Sophie tentou passar pelo campo de força, mas não conseguiu.
— Erick! — gritou novamente. — Você está bem?
O brilho dentro do círculo só começou a diminuir depois de alguns segundos de espera angustiantes. O campo de força se desfez e aos poucos Sophie conseguiu visualizar a silhueta de Erick. Após todo o brilho sumir, ela conseguiu ver com clareza que os selos haviam sumido dos pequenos círculos desenhados e Erick estava segurando uma espada grande e negra nas mãos. Ela correu até Erick.
— O que aconteceu? — perguntou, com os olhos cheios de preocupação.
Erick estava aturdido e com a respiração ofegante.
— Deu certo, eu acho — comentou ele, um pouco confuso. — Com essa espada, podemos matar Lúcifer.
Sophie soltou um suspiro de alegria. Finalmente o fim estava próximo.
Um ribombar de trovões soou muito alto no céu, vindo do alto do morro da placa famosa de Hollywood. Erick ficou tenso com o barulho e começou a se concentrar para ouvir os anjos, mas não conseguia ouvir nada. Ian apareceu de súbito na janela da cozinha, assustando Sophie e Erick ao mesmo tempo.
— Chegaram mais demônios — informou ele. — Temos que ir ajudar os anjos agora.
Ian olhou para Erick e para a grande espada que ele segurava.
— Bela espada — comentou ele. — Acho que o tal ritual deu certo, afinal.
Erick sorriu.
— Estaríamos em apuros se não desse.
Com rapidez, Ian usou seus poderes de teletransporte e logo o trio se encontrava próximo ao grande letreiro, escondidos atrás de uma árvore alta. Ventava muito e o céu estava bastante cinza, Sophie conseguia ver centenas de anjos e demônios se enfrentando. Formas negras e brancas rodeavam o lugar e Sophie sabia que eram os anjos e os demônios mais habilidosos lutando com tamanha rapidez no ar. Ela notou com facilidade que havia mais demônios que anjos no local. Queria poder ajudá-los de alguma forma.
— Sophie, fique aqui escondida. Até Lúcifer aparecer, precisamos ajudar os anjos a abrir as portas do céu — avisou Ian. Ele fez um movimento esquisito com o pulso direito e uma espada dourada se materializou em sua mão.
— Tenham cuidado — disse Sophie, assustada.
Ian saiu correndo em direção à batalha e com seus novos poderes, conseguiu derrubar três demônios que o viram e o atacaram em sincronia. Erick hesitou em deixar Sophie sozinha, mas correu na direção da luta em seguida. Sophie assistia nervosa a batalha, mas não podia fazer mais nada. Notou que Ian e Erick estavam muito inspirados, cortavam e atacavam os demônios com muita rapidez e destreza, os anjos caídos tomavam fôlego e voltavam a se reunir e a atacar os demônios. Os demais anjos que permaneceram de pé lutando, começaram a atacar com mais vontade.
Sophie começou a prestar atenção na luta mais próxima dela. Um anjo que estava no corpo de um adolescente magricela se defendia contra o ataque de um demônio que dominava o corpo de um homem que parecia ter sido lutador de vale tudo no passado. Ela notou que o pequeno anjo não aguentaria se defender por muito tempo e não tinha forças para contra-atacar. O demônio vendo a fraqueza do anjo, levantou a espada que estava segurando, berrou e começou a correr na direção do seu pequeno oponente. Seria o fim do anjo, e Sophia queria de alguma forma impedir o ataque do demônio. Então uma luz branca cegante explodiu entre o jovem anjo e o enorme demônio. O demônio voou de encontro a um amontoado de pedras com tamanha força que as pedras se esfacelaram e desmoronaram em cima dele. Sophie olhou para aquela cena com espanto e notou que quem havia atacado era Erick. Ele ajudou o anjo, que havia caído no chão, a se levantar e caminhou com ele na direção de Sophie.
— Você vai ficar bem — prometeu Erick para o anjo.
O jovem resmungou alguma coisa, ergueu a cabeça e viu Sophie. Ele arregalou os olhos.
— A filha de Lúcifer. — Observou o anjo.
— Sim — confirmou Erick. — Sophie, esse é Anael, fique com ele até que se recupere, está bem?
Sophie assentiu. Anael ficou sentado no chão de costas para todas as lutas que estavam sendo travadas.
— Tudo bem.
Erick voltou para o meio da batalha entre anjos e demônios. Ele era imbatível com a espada dos selos. Nenhum demônio que o atacava sobrevivia para contar a história. Ele brandia sua espada, abrindo caminho em meio ao inimigo, tentando proteger os outros anjos.
— Está se achando com essa espada nova — zombou Ian atacando dois demônios ao mesmo tempo.
— E você está se achando com esses poderes de arcanjo — disse Erick.
— Estou mesmo — concordou — eles são demais.
Os dois atacaram juntos um grupo de demônios que estavam quase matando um anjo no corpo de uma moça loira e esguia. Sophie notou que tanto Erick quanto Ian estavam se sentindo bem confiantes na batalha e decidiu dar atenção ao seu companheiro de esconderijo.
— Anael, você está muito machucado? — perguntou ela.
Ele se moveu um pouco para testar seu corpo.
— Estou me recuperando, logo volto para a batalha.
Após alguns segundos de silêncio, o anjo criou coragem para perguntar:
— Como é ser filha de Lúcifer e ter metade dos poderes dele?
Sophie deu de ombros, nunca pensara nisso antes.
— É assustador — respondeu ela. — E meus poderes nunca funcionam quando quero.
— Ouvi histórias ao seu respeito — disse Anael, tímido. — Você é bastante corajosa e quer muito salvar os anjos e os humanos.
Sophie sentiu seu rosto começar a ficar vermelho.
— Eu… eu não fiz nada. Foi tudo Erick e Ian. Eles que descobriram como acabar com essa luta.
Anael decidiu que gostava da filha de Lúcifer. Ela parecia uma boa pessoa e estava apoiando os anjos mesmo o inimigo sendo seu pai.
— Eu espero que tudo isso valha a pena no futuro — disse Anael se levantando com dificuldade.
Sophie viu que o anjo teve dificuldade para se levantar.
— Você não pretende voltar agora, né? — perguntou.
— Eu preciso — disse o anjo. — Há alguém que quero proteger e ver se está bem.
Sophie levantou uma sobrancelha para o adolescente em pé ao seu lado.
— Alguém?
Anael ruborizou.
— Sim, ela é um anjo também, mas nunca sentimos nada um pelo outro no Céu. Quando descemos para a Terra, isso mudou. Tenho sentimentos por ela. Preciso saber se ela está bem.
Lembrando-se que alguns minutos atrás Erick e Ian salvaram um anjo no corpo de uma mulher, Sophie perguntou:
— Como ela é?
Anael fez uma expressão sonhadora.
— Ah, ela é linda, tão confiante e bondosa.
Sophie notou que o anjo realmente amava alguém, mas não era isso que ela queria realmente saber.
— Como é o corpo em que ela está? — perguntou Sophie.
O anjo parou de sonhar.
— Me desculpe, não tinha entendido a pergunta. — Ele passou as mãos pelos cabelos, envergonhado. — Ela é uma moça loira, nem muito gorda e nem muito magra, como esse corpo que estou usando.
Era a mesma garota que Ian e Erick salvaram, percebeu Sophie.
— Ela está bem — disse Sophie. — Vi ela lutando agora há pouco com um grupo de demônios.
Anael soltou um suspiro de alívio. Sophie notou um movimento vindo do arbusto ao lado de onde estavam, e deu um passo à frente para olhar mais de perto e então um demônio saiu de trás do tal arbusto e a atacou. Anael correu na direção deles tentando deter o demônio. O demônio percebeu a aproximação de Anael e o atacou com força. Como o anjo estava fraco, não conseguiu desviar e foi atingido pela espada do inimigo.
— ANAEL! — gritou Sophie.
Em um instinto, Sophie ergueu a mão aberta e seus poderes afastaram o demônio do anjo caído, erguendo-o no ar. Ela fechou com força sua mão e ao mesmo tempo, o demônio virou cinzas. Ela correu até o jovem anjo.
— Anael, você está bem? — perguntou Sophie.
O anjo tossiu e cuspiu sangue.
— Já estive melhor. Obrigado por me ajudar, Sophie.
Novamente ele começou a tossir e a cuspir mais sangue. Sophie não sabia o que fazer.
— Eu não vou aguentar — declarou o anjo.
— Não diga isso — disse Sophie começando a chorar.
— Por favor, diga a Dina que eu aprendi a ter sentimentos com ela. Que eu fiz o que nosso pai pediu. Eu vi como é bom sentir. Diga a ela, por favor. — Ele tossiu violentamente.
— Eu direi, prometo.
— Sophie, vocês têm que terminar isso.
Sophie não conseguia dizer nada, apenas chorar. Ele parecia tão jovem naquele corpo. O anjo desviou seus olhos para o céu e soltou seu último suspiro. Sophie sentiu quando a vida o deixou e jurou que faria de tudo para que os anjos fossem vitoriosos.
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