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História Prelúdio das Cinzas - 19


Escrita por: rubiconvenus

Notas do Autor


Oi ;) espero que gostem!

Capítulo 20 - 19


Capítulo 19: Momentos antes

 

Faltava algumas horas para os nobres chegarem para o festival e todos só falavam disso nos corredores do Castelo. Depois do que eu falei para Odette na cozinha, ela ficou extremamente ofendida e solicitou a Lord Kaiser que eu fosse substituído de residência, motivo pelo qual Sorella estava muito aborrecida.

Minha irmã tinha se apegado a Fernanda e foi um pouco difícil ver as duas se abraçando e se despedindo. Quer dizer, eu pensava muito se Sorella não deveria já ficar com Fernanda de uma vez por todas, mas claro, eu não poderia fazer isso, então, quando Fernanda veio me abraçar para se despedir e desejar nova sorte na minha nova casa cordialmente, eu disse:

-- Se algo me acontecer, você cuida de Sorella por mim?

Fernanda segurou em meus ombros e me afastou, seus olhos castanhos escuros me encararam com espanto e um pouco de pavor:

-- Por que você diria algo assim? Alguém está ameaçando você?

-- Ninguém está ameaçando ele não, Fernanda. - Odette estava com os braços cruzados e o ombro apoiado no batente da porta, o nariz estava empinado com orgulho besta e seu rosto virado, me ignorando. -- Além disso, que eu saiba, ele está indo para a casa de Emanuelle, a grávida, que ofereceu seu bebê ao festival e portanto, ela vai ganhar uma residência maior e mais perto do Castelo! Pelo visto, essa intimidade com o Imperador deu mesmo lucro!

-- Mãe! - Fernanda a repreendeu. -- É por causa dessa sua atitude que Eydwen está deixando essa casa, caso não se recorde a senhora que pediu para o Imperador que o transferisse.

-- Fernanda, deixa. - Sorella segurou no braço dela, revirando os olhos verdes. -- Ainda vamos fazer muita leituras juntas, não é verdade?

-- Vamos, claro que vamos. - Fernanda suspirou, bateu de leve as mãos nos meus ombros e depois, virou-se para Sorella abraçando-a novamente. -- Eu te adoro, piveta!

-- Eu te adoro! - Sorella respondeu sorrindo e abraçando Fernanda com carinho. Elas se soltaram e Sorella estendeu a mão acenando de longe. -- Obrigada por tudo dona Odette. Fique em paz.

E me empurrou para seguirmos em frente. Suspirei, pegueu na alça do baú de um lado e Sorella do outro. Como não tinha nada pesado, estava leve de carregar, só era grande demais. Fernanda acenou antes de voltar para dentro de casa, Odette foi a primeira a desaparecer para o interior do sobrado.

-- Gorda maldita! - Sorella praguejou subindo a rua, me ajudando com o baú. -- Quem essa maldita pensa que é para nos botar para fora assim?

-- Ganhamos uma casa só nossa, você não deveria estar feliz?

-- Certo, uma casa, é mesmo muito legal, mas eu vou ficar sozinha enquanto você fica se esfregando no Imperador? - Sorella disse ardida, puxando o baú com muita pressa para chegar em seu destino. -- Pelo menos tem valido a pena, irmãozinho?

Parei de andar, soltando o báu. Sorella ainda deu um passo, mas logo que o baú caiu em seco no chão, ela não conseguiu se mexer e virou para me olhar, com o cabelo enrolado cobrindo o olho ruim e tentando esconder a cicatriz.

-- Ganhamos uma casa só nossa. - Eu disse com os olhos em lágrimas. -- Você não deveria estar feliz?

-- O que há de errado com você? - Sorella abriu bem o olho bom, surpresa. Vi seus lábios tremerem quando ela percebeu ter me magoado. -- Desculpa, eu…

-- Você vai fazer doze anos após o festival, já passou da hora de se desgrudar de mim. - Peguei a alça do baú e o levantei do chão. -- Vamos, ainda tenho que pegar o registro que nos dá direito de usar a casa. Tente não ser rude com o Imperador.

Sorella ficou me olhando com a boca aberta, mas não disse nada. Apenas pegou o baú na outra alça e juntos, caminhamos até o Castelo, para passar no escritório de Lorde Kaiser.

O castelo estava uma bagunça e tivemos que nos desviar de muitos escravos cuidando dos últimos detalhes, especialmente que eu e Lorde Kaiser nos distraímos na biblioteca e quando ele saiu, odiou a decoração que tinham feito, mandou que arrancassem tudo e começassem de novo. Os nobres chegariam ao anoitecer e eu já me revirava de pensar que a noiva do Imperador estava chegando na primeira comitiva. Como será que ela era? Mais bonita que eu, com certeza.

-- Será que o Imperador vai me dar uma boneca? - Sorella cortou o silêncio entre a gente quando soltei o baú no chão. Olhei para ela desconfiado. -- Todas as crianças tem uma, menos eu. Todas elas ganharam quando chegaram… Fernanda tinha uma e me emprestava para dormir abraçada.

Eu sabia disso. Sorella se agarrava àquela boneca de pano toda noite. Mas eu estava com raiva do que ela tinha dito e não queria pedir uma boneca para ela.

-- Você não é mais criança, cresça. -- E virei as costas, saindo de perto dela. -- Espere aqui, vou pegar a autorização e as chaves.

Ela ficou quieta, apenas abaixou a cabeça e se encostou na parede para me esperar. Caminhei até o final do corredor e bati a mão na porta três vezes.

-- Entre. - A voz do Imperador soou.

Normalmente ele não ficava na sala de ofícios, ele mandava Lorde Gavril ou Lady Aysla cuidar desses assuntos mais emergentes, porém, ambos estavam ocupados com a organização do festival, reforçando a guarda e outros pormenores e o Imperador teve que cuidar desse desentendimento entre eu e Odette pessoalmente.

Engoli em seco e passei para dentro da sala. O escritório estava com luz de abajur, confortável e amarelada e tinha muitas prateleiras com livros e papéis. A mesa de trabalho era grande e repleta de rolos de papel, pilhas de documentos e carimbos sobre a mesa.

Lorde Kaiser estava sentado na poltrona e seus olhos não me viram chegar. Sua cabeça estava baixa e ele assinava um papel com uma pena. Pegou um carimbo e bateu, enrolou a folha e passou um elástico.

-- Aqui. - Ele estendeu o papel.

Segurei com a ponta dos dedos o rolo e senti um choque estranho em todo o corpo. Minha mente viajou em alta velocidade para longe daquela saleta e de repente eu estava em uma enorme sala atrás da biblioteca, onde livros ainda mais antigos estavam guardados. Lorde Kaiser estava lá, derrubando os livros da prateleira em uma cena de aparente loucura. Ele parou, encarando um único livro de capa vermelha… E a imagem retrocedeu, me fazendo voar novamente para o escritório e para o presente.

-- Está tudo bem?

-- Hm? C-Claro. - Segurei o rolo com as duas mãos e mordi a boca.

Lorde Kaiser olhava para mim agora, sério e esperando alguma reação de mim, que eu não sabia qual era. Minha impressão era que eu tinha perdido alguns segundos naquela sala, mas tudo o que eu queria era saber se aquele lugar atrás da biblioteca realmente existia e que livro era aquele.

-- Não vai ler o ofício?

-- Sim, vou. - Tirei o elástico e desenrolei o papel. Mordi a boca. Ele tinha escrito o meu nome como Nemesis. -- Então não sou mais Eydwen?

-- Não era o que você queria? - Lorde Kaiser encostou as costas na cadeira, me contemplando. Fiz que sim com a cabeça. -- Claro que ainda faltam uns detalhes para você se tornar alguém digno de usar Nemesis como nome, mas eu prometo a você que será.

-- Hm. Obrigado, meu senhor.

-- Não… Você vai ter que me agradecer de um jeito muito melhor do que isso, Nemesis. - Lorde Kaiser sorriu maliciosamente e engoli saliva, ansioso.

-- Como posso demonstrar minha gratidão, meu senhor?

Lorde Kaiser juntou as mãos, unindo as pontas dos dedos uma nas outras, com os cotovelos no braço da poltrona, tomando uns minutos de silêncio, para fazer suspense, pois tenho certeza que ele pensou muito bem nisso antes de me sugerir o agradecimento.

-- Amanhã é dia de folga e eu tenho reunião com o Conselho neste dia… Mas depois de amanhã, quero que seja meu convidado para um jantar. Pense nele como nosso primeiro encontro, vista algo apropriado, meu alfaiate pessoal não se importa com dias de folga, especialmente quando pago o dobro para ele te vestir como um nobre.

Eu considerei me sentir eufórico, mas depois eu me lembrei que Lorde Kaiser provavelmente estava encenando como Lady Lannah sugeriu. Um jantar com os nobres, para todos terem a oportunidade de ver que ele está envolvido comigo. Certo, eu posso viver com essa encenação.

-- Claro, meu senhor.

-- Vá, vá aproveitar sua nova casa. Perdoe-me por não poder acompanhá-lo, mas como sabe, estou cheio de pequenos nós para desatar até os nobres chegarem. - Ele abanou a mão e me dispensou.

Eu fiz um cumprimento de subordinação, me curvando e sai do escritório com a autorização para usar a casa. Encontrei Sorella no corredor, ela revirou os olhos ao me ver sorrir e pegou uma alça do baú.

Fomos para casa e era um sobrado grande demais para nós dois, com três quartos, uma sala de estar, cozinha e banheiro. Tudo simples, mas ainda assim, um lugar para chamar de lar. Na cama de Sorella tinha uma boneca, quando ela viu, me abraçou, mas eu não tinha pedido aquela boneca para ela.

 

***

 

-- O bebê de Emanuelle é um garoto. - Fernanda contou enquanto caminhávamos pelo salão, segurando cestas de milho que seriam assados no festival. Estávamos de uniforme, mas era um especial do festival, parecia um kimono, vinho, e um pano branco na cabeça, como de uma camponesa. -- Ela deu o nome de Johin. Parece tão fofinho, uma pena que será posto em sacrifício esta noite.

Escravos passavam de um lado para o outro todos com suas funções naquela noite. O bom é que eu e Fernanda estávamos no primeiro turno e depois poderíamos ir assistir o desfile do festival e ver os nobres chegarem. Sorella estaria conosco, afinal, por causa do defeito em seu rosto ela não foi escalada para trabalhar no salão. Por sinal, nem eu. Era algo ruim, eu não tinha um amigo dentro do salão para servir de informante e nunca saberia o que aconteceu até o dia seguinte, que era de folga, em que eu esperava que alguém comentasse alguma coisa relevante e eu escutasse.

-- Quando você diz sacrifício....

-- Uma mesa de ritual. É um festival para a Casa de Renwora, os bruxos, que toma parte uma vez por ano, você não sabia que um bebê recém nascido é sacrificado nesse ritual?

-- Não! - Reparti a boca horrorizado. -- Você acha normal?

-- Na verdade, Nemesis, não acho não, mas é assim que as coisas são. Infelizmente nem sempre temos o poder de ser a mudança imediata que o mundo precisa. - Fernanda suspirou abrindo caminho para outros escravos passarem no sentido contrário, retornando depois de deixar suas cestas. Yasser bateu o ombro comigo. Parei de andar e ele passou reto, como um rolo compressor. -- Acho que Benjamin ainda não superou que você é amante do Imperador.

-- Meu Deus, já está todo mundo sabendo?

-- Depois do que você com minha mãe, como não? Mas, quem sou eu para dizer alguma coisa não é? - Ela piscou o olho e entendi que se tratava de Lorde Gavril. -- Desculpe não ter dito a você que tinha um irmão chamado Eydwen, mas eu nem era nascida quando ele morreu...

-- Não tem problema. Além do mais, você é a única a me chamar de Nemesis. - Sorri.

Nos aproximamos da grande grelha e despejamos os milhos em uma pilha que já estava lá. Os preparadores espetavam os milhos em um grande palito, no qual seriam servidos ao público.

-- Nah, nem me agradeça. Estou feliz que você finalmente ganhou alguma voz com o Imperador, Lorde Kaiser parece realmente se importar com você.

-- Ele não se importa.

-- Claro que se importa! Ninguém faz as coisas que ele faz se não fosse algo.

-- Eu te conto um segredo. - Disse retornando com Fernanda para as escadarias, onde pegaríamos mais uma cesta. -- Mas você não pode contar a ninguém.

-- Minha boca é um túmulo! - Ela fingiu trancar a boca com uma chave.

-- Combinamos que seria pura encenação, mas está difícil separar as coisas… - Eu confessei e Fernanda abriu os olhos em surpresa, erguendo as sobrancelhas. -- Às vezes, eu me deixo levar, entende? É quando eu tomo aquele choque de realidade e me sinto um completo idiota por pensar que sou mesmo especial.

-- Encenação? Oh… Vocês me enganaram direitinho, eu pensei que o sexo fosse real.

-- Ah, o sexo é real. - Dei risada e Fernanda fez cara de espanto, antes de soltar uma grande gargalhada.

Voltamos para dentro do salão e continuamos nossos trabalhos, até que deu o encerramento do nosso expediente. Fui buscar Sorella, que estava descascando milhos e de forma bem empolgante seguimos para o festival, para assistir o desfile.

 

(Continua)

 


Notas Finais


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