu pai sobre isso.

Me afasto e ambas as sobrancelhas arqueiam em surpresa - Oi? Quer falar o que? - questiono, completamente assustada. Será que Sasuke ainda pretende insistir naquele esquisito pedido de casamento?

- Não se preocupe, não vou pedir sua mão ainda. - coloca uma mecha atrás de minha orelha - Convivi com seu pai por todos esses meses anônimo ao fato de estar lá por ter me envolvido com sua filha. Quero apenas demonstrar meu respeito sendo o primeiro a dizer a ele que estamos juntos.

Ignoro seu tom pesado quando disse "Convivi com seu pai por todos esses meses...", com o peso da dor e preocupação comigo e sorrio, me concentrando no "Quero apenas demonstrar meu respeito sendo o primeiro a dizer a ele que estamos juntos.".

- Entendo. Bom, antes de dizer a meus pais, gostaria de falar com...

- Seus amigos? Quero estar presente quando dizer ao Naruto.

Uma das minhas sobrancelhas arqueiam - Naruto? Por que quer estar presente?

O vejo retrair uma careta - Vamos. Hinata já deve estar chegando. - ignora completamente minha pergunta e me beija.

O correspondo, porque é a única coisa que meu corpo consegue fazer. Logo esqueço o que falamos e estou o apertando contra mim, tanto quanto ele me aperta contra ele.

A luxúria nos desperta e quando percebo estamos na cama, com Sasuke sobre mim, numa troca igualitária de toques e carícias.

Sua mão ergue minha perna, enquanto se ajeita sobre mim e a percorre por baixo do vestido. Seus dedos roçam a renda de minha calcinha, ameaçando arrancá-la em apenas um puxão.

Oh Kami... Estou prestes a sofrer uma nova erupção.

Agarro um punhado de seus rebeldes cabelos, quando sua língua junto da minha, se encontram num beijo caloroso. Entrelaço minhas pernas em sua cintura e me movo, acompanhando seu ritmo.

- Se importa de deixar Hinata esperando um pouco? - pergunta, sem parar o que está fazendo.

Tinha me esquecido completamente de Hinata me aguardando. Droga. Sasuke acaba com o pouco de responsabilidade que tenho.

- Sasuke! - o afasto de mim, ouvindo seu riso curto - Como pode perguntar uma coisa dessas?!

- Você arranca de mim minha sanidade. A culpa é sua. - se levanta e me ajuda a levantar da cama.

- Minha? Você faz isso comigo e nem por isso te culpo. - resmungo, o vendo seguir a minha frente, me arrastando por aí pela mão.

Descemos rapidamente. Pelo que Sasuke disse, Hinata já estava a caminho quando ligou e já tínhamos perdido certo tempo enquanto trocávamos carinhos.

De fato, não demorou para chegar. Assim que saímos do elevador, Hinata estacionou em frente a entrada do hotel.

Entro no carro e Sasuke se curva sobre a janela - Obrigado, Hinata.

- Não precisa agradecer, Sasuke-kun. Boa noite.

- Boa noite e você... - prende meu queixo com o polegar e indicador - Quero te encontrar no Skype ainda hoje. Recepcione seus pais e me encontra lá.

Solto um riso - Tudo bem.

Ele se aproxima e deixa em meus lábios um rápido beijo e depois assente para Hinata, num cumprimento mudo.

Saímos de lá em seguida. Hinata disse que há uma missão acontecendo perto de casa a mando de Otosan e Minato-san. Parece que vão instalar um equipamento que derruba internet e linhas telefônicas fixas e móveis, num raio de 6 km por algumas horas e quando retomarem, poderemos rastrear quaisquer acessos e ligações. Shino e Shikamaru desconfiam de que há espiões próximos, provavelmente tentando me sequestrar mais uma vez.

O farol fecha e Hinata me olha.

- Como foi o jantar? - questiona gentilmente.

Assinto, quase sorrindo ironicamente - Interessante.

Me limitei a dizer apenas isso. Quanto menos souberem da minha burrice de não ligar Itachi-san ao Sasuke, melhor. Ela também se limitou a questionar apenas isso. Hinata é muito paciente e discreta, tenho que admitir. No lugar dela, faria inúmeras perguntas, não tanto quanto Ino, mas faria.

Percebo que seu sorriso desaparece e seu semblante se torna fechado e tenso. Seu olhar alterna entre os retrovisores e direção. Está procurando algo.

De repente, saímos da rota do caminho de casa. Hinata acelera e troca de faixas, passando por outros veículos, como se estivesse perseguindo alguém ou fugindo de alguém que estivesse nos perseguindo.

- O que foi? - pergunto, me agarrando ao painel e ao apoio lateral da porta, quando Hinata faz uma curva fechada e entra num túnel.

- Estamos sendo seguidas. - ela toca em alguns botões touch screen do painel e uma chamada soa no carro, no viva voz.

- Hinata? O que foi? - reconheço pela voz Neji.

- Estamos sendo seguidas. Há dois carros nos perseguindo.

- Consegue descrever os carros? - ele pergunta.

- Sim. Duas Pick-ups pretas.

- Não venham para cá ainda. Tente despistar eles antes. - Neji orienta, mas é exatamente o que Hinata vem fazendo desde que percebeu.

Olho para trás, me segurando mais firme no painel. Por causa da velocidade e trocas constantes de faixa, fico chacoalhando como uma folha em uma forte ventania.

Os dois estão nos perseguindo arduamente, mesmo com o talento de Hinata para despistar. O que podemos fazer?

- Hinata. Tem uma arma? - pergunto, a olhando.

Ela me olha assustada e a voz de Neji soa no viva voz - Arma? O que pretende?

Reviro os olhos para o alarde de Neji e pressiono Hinata por uma resposta, apenas com meu olhar impaciente.

- Na-Na bolsa. - responde, mas sua hesitação é nítida. Tanto na voz, como no olhar.

- Sakura, não faça nada precipitado. - Neji sussurra, como se não quisesse que quem estivesse a sua volta ouvisse. Provavelmente Naruto está próximo.

Ignoro seu conselho, porque na situação em que estamos, o que mais posso fazer?

Procuro a bolsa da Hinata e encontro no banco traseiro. A pego e retiro a arma. Uma semi-automática simples. Vai servir para alguma coisa.

Nunca fui boa de mira, na verdade tive que me esforçar bastante em treinos árduos diariamente, até conseguir algo decente. Hoje, posso dizer que minhas habilidades são formidáveis, mas nem sempre foi assim. 

Abro o vidro e olho para Hinata - Siga para algum lugar mais tranquilo e sem muitos civis. Depois reduza um pouco e fique o mais rente possível deles até eu conseguir pará-los.

- O que vai fazer? - Neji questiona e há irritação em sua voz. 

Hinata apenas ri e me olha rapidamente e eu mostro a língua para o painel, como se fosse Neji. Pisco para ela, que ri mais uma vez. Descontrair num momento tenso como esse, é a melhor saída.

Bom, agora só preciso esperar Hinata sair da avenida principal.

Estava pensando aqui, se atirar neles vai jogar meu disfarce no lixo, mas acho que não. Minha família é do ramo de segurança privada. Seria normal saber atirar, né? Afinal, minha família iria me ensinar para que eu não corra nenhum risco as cegas, certo? Ninguém precisa saber que obviamente meus pais pensam e fazem diferente.

Percebo que entramos em uma rua deserta e tiro o cinto.

- Mantenha-se em linha reta. - oriento e me viro, me ajoelhando no banco e ficando de barriga para o encosto.

Percebo Hinata alternar o olhar entre eu e o caminho. Apesar de preocupada, se mantém em silêncio.

Me concentro em minha visão através do vidro do porta malas. Estreito os olhos e foco no pneu direito da primeira Pick-up. Assim que tenho a certeza de que é o suficiente, destravo a arma e coloco o braço esquerdo para fora. Que sorte eu estar desse lado do carro, se eu dependesse da minha mira direita eu estava ferrada.

Como pedi, Hinata reduziu a velocidade, fazendo com que fiquemos mais próximas dele. Meu foco sempre no pneu. Quando percebo que estamos perto o suficiente atiro e acerto meu alvo com êxito.

A Pick-up alvo perdeu o controle da direção e imediatamente freou. Já a intacta, desviou dela e continuou nos perseguindo, mas tudo bem, já contava com isso.

Vejo que o vidro direito está sendo aberto e recolho meu braço.

- Esse carro é blindado? - pergunto.

- É. - Neji responde. Já até tinha esquecido que está pendurado no viva voz - Espera, por que quer saber? - um tiro acerta o vidro do porta malas, respondendo Neji - Troca de tiros? É sério? Vou acionar reforço. 

- Não. Já resolvo isso. - respondo e me foco no pneu. Estando pronta, coloco o braço para fora, ignorando o medo de levar um tiro no meu melhor braço.

- Resolve? Como vai resolver isso?

Reviro os olhos novamente para o desespero de Neji e sorrio para Hinata, que apenas me observa calmamente.

Volto a olhar meu alvo através do vidro trincado, porém resistente do porta malas e disparo. Acerto em cheio, mas ao contrário da anterior, essa Pick-up não hesita. Ao invés de frear, retoma o controle da direção e continua nos seguindo.

Droga. Insistentes.

Respiro fundo e passo para o banco traseiro. Se querem continuar, vamos continuar.

Abro a janela esquerda traseira e realizo o mesmo ritual. Me concentro, aguço meu foco e coloco meu braço para fora. Quero ver se ainda conseguirá nos perseguir sem dois pneus dianteiros. Cretinos.

Atiro, duas vezes dessa vez. Só pra dispersar a raiva pela insistência deles.

Sorrio maldosamente quando a vejo fazer o que deveria ter feito quando atirei pela primeira vez, frear e consequentemente, parar de nos perseguir.

Coloco a cabeça pra fora, os vendo sair do carro e mostro a língua, dando um "tchauzinho". Infantil, eu sei, mas queria deixá-los irritados, como eles me deixaram.

- Sakura conseguiu, Neji-kun. Não há mais nenhum carro nos perseguindo. - Hinata diz e em seguida ouço um suspiro vir do viva voz.

- Tudo bem. Espero vocês aqui. - Neji diz e a chamada é encerrada.

Subo o vidro e volto para o banco da frente. Subo o vidro daqui também e depois travo a arma e a guardo na bolsa.

- Você foi muito bem. - ela diz, me lançando um rápido olhar, acompanhado de um lindo sorriso.

- Você também. - retribuo o sorriso e coloco o cinto.

Depois disso, o caminho foi tranquilo. Chegamos em casa em menos de vinte minutos. Hinata não entrou comigo, disse que tinha um importante jantar onde receberia sua família. Morava no Rio de Janeiro, onde toda sua família, exceto Neji, mora, mas como a Uchiha´s INC. precisava dela aqui em São Paulo, alugou um apartamento e temporariamente se mudou para cá e hoje, os apresentará sua casa e tratará formalmente dos negócios de sua família.

Ao entrar, encontro Otosan e Minato-san, sentados nas cadeiras em torno de uma pequena mesa do Hall de entrada.

- Minha pequena flor. Que saudade! - Otosan exclama e vem em minha direção. Me dá um belo abraço de urso, me fazendo perder o fôlego.

- Mas nos vemos todos os dias, Otosan. - resmungo, contra seu peito, fazendo com que minha voz saia abafada. Isso tira risos de Minato-san. Começo a dar tapinhas nas costas dele - Otosan! Está me sufocando...

- Oh! - me solta e sorri generosamente - Seu velho pai ainda tem que aprender a controlar a força. - coça a cabeça e reviro os olhos.

Me viro para Minato-san e aceno - Boa noite, Minato-san.

- Boa noite, Sakura-chan. - sorri, a cópia exata do largo sorriso do Naruto e retribuo - Kushina está a caminho.

- Kushina-san virá? - pergunto curiosa e em seguida olho pra Otosan - Okasan veio também?

Faz alguns dias que não a vejo. Estava viajando a negócios. HS Corporate tem expandido torrencialmente a área de atuação e Okasan é responsável por resolver a parte burocrática.

- Mebuki! - Otosan grita - Venha ver sua filha.

Sigo o olhar de Otosan e resolvo ir para a cozinha.

Só agora percebo a voz de Naruto, junto da de Ino, discutindo como sempre. Antes que eu pudesse me aproximar da porta da cozinha, Okasan sai de lá e vem me abraçar.

- Como está, minha menina?

- Menina? Okasan! Sou uma mulher feita! - a repreendo, apesar de retribuir seu forte abraço - Como foi em Florianópolis?

- Bem. E por aqui? Conseguiu resolver sobre sua faculdade? - esqueci de ver sobre isso. Droga. Abro a boca para dar uma desculpa qualquer, mas ela me interrompe - Já disse que poderia ir lá resolver isso para você.

- Não precisa, Okasan. Sou bem crescidinha... - solto um riso sem graça.

- Sakura-chan! Você chegou! - Naruto atropela minha conversa com Okasan e me dá um belo abraço. Me gira ao alto, me pegando de surpresa.

- Eii... O que é tudo isso? Nos vimos mais cedo, esqueceu? - sorrio, quando me coloca no chão e sorri meu sorriso favorito.

- Temos uma boa notícia!

- O idiota acha que é uma boa notícia, mas é apenas uma notícia. - Ino se intromete, me puxando para um abraço - Como está, Testuda?

- Bem e você?

- Também. - revira os olhos quando vê a careta que Naruto está fazendo - O que?! Diga a ela sua "boa" notícia, para ver se ela vai achar mesmo boa e saiba que sou totalmente contra. - mostra a língua para ele - Idiota. - passa por nós e vai para a sala, me deixando completamente curiosa.

Olho para ele e ele mostra a língua para ela, quando ela passa por ele. Depois olha para mim e sorri - Você vai passar uns dias em casa, Sakura-chan!

- O que? Por que?!

- Porque ficará mais fácil de conciliar sua escolta com as coisas que precisamos resolver. - explica animadamente, até olhar para minha cara e provavelmente encontrar uma careta - Por que? Não gostou?

Forço um sorriso. Não quero que Naruto entenda mal, mas preciso ir para a Uchiha´s INC. amanhã. Como vou sair com ele na minha cola?

- Nã-Não é isso. É que... - tento explicar, mas não encontro palavras para justificar meu desgosto.

- O que foi que eu disse?! - Ino passa por nós - Agora EU tenho uma BOA NOTÍCIA para ela! - grita na cara do Naruto, antes de ir para a cozinha - Olha só o que temos aqui! - volta da cozinha agarrada ao braço de Itachi-san.

Arregalo os olhos e meu queixo cai. O que Itachi-san está fazendo aqui?!

- Tinha esquecido de você, Itachi-san. - Naruto diz e bate em suas costas levemente - Venha conhecer a Sakura-chan!

- É claro que se esqueceu. - Ino resmunga e revira os olhos. Olha para mim e sorri maliciosamente, soltando o braço de Itachi-san, para vir em minha direção - Que pedaço de mal caminho esse Uchiha, hein? - Ino me diz, enganchando seu braço no meu. Encara explicitamente Itachi-san, que apenas sorri nos observando, claramente ouvindo o que essa abusada está falando - Se eu fosse você e as coisas com o Uchiha mais novo não forem pra frente, certamente daria uma prazerosa chance a ele. - cochicha em meu ouvido, mas tenho certeza de que ele ouviu. Só ele na verdade. Porque Naruto está visivelmente confuso. Otosan e Minato-san estão conversando sobre qualquer coisa e Okasan está distraída mexendo no celular.

Imediatamente meus olhos se arregalam ainda mais e coro violentamente - I-Ino! - fecho os olhos para fugir dessa vergonha, mas os abro quando ouço Itachi-san rir e todas as vozes silenciarem.

- Sakura? Está se sentindo bem? - Okasan vem até mim - Está vermelha, querida. - coloca a mão em minha testa, como quem mede febre.

- Ela está, Mebuki-san! Deve ser só o ambiente. Está um calor aqui... - Ino responde por mim, enquanto me abana com a mão, olhando para Itachi-san, que ri mais controladamente agora. 

O tom sugestivo na voz de Ino, me faz querer matá-la. 

- Então ligue o ar condicionado. - Okasan sugere cegamente à suposição com duplo sentido de Ino e me faz revirar os olhos - Kizashi, ligue o ar condicionado. O controle está em cima da mesinha. - aponta para o controle.

Otosan, que estava conversando com Minato-san, interrompe rapidamente a conversa para fazer o que Okasan lhe pediu e em seguida vem até mim.

- Vamos apresentá-la à um dos dois herdeiros principais dos negócios da Uchiha´s INC., nosso concorrente direto e agora, possível aliado da HS Corporate. Nos ofereceu apoio incondicional em suas buscas. - coloca a mão sobre meus ombros e depois pousa uma delas em meu rosto, me olhando nos olhos - Se não fosse por ele e seu irmão, provavelmente não estaria conosco ainda, minha filha.

Assinto, completamente desconfortável. Sério. Querer chorar é pouco para o tamanho da culpa que estou sentindo. Primeiro porque conheço Itachi-san e não posso lhes dizer isso. Se disser, com certeza terei de explicar como o conheci e aí só criaria um problema atrás do outro para acobertar meus segredos. Segundo porque é nítido que Itachi-san está hesitante, aguardando sinais do que acho melhor ele fazer. Se mentimos dizendo que não nos conhecemos ou não, ou seja, mais uma vez, mais especificamente pela segunda vez no dia, estou arrastando ele comigo com minhas mentiras.

- Verdade, Sakura-chan... Itachi-san deixou a nossa disposição a melhor equipe dele para acelerar as buscas. - Naruto diz, batendo com uma das mãos no ombro de Itachi-san, que apenas mantém seu sorriso gentil.

Claro que isso piora e muito minha situação. Meu melhor amigo dizendo uma coisa dessas chega até a ser tortura.

E agora? O que eu faço?

Forço um sorriso, enquanto abaixo meu olhar para fugir dos deles, concentrados em mim.

- Vamos, Sakura. Tenho certeza de que não foi essa a educação que lhe dei. - Okasan diz e me dá um pequeno empurrão pelas costas, me obrigando a dar dois passos a frente.

Suspiro e estendo minha mão direita, afim de cumprimentá-lo formalmente. 

Itachi-san sorri e retribui meu cumprimento, mas ao invés de manter o aperto, leva minha mão a sua boca para beijá-la, como fez na presença de Sasuke.

Desvio de seu olhar indecifrável e viro o rosto, sentindo minhas bochechas queimarem, deixando meu olhar focado na parede. 

Merda. Hoje deve ser o dia mais mentiroso da minha vida.

A campainha toca e Naruto abre a porta.

Olho para ela por cima do ombro quando a ouço ser aberta e o silêncio se fazer presente. De verdade, dá para piorar?

Sasuke está com ambas as mãos no bolso, com aquela expressão furiosa, porém impassível de mais cedo.

Volto a olhar Itachi-san e entendo o motivo. Itachi-san ainda mantém os lábios sobre minha mão.

Puta merda!

Rapidamente puxo minha mão, tirando um irritante riso curto e baixo de Itachi-san.

- O que veio fazer, bastardo? - Naruto pergunta, atraindo um rápido olhar de Sasuke.

- Achei que nos veríamos apenas amanhã, Sasuke. Venha, entre, entre. - Otosan ignora a abordagem hostil de Naruto e animadamente, acena o incentivando entrar.

- Achei melhor acompanhar a operação. - responde Otosan, enquanto entra, mantendo seu olhar firme sobre mim, que automaticamente me encolho.

- Mas esta noite está realmente ficando boa! - Ino mais uma vez solta suas frases inconvenientes, me cutucando - Difícil decisão, hein, Testuda? - cochicha em meu ouvido animadamente.

Eu não sei se comemoro por ela agir assim ou se me preocupo. Afinal, apesar de ela saber que Sasuke e eu saímos, não contei a ela que estamos namorando e nem pedi para que não dissesse a ninguém. Será que finalmente criou bom senso?

Reviro os olhos com essa suposição precipitada, quando a vejo sorrir maliciosamente, enquanto compara descaradamente Itachi-san com Sasuke. É óbvio que não. Ino sequer conhece o significado de "bom senso".

- Estava a pouco apresentando minha filha para seu irmão. Vou aproveitar e apresentar para você também, afinal você a visitava todos os dias enquanto ela estava no hospital e não teve a oportunidade de conhecê-la. - Otosan coloca uma das mãos em seu ombro, o guiando até mim.

Eu poderia pensar no tamanho da enrascada em que estou metida, mas meu cérebro idiota resolveu se concentrar em "... afinal você a visitava todos os dias enquanto ela estava no hospital...". Ele me visitava com o consentimento de Otosan?!

Sasuke para em minha frente, ganhando minha atenção e seus lábios desenham um discreto e sexy sorriso de canto.

Me arrepio toda com a malícia em seu olhar negro. O vejo desviar de meu olhar e o sigo. Está encarando Itachi-san e este, desfaz o sorriso e seu semblante fica sério. Estão dialogando pelo olhar por acaso?

- Não precisa apresentar esse bastardo para a Sakura-chan, Kizashi-san! Ela não merece essa decepção.

Naruto atropela Sasuke e se coloca entre ele e eu.

Sasuke, irritado, o olha feio - Saia da frente, perdedor.

- Quem você está chamando de perdedor, bastardo?! - Naruto grita, tirando risadas de Minato-san e Otosan, bufos de Ino e um pequeno sorriso de Itachi-san.

- Quem você acha, perdedor? - Sasuke retruca.

Suspiro e mordo a língua para não dizer barbaridades. É sempre assim com esses dois?

Abro a boca para dizer algo, mas a fecho quando Itachi-san resolve deixar seu silêncio para ganhar a atenção de todos nós.

- Preciso ir ao banheiro. - diz, olhando diretamente para mim.

Entendo perfeitamente o que quer. Precisa ficar sozinho comigo para continuar o que começou a me dizer antes de Sasuke aparecer.

- Eu...

Okasan me interrompe - Só subir as escadas, quarta porta do corredor, do lado direito.

- O-Okasan! - a olho feio. Não estrague tudo dona Mebuki! - Que desfeita! Eu o levo.

Ando, mas paro em meu segundo passo com a mão de Sasuke me segurando pelo punho.

- Na verdade, preciso falar com você. - diz firmemente - Acho que seria conveniente termos seu número de celular, para o caso de precisarmos falar com você.

O olho incrédula. Sasuke sabe que não tenho celular. Por que diabos está falando uma coisa dessas?

O vejo trocar um rápido olhar debochado com Itachi-san, que apenas alarga minimamente seu sorriso para o irmão mais novo e então percebo. Sasuke está com ciúmes e Itachi-san não está colaborando para deixá-lo diferente.

Ligo o fato de Otosan ter dito quando Sasuke chegou, de que achava que só o encontraria amanhã, à ligação que Sasuke recebeu mais cedo, quando acordei, onde ele perguntou se precisava dele e que estava combinado que se veriam amanhã.

Deduzo que de alguma forma Sasuke soube que Itachi-san viria e resolveu vir, para não nos deixar sozinhos, mas quem lhe contou?

Hinata? Não pode ser. Enquanto estávamos juntas ela não fez nenhuma ligação e assim que chegamos, foi embora. Ino? Obviamente não. Ela nem sabia que o Sasuke viria.

- Você veio mesmo. - Neji vem da sala, junto de Gaara e cumprimenta Sasuke, que apenas meneia a cabeça para ambos.

- Obrigado por avisar que meu irmão estava aqui. - lhe estende a mão num cumprimento formal e depois para Gaara.

Então foi Neji. Merda.

Fuzilo Neji com o olhar e cruzo os braços. Eu vou matá-lo por me deixar nessa péssima situação.

Gaara acena para todos e enlaça a cintura de Ino, que lhe dá um rápido beijo e Neji acena para todos nós e vai até Itachi-san.

- Estou indo para o jantar na casa temporária da Hinata. Volto mais tarde.

- Tudo bem. - Itachi-san responde e me lança um rápido olhar.

Vemos Neji se despedir e ir embora.

- Itachi-kun, me desculpe pela falta de gentileza. Venha. Lhe mostro o caminho até o banheiro. - Okasan passa por nós, incentivando Itachi-san a lhe seguir.

- Tudo bem, não é algo urgente. Posso esperar, Mebuki-san. - Itachi-san lhe responde educadamente, a fazendo assentir.

- Bom, nesse caso eu vou. Já venho, querido. - Okasan diz para Otosan que assente, sem interromper a conversa com Minato-san.

Nada poderia dar mais errado.

Sasuke sorri vitoriosamente para Itachi-san e fecha o semblante quando percebe Naruto o encarando.

- Está rindo do que?! - o loiro lhe pergunta.

- Não é da sua conta, perdedor. - responde com indiferença.

- Pare de me chamar assim, bastardo! - fecha o punho a frente do rosto e o desafia bravamente.

Parece que sim. Sasuke e Naruto sempre são assim.

Reviro os olhos e solto um suspiro cansado, vendo Ino e Gaara conversarem alheios a nós e Minato-san e Otosan fazerem o mesmo. Itachi-san apenas se mantém em silêncio, me observando e sinalizando que precisa urgente falar sozinho comigo.

A campainha toca.

Quem diabos é dessa vez?! Dá para piorar por acaso?!

- Eu atendo! - fecho os olhos e pisando duro, vou até a porta, deixando Naruto e Sasuke para trás ainda se encarando e Itachi-san pensando numa próxima desculpa para me tirar daqui e dizer logo o que precisa.

Abro a porta, completamente irritada e minha expressão sofre uma mudança drástica de irritada para uma mistura de confusão, frustração e susto.

- Sa... so... ri...? - sussurro, tão pausadamente quanto meu raciocínio.

O que está fazendo aqui?!

Minha primeira reação é me virar para olhar Sasuke. Meus olhos ignoram todos os outros, que nos observam na porta e encontram os dele, do meu ogrinho.

De repente as expressões corporais de Sasuke deixam claro que vai perder a cabeça. Seus ombros tensionam. As mãos saltam para fora dos bolsos e se fecham fortemente. As sobrancelhas se juntam e abaixam numa expressão furiosa. Os olhos caem sobre Sasori, atrás de mim, estreitamente.

E Sasuke não é o único a reagir assim. Naruto, que está ao seu lado, da mesma forma, com a diferença que praticamente rosna encarando Sasori.

Itachi-san endurece. É mais controlado que Sasuke. Não demonstra deliberadamente, mas é notável sua mudança de humor, tanto quanto enquanto encarava seu irmão mais novo naquela rápida troca de olhares. Ino segue o mesmo padrão e Gaara, apenas a observa encarar Sasori mortalmente.

Minato-san observa atentamente todos e Otosan é o único a proferir alguma coisa nesse silêncio arrebatador.

- Entre Sasori. Junte-se a nós! Mas que noite agradável de encontros. - Otosan exclama, alheio ao péssimo clima que se instalou sobre nós.

Otosan e Okasan não sabem porque meu relacionamento com Sasori acabou. Quando aconteceu, disse apenas que precisava de um tempo para amadurecer, porque nosso relacionamento estava me privando de me dedicar a minha faculdade e claro, acreditaram. Mesmo gostando de Sasori e sendo contra nosso término, não me impediram e nem tocaram mais no assunto. Então para ambos, tudo acabou amigavelmente, com expectativas futuras de nosso retorno.

Me viro, para olhá-lo. Aguarda meu consentimento, mas não posso consentir. Isso piora tudo. Tudo.

Droga. Preciso parar de perguntar se dá para as coisas piorarem.

Abro a boca, mas a voz que soa aqui é do Naruto, com a pergunta que pretendia fazer.

- O que está fazendo aqui, Sasori?!

Em um piscar de olhos, Naruto e Sasuke estão a minha frente, como se me protegessem de Sasori. Itachi-san ao meu lado.

Então é isso? Isso é o que eu ganho por esconder tantos segredos? Esse é o meu castigo?

Como vai ser agora? A impressão é de que estou pisando em ovos, que vão quebrar e me deixar em péssimas situações a qualquer momento.