História Positivo - Só estava me divertindo, oras.

Dois traços.

Positivo.

Positivo.

Positivo.

A palavra ecoava em sua mente sem parar, deixando–a tonta pela constatação.

Estava grávida. Estava grávida de cinco semanas.

Estava grávida de cinco semanas do seu melhor amigo, Sasuke Uchiha.

Sakura levou as mãos aos cabelos e os puxou para trás com um aperto enquanto andava de um lado para o outro em seu apartamento. Sentia–se enjoada há alguns dias e a menstruação já estava atrasada há um pouco mais de uma semana.

Torceu para que fosse uma virose ou apenas o efeito da nova pílula que estava tomando. Mas não, não era. E agora ela tinha certeza, e isso a assustava mais do que qualquer coisa. Morava em uma kitnet e provavelmente seu pai surtaria ao descobrir o quão irresponsável foi. Tinha apenas 22 anos, acabara de se formar e já teria que cuidar de uma vida, uma pequena vida.

O que diabos estava acontecendo? Não estava pronta para isso. Definitivamente não se sentia pronta para se tornar mãe. Céus, como aquela palavra lhe soara assustadora naquele momento.

O desespero começava a tomar conta de seus pensamentos e ela tentava se lembrar de como aquilo aconteceu e como foi parar naquela situação completamente inesperada e não planejada. Como pôde deixar aquilo acontecer?

Estudava Línguas Estrangeiras na Universidade de Tóquio, onde se formou no mês passado junto de Naruto, que conheceu no primeiro dia de aula do curso e construíram uma grande amizade a partir disso.

Com isso, o Uzumaki a apresentou para seu amigo do colegial, que também estava na mesma Universidade, porém, no curso de Tecnologia de Informação. Sasuke Uchiha, o moreno de olhos tão negros que nas primeiras semanas ela mal o conseguia encarar sem sentir que o mesmo era capaz de ler sua alma.

Mas quem diria que com o passar do tempo, os três iriam formar seu próprio grupo e levariam aquela amizade tão a sério. Se tornaram companheiros, dentro e fora da faculdade. E com os meses, Sakura começou a se aproximar de Sasuke e descobriu que ele não era apenas um garoto prepotente e mal–educado como muitos achavam. Talvez essa fosse a imagem que ele passasse por ser introvertido e até mesmo anti–social. Sem contar em como era orgulhoso, céus.

Porém, ao conhecê–lo mais aprofundadamente durante os finais de semana na casa de Naruto, a garota percebeu que o Uchiha era uma boa companhia e ouvinte. Era muito bonito, ela não teria como negar. A pele alva adornada pelos fios e orbes negros, a boca fina e bem desenhada e suas feições desinteressadas e másculas. Sem contar nas costas largas que Sakura gostava bastante de observar quando o moreno se virava.

Mas sentir–se atraída por Sasuke Uchiha era comum. Esquisito seria se ela não admitisse o quão interessante ele era. Todas as garotas daquela Universidade que em algum momento colocaram os olhos no moreno sentiram–se da mesma maneira. Por isso, ela apenas aceitava o fato de que também era uma mulher de bom gosto, e apenas isso.

Claro que não podia negar que sentia–se enciumada quando Sasuke saia com uma garota ou outra. Apesar de ser muito raro vê–lo acompanhado de alguém, quando acontecia isso acabava a incomodando. Mas Sakura nunca se questionou exatamente o porquê. Apenas deletava de sua mente os pensamentos que a deixavam entristecidas e retomava o sorriso largo em seu rosto.

Eram amigos e apenas amigos. E nunca passaria disso, pois se atravessasse a linha tênue de seus sentimentos, poderia nunca mais retornar. E caso o fizesse, tinha medo de arrepender–se amargamente, pois a última coisa que desejava era perder a forte amizade que construiu com o Uchiha e, quem sabe, ainda precisar se afastar do loiro pelo fato dos dois se conhecerem há mais tempo.

Já o moreno, mesmo a contragosto no início, encontrou na Haruno uma companhia irritante, porém que o deixava confortável. Sakura era uma pessoa alegre e extrovertida, o que o lembrava muito do Uzumaki. E com a insistência da garota, foi quase impossível não deixá–la entrar na sua vida. Mas disso, ele jamais se arrependeria, pois achou em Sakura uma amizade verdadeira e sincera.

A garota de olhos verdes lhe trazia algum tipo de paz que ele não era capaz de explicar. Apesar da personalidade ativa ser bastante parecida com o loiro, Sakura sabia respeitar seu espaço e muitas vezes o acompanhava quando ele queria apenas ficar calado e assistir algum filme ou ler um livro qualquer.

Ela o fazia companhia, mesmo que isso significasse não trocar uma palavra sequer. E ele sabia o quanto o fato de não falar era difícil para a garota. Ainda assim, ela continuava ao seu lado sempre e isso o deixava mais do que satisfeito. Além disso, quando qualquer um dos dois ficava doente, era de praste que a garota ficasse ao lado deles, com suas famosas misturas de chá com mel, até que estivessem 100% curados. Era, realmente, uma grande amiga.

Nunca lhe falara o quanto ela era importante em sua vida, mas ela sabia e isso lhe era o suficiente. Mas apesar de terem um relacionamento estável e tranquilo, eram o completo oposto um do outro, mas que de alguma forma criava uma harmonia entre si.

Ainda que no início de tudo a visse como uma menina irritante e dramática muitas vezes, volta e meia se pegava a fitando sem que a mesma percebesse. Mas oras, como poderia evitar? Ela era linda. As curvas bem acentuadas, os cabelos macios e longos que voavam com o vento, a pele delicada e os lábios finos e rosados que surgiam em seus sonhos de vez em quando. Era impossível não vê–la como mulher, por mais que tentasse ao seu máximo não enxerga–la daquela forma.

Porém, não gostava nem um pouco de como percebia os olhares de outros garotos sobre ela. Pareciam animais famintos atrás de uma presa fácil e isso o incomodava mais do que gostava de admitir. E mesmo com algumas piadas do Uzumaki sobre o ciúme e a possessividade do moreno, ele só explicava que era normal querer proteger uma pessoa querida daqueles abutres.

E mesmo não gostando de ver Sakura animada demais ao trocar assunto com algum cara qualquer, eles nunca conversaram sobre isso. Na verdade, o Uchiha se irritou de verdade somente uma vez na vida, quando em uma festa em que a Haruno já havia perdido a linha com a bebida, ele a viu aos beijos com um ruivo aproveitador.

Dificilmente acompanhava ela e Naruto nessas festas de faculdade. Não gostava muito daquele clima de pessoas bêbadas e se esbarrando. Mas abriu uma única excessão para aquela festa em especial a fim de celebrar a formatura dos alunos daquele semestre, que incluía o trio. E somente por isso.

E para o seu desgosto, não gostou nem um pouco da maneira que a garota escolheu para se divertir aquela noite. Usava um vestido preto colado demais ao corpo para seu gosto e grunhiu vendo as mãos de um cara a tocando por cima do pano fino. Sabia muito bem que Sakura saía com outros caras mesmo que não o contasse, mas ver aquilo de tão perto fez seu estômago revirar.

Só se lembrava que havia virado umas quatro doses de whiskey de uma vez só e em seguida surgiu na pista de dança puxando a Haruno pelo braço, que se debatia e o mandava a soltar.

Mas ele não o fez. Não era capaz de fazê–lo.

Procurou por um espaço menos tumultuado e mesmo com relutância da amiga, encostou–a na parede e prendeu o corpo pequeno contra o seu, que se tocaram de uma maneira que ambos sentiram o calor emanar daquele toque. As respirações ofegantes de ambos podiam ser sentidas na pele um do outro e Sakura já não dizia mais nada, apenas o encarava surpresa e cheia de expectativas com a boca entreaberta.

– O que estava fazendo com aquele cara? – rugiu baixo, encarando diretamente os olhos verdes confusos.

– Hã? – Torceu os lábios em uma careta. – Do que está falando? Só estava me divertindo, oras. Qual o problema? – ela rebateu com o cenho franzido sem entender onde o Uchiha queria chegar.

– Qual o problema? – Ele riu em escárnio. – Qual o problema, Sakura? – Aproximou seu rosto ainda mais do dela. – O problema é que eu não gostei nem um pouco da forma que ele te tocava – rosnou irônico e incomodado, fazendo a garota arquear uma sobrancelha não gostando da pergunta. – Você consegue melhor do que isso.

– Sa-sasuke, o que você... – tentou questionar, mas os lábios dele já tomavam os seus em um beijo urgente.

Ela retribuiu sem pensar muito. A mente girava pelo álcool em seu sangue, mas a verdade é que queria aquilo tanto quanto ele. Sempre quis.

As mãos do Uchiha passeavam por seu corpo, apertando sua cintura e a trazendo para mais perto. Seu toque em si era delicioso e ela ansiava por mais. Ele a segurava firme e ela gostava daquilo, se sentia segura em seus braços, como fosse feita para estar entre eles.

O beijo faminto a deixava excitada, Sasuke por inteiro a deixava excitada, e ter que se controlar em meio a uma festa cheia de gente não a estava ajudando.

Puxou os fios negros e mordeu o lábio do moreno, vendo um gemido baixo e rouco se prender na garganta do Uchiha.

– Vamos sair daqui – sugeriu com a voz afetada e ela estremeceu com o meio sorriso malicioso que Sasuke tinha em seus lábios.

O Uchiha deu um selinho na mesma e tocou seu nariz no dela em um carinho que a fez sorrir.

– Sim, vamos – concordou sem pensar duas vezes.

Ela o queria, queria muito. E por mais que não devesse, naquele momento, no instante em que seus lábios se tocaram pela primeira vez, ela já não seria capaz de resistir a nada que ele a propusesse.

Sasuke entrelaçou sua mão na dela e foram para o apartamento dele, chegando ao quarto aos tropeços. Havia pressa, havia desejo e havia necessitadade. O desespero de fazê–la sua, de desvendar o corpo feminino e beijar cada parte de pele dela. O Uchiha já havia perdido qualquer mínimo de raciocínio no instante que provou do gosto de Sakura e, agora, ele não descansaria até tomá–la por completo.

E foi ali. Foi ali, naquela noite que toda sua vida desandou e tudo virou de cabeça pra baixo.

Entregou-se de corpo e alma para aquele que deveria ser apenas seu amigo. Tiveram uma noite de luxúria, prazer, gemidos e tudo o que se tem direito. Exploraram um ao outro de forma afoita da primeira vez e sem pressa na segunda.

A noite foi longa, proveitosa, intensa.

Misturada entre os corpos suados, os murmúrios de excitação e os ápices que lhes arrepiavam até os pelos da nuca. 

Mas, na manhã seguinte, Sakura acordou em meios aos lençóis e sentiu um aperto no peito e um latejar na cabeça. Tudo girava e os flashes da noite anterior vieram em sua memória.

O que haviam feito? Céus, não deveriam. Aquilo poderia estragar tudo o que haviam contruído nos últimos anos.

Fitou Sasuke dormindo tão tranquilamente ao seu lado, com um braço rodeando a sua cintura e uma feição de calmaria que a deixou ainda mais nervosa. Como poderia encará–lo depois disso?

E se pra ele não significou nada além de uma noite de sexo? E se ele se arrepender? Ela lembrava muito bem do cheiro de álcool do hálito quente. E se ele... não se lembrar? Eram muitos questionamentos para lidar.

Haviam perdido a linha na bebida, mas Sasuke parecia ainda mais afetado que ela. E se, em seu subconsciente masculino, o Uchiha apenas vira nela uma oportunidade de se dar bem naquela noite. Se conheciam há anos e ele nunca lhe demonstrara qualquer iniciativa daquele tipo. Pelo contrário, já chegou a fazer até mesmo piadas dizendo que ele era muita areia para seu caminhãozinho, algo que sempre a deixava irritada, mesmo que ele dissesse em tom de brincadeira.

Algo estava errado. Se ele queria ficar com ela, por que só agora? Por que só depois de tanto tempo? Poderia ter sido somente um impulso ou até mesmo uma confusão.

Não gostava de onde aquela linha de pensamentos estava indo. Não poderia acreditar que o Uchiha apenas viu alguma chance de se dar bem naquela noite e aproveitou para leva–la para seu apartamento com facilidade pelo clima festeiro e não–sóbrio. Ele não era assim, ele era um cara legal e ela sabia.

Mas, naquele momento confuso, muitas coisas se passavam em sua cabeça e a Haruno simplesmente não se sentia capaz de lidar com aquelas angústias momentâneas. Precisava ir embora, precisava esquecer, precisava fingir que aquela noite nunca aconteceu.

Precisava fazer isso por ela. Por ele. Pela amizade que tinham.

Levantou–se com cuidado para não acordá–lo e vestiu suas roupas que estavam espalhadas pelo chão. Praguejou ao ver a calcinha rasgada, lembrando–se da forma intensa e selvagem com a qual Sasuke a tocou naquela noite. Sentiu o peito acelerar e as bochechas corarem. Algo em si a aquecia e isso a assustava. O que era aquilo? O que eram aquelas emoções que invadiam seu corpo sem seu aval?

A noite havia sido inesquecível, incrível, maravilhosa. Muito mais do que apenas sexo e ela sabia. Ao menos para si. E agora precisaria lidar com os sentimentos que já não queriam mais se esconder dentro do peito. Como pôde se deixar levar por aqueles sentimentos? Insistiu por tanto tempo que era apenas uma amizade especial, um carinho forte... mas já não podia mais mentir para si mesmo. Era mais, era muito mais do que amizade o que sentia por Sasuke.

Se xingou mentalmente por ter se deixado levar e terminado logo na cama do Uchiha. Como pôde ter sido tão fraca? Desde quando seu coração e corpo falam mais alto que sua mente e razão?

Colocou o resto das roupas com pressa e correu para a porta, fugindo daquela noite como quem foge de um erro pelo qual não se quer encarar as consequências.

Mas agora, após aquelas cinco semanas, ela não poderia mais fugir. Pois a criança que se formava em seu ventre era a consequência a qual ela não teria como escapar.