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História Porcelain Monster - Desperte, Pequeno Monstro


Escrita por: Tinkerbaek

Notas do Autor


Olá, pessoal!
Sei que é repentino... Mas surgiu uma vontade imensa de fazer essa fic!
Ela é baseada em Frankenstein, mas já devo avisar que nunca cheguei assistir o filme ou ler a obra literária. Confesso que ideia me ocorreu quando assisti a um episódio de Once Upon a Time.

Talvez seja um tema meio pesado e sofrido, não sei... Porém espero que gostem.
Ela será uma TWOSHOTS, ou seja: Terá dois capítulos.

Então vamos ao primeiro.

Capa por Anna
Betada por Carol

Capítulo 1 - Desperte, Pequeno Monstro


Fanfic / Fanfiction Porcelain Monster - Desperte, Pequeno Monstro

 

"Após dias e dias de trabalho e cansaço inacreditáveis, consegui descobrir a causa da geração da vida, não, mais do que isso, tornei-me, eu próprio, capaz de dar vida à matéria inanimada..."

                                                                                                                 – Frankenstein, de Mary Shalley.

 

●●●

 

Criar o incriável. Mudar o imutável.


                                                                                           Reverter o irreversível. Tocar no proibido.

A vida é delicada, sutil... Pode ser tão traiçoeira e misteriosa quanto a morte. O nascimento é um fascínio. De onde viemos? Como nos formamos? Por que nascemos da barriga de nossas mães? Por que temos que esperar sempre por uma quantia certa de meses? E a morte... Será que é tão assustadora? Para onde vamos? O que faremos? Ficaremos em plano terreno ou partiremos para outro lugar? Deixaremos de existir para sempre? Apenas uma coisa era certa: Nascemos chorando e morremos chorando.

Ora, necessitamos chorar para respirarmos, mas choramos para que nossos pulmões não parem de receber o tão amado e importante oxigênio. Mas e se... Se alguém revertesse a morte? Revertesse o nascimento? Será que algum “ser humano” vivo e morto seria capaz de responder às perguntas tão sonhadas? Talvez fosse a solução para todas as dúvidas. Um ser que nasceu, morreu e voltara à vida, pronto para resolver todos os nossos questionamentos.

Um monstro, feito apenas para tal finalidade... E para engrandecer o coração de um homem frio, insensível e egocêntrico, disposto a tudo para provar suas teorias, capacidades e acabar com suas próprias dúvidas egoístas. Até mesmo mudar o rumo da natureza por si próprio, sem nem ao menos sentir um pingo de remorso.

●●●

 Finalmente, a hora chegara.

Foram anos de pesquisa solitária, esforço único e apenas seu, já que nem mesmo seu assistente aceitou tomar parte disso. Mas não importava, mesmo que ele fosse um amigo de infância –seu único amigo- ele não faria falta. Não precisava de mais ninguém, seu cérebro era o bastante, seus pensamentos eram a melhor companhia que poderia ter. Afinal de contas, a inteligência que possuía era para poucos, ter uma companhia a altura seria extremamente difícil de achar.

Considerava-se único.

Mas sabia que fazer tudo sozinho demoraria mais tempo do que o esperado. Seu assistente, sabendo de seus objetivos, lhe aconselhara a parar com o projeto, que aquilo tudo era uma completa loucura e ia contra a natureza, contra as leis divinas. Riu sozinho por alguns segundos, nada disso existia... Apenas a ciência. Todo esse sentimentalismo inútil era o que impedia de alguns homens que trabalhavam em sua área serem brilhantes e excederem as expectativas. Do que adianta ser provido de tamanha inteligência se tivesse medo de usá-la? Se colocasse um limite em suas ideias e ações? Por isso ele era incrível no que fazia.

Somente ele... Park Chanyeol, pois não temia o que fazia, não evitava tudo o que seu cérebro elaborava. Já fizera grandes descobertas, e sabia que seria capaz de executar seu mais novo projeto. E não se importou nem um pouco ao revirar aqueles túmulos, na calada da noite, no cemitério mais próximo. Ora, precisava recriar, sim? Aquela era a melhor maneira, a menos artificial e mais segura...

O cheiro dos cadáveres era forte, mas não se incomodava. Já havia mexido em muitas criaturas sem vida, desde animais até humanos. O que fora um problema quando mais novo, pois seus pais o impediam de ter bichinhos de estimação, pois a partir dos 12 anos começara a botar em prática suas ideias e cachorros, gatos e hamsters mortos não eram bem o que seus amados pais esperavam de si, o primogênito e único filho da família.

Mas seus pais morreram logo depois, em um acidente de carro. Chanyeol, de fato, não sentiu tanta falta assim... Na verdade, não derramara uma lágrima sequer. Nunca fora próximo de seus pais, e eles botavam limites em sua vida, limites que o impediam de crescer. Fora criado por um tutor, um homem sério e frio, que veio a calhar, pois não se metia em sua vida. Porém, foi tornando-se um órfão que aquele projeto tão importante começara a surgir em sua mente. Tentar recriar um ser humano a partir de outros... Sem fecundação, sem gestação. Alguém que já presenciou a morte em idade avançada, alguma criatura que o obedecesse e pudesse usar como fonte de questionamentos e respostas sempre que precisasse. Foram treze anos de pesquisas, treze anos com seu querido companheiro de experimentos científicos tentando pará-lo.

Como se pensasse em parar agora que chegara tão longe.

Caminhou de volta para sua mansão. Fora abençoado com o fato de ser de família rica, pois todas as despesas para suas experiências podiam ser bancadas facilmente, e sua mente brilhante faria com que essa fonte de dinheiro nunca cessasse.

A sacola que carregava era pesada, mas agradeceu mentalmente por não precisar revirar mais do que dois túmulos, pois pesquisara com antecedência as mortes mais recentes, das pessoas mais saudáveis e mais inteiras possíveis. Escolheu um corpo só, o que mais lhe chamou atenção e o que parecia mais jovem, o outro era apenas para que, se precisasse de pele extra ou alguma coisa que faltasse, já possuiria um reserva.

Deitou o corpo menor sobre o balcão de seu laboratório, que ficava escondido nos fundos de sua mansão, e analisou sua estatura, seu peso, a cor de seus cabelos... Apesar da brancura fúnebre que a pele possuía, constatou que o falecido possuía um tom de pele claro quando vivo. Franziu o cenho enquanto o observava... Ele era um rapaz bem pequeno.

Sabia que possuía uma estatura acima da média, mas com certeza aquele ser inanimado estava abaixo da altura normal de um homem de sua idade. Porém ele todo parecia mais novo do que constatou na ficha que encontrou com a pesquisa sobre o morto.

Byun Baekhyun, 25 anos. Falecido há três dias. Motivo do óbito: morte por asfixia.

Chanyeol indagou-se se o rapaz fora assassinado, pois seu corpo não possuía resquícios de inalação de gases nocivos e estava completamente intacto. Mas não indagaria muito, pois ele estava perfeito para uso científico. Então, por fim, começara a por em prática tudo o que elaborou por tantos anos, por tantas noites em claro... E logo estava reconstruído, reestruturando e moldando aquele corpo por dentro, do jeito que bem entendia.

  Meses se passaram com o cientista trancafiado em seu laboratório, dedicando todo seu tempo e energia ao que começara a fazer. Até que, finalmente, levara um susto ao ouvir que a máquina de batimentos cardíacos funcionara sem prévio aviso. E, de pouco em pouco... Seus beeps iam tomando velocidade.

Park Chanyeol sorriu ao virar seu rosto e encontrar um par de olhos castanhos abertos, encarando-o profundamente...

●●●

 Estava afobado, extasiado, entusiasmado. Mal podia esconder o sorriso de seu rosto, incontáveis foram às vezes em que tivera que pegar seus óculos que insistiam em cair no chão, pois não conseguia se acalmar. Nunca se empolgara tanto.

Aproximou-se com cautela até o corpo sobre o balcão de frio ferro. O experimento piscava vagarosamente, e às vezes tentava mexer um braço ou uma perna. Apesar de tê-lo costurado em várias regiões, inclusive a face infantil, ele parecia ter a sensibilidade do toque. Mas queria tocá-lo pessoalmente, escutar seus batimentos cardíacos com um estetoscópio, testar aquela criatura, saber o que sentia, o que poderia lhe dizer. Entretanto, talvez fosse melhor conversar... Não sabia se aquele experimento poderia ter reações perigosas, e não iria arriscar descobrir da pior forma.

“Como se chama?” Claro que Chanyeol sabia como ele se chamava, mas nunca fora bom em puxar conversa, ainda mais com uma criatura revivida. Os olhos castanhos e pequenos do rapaz remendado o encararam, da mesma forma profunda que vira minutos atrás. Seus lábios se partiram, mas tudo o que ouvira forma muxoxos desconexos, gemidos sem sentido, como se algo em sua garganta impedisse que pronunciasse uma palavra sequer.

“Não sabe falar?! Consegue me entender?!” Mas Chanyeol frustrava-se ao perceber que o experimento o olhava confuso. Talvez ele tivesse perdido a capacidade de falar, quem sabe sua mente não regredira? Era uma possibilidade. “Me chamo Chanyeol.” Resolveu tentar uma outra abordagem, pois insistir em perguntas podia deixá-lo ainda mais confuso e com perigo de se tornar arisco. E mais uma vez os lábios do menor se partiram.

“Chan... Chan...” Então ele era inteligente... Todavia, parecia que sua capacidade em pronunciar palavras ainda era extremamente pequena, pois engasgava ao tentar reproduzir em voz alta o nome que ouvira. Mas o cientista não previa o momento em que uma pequena mão, remendada por pontos, ia em sua direção. Ela tremia, como se aquele ser não conseguisse movê-la com firmeza, mas isso não impediu que o experimento alcançasse seu objetivo, o qual o fez se surpreender ao saber que era seu rosto.

O olhar do menor era curioso, e os dedos – que Chanyeol constatou terem a temperatura de um humano normal – deslizavam por sua face. Trêmulos, desajeitados, mas de forma quase gentil. “Chan... Nie...”

“Chanyeol!” Corrigiu, mas a expressão de encanto e curiosidade ainda estava presente na face do ser recém-revivido, que insistia em tocar o rosto do cientista à sua frente.

“Chan... Nie... Channie...”

“Não! É Chanyeol! Meu nome é Chanyeol! E o seu é Baekhyun!” O cientista nunca fora de ter paciência. Gostava das coisas rápidas e de forma prática, mas aquilo estava exigindo muito de sua calma... Algo que não era provido em grande quantidade. A cabeça do experimento inclinou-se para o lado, demonstrando que sua confusão era realmente verdadeira.

“Baek... Baekkie?” Perguntou, tirando a mão do rosto do homem alto e tocando a si próprio.

“Sim, é você! Mas é Baekhyun! Vamos, repita: Baek-Hyun!” Insistiu mais uma vez, e viu como o menor olhava para ele próprio e para Chanyeol diversas vezes, tentando analisar algo que o cientista não era capaz de deduzir.

“Baekkie?” Apontou para si mesmo, mas logo sua mão voltou para o rosto do maior. “Channie?” O homem de jaleco branco bufou, desistindo de tentar fazer aquele ser pronunciar os nomes de maneira correta. Talvez não devesse exigir muito de sua capacidade, pois acabara de acordar, acabara de voltar a respirar... Com o tempo, eventualmente, iria adquirir habilidades o suficiente para falar com clareza. No momento, o que importava, era que ele entendia, respondia e...

Estava vivo.

Chanyeol sorriu, acariciando os cabelos castanhos e lisos do menor. Não era uma carícia com a intenção de ser gentil, e sim, como um agradecimento por ser um experimento bem sucedido.

●●●

Adaptar-se ao mundo humano novamente estava sendo mais difícil do que o esperado para Baekhyun. Chanyeol percebia isso a cada dia que passava desde que aquele ser abrira os olhos em seu laboratório. Ele ainda não sabia falar direito, andava como um homem coxo, incapaz de se manter em pé corretamente, pois os pontos e quase remendos o impediam de possuir um equilíbrio melhor – por mais que sua capacidade de fala tivesse melhorado relativamente.

O cientista frustrava-se por seu experimento estar sendo mais um aborrecimento, um peso, do que um esclarecimento e um avanço. Mas queria acreditar que o experimento ainda lhe seria útil. Park Chanyeol não teria sua inteligência subestimada, ele não podia ter errado naquilo. O rapaz alto estava em seu laboratório tentando analisar aquela criatura, como fazia com frequência ultimamente. Mas tentar fixar os eletrodos na cabeça do menor estava sendo um desafio maior do que o esperado, pois ele insistia em retirar os fios e observar, mexer, brincar, além de tentar levantar da maca diversas vezes... E o cientista, de fato, não era provido do dom da paciência.

“Pare de fazer isso!” Gritou, segurando as mãos daquele pequeno ser que, para sua surpresa, encolheu-se como uma criança, podendo notar claramente como os olhos castanhos do mesmo se enchiam de lágrimas. “Des... Desculpa o Baekkie...” Sua voz soou mais fina que o normal ao terminar aquela frase, e alguns soluços de um choro baixinho se fizeram audíveis. Chanyeol ficara estático, em momento algum esperava uma reação como aquela.

“Baekkie não vai mais fazer...” O cientista ainda possuía um olhar surpreso, mirava o corpo do experimento sacodir a cada soluço que dava, esfregando os olhos com os punhos, como numa tentativa de conter as lágrimas. Ele também não era bom para lidar com pessoas chorando, muito menos numa situação onde nem sequer esperava acontecer.

Seu reflexo fora tocar a cabeça de Baekhyun, que levantou o rosto choroso em sua direção, encarando-o. O maior manteve-se em silêncio por alguns segundos, apenas retribuindo a mirada. “Tudo bem... Só não se mexa tanto, ok?” Chanyeol não sabia como ser gentil, mas algo dentro de si o convencera de que seria melhor tentar falar daquela maneira. Não era de seu feitio, mas de qualquer forma, dera certo.

O experimento parara de chorar e uma concordância com um mexer leve de cabeça foi o que recebera do mesmo.

Conseguiu prosseguir com a análise de forma calma, pois agora toda a atenção do menor estava sobre si...

●●●

 Baekhyun começava a se adaptar melhor à vida humana novamente, mas ainda era uma incógnita para o cientista.

Deixava que o pequeno andasse livremente pela mansão, por mais que, diversas vezes, tivesse que bronqueá-lo por mexer ou quebrar algumas coisas. Porém, sempre era respondido com um choro de culpa, que tinha o poder de fazê-lo manter a calma para poder acalmar o a criatura, mas agora ele estava parado, sentado no sofá da sala, assistindo televisão. Baekhyun descobrira sozinho como ligar, trocar de canais e aumentar o volume, o que Chanyeol considerou um avanço e tanto.

Aproximou-se com silêncio e cautela do local onde o menor se encontrava, seus pequenos olhos castanhos fixados na tela, o controle entre os finos dedos brancos. Olhou para o mesmo local que o outro focalizava e percebeu que toda sua atenção estava voltada naquele filme musical, que Chanyeol constatou se tratar de O Fantasma da Ópera.

Apesar de não se interessar por televisão e filmes, conhecia a história deste. Um homem deformado, vivendo confinado do mundo em um teatro, se apaixona pela jovem que o ensina, indiretamente, a cantar.

O rosto de Baekhyun estava iluminado em encanto, parecia hipnotizado, pois sua boca estava entreaberta e praticamente não piscava. Era interessante observá-lo daquela maneira... Interessante ver como simples coisas atraíam sua atenção, e tudo aquilo, com certeza, era um aprendizado para o menor. Entretanto, ainda não era o que Chanyeol esperava.

Lembrou-se de como estava esperançoso que todas as suas respostas fossem esclarecidas pela criação do seu experimento, mas todo o trabalho que achava que seria poupado retornou em dobro. Tivera que ensiná-lo a falar o básico, e apesar da criatura aprender rapidamente, já esperava que ele revivesse com uma inteligência mais avançada.

O pior momento foi tentar ensiná-lo a andar, pois no mesmo dia que o criou, notou que Baekhyun não era capaz de se manter em pé... Era como ser uma babá, e realmente aquele não era o objetivo de Chanyeol. Mesmo que pudesse se comunicar, caminhar de forma manca, o experimento ainda lhe dava muito trabalho. O único momento em que aquietava-se era assistindo aquela tela, e o cientista agradecia por aquele ser um dos momentos.

Porém levara um susto com uma reação inesperada do menor à sua frente. Mais uma vez um choro tornou-se audível, e o pequeno corpo encolheu-se sobre o sofá. Algo o assustara, e Chanyeol pôde notar o porquê.

Aquela parte do filme, onde a mocinha descobria o esconderijo do Fantasma, recusava seu amor... O homem deformado perdia seu controle. Uma cena que o cientista considerou assustadora para Baekhyun, analisando que sua mente ainda era frágil demais para entender e aguentar certas coisas. Ora, se mal aguentava as broncas que recebia, ver e ouvir aquela cena obviamente lhe provocaria uma reação parecida, ou até pior. E percebeu que realmente surtira um efeito mais forte, pois seu choro tornara-se mais alto do que de costume.

Rapidamente correu até o menor, arrancado o controle de sua mão e desligando a TV, fazendo despertar a atenção do mesmo. Suas mãos remendadas tapavam suas orelhas, os olhos vermelhos de lágrimas miravam o rosto de Chanyeol, revelando seu medo e desespero. “Chan... Channie odeia o Baekkie...?”

O cientista encarou aquele ser, parecendo tão desamparado e sofrido... Não, não o odiava, e não entendia o motivo daquela pergunta, mas há tempos desistiu de questionar os pensamentos do pequeno. Mesmo que não se importasse tanto com as pessoas, vê-lo chorar não era algo muito agradável. Sentou-se ao lado dele, tirando as mãos dos ouvidos do mesmo. “Não, não odeio.” Não sabia ser delicado, porém sua frase fora retribuída por um Baekhyun jogado em seu corpo, abraçando-o pela cintura, apertando-o com força.

Um abraço... Algo que há anos não recebia.

Não sabia como reagir, não sabia nem ao menos o que sentir. Há muito tempo não era provido de contato físico com outro ser vivo, sua solidão e repulsa em tocar outras pessoas desnecessariamente lhe impediam de tal ato. Mas naquele momento, não sabia como impedir o menor.

Ele ainda chorava, Chanyeol podia sentir sua camisa sendo molhada pelas lágrimas quentes, seu corpo remendado ainda sacodia por culpa daqueles soluços. Meio que de forma automática deslizou suas mãos por Baekhyun... Aquele quase abraço desajeitado surpreendeu o cientista que, há muito tempo, não tinha uma reação assim.

Aquele monstro era único, e talvez fosse mais misterioso do que imaginava.

●●●

 Quase um ano havia se passado desde então. Seu amigo, o ex-assistente, não o visitou desde que soubera da existência da criatura. Sua única companhia agora era Baekhyun.

Ele se tornara muito mais obediente, não brincava tanto com os eletrodos ou instrumentos de consulta que Chanyeol usava para analisá-lo. Podia sempre ver aquele pequeno corpinho andando pela mansão, mancando, um tanto torto, mas firme o suficiente para caminhar sozinho.

O menor ainda passava algumas horas do seu dia assistindo televisão, e era o único momento que realmente esquecia-se do mundo e permanecia quieto. Por mais que ainda se assustasse com certas coisas que via e fosse correndo atrás do cientista, já com os braços abertos para receber um abraço de consolo. Aquilo já havia virado rotina, e abraçá-lo já não era mais algo estranho para o homem alto.

Mas algo o incomodava... O pequeno não estava diante da televisão e tudo estava quieto demais. Geralmente, quando Baekhyun não estava assistindo nenhum programa ou filme, estava seguindo-o ou andando pela mansão, e o último fato sempre envolvia pequenas risadinhas solitárias e barulhos estrondosos de algo caindo ao chão e se quebrando.

Caminhou pelos locais onde o menor costumava a ir... A sala, o escritório, os quartos de cada um dos dois, o laboratório, a sacada... E cada vez mais se frustrava em sua busca. Estava um pouco cansado, subir e descer escadas, andar por corredores tão longos diversas vezes não eram exercícios costumeiros para Chanyeol. Todavia não conseguia se manter tranquilo... Em outras ocasiões teria ficado apenas sentado em seu escritório, despreocupado... Porém, aquela criatura tinha o poder de despertar sua preocupação.

Estava quase desistindo de procurá-lo de vez quando, passando pela porta da cozinha, sentiu um cheiro estranho... Era forte, e analisando por alguns segundos conseguiu chegar à conclusão de que se tratava de gás. Não lembrava-se de ter ligado o fogão, muito menos de ter usado a cozinha naquele dia.

Seus batimentos cardíacos dispararam ao pensar no que podia estar acontecendo e, ao abrir a porta da cozinha ferozmente, deparou-se com a seguinte cena:

Baekhyun estava em frente ao fogão, segurando uma caixa de fósforos que tentava, inutilmente, acender riscando-o na parte lisa, onde o rótulo estava prensado. Mas sua reação fora provida de uma rapidez e força que nunca pensou que teria. Sabia que a adrenalina tinha esse poder, mas nunca experimentara na pele senti-la daquela forma.

Correu em direção ao menor, arrancando a caixa de fósforos das pequenas mãos costuradas, jogando-a ao chão, desligando o fogão logo em seguida. “Ficou louco?! O que pensa que está fazendo?! Está tentando se matar, Baekhyun?!” Gritou, como nunca gritara em sua vida... Sua voz alterada agrediu sua garganta, arranhando-a.

“Eu... Eu... Baekkie não quis fazer mal... Não odeia o Baekkie, por favor! Baekkie só queria fazer comida pro Channie...!” Sabia que aquilo seria o início de um choro desesperado do pequeno, mas seu coração estava tão acelerado que talvez seu desespero estivesse ainda maior.

Puxou o corpo de Baekhyun para perto do seu, abraçando-o de forma protetora. “Nunca mais me dê um susto desses!” Dessa vez o tom de sua voz havia diminuído, mas a visão do rapaz costurado em meio à cozinha, com a caixa de fósforos com o cheiro forte de gás pelo local fez com que seu interior embrulhasse... O medo de ter chegado depois de um desastre tomou conta de Chanyeol, que o arrastou para fora do local, abraçando seu experimento de forma tão forte e possessiva que o mesmo tentava se soltar para poder respirar.

“Baekhyun, prometa pra mim que nunca mais vai fazer isso!” E segurando o rosto branco do menor entre suas mãos, sentindo os pontos das cicatrizes em seus dígitos, pediu de forma singela... Não gritou, não bronqueou, apenas olhou nos olhos castanhos e chorosos daquele ser que, de súbito, parara de chorar. “Baekkie promete...”  Sentiu seu abraço ser retribuído pelas frágeis e delicadas mãos de Baekhyun, que deslizaram até suas costas. A bochecha do menor estava escorada sobre seu ombro, e podia sentir também a enorme cicatriz, mesmo por cima do tecido.

Sua criação... Seu experimento... Ele não estava servindo para os propósitos iniciais, mas, de fato, aquela criatura era diferente.

●●●

 Naquele dia Chanyeol saíra e não voltara para casa tão cedo. Baekhyun podia ficar sozinho por algumas horas, durante a tarde, mas nunca havia se demorado tanto tempo... Porém, não estava preocupado.

Não, não estava mesmo.

O maior alegou que precisava fazer compras, e de fato o fez, mas não compras normais em um supermercado. Precisava de mais coisas para seu laboratório, até mesmo coisas que não podiam ser adquiridas de formas lícitas. Afinal de contas, Park Chanyeol era um cientista sem escrúpulos. Ou pelo menos costumava ser.

O fato de comprar medicamentos ilegais e até mesmo certas coisas orgânicas sempre o fazia terminar em um bar decaído, em alguma esquina fria e deserta, extremamente perigosa. E foi fazendo sua “compra do mês” com um velho e conhecido vendedor que, por desgraça e talvez para despertar seus olhos, acabou falando o que não devia.

O homem velho, de aproximadamente quarenta ou cinquenta anos, era um cientista aposentado e ignorado pela sociedade por ter sido considerado louco. Chanyeol não o achava louco e, depois de seu amigo, aquele que parara de ajudá-lo e visitá-lo, aquele senhor era o único que sabia, por cima, as metas científicas do jovem.

“Como andam as pesquisas?” Perguntou, num tom curioso e divertido. Apesar de o mais alto não achar que o velho homem era enlouquecido, não conseguia gostar de seu tom debochado de voz.

“Sucessos, ultimamente...” De fato fora um sucesso trazer de volta aquele ser humano à vida. Abrindo, limpando-o por dentro, mexendo, colocando e retirando órgãos da maneira que achou mais conveniente... Talvez o pequeno Baekhyun não tivesse tantos pontos se não tivesse achado divertido testar vários tipos de funcionamento e posicionamento do organismo humano em seu corpo.

“Não acredito... Você... Eu gostaria muito de ver isso um dia, moleque! E como vão as coisas? Já conseguiu arrancar alguma informação útil do bicho?” Havia excitação na voz do velho, porém, algo dentro de Chanyeol revirou ao ouvir como o homem se referira à Baekhyun.

“Ele tem um nome.” Talvez seu tom tivesse saído um tanto ameaçador, pois a expressão animada do rosto do senhor tornou-se carrancuda. “E não, as coisas andam um tanto devagar...”

“Ora, vejam só... Acho que me enganei ao pensar que você poderia, realmente, ter um futuro próspero como um cientista... Mas parece que seu coração foi amolecido. Ahhh, essa sempre é a desgraça dos que trabalham nessa área, essa fraqueza toda, sabe?!” E o deboche viera, aquele jeito de falar de forma desdenhosa.

Chanyeol suportara quieto àquelas palavras, pois, no fundo, sabia que havia fraquejado. Gostaria de revidar, mas o fato de saber que o velho estava certo o fez encolher-se e não retrucar. Apenas concluiu a compra... E com o dinheiro que sobrou, afundou seus pensamentos em álcool.

●●●

 Observava Baekhyun deitado em sua cama, dormindo em profundo sono. Tentava manter-se em pé, agarrando-se à cabeceira de madeira do local onde seu experimento descansava.

“Você... Por que não saiu como eu esperava?” Perguntou, seu tom de voz claramente alterado com os efeitos do álcool, mas que não acordara o menor... Pelo menos não de início. “Eu passei anos da minha vida... Tentando criar um ser que nem você pra me ajudar, não pra me fazer de babá!” O volume de sua voz subia a cada palavra, e os olhos de Baekhyun abriram-se, sonolentos, e, ao notar a presença de seu criador, abriu um enorme sorriso.

“Channie!” Mas ao esticar sua pequena mão remendada em direção ao rapaz parado à sua frente, o mesmo desviara, fazendo com que tudo o que apanhasse fosse um bocado de ar entre os dedos. 

“Escuta aqui!” Começou, apontando o dedo para o menor, que o observava com dúvida no olhar. “Eu não aguento mais você não fazendo nada! Não aguento mais ter que cuidar de você! Você é um monstro, aja como um!” E num berro mais alto, segurou Baekhyun pelos braços, apertando-o.

“Channie... Channie, tá doendo!” Choramingou, claramente assustado e confuso com as palavras que seu criador proferia. Porém, ignorando as reclamações de dor do menor, arrastou-o pelo braço porta a fora, fazendo-o cair ao chão e esbarrar em objetos diversas vezes. Chanyeol não estava sendo delicado, estava completamente alterado. “Channie! Channie!” Clamava o pequeno, ofegante, assustado, tentando se soltar do aperto forte das mãos do maior.

“Você vai mudar por bem ou por mal!” Gritou, olhando de forma furiosa nos olhos castanhos de seu experimento, jogando-o para dentro do laboratório. Pôde ouvir um baque forte, seguido de uma respiração forte, como se tentasse puxar o ar que lhe foi tirado dos pulmões de forma brusca, pois Baekhyun fora arremessado contra a parede com a força que Chanyeol o empurrara para dentro do local. 

As lágrimas brotavam nos olhos daquela criatura, que caíra no chão após o impacto doloroso que seu corpo sofrera. O maior o levantou, cambaleando, quase sem um rumo certo, mas forte o suficiente para fazer o menor deitar-se na maca, prendendo-o com amarras para que não escapasse. O cientista não sabia direito o que fazia, estava agindo com fúria e confusão, pois em sua mão agora encontrava-se um bisturi, que não hesitou em usar de forma desconcertada e impulsiva no braço do menor.

A sala fora invadida por um grito de dor.

“Nem que eu tenha que refazer você! Não passei... Treze anos de minha vida pra criar um monstro tão inútil!” E mais um grito do menor se fez audível, pois um de seus pontos havia sido completamente desfeito.

“Channie, tá machucando o Baekkie! Por favor, não faz isso! Baekkie promete... Promete ser um monstro bonzinho! Baekkie vai ajudar!” Os soluços tão dolorosos e a voz do pequeno que clamava por clemência fez com que, por alguns segundos, o cientista relaxasse os ombros e desse uma olhada no que estava fazendo.

Uma pequena poça de sangue se formara ao lado da maca onde o braço de Baekhyun fora cruelmente ferido. Seus olhos vermelhos escorriam lágrimas tão dolorosas que, por segundos, fez Chanyeol arrancar as amarras que prendiam a criatura com toda a força, libertando-o daquele cárcere.

“Saia... Saia daqui!” Gritou para o menor, que levantou desesperado e que, para sua surpresa, estava caminhando em sua direção. “Channie...” Sussurrou, segurando o lado de seu braço que escorria o sangue avermelhado. “Eu disse pra sair! Saia!” E com o último grito observou como aquela criatura de cabelos castanhos corria, assustado e em prantos, para fora de seu laboratório. Não sabia para onde ele iria... Mas talvez fosse melhor assim.

Park Chanyeol passara a noite chorando, sujo com o sangue do inocente que nada de errado fez. Soluçando tanto por culpa da grande quantidade de álcool como pela dor que sentia. Sua cabeça girava, em seus músculos latejava uma dor pulsante. Se desmaiou ou dormiu, não foi capaz de saber ao certo... Todavia, sabia que havia cometido o maior erro de sua vida.

 

 

 

"Foi, então, que vi à luz amarelada e fraca da lua, aquele infeliz, o monstro miserável que eu criara."

“Nada perdura, a não ser a instabilidade.”
                                                                                                             

– Frankenstein, de Mary Shalley.


Notas Finais


Talvez eu poste o capítulo final no sábado... Ainda não tenho certeza.
Agradeço desde já quem leu! Espero que gostem... E sim, será angst! Acho que deixei bem avisado nos alertas, mas vou ressaltar isso aqui nas notas.

Qualquer coisa podem falar comigo pelo twitter, ok? @tiinkerbaek com dois "i"s


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