História Prefiro meu tio! - Único.

A criancinha só conseguia chorar, todos estavam o olhando com os semblantes entristecidos, mas ninguém o abraçava, ele precisava de um abraço. Os adultos entendiam muitas coisas, mas não entendiam que ele só queria um aconchego agora, ele precisava.

- Não chora Vi... não chora. Tô aqui com você. - Mas ele tinha Eren, que o entendia melhor do que todos ali, seu amigo o protegeu com os braços. - Pode chorar...

Como se não bastasse o pequeno Levi chorando, Kushel também chorou, foi abraçada por Carla. Levi sabia que a mãe se culpava, ele não queria isso.

- Desculpe meu bebê, me desculpe. - Ela fungava, sabia que fazia o possível para dar todo o carinho e proteção que seu filho precisava, porém não era suficiente, ela não podia fazer o papel de um pai. Ela era a mãe, amiga, confidente, mas não o pai. Isso a machucava muito, pois sabia que seu filho sempre se instristecia quando o dia dos pais chegava.

- Eu fiz o melhor cartãozinho que consegui, pintei tudo direitinho, fiz minha melhor letra... - O garotinho queria entender porque era assim. - Eren entregou pro tio, porque não posso entregar pro meu pai? Porque eu não posso ter um também? - O garotinho voltou a chorar, o cartão com sua mão desenhada tinha o nome escrito "Te amo Papai!" Com letras de forma, mas não tinha alguém para o receber. - O tio Grisha não pode ser o meu pai? Eren, você me empresta o seu pai um pouquinho? - O garotinho virou para o amigo, que estava com os olhos marejados.

- Empresto sim. Pode pegar ele pelo tempo que quiser, só não deixe ele muito cansado, ele já tem dores nas costas. - Eren acariciou os cabelos de Levi.

- Oh meu Deus. - Grisha estava a ponto de chorar, como todos ali na sala. - Levi não é assim que funciona, eu...

- Você não quer ser meu pai? - Levi perguntou mais cabisbaixo do que já estava.

- Ele vai ser seu pai! Não vai pai? Seja pai do Levi agora! - Eren gritou, não segurando mais as lágrimas.

- Não é isso Levi. Olha, vem cá. - Grisha chamou abrindo os braços para receber o pequeno. - Eu sou casado com Carla não sou? - Levi concordou. - Por isso eu sou o pai de Eren, ele tem meu sobrenome, eu não posso ser o seu pai, não sou casado com sua mãe.

- Mas mamãe nunca casou, eu não vou ter um pai nunca! - Ele se afastou bruscamente do abraço, rasgou o cartãozinho que passou a aula toda fazendo e saiu correndo para sua casa. Foi seguido de perto por Eren, eles eram inseparáveis.

- Você piorou tudo Grisha. - Carla falou ainda abraçada com a amiga.

- Não foi minha intenção. - Falou tristemente.

°°°

Eren estava deitado abraçando Levi, enquanto o de cabelos pretos chorava em seu peito.

- Os adultos são uns idiotas. Se eu fosse adulto, eu seria seu pai! - Eren falou indignado com a atitude egoísta, em sua visão, do seu pai.

- Se você fosse meu pai, como seria minha esposa? - Levi perguntou em meio ao soluço.

- Verdade. - Eren se lembrou desse detalhe. - Desculpa, não vou poder ser seu pai, mas vou ser sua esposa. Isso é bom?

- Claro que sim. Quero logo me casar com você e ter filhos, aí eu posso ser um pai.

- Você vai ser o melhor pai do mundo!

- Como eu vou ser o melhor pai se eu não sei o que é ser um pai? Eu sei o que é ser mãe. Então eu deveria ser a esposa.

- Não, eu quero ser a esposa, você vai ser o esposo. Já decidimos isso na sorte. - Eren achava que fazer de Levi um pai, faria ele feliz.

Levi nunca tinha conhecido seu pai, sabia que ele existia, caso contrário ele não estaria ele, chorando. Também sabia que ele batia muito na sua mãe, e ela o largou, Levi aprovava essa atitude, mas quem culparia uma criança por chorar e sentir saudades do que nunca teve? Levi sentia inveja dos seus coleguinhas quando era dia dos pais ou alguma apresentação, pois todos os pais conversavam e mostravam que eram fortes para levantar seus filhos, coisa que sua mãe não conseguia fazer, ele sentia inveja de Eren, pois o pai dele o jogava para o alto e saia correndo com ele assim, cosia que Kushel não conseguia fazer, Eren não precisava que sua mãe subisse em duas cadeiras para trocar a lâmpada queimada, ela tinha Grisha, Kushel se aventurava no alto sempre que a lâmpada queimava, ela também trocava o botijão de gás, coisa que na casa de Eren, o pai dele fazia.

- Desculpa mãe. - O pequeno Ackerman falou quando chegou na sala, de mais dadas com Eren. Sua mãe estava no telefone, mas não pensou duas vezes em desligar para ouvir o filho.

- Pelo quê, meu doce? - Ela se abaixou, ficando da altura das duas crianças.

- Por eu ter feito aquele escândalo mais cedo, eu prometo que não vou fazer mais isso. Eu sei que... O homem que era pra ser meu pai machucou a senhora, então não fique triste, meu coração não dói mais. Eu juro, Eren curou ele com beijinhos de amor!

- foi tia, enchi ele de beijinho até ele sorrir. - Eren falou orgulhoso.

- Mas estou com fome agora, curar o machucado me deixou com fome. - Levi falou para a mãe.

- Muito bem, vou ligar para Carla e avisar que Eren vai dormir aqui e a gente faz a noite da pizza. Que tal? - Kushel perguntou, as duas crianças gritaram de emoção, elas queriam pizza.

°°°
- Pois é. Mamãe falou que o irmão dela vai vir morar com a gente. Até vai arrumar o quarto da bagunça pra ele.

- Oh, não sabia que você tinha um tio. - Eren comentou enquanto empilhava alguns blocos para montar sua fortaleza.

- Ele ajudou mamãe quando ela fugiu do homem que batia nela. - Levi parou de tocar no assunto sobre seu pai com os adultos, agora só falava com Eren, ele sempre falava com Eren. - Eles acham que eu não sei, mas sabe, ouvi mamãe conversando com tia Carla, ela falou que Kenny bateu no homem e o mandou para o hospital.

- Nossa, quem é Kenny?

- Meu tio seu idiota. - Levi bateu na testa de Eren.

Quando Kenny chegou, foi muito estranho para Levi e Eren, agora tudo tinha que se ajeitar por conta do novo integrante, as duas famílias tinham que se organizar.

- Fala seus catarrentos. - Kenny falou abrindo a porta do quarto do sobrinho. Vendo os dois dormindo abraçados. - Ei, acorda os dois. - O homem cutucou as crianças. - Kushel, acho que eles estão desmaiados! - Gritou pela irmã.

- Só acorde eles! Já é hora do almoço! - Ela gritou da cozinha.

- Ok. - Kenny foi até a beira da cama, tirando o cobertor das crianças, vendo elas se aconchegando mais uma na outra. - Isso é bem gay. - Falou rindo do próprio comentário. - Vamos crianças, hora de comer. - Kenny não tentou acordar eles com cosquinha, esse não era seu estilo, então ele segurou ambas pela perna e as ergueu. Logo os gritos foram ouvidos, as pobres crianças estavam atordoadas e confusas.

- Mamãe! Socorro! - Levi gritava se debatendo.

- Meu Deus, estamos sendo capturados! Alienígenas! - Eren gritava, mais animado do que apavorado.

- Kenny, larga os meninos! - Kushel repreendeu o irmão.

- Eles não acordavam. - Falou colocando eles de qualquer jeito no sofá.

- Oh, você é Kenny? O tio de Levi? - Eren estava animado. - Você parece com ele. E com tia Kushel, você vai ser meu tio também? - Os olhos verdes brilharam.

- Sou tio dele, não seu. - Kenny não era delicado com crianças. - Mas posso te suportar.

- Ok tio! - Eren respondeu animado. - Temos que escovar os dentes pra comer, estou com fome! A comida tá pronta tia? - Eren correu até a cozinha.

- Esse moleque não tem família não? - O mais velho da casa resmungou.

- Ele é da família, assim como você. Ele vai casar comigo quando eu for grande. Vamos ter filhos juntos. Então trate ele bem. - O pequeno falou o mais sério que podia.

- Eita Tampinha, relaxa, não tenho nada contra o pirralho. - Falou se jogando no sofá, tirando as sandálias antes de colocar os pés na mesa de centro.

- Mãe não gosta disso. - Falou apontando para os pés do tio na mesa.

- Você não vai contar. - Falou sorrindo, Levi também sorriu.

°°°

Agora sua mãe não precisava subir em duas cadeiras para trocar a lâmpada, Kenny era alto o bastante, ele agora trocava o botijão. Agora Levi tinha alguém para lhe botar nos ombros e sair com ele assim na rua, como Eren saia com o pai. Mas Levi preferia seu tio, era bem melhor que um pai.

Agora seu tio também levava ele e Eren para a escola, era tão divertido ver ele xingando as pessoas, os pequenos aprenderam rapidamente muitos palavrões, cosia que Kenny os fez jurar que não falaria na frente dos pais, mas podia na frente dele, ele era o tio, então não tinham muitas regras.

- Olha pra frente seu corno! - Eren gritou da janela do carro, tampando a boca logo em seguida, ele amava essas idas para a escola.

- tem que ter mais voz. - Levi se inclinou na janela, apontando para uma aluna que passava com uma saia vem curtinha. - Ei menina! - Quando a garota olhou para os lados, não conseguindo identificar de onde vinha voz infantil, Levi falou. - Sua calcinha tá melada de bosta! - E caiu na gargalhada, Kenny não era uma boa influência para nenhum dos dois, mas eles adoravam aquilo.

Levi e Eren tiveram aulas de como se proteger em uma briga, onde Kenny ensinou eles a correrem? Não, a atacarem em conjunto, o que causou muitas idas a diretoria.

" - Você está dizendo que o meu Eren bateu em um garoto três séries na frente? - Grisha perguntou surpreso.

- Não só ele, Levi também estava na confusão. - O diretor encarou as duas crianças. - Eu não entendo isso, eles nunca foram de brigar antes.

- A gente não brigava antes porque não sabia, tinha que aguentar os meninos grandes xingando e brigando com a gente, agora sabemos se virar. - Eren falou, mostrando o músculo inexistente em seu braço fino.

- Sim, eles sempre falam cosias desagradáveis e vocês não fazem nada. Se tivessem tomado cuidado nada disso teria acontecido, a culpa é de vocês. - Levi acusou o diretor. Que o olhou assustado.

- Bem, podemos ver aqui que tem muitos culpados nessa situação, mas com toda certeza meu sobrinho e o amigo dele não é. Então resolva essa situação o mais breve possível. Não me obrigue a tomar providências. - Kenny falou sério. - É hora de ir, já estamos atrasados para o almoço, Kushel mais brigar.

- O que foi isso meninos? - Grisha perguntou quando todos já estavam dentro do carro.

- Vocês acertaram ele na onde? - Kenny perguntou sorrindo.

- Nas bolas! - As crianças gritaram.

- Merecem sorvete antes do almoço, parabéns pirralhos.

- Kenny... - Grisha repreendeu o amigo. - Não deveria incentivar eles a serem violentos.

- Ah pai, deixa de ser chato, os meninos estavam encrencando a gente.

- Isso tio Grisha, eles mereceram.

- Vocês têm que tomar cuidado, se eles forem bater em você outra vez? O que vão fazer? - Grisha falou, tentando trazer juízo para os meninos, mas eles apresentaram um plano detalhado para a possível situação, eles estavam preparados."

Levi já não sentia falta de alguma figura paterna, Kenny sempre lhe falou que era bem melhor um tio, sem tantas regras e mais aventuras, como na vez que eles saíram no  aniversário de Eren, ele tinha  11 anos, Levi ainda tinha seus 10. Para comemorar e dar tempo de preparem a festa, Kenny levou eles para caçar, foi a primeira vez que os pequenos usaram uma arma, tudo bem que foi de chumbinho, mas era muito legal segurar uma. E eles podiam atirar o tanto que quisessem.

- Estou exausto! - Eren resmungou se jogando na cama, que era ocupada por Levi. - Eu amei hoje.

- Sim, no meu aniversário ele falou que vai levar a gente para esquiar em uma montanha! - Levi estava animado.

- Verdade? - Eren pulou em Levi, o envolvendo com os braços. - Eu estou tão feliz. - Distribuiu beijos pelo rosto do outro. Nunca perdeu esse costume, e não seria agora, já que eram namorados de verdade.

- Eu também, quero muito ver você rolando no chão.

- Os de verdade eu sei quem são. - Eren falou divertido.

Levi só tinha uma certeza, na verdade duas: a primeira que ele amava Eren, mesmo que não soubesse o que de fato era isso, e a segunda era que preferia mil vezes seu tio do que qualquer pai.