Ao saírem da casa, os seis amigos depararam-se com algo que evidentemente não parecia ser um desafio: o simples, conhecido e repetitivo labirinto, com suas paredes verde-escuras graças a folhagem velha. O diferencial era que as folhas começavam a ficar amareladas e secas, indicando a podridão.
Ouviram um barulho de rodas deslizando, mas nada viram até erguerem os olhos para acima das paredes do labirinto e enxergarem, confusos, uma pista de corrida feita de metal, repleta de curvas e empecilhos geométricos, na qual seis motociclistas cantavam pneus em motos personalizadas. Todos usavam roupas apropriadas para corrida e capacetes firmes, o que impossibilitava descobrir quem estava ali. Corriam tão bem que chamava-lhes a atenção como o desenho animado favorito de uma criança em 3D. Mais em cima da pista de corrida, seis corpos mortos estavam presos pelos pulsos a cordas invisíveis.
-Jesus! Somos nós?- Dulce exclamou, barbarizada. A textura dos corpos era real. Eram eles seis, mas não em miragem ou forma de obstáculo. Eram eles realmente. A partir daquele momento, os amigos souberam que se alguém tentasse abrir seus túmulos não encontraria nada, pois os cadávares foram tomados...
Os corpos estavam de acordo com a forma que haviam morrido, da mesma maneira, apenas com a presença de formigas e outros vermes que lhes corroíam a pele.
Enquanto todos observavam o sangue derramado dos mortos sobre a pista de corrida, os seis motociclistas cessaram a corrida, estacionaram as motos lado a lado e caminharam na direção dos espíritos destinados ao fim. Ao retirarem os capacetes, o pânico não poderia ser maior: as pessoas que pilotavam eram nada menos do que eles próprios mais uma vez. Almas que seriam quase idênticas caso uma sombra escura não tivesse envolvido seus olhos.
-Você sou eu?- Any murmurou boquiaberta, mirando a visão diabólica de sua réplica.
No momento seguinte ninguém pôde dizer outra coisa, pois os espíritos supostamente gêmeos caíram, diluindo-se em uma poeira escura.
-Onde eles foram?- Christian indagou, com medo do que viria a seguir.
Subitamente o chão tremeu, e de dentro dele uma figura estranhamente peculiar e enorme surgiu.
-Minha premonição... Era assim.- Maite recordou-se da visão que tivera no primeiro dia em que estivera no labirinto.
-O quê?- Ucker perguntou à amiga, sem deixar de fitar a coisa que se prostrava diante deles.
-Vai acontecer.- Poncho concluiu.
-Eles estão no lugar certo agora.- Não foi preciso muito tempo para perceberem que a figura recém surgida era a dona da voz que lhes assombrou durante dias. Enfim observaram que não se tratava de uma pessoa, porém de várias. Milhares de olhos, orelhas, bocas, braços e pernas. Bocas amaldiçoadas que falavam ao mesmo tempo e por isso adquiriam um tom grave e aterrorizante. As pessoas a quem pertenciam as vozes eram homens e mulheres que os seis RBD’s odiavam, como haters, assassinos, comerciantes antipáticos ou insistentes, ex-namorados de seus atuais companheiros, professores irritantes, e outros mais simples infelizes com os quais eles não haviam ido com a cara. Afinal, eles descobriram que Lúcifer, Satanás, Diabo, Demônio era a mistura do ódio com o ódio. No centro de todos os rostos, um olho, o maior e mais escuro, lhes fazia bambear de medo. O olhar os intimidava e lhes dizia que aquele era o fim. Não se podia mais lutar porque não haveriam mais batalhas. A guerra acabara. E eles haviam perdido. Aceitaram o fracasso porque não existia outra saída.- Ninguém aqui terá um final feliz.... Ninguém aqui terá um final... Vocês trabalharão para mim até o fim do mundo... E sofrerão a perda... No meu universo não há amor nem salvação.- A figura não ficou aborrecida quando viu que eles não mais choravam, sabia que os havia treinado bem com tantos desafios, e eles agora estavam fortes.- Eles...- Indicou os espíritos gêmeos que haviam se diluído a poucos minutos.- Representam o lado mau de cada um de vocês... Estiveram o tempo todo no inferno... E quando vocês chegarem lá, se unificarão com eles...- Explicou, numa voz cada vez mais grave e agonizante. Os amigos perceberam o porquê dos olhares demoníacos nas almas quase idênticas, e pensaram que daquelas versões deles havia sido retirada toda a bondade, restando apenas os sentimentos de rancor e dureza.- E agora... Uma apresentação de seus piores momentos pós-morte!- Lúcifer exclamou, com uma alegria tão diabólica quanto seu nome, aparentando um apresentador de TV ganancioso. Fez os seis fecharem os olhos para visualizarem o terror.
Lágrimas já se formavam em seus olhos...
Carrego a culpa, o remorso...
Um chão sujo e escorregadio...
Uma escuridão assombrosa...
Lançados contra o desfecho...
Isso está me matando...
A cabeça de todos já doía muito...
Uma voz grossa, maléfica e medonha...
Um frio cortante...
Todos muito pesados...
O tom severo...
Tentáculos...
Pleno estado de pânico...
Corroído pelas sangue sugas...
Chuva de facas...
Incessante onda de abafamento...
Momentos destruidores...
Granizo...
Nos separar...
Perdas...
Hipnotizados...
Areia movediça...
Afundarem...
Fogo...
Falta de viver...
Visão agoniante...
Deformação...
Seu corpo ensanguentado...
O veneno...
Planejando exterminá-lo...
Ameaçando deslocar-lhe a cabeça do corpo...
O futuro de vocês...
A desesperança...
Muitos corpos sem vida...
O mundo vai virar um necrotério...
Vertigem...
Rumo ao inferno...
Ao abrirem os olhos, os seis amigos já não estavam no labirinto, e haviam dado as mãos mecanicamente visando a última recordação.
As lembranças de dor refletiam o lugar onde estavam: escuro, com uma temperatura mediana e espíritos entregues ao demônio. Ali, eles eram apenas mais uns pobres coitados destinados a serem explorados por Satanás.
Miraram-se.
Ali não havia nenhum sorriso. Nenhum abraço. Nenhum carinho.
Observaram-se outra vez e fitaram a dor, a perda, o fracasso. O choro e a derrota preenchiam tudo. Pancadas e imagens aterrorizantes. Sem paz, sem amor, sem benevolência. Apenas a presença de pessoas tristes e odiosas. Nunca mais cantariam ou dançariam. Nunca mais lutariam pela vida ou pela recompensa após a morte. As mortes negras e sombrias... A andança sem razão pelo labirinto... O engano, a mentira... Mais dor, mais perda, mais fracasso...
Miraram-se.
Não seriam felizes, mas poderiam estar juntos no eterno sofrimento.
FIM
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.