História Prelúdio (Taekook - Vkook) HIATUS - Capítulo 5 - Confirmação.

Minha missão-quase-impossível havia começado há mais ou menos quatro horas e, até agora, tive o total de 0 sucessos. Tentei de várias maneiras me aproximar de Jeon Jungkook, mas, seja por timing ou coragem, não consegui tocá-lo uma única vez. Era patético como eu acabava por me embolar e não fazer nada. Parecia um adolescente tentando confessar seus sentimentos à uma pessoa que não o conhecia. Afinal, por que era tão difícil de arranjar uma oportunidade? Durante o dia, devo ter encostado em mais de dez pessoas diferentes, todas sem querer. Por que uma delas não podia ser o garoto novo?

Agora, Jungkook analisava cuidadosamente uma lista de livros. Hoseok havia lhe pedido para que conferisse se todos estavam nas estantes, principalmente aqueles que a editora entregara havia pouco tempo. Ele segurava a prancheta com o braço esquerdo, marcando cada título que encontrava com a mão direita. Às vezes, levava o lápis ao queixo, como se isso fosse ajuda-lo a pensar melhor. Observando-o dessa perspectiva, perto ao caixa, percebia o quão bonito seu perfil era. O nariz, olhos e mandíbula, pareciam ter sido desenhados com perfeição, enquanto seu cabelo, levemente bagunçado, provocava uma harmonia inexplicável. Não era à toa que as clientes femininas o olhavam desde que chegaram e, até mesmo, tiravam fotos escondidas. Ele parecia uma celebridade.

– Eu realmente fiz a escolha certa contratando vocês dois. Prevejo um aumento significativo do público feminino. – Comentou Hoseok, rindo, fazendo-me sair do transe. –  Mas, e aí, algum progresso? – Sussurrou.

– Nenhum. Eu pareço estar andando em círculos. Toda vez que tento me aproximar, ele sai na mesma hora, alguém interrompe ou eu que não tenho coragem. – Respondi no mesmo tom, deixando minha frustração transparecer na fala. – Em compensação, vi o futuro de várias pessoas enquanto atendia. Minha cabeça chegou a doer. – Suspirei, massageando minhas têmporas ao relembrar da dor.

– Que merda, hein? – Assenti, olhando para o nada. – Parece que quanto mais queremos que algo aconteça, menos o universo colabora. – Não é?

Durante toda a tarde, era como se fôssemos dois imãs de polos iguais, sempre nos afastando quando eu me aproximava. Para falar a verdade, estava preocupado quanto à impressão que Jungkook tivera de mim quando nos apresentamos. Provavelmente ele me acha uma pessoa esquisita e, por isso, se afaste de mim. Ou eu fiz algo de errado sem saber? Será que, sem querer, acabei o atrapalhando durante o trabalho?

– Ah, hyung. – De repente, acabei por me lembrar do que vira ao tocar Hoseok. Estava tão focado em minha confusão, que esquecera completamente do quão sufocado meu amigo parecia naquela previsão. – Você conhece algum Park Jimin? – Perguntei, analisando-o com cuidado. Pela sua expressão confusa, acredito que ainda não o conhecia.

– Não... – Respondeu, pensativo, provavelmente fazendo uma lista mental de conhecidos. – Viu esse nome no futuro de alguém? – Concordei com a cabeça, lentamente.

Fitei-o, ponderando se deveria ou não falar sobre. Há alguns anos, quando contei a ele sobre minha habilidade, prometi que evitaria revelar o que aconteceria em seu futuro caso o visse. Hoseok dissera que gostava da vida como era, uma surpresa. Mas... e se acontecer algo pior justamente por eu não falar?

– Vi no seu. – Disse, enfim. – Não contarei se não quiser.

Seus olhos, em surpresa, arregalaram-se no mesmo instante. Observando a reação, creio que a possibilidade não tenha passado por sua cabeça – mesmo que, hoje mesmo, eu tenha segurado seu pulso.

– No meu? – Perguntou, apontando para si mesmo, incrédulo. – Como que esse nome apareceu? Porque eu realmente não consigo pensar em ninguém, mesmo que o nome seja bem comum. – Pensava, colocando a mão direita no queixo. – Pode contar mais ou menos.

– Você parecia bem preocupado com ele, como se alguma coisa de grave estivesse acontecendo. – Tentei resumir ao máximo, sem dar muitos detalhes sobre a cena. Mais uma vez, uma expressão de surpresa. – Acho que esse Jimin vai ser alguém muito importante na sua vida. – Sorri, ternamente.

Seria egoísmo meu pensar que fui o único a ser afetado pelo incidente de dois anos atrás. Hoseok também estava lá e havia perdido alguém importante. Por mais que ele sempre estivesse ao meu lado, tentando me ajudar a seguir em frente, eu sentia que algo estava errado com ele – como já disse uma vez, hyung é bem transparente em suas emoções mesmo ao tentar escondê-las. Antes, ele sempre buscava fazer amizades, conhecer pessoas novas. Agora, não o vejo mais fazer isso. Fico contente em saber que, em um futuro próximo, ele deixará alguém entrar em sua vida e terá, enfim, um recomeço.

Ele parecia querer dizer algo, provavelmente por ter percebido meus pensamentos, mas não pôde fazê-lo.

 – Chefe, desculpa interromper. – A doce voz de Jungkook se fez presente, fazendo-nos olhar em sua direção. – Parece que a editora esqueceu de enviar duas coleções, Bakuman e Slam Dunk. – Entregava a prancheta à Hoseok. – São os únicos da lista que não estão na estante.

– Sério? – Olhou as anotações, franzindo o cenho.

Para conferir, Hoseok saíra do balcão e passou a observar cada título – não que não confiasse no novo funcionário, mas porque precisaria da certeza para evitar intrigas desnecessárias com o fornecedor. O jovem, por outro lado, sem saber o que se passava na mente de Hobi, parecia tenso com a situação. Sua mandíbula estava contraída e, seus olhos, atentos. Como eu queria avisá-lo que Hoseok era um chefe tranquilo... No máximo ele diria “Não se preocupe, erros acontecem. Mas, da próxima vez, preste mais atenção”, algo assim.

– É. Acredito que tenham esquecido de mandar. – Concluía, voltando ao caixa e pegando o telefone fixo da livraria. – Obrigado por avisar, Jungkook. – Sorriu, logo discado o número e entrando em contato com a editora.

Um suspiro passou pelos lábios rosados do menor, mostrando o alívio por não ter cometido um erro em sua primeira tarefa. Ele parecia ser uma pessoa bastante focada no que faz. Pelo o que observei, ele conferiu mais de uma vez todas as estantes. Por mais que eu fosse uma pessoa responsável, deixava muitas coisas passarem por pura falta de atenção. Esse jovem era perfeito para o trabalho – seu esforço era invejável.

– Jungkook, você veio de carro ou sabe dirigir? – Perguntou Hoseok, olhando o menor atentamente.

– Não vim de carro, mas tenho carteira. – Respondeu o mais novo, obedientemente.

– Ótimo.

Sendo assim, retirou de seu bolso a chave do carro, entregando-o ao novato. Não pude evitar olhá-lo em surpresa, visto que hyung não emprestava seu mais novo bebê para ninguém. Ninguém mesmo. De acordo com ele, passaria o resto da vida pagando-o.

– Vá até a editora e busque as coleções que faltam. Disseram que houve um problema na hora da entrega, que deixaram a caixa para trás. Como a transportadora fechou agora a pouco, temos que busca-los nós mesmos. Leve Taehyung com você, ele sabe onde você precisa ir. – Abria um grande sorriso ao terminar de falar, lançando uma piscadela discreta para mim. – Cuide bem do meu carro, ok? Ele é como a minha vida.

Agora tudo fazia sentido. Era por isso que ele deixaria Jeon Jungkook dirigir o seu grande tesouro. Sou a pessoa mais feliz do mundo por ter um amigo como Jung Hoseok. Hobi, você é um gênio.

– Pode deixar, ele ficará à salvo em minhas mãos. – Concordou Jungkook, dando um delicado sorriso. – Então, vamos, sunbaenim? – Olhava-me com a mesma expressão, esperando uma confirmação minha. Por algum motivo, minha voz se recusava a sair, fazendo-me apenas assentir.

***

O caminho da ida não fora um completo desastre. Como precisei explicar todo o trajeto até a editora, não tive problemas com interações sociais básicas – sou um desastre com elas. Jungkook era bem esperto, entendia tudo de forma rápida, o que tornou tudo mais tranquilo e sem perturbações. Ao chegarmos ao local, conversamos brevemente com o proprietário, que se desculpara pessoalmente pelo erro dos funcionários e nos garantiu frete gratuito na próxima entrega em forma de compensação. E, para o meu azar, um funcionário ficou encarregado de levar a caixa ao carro, o que impediu o surgimento de quaisquer oportunidades de um toque “acidental”.

Antes de sairmos, agradecemos o trabalhador pelo trabalho duro – mesmo que, na prática, só tenha me atrapalhado – e, agora, enfrentávamos o maior problema de toda a viagem: o silêncio. Sem exagero, os únicos sons perceptíveis eram os da nossa respiração, do carro acelerando e da rua agitada de Seul. Como o sinal do rádio estava dando interferência, nem música havia no ambiente – por que as minhas habilidades sociais não funcionavam? Odeio esse clima. Jungkook parecia incomodado, visto que batucava o volante com o seu indicador, mas poderia ser apenas minha imaginação. Às vezes, preferia um caminho mais silencioso. Ele estava bem concentrado na estrada, dirigindo em uma velocidade segura e atento aos detalhes para evitar algum tipo de dano ao carro. Para sorte de Hoseok, o novato tinha jeito. Sem exagero, se qualquer garota da livraria o visse assim, ficaria admirada pela imagem que teria à sua frente. O rapaz era realmente bonito.

– Sunbaenim. – Começou a dizer Jungkook, quebrando o silêncio mortal que seguira por tantos minutos, fazendo-me ficar surpreso. – Era você o rapaz do ônibus, certo? – Assenti em concordância. Isso quer dizer que ele realmente me reconhecera. – Peço desculpas por ter pego seu pulso. Você parecia bastante desconfortável hoje quando algumas clientes esbarravam em você, então tentei ao máximo manter distância. Mas... – Respirou fundo, parecendo um pouco frustrado. – Eu fiz alguma coisa de errado?

– Que? – Soltei, incrédulo com a pergunta.

Ele estacionava o carro em frente à livraria, soltando um suspiro ao largar o volante. Como se estivesse tomando coragem de dizer algo.

– É que você ficou me olhando a tarde toda, como se eu tivesse feito alguma coisa de errado. Então, pensei que você estivesse frustrado pelo incidente do ônibus, porque é a única coisa que lembro ter feito. – Ele agora me fitava, preocupado.

Não pude evitar gargalhar. Passei a tarde inteira tentando me aproximar dele, perguntando-me se tinha causado uma primeira impressão ruim e se eu tinha feito algo de errado para ele fugir toda vez que me via. Isso é realmente cômico.

– Não, você não fez nada de errado. – Continuei a rir, deixando-o confuso. – Eu estava tentando me aproximar de você, por isso que não parava de te olhar e parecia frustrado. – Parei o riso, mantendo apenas os lábios curvos.

Jungkook ficara em silêncio por alguns segundos, até ser a sua vez de rir. Sua gargalhada parecia a de uma criança – inocente e contagiante – e revelava seus dentes avantajados, fazendo-me lembrar de um coelho. Era realmente fofo.

– Meu Deus, eu devo ter parecido muito paranoico agora a pouco. – Parecia envergonhado, ainda mantendo o riso. – Desculpa por fugir o dia inteiro, sunbaenim.

– Taehyung. – Corrigi, sorrindo. Ele olhava para mim mais uma vez com aquela sua expressão confusa. – Vamos esquecer que aquela apresentação inicial e toda essa situação constrangedora nunca existiu. – Estendi-lhe a mão, ansioso para o que estava por vir. – Prazer em conhece-lo, me chamo Kim Taehyung e tenho 25 anos. Pode me chamar de Taehyung ou apenas de hyung.

Com um sorriso encantador, buscando meus olhos como da última vez, senti o calor da palma de sua mão envolver a minha. A energia que ela me passava era a de conforto, como se eu estivesse protegido quando a segurasse.

Finalmente estava tudo confirmado. Eu poderia ser uma pessoa normal ao lado de Jeon Jungkook.

– Prazer em conhece-lo, Taehyung. Acho que iremos nos dar muito bem.