— Estou machucado — Naruto protestou, com a mesma voz contida de um menino de dez anos que não quer chorar — Dói em todos os lugares e eu não sei se é algo que consigo lidar daqui pra frente. Sasuke, não sei se eu estou preparado após o fracasso da primeira vez. E se eu cair de novo?
— Está tudo bem — Sasuke confortou — As primeiras vezes não tem que ser perfeitas. Se você cair, está tudo bem. A gente sempre pode tentar de novo. E então de novo. De novo. De novo. E de novo. E quantas vezes forem preciso até você conseguir.
— Mas tentar dói muito!
— Mas vai sarar.
— Eu sei que vai. Sempre sara. Mas e quanto as cicatrizes? Não tenho certeza se quero olhar para elas no futuro.
— É natural. Por que isso te assusta?
— Por que não assustaria? Elas seriam as consequências das escolhas que eu tomar agora. E se eu me machucar de novo, a culpa sempre vai ser minha! — Naruto choramingou.
— Eu não disse? Estou aqui com você. Você pode compartilhar comigo, se a culpa for muito dolorosa de carregar. Você nunca estará sozinho.
Naruto hesitou, abaixando a voz quando um beicinho se fez presente nos lábios trêmulos. Aquilo parecia fazer sentido, mas seu coração não deixou de bater mais forte.
— ... E se for muito difícil?
— A gente tenta de novo.
— E se eu ficar com medo?
— A gente tenta de novo.
— E se eu falhar?
— A gente tenta de novo.
— E se eu quiser desistir?
— Naruto... — Sasuke segurou suas mãos bem próximas do próprio rosto. O Uzumaki conseguia sentir o hálito quente se misturando a temperatura gélida dos seus dedos trêmulos e sujos de areia. A testa de Sasuke, onde estava a bandana, permaneceu colada na sua. O peito de Naruto parecia fragmentado e todas as suas partículas estavam tão divididas que ele não poderia conter todas as lágrimas. O fato é que nada sobre aquilo tinha uma ligação direta com a maldita bicicleta. Nada daquilo era sobre as quedas, sobre o medo dilacerante de cair. — A gente tenta de novo.
Com o rosto completamente sujo de ranho e lágrimas salgadas, Naruto ainda estava com muito medo, mas se levantou e tirou a sujeira das roupas mesmo assim, deixando a grama pontiaguda onde havia desabado para enfrentar o mesmíssimo ponto de ruptura onde havia parado com a infame bicicleta.
Quando o Uzumaki ocupou o assento vago, Sasuke Uchiha não se afastou: segurando a garupa a para lhe fornecer o apoio necessário até o momento em que Naruto ganhasse a confiança que precisava antes que pudesse deixá-lo completamente livre para andar sozinho.
Sasuke confiava no seu potencial. Naruto também confiava nele.
Apesar disso, mesmo quando Naruto ganhou velocidade e pedalou sem parar, o fato era que ele ainda desejava que Sasuke continuasse lhe conduzindo com as duas mãos. Queria que ele continuasse por perto mesmo quando a voz macia se tornasse rouca e o rosto suave tivesse um aspecto maduro. Naruto queria que Sasuke continuasse ao seu lado mesmo quando seu coração se dividisse, doesse e bombeasse por todos aqueles sentimentos novos e assustadores que eram, no fim das contas, o amor.
Completamente desesperado, a voz de Naruto oscilou:
— E se… e se..
Sasuke apertou as mãos ao redor da estrutura de ferro, encorajando com a mesma voz paciente, antes de finalmente deixá-lo ir:
— A gente tenta de novo.
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