– Capítulo 1
– Antes fosse veneno.
Choi Chanhee, estava passando por aquela fase, em que tudo o que a gente quer é matar alguém ou se trancar no quarto colocar fones de ouvido com uma música bem alta e triste e chorar até o todos os 70% de água do corpo acabarem, vocês sabem, né? Afinal todos passamos por alguns probleminhas na vida.
Mas, para ele, não eram probleminhas, eram 'problemões'. Daqueles enormes que brilham em letras neons cheias de purpurina.
Você pode pensar que era um exagero por parte do garoto loiro, afinal, quem nunca ficou sem tempo por trabalhar e estudar – mesmo tendo pessoas que o julgavam dizendo ao garoto que tirar fotos não era uma coisa difícil – teve uma briguinha ou outra na família, ou até mesmo se desentendeu com um colega de classe? Todo mundo, certo?
Mas, talvez por todos esses problemas terem vindo junto, como um amontoado de coisas, pelo tal colega de classe ser Younghoon – um garoto chato que Chanhee via como um ladrão de amigos e conseguia o deixar mil vezes mais irritado que o resto do mundo – ou até mesmo por Chanhee ser um mimado de marca maior que ainda estava aprendendo a desprender da saia da mãe – que inclusive era um dos motivos para o Choi estar uma pilha de nervos – as coisas para o jovem estavam começando a ficar insuportavelmente insuportáveis.
O mesmo havia pedido, ou melhor ido sem avisar até a casa de seu fiel escudeiro para uma conversa, para desabafar, porque ele realmente estava precisando botar suas frustrações para fora e nada melhor do que umas boas horas de reclamações para o melhor amigo.
Tudo bem que as vezes Lee Sangyeon era extraordinariamente insuportável, mas, nada mudava o fato de que ele era seu melhor e praticamente único amigo, só não era o único porque o Lee tinha um amigo novinho que estudava na mesma faculdade que o Choi e pela pseudo namorada do mais velho que passava mais tempo viajando do que com o Lee.
– Minha mãe pegou no meu pé de novo pelo trabalho, disse que eu devia me focar na faculdade, mas se eu não ajudo meu tio nos eventos, fico sem grana pra nada e eles reclamam por isso. Esse lance da minha mãe odiar meu tio sem motivo nenhum é até injusto, e sabe sang, eu não aguento mais. – concluiu ele depois de contar para o amigo que estava famigeradamente de saco cheio das coisas dando errado para ele.
– Calma Nyu, é normal os pais agirem assim, eles se preocupam com você e querem seu bem, tem dias que você chega dos eventos e vai direto pra facul sem nem dormir, sua mãe é preocupada, você sabe.
– Ela se mete demais no que eu faço ou deixo de fazer isso é demais pra mim, sufoca, não é, nem nunca foi ou será saudável. – ele deu uma pausa dramática pra respirar fundo e continuou reclamando no mesmo tom de manhã – Sem falar que eu saio de casa pra ter um pingo de paz, mas tem meu tio no trabalho me dizendo que tô fazendo isso ou aquilo errado e ainda tem o insuportável do younghoon, sinceramente, como que fazendo medicina ele consegue tempo pra fazer da minha vida um inferno? – perguntou o garoto indignado.
– Amigo, você só tem dezoito anos, uma hora ou outra as coisas se ajeitam, logo você consegue sua independência, se livra do Hoon, você só está no primeiro ano de faculdade, as coisas vão melhorar aos poucos. – aconselhou tomando mais um pouco do café que havia preparado para tomar com o amigo.
– Melhoram nada, fazem dois meses que você tá repetindo a mesma coisa.
– Bom, – começou o outro – Eu já disse que conheço uma pessoa...
– E eu já disse que não meto nas suas macumbas.
– Qual é Chan? Não custa tentar, morrer você não vai e também não é o senhor que vive dizendo que a gente tem que ir atrás do sim? O não você já tem...
Já fazia um tempo que o amigo estava lhe falando que conhecia uma cigana, ou uma coisa assim, que poderia resolver qualquer problema de qualquer pessoa, porém, o Choi não acreditava nessas coisas, nem em nada, pra ele crendisses e superstições não levavam pessoas a nada além de alienação e perdas de tempo, dizia que toda essa coisa religiões "inventadas" eram baboseira.
Mas, Sangyeon era seu completo oposto. Um supersticioso de pé junto, lia seu horóscopo diário todos dias, não usava roupas pretas em segundas-feiras com medo de ter uma semana ruim, toda sexta-feira usava amarelo, pois essa é a cor da prosperidade – menos em sextas-feira 13, nessas o moreno optava por nem sair – tinha medo de gatos pretos, usava um chaveiro de pimenta com medo do mal olhado e passar em baixo de escadas então? Nunca na vida. Pelo menos uma vez por mês ele ia a um curandeiro tirar o que ele costumava chamar de "doenças da alma" e até um frasco com água benta ele tinha em casa, segundo ele mesmo "pra garantir". Chanhee nunca esqueceria da vez em que Sangyeon chorou por uma semana inteira por ter quebrado um espelho e ficou morrendo de medo de ter sete anos de azar.
Mas, em uma coisa Sangyeon tinha razão, tentar não lhe faria mal algum, certo?
– Tudo bem, Sangyeon, me leve até essa mulher, mas, saiba que se alguma coisa der errado, eu mato você.
– Fica sossegado, tá comigo, tá protegido.
-
Era o dia seguinte, e já faziam aproximadamente vinte minutos que Chanhee, Sangyeon e Youngjae estavam sentados na sala de estar cheia de incensos e pimentinhas penduradas da tal Madame René, a mulher que Sangyeon jurou poder resolver os problemas de Chanhee, ela disse que já os atenderia, mas, a coisa estava bastante demorada.
– Escuta, essa mulher não vai nos atender nunca? – Chanhee perguntou já em pé enquanto começava a dar voltas pela sala, por pura ansiedade e curiosidade – mesmo que nunca fosse admitir isso.
– Eu estou aqui querido.
Chanhee virou para a porta em que a mulher de meia idade estava escorada e a viu indicar para que eles entrassem na salinha meio escura.
Lá dentro os objetos de superstição eram em ainda maior quantidade, havia uma mesa grande e redonda com uma toalha branca, preta e vermelha na sua superfície, além de velas coloridas por todo o comodo, na cadeira do outro lado da mesa estava a tal Madame sentada, com cartas de tarô em mãos além de uma coroa de flores vermelhas sobre os cabelos lisos e longos.
– Sentem-se. – indicou ela, e os três garotos sentam em volta da mesa, esperando que a mais velha continuasse – Me falem do que precisam, eu farei o possível.
– Bem, eu... – Chanhee hesitou, mas, deu continuidade à sua fala – Eu não aguento mais minha vida, mas, não sei o que fazer para melhorar as coisas, está dando tudo errado e eu preciso que as coisas melhorem, o mais rápido possível.
– Hmm, você quer algo rápido, então?– a mulher pensou um pouco e o olhou novamente – Eu posso fazer uma coisa, mas, tudo na vida tem uma consequência, as coisas vão melhorar, porém, algo virá para compensar, as vezes a consequência não é nada boa, embora realmente resolva seus problemas, mas eu preciso saber se você realmente quer isso, está disposto a correr o risco?
– Quero, garanto que as coisas não podem piorar. – respondeu firme percebendo a cara de encorajamento que Sangyeon lhe enviava.
– Hoje antes de dormir, você deve tomar isso – ela lhe entrego um pequeno frasco com uma solução transparentes ligado a um colar de tecido escuro trançado – depois coloque o colar e durma, você tem minha palavra de que amanhã as coisas estarão diferentes e saiba, Madame René nunca mente.
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Chanhee estava sentado em sua cama encarando aquele frasquinho e pensando se deveria tomar aquele líquido ou não.
Pensava que todos os problemas que estava tendo poderiam acabar, que tinha uma possível solução literalmente em suas mãos.
Mas também tinha medo de dar algo errado. Ele até mesmo havia ligado para Sangyeon e dito que se aquilo fosse veneno ele voltaria do além para puxar seu pé, mas o amigo o tranquilizou dizendo que René era uma mulher de confiança e que ele no máximo teria uma dor de barriga como consequência. E era dessa tal consequência que o menino estava com medo, imagina só quanta coisa poderia acontecer, vai que sua consequência era virar um sapo feio e verde, cruzes, não gostava nem de imaginar. Era vaidoso demais e amava mesmo seu rostinho, então pensar em perder isso o fazia endoidar.
Sem mais pensar no fato de que poderia morrer se aquilo fosse veneno, Chanhee apenas abriu o frasquinho e virou o líquido meio doce o engolindo rapidamente, fechou o recipiente e colocou o colar em volta de seu pescoço, mandando uma mensagem ao amigo, avisando do seu feito, para assim deitar olhando pro teto.
– Vai ficar tudo bem, Chanhee. – tranquilizou a si mesmo depois de já estar a uns bons minutos deitado sem nem mesmo se importar em apagar a luz do abajur – Madame René não mente, você não vai morrer. – depois disso o jovem se acalmou aos poucos e relaxou até entrar em um delicioso sono profundo.
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Sabe quando a gente acorda, mas, estava em um sono tão gostoso que a única coisa que conseguimos pensar é em voltar a dormir? Aquela preguiça, como se aquele tivesse sido o melhor sono da vida?
Era exatamente assim que Chanhee estava se sentindo.
Todos os músculos de seu corpo estavam relaxados, como se ele tivesse recebido uma massagem desde a cabeça até os dedos dos pés, sua cabeça estava leve, seu corpo completamente calmo e tranquilo.
Mas, após pensar que teria que ir para a faculdade sem nem cogitar uma falta, se esticou na cama espaçosa de lençóis de seda. E então paralisou.
Espera. Pensou ele. Minha cama não é tão grande assim, será que eu dormi no quarto dos meus pais sem perceber?
E quando ele pensou em abrir os olhos e verificar onde estava, sentiu um corpo extra subir na cama e logo a possibilidade de ter dormido no quarto dos pais se concretizou e muito provavelmente seu pai estava vindo o acordar, por isso apenas fingiu continuar dormindo, mas, já começou a se preparar para ouvir um sermão, entretanto sentiu um peso sobre seu corpo e um beijinho ser depositado em sua bochecha. E, espera, senhor Choi não faria isso.
– Amor, acorda, daqui a pouco Sangyeon vem te buscar – o corpo todo de Chanhee se tencionou ao ouvir aquela voz desconhecida, ele me chamou de que? – Vamos, bebê. – estava sem reação ainda mais quando sentiu mais um beijo ser depositado em seu rosto – Eu sei que você está acordado Chanhee o senhorzinho não me engana, você não pode se atrasar hoje, tem uma reunião, esqueceu? Se a sua chefe tiver que te esperar mais uma vez em reunião mensal você fica sem emprego. – Chanhee abriu os olhos com medo, "é só um sonho", pensou, e lentamente virou a cabeça em direção a aquela voz e viu provavelmente a pessoa mais linda que poderia ver a uma hora daquela, ele só podia estar em um sonho maluco, só conseguia se perguntar o que estava acontecendo, e seu corpo simplesmente não tinha mais comandos. – Vai tomar um banho, ok? Eu vou ajudar o Hoonnie, antes que ele bote fogo na cozinha. – após um sorriso sincero o outro saiu da cama e logo deixou o quarto.
A cabeça de Chanhee estava uma completa bagunça e de tudo o que ele falou a única coisa que lhe chamou atenção de forma positiva foi "Sangyeon vai vir te buscar" a única prova que tinha de que não havia sido sequestrado por aquele moço bonito que lhe chamou de amor.
Reparou que haviam dois celulares na cômoda, eram diferentes, nenhum deles era o seu, por isso pegou o primeiro que deu e saiu correndo em direção a uma porta que ele julgava ser o banheiro, entretanto na verdade aquele cômodo estava mais pra um closet totalmente bagunçado, uma coisa horrível para uma pessoa organizada como o Choi. Mas o importante é que aquela porta tinha chave e ele poderia ficar lá trançado são e salvo até Sangyeon chegar.
Lembrou do celular que havia pego da cômoda e tentou mexer nele da melhor forma possível devido as suas mãos que estavam tremendo, sua sorte foi ver que o aparelho não tinha senha então conseguiu ir direto para a lista de contatos buscando pelo nome do amigo, quando encontrou tocou no nome do mesmo logo depois dando início a ligação.
– Younghoon? – ouviu a voz do amigo que parecia mais rouca que o normal, mas mesmo assim continuava inconfundível.
– Ah, Sangyeon, como é bom ouvir sua voz.
– Sério? Ontem mesmo você disse que me odeia. – falou irônico esperando uma resposta do amigo.
– É sério Sang, está acontecendo umas coisas estranhas, eu acabei de acordar com um homem estranho me chamando de amor e eu tô numa casa estranha, eu quero chorar, eu quero sair daqui, seja lá onde eu estou por favor vem me buscar. – a voz de Chanhee estava chorosa e ele estava sentado no chão encostado na porta trancada.
– Com quem você brigou dessa vez com o Changmin ou com o Younghoon? – o amigo perguntou rindo.
– O que o Younghoon tem a ver com isso? E quem diabos é Changmin?
– Meu amigo, eu sei que os dois as vezes são insuportáveis, mas você tem vinte e sete anos, você já está velhinho demais para ficar fingindo que não conhece seus maridos, que te amam muito, porque pra te suportar vinte e quatro horas por dia é só com muito amor.
– Eu? Vinte e o que? M-marido? – Chanhee havia levantado rapidamente e começou a andar por ali – Sangyeon para de me assustar essa sua brincadeirinha não tem graça, você sabe que eu não gosto dessas coisas.
– Quem tá brincando comigo é você, para de ser bobão.
– Ai meu deus, o que tá acontecendo, puta merda, puta merda.
Ele andou até o canto do cômodo, onde havia um grande espelho e parou em frente dele, a primeira coisa que reparou foi na blusa grande que vestia, não era sua, depois em seus cabelos, que não estavam mais loiros e sim em um tom rosado, bem desbotado, se aproximou mais do espelho notando que, sim, parecia mais velho, ainda não entendia o que estava acontecendo, tudo estava muito estranho, desviou os olhos para o resto do corpo, vendo várias marcas roxas e avermelhadas em seus pescoço e uma forte marca de dentes em sua coxa direita e ok, aquilo sim era assustador, e então a única reação que teve foi soltar um grito alto, muito alto.
–AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH.
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