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História Por Trás dos Muros de Mármore - Capítulo 8 - Jovem Demais


Escrita por: TrizCampos

Capítulo 9 - Capítulo 8 - Jovem Demais


Aquele estava sendo um plantão calmo, Jack pensou ao olhar para a emergência. Só havia dois pacientes que já estavam sendo tratados no P. A. e nenhum deles estava em estado grave. Faltava 10 minutos para o plantão acalmar e então ele poderia ir para casa. Ele tomou um gole do café que tinha na mão esquerda enquanto revisava os prontuários do dia. Já estava prestes a ir embora quando o pager tocou, ele soltou um resmungo ao ver que era uma enfermeira o chamando.

- O que houve? - perguntou a enfermeira atrás do balcão.

- Emergência. Sei que seu turno acabou mas são dois pacientes sendo trazidos de ambulância.

- Tudo bem, bipa a dra. Walker - ele suspirou indo até a porta. Alguns segundos depois uma mulher apareceu ao lado dele ao lado de dois internos.

- Mandou me bipar? - ela perguntou.

- Sim, emergência. Dois pacientes.

Eles ficaram em silêncio até que as ambulâncias chegaram.

- Qual é o caso? - Jack perguntou para a paramédica

- Garota de 17 anos sem identificação, foi espancada e a sinais de tentativa de sufocamento.

- Está consciente? - ele perguntou para a mulher.

- Está. E tem mais uma coisa.

- O quê?

- Ela está sofrendo um aborto espontâneo - Jack encarou a garota e piscou várias vezes. Ela estava seminua, coberta de hematomas e havia sangue escorrendo pelas pernas. Ela era tão bonita, porque alguém faria aquilo a ela? Levou alguns segundos até que ele achasse a voz para gritar o comando para o interno que estava parado encarando-os.

- Bipa a obstetrícia e reserva uma sala de cirurgia - ao ver que o interno continuava parado ele praticamente rugiu a ordem - Agora.

Parecendo acordar de um transe o interno começou a correr em direção a enfermeira da recepção.

- Sabe o que houve? - Jack perguntou para a paramédica enquanto colocava a garota em uma maca e a levava para dentro do hospital.

- Ao que parece ela levou uma surra do namorado.

- Namorado? - arqueou a sobrancelha.

- O cara da outra ambulância, o vizinho ligou pra polícia por causa dos gritos. Quando chegamos ela estava mas acordada o outro cara não, ela não disse uma palavra durante todo o caminho.

Jack suspirou enquanto a examinava, a garota não estava em coma, ela reagia aos estímulos, apenas não queria falar, e ele não ficou surpreso com isso mas. Mas mesmo assim encolheu os ombros enquanto a levava para a ala cirúrgica, ele sabia, mesmo não sendo da obstetrícia que o feto não podia ser salvo. A gravidez era recente demais, o feto havia acabado de começar a se formar e havia sofrido muitas pancadas.


Quando a cirurgia acabou Holly entrou na sala.

- Como foi a cirurgia? - perguntou a Jack.

- Bem, infelizmente o feto não sobreviveu. E o seu paciente?

- Escala Glasgow de coma nível 7, estão contatando a família. Vamos esperar para ver se acorda - ela deu de ombros. Holly estava prestes a dizer algo quando viu a paciente. Ela deu um passo na direção dela, o rosto branco feito papel. Ela engoliu em seco quando reconheceu a paciente, não, não podia ser.

- Já identificaram a paciente? - a voz não passava de um sussurro quando fez a pergunta a Jack.

- Não, por quê? Está tudo bem Holly? - Jack perguntou preocupado.

- Pois acabam de identificar - sussurrou novamente.

- Holly, do que você tá falando? O que tá acontecendo? - ele estava cada vez mais preocupado com a colega cirurgiã.

- Essa é Alice Walker, minha prima. O que ela está fazendo aqui? A formatura dela e do meu irmão foi essa noite.

- Você tem certeza, Holly?

- É claro que tenho, Jack. Eu vou avisar a assistente social. Deus! O que ela estava fazendo naquele apartamento?

Jack também queria saber. Ela é tão jovem, ele pensou enquanto a encarava, as feições delicadas manchadas por hematomas, jovem demais para já ter sido maculada pela escuridão do mundo.


Quando Alice acordou o corpo todo doía, e ela quis chorar ao ver que havia sido tudo real. Ela encarou o teto.

- Quem é você? - perguntou ao se dar conta da presença de uma mulher no quarto.

- Sou a detetive Gray. Jéssica Gray.

- O que quer saber detetive Gray? - Alice perguntou, cada palavra doía mais que a anterior.

- Srta. Walker, o que aconteceu entre você e Joshua Raison? - a detetive, uma mulher de 20 e poucos anos perguntou à Alice.

Alice piscou várias vezes, tentando afastar as lágrimas, a mente era uma bagunça, ela não entendia muito bem como havia chegado até ali. Ela respirou fundo e disse, a voz o mais firme que conseguia:

- Eu quero minha advogada - o lábio inferior doía, e ela ainda sentia o punho de Josh contra seu maxilar, porém, nenhuma dor se equiparava ao seu coração despedaçado e a perda irreparável.

- Advogada? Por quê?

- Eu quase morri, detetive - Alice disse. Ela tentava controlar a vontade crescente de olhar para baixo, para a barriga, ela sabia que não havia mais nada em seu ventre, sabia que ele havia morrido sem que ninguém precisasse dizer. - E não estou pronta para dizer absolutamente nada agora.

A detetive saiu, e então Alice se permitiu chorar. Enquanto agarrava o ventre, o choro era alto, desesperado. A máquina atrás de si começou a fazer barulho indicando que os batimentos cardíacos haviam acelerado.

Um homem alto, caucasiano usando uniforme e jaleco entrou correndo no mesmo instante. Ele parou, ao perceber que ela não teria uma parada, que era apenas desespero que a afligia. Ele ficou lá até que ela parasse de chorar.

- Você está bem? - perguntou o médico.

- Ele está morto? - Alice perguntou.

- Quem? - o médico franziu as sobrancelhas.

- Josh, o homem que veio comigo.

- Não, está em coma, deve acordar em breve - Alice percebeu o olhar de curiosidade do médico.

- Qual o seu nome, doutor?

-  Jack White, sou o dr. White - ele respondeu enquanto ministrava um medicamento.

- É morfina? Eu espero que seja, porque meu corpo todo dói - Alice sussurrou, cada palavra doía mais que a anterior.

- É lidocaína.

- Que bom - disse simplesmente - Meu nome é Alice, mas disso você já sabe não é? O que quer saber é se sou uma vadia que mereceu a surra que levei.

- Srta. Walker, eu não… - Jack tentou dizer

- Não se incomode em tentar se explicar. Eu não sabia que ele era casado - Alice disse, a língua parecia chumbo na boca seca como papel - E mesmo se soubesse… ninguém merece isso.

- Desculpe - ele disse desviando o olhar - Como se sente?

- Como quem acaba de levar uma surra - ela não pôde conter a resposta afiada.

- Dói? - o médico apertou o tornozelo de Alice, a garota se encolheu, não pela dor mas por ser tocada - Desculpe, eu preciso te avaliar.

- Tudo bem - Alice fechou os olhos - Eu só… tudo bem, eu aguento.

- Acho que Holly pode te avaliar, será melhor que seja avaliada por uma médica mulher - dr. White disse se afastando.

- Qual o prognóstico?

- Desculpe?

- Qual o meu prognóstico? - Alice perguntou de novo.

- Não sei se tenho autorização para…

- Por favor - a garota implorou, o lábio inferior tremia - Por favor, me diga.

- Hematomas pelo rosto, braços e pernas. Você foi chutada e socada diversas vezes no estômago, o que provocou um aborto espontâneo. Infelizmente, não conseguimos reverter o quadro. Mas estancamos uma possível hemorragia, você vai se recuperar em alguns dias - Alice mordeu o interior da bochecha, Não acho que vou me recuperar em alguns dias de um espancamento e um aborto. É o que ela queria dizer, mas se conteve.

- Ligaram para a minha mãe?

Alice não sabia o que diria à mãe, como iria começar a explicar. Como falaria sobre Josh? Como iria olhar nos olhos da mãe e dizer que havia dormido com um homem casado? Como falaria sobre o feto? A mãe dela iria entender? Gritaria com ela? A abraçaria? O que ela iria sentir? Nojo? Decepção? Raiva? Tantas dúvidas… tantas perguntas… Como ela havia chegado àquele ponto? Como a vida dela havia passado de uma tarde de primavera para uma noite de inverno? Ela queria muito saber, mas sempre que olhava para trás não percebia onde havia errado, não via quando havia se desviado do curso. Tudo o que ela via eram os sorrisos vivos, as carícias gentis, os olhares apaixonados e as palavras bonitas. Ela não sabia o que havia feito de errado, e não sabia o que dizer à mãe.

- Sim ligamos assim que sua prima Holly a reconheceu, teve um acidente na avenida principal, ela deve chegar em meia hora - Jack disse enquanto anotava os batimentos cardíacos no prontuário.

- Alguém morreu? - a garota perguntou em voz baixa.

- Não, alguns feridos mas nenhum morto por enquanto.

- Que bom.

- Você vai prestar queixa não é? - o médico ainda anotando no prontuário de Alice.

- Eu não sei - ela deu de ombros. Mas mesmo esse movimento doeu como o inferno.

- Como não? Ele tentou te matar - ele ergueu os olhos até os dela.

-  Não é tão simples. Eu dormi com ele - Alice tentou explicar - Por livre e espontânea vontade. E então fui burra o suficiente para ficar grávida. Ele tem uma família que precisa dele, ele tem dois filhos. Dois. Sabe como um pai faz falta? Eu sei, eu não posso fazer isso.

- Ele pode tentar de novo.

- Sabe como minha família é poderosa? Minha mãe garantiria que ele nunca saísse vivo da cadeia. Nós podemos ser uns malditos desgraçados oportunistas, mas a minha mãe valoriza a família acima de tudo. Além disso, ele não vai tentar.

- Como pode ter certeza - Jack indagou.

- Se tem uma coisa que eu aprendi nas aulas de psiquiatria é que homens como ele valorizam o poder acima de tudo, ele ia me estuprar, porque eu não queria mais dormir com ele. Tentou me matar porque eu estava grávida, a situação fugiu do controle, ele só queria retomá-lo - Alice disse olhando para o jardim pela janela.

- Você não pode estar falando sério…

- Meu QI é de 181, um dos pais altos já registrados. Eu vou ser médica, sabia? Vou para Harvard, em um mês. Acabo de me formar em Columbia - ela ainda olhava pela janela, incapaz de encarar o médico - Em tese eu deveria ser racional, e é racional que eu prenda meu agressor. Mas a vida não é tão simples, não são só fórmulas e teses. Eu cresci sem um pai, e agora posso deixar dois garotinhas sem um. Eis os fatos, as decisões nunca são totalmente racionais, a história da pessoa que as toma têm quase 100% se influência sobre elas.

- Acha melhor que eles tenham um pai que bate em garotas do que nenhum pai?

- Meu pai foi embora quando eu era uma recém-nascida, ele sumiu no dia em que nasci. Ele apareceu na semana passada, e mesmo tendo ódio dele, eu ainda quero conhecê-lo. Ele é meu pai.

- É idiotice, meu pai era um completo babaca e foi um alívio quando ele morreu - Jack disse, a voz fria como gelo - Se ele fez isso com você quem garante que ele não vá fazer com os filhos? Quem garante que ele não bata na esposa? Se você não fizer nada e ele machucar outra garota será sua culpa.

Ele completou e saiu do quarto sem olhar para Alice.

Um homem de cabelos negros apareceu logo em seguida, os batimentos da garota começaram a subir.

- Alice - ele disse.

- Robert - Alice engoliu em seco - Como descobriu que eu estava aqui?



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