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História Problemão - É assim que as coisas são


Escrita por: pandani e 7decopas

Notas do Autor


Olá, pessoinhas, como vão?

Olha, eu sei que já passou de meia noite, mas, pensem bem, ainda é domingo em algum lugar, certo? Foi um sacrifício sair essa fanfic aqui e eu nem sei bem se isso se encaixa no tema, mas se não, vamos fingir que sim, ok?
É nossa quinta semana no Projeto 365, a última do mês, e nós abrimos uma votação lá no começo pra vocês ajudarem a escolher o tema desse mês. E a escolha foi Police!AU. Porque vocês me odeiam, acredito eu, mas tudo bem, tem outros tema q
Bem, de qualquer forma, espero que vocês gostem disso aqui. Desculpa qualquer coisa, revisei meio às pressas pra tentar postar ainda hoje e to meio que com sono. Mas juro que resolvo isso amanhã, ok? E, como sempre, perdão as capa feia e não desiste de mim.

Capítulo 1 - É assim que as coisas são


Chanyeol sempre sonhou em ser policial. Ninguém entendia muito bem, já que seu pai andava sempre a reclamar dos caras embaçando seus esquemas e sua mãe morria de medo de armas e tinha uma incrível aversão ao sistema — “eles não fazem nada por gente que nem a gente, meu filho”. Mas era só dar as costas uns minutinhos e Chanyeol estava lá, arrastando o irmão mais novo para brincarem de Polícia e Ladrão — e era incrível como sempre era a vez de Baekhyun ser o ladrão. Havia certa emoção genuína em dizer aquelas palavras que ele nem entendia muito bem, mas repetia sílaba por sílaba como ouvia nos programas de investigação que assistia, antes de trancar o pequeno em seu quarto até que a mãe percebesse que fazia tempo demais que ele não aparecia gritando por ela para reclamar do irmão.

Não foi lá muito apoiado pela família, mas não foi surpresa quando Chanyeol anunciou que faria seus anos de serviço obrigatório pelo departamento de polícia e que não tinha intenção de sair de lá. Cumpriu com orgulho o mês de treinamento básico e já havia decretado mentalmente pela manhã que aquele dia — o de se apresentar para o primeiro dia de trabalho, finalmente — era o melhor de toda sua vida. Ele havia estudado e treinado todos aqueles anos apenas aguardando o momento em que finalmente seria designado para... guarda de trânsito. Baekhyun fez questão de fugir das aulas preparatórias para o vestibular à tarde só para ver pessoalmente toda aquela pose do irmão jogada na faixa de pedestre de onde ele soava o apito e fazia os sinais para controlar o trânsito atipicamente caótico. Se pudesse, Chanyeol teria se enfiado por inteiro no boné amarelo só para não ter que ouvir a risada escandalosa do irmão na calçada. Aquele foi o melhor dia da vida de Baekhyun.

Tudo seria diferente, agora. Era nessas palavras que Chanyeol se firmava ao fazer a barba frente ao espelho do banheiro às sete da manhã. Cinco anos inteiros de promessas ilusórias de promoção e do sonho quase morto de ser um policial de verdade depois, finalmente as coisas pareciam estar dando certo para ele. É claro que não estava nos seus planos se mudar para aquela cidadezinha minúscula em que provavelmente não haveria nada de interessante para fazer e nenhum dos seus amigos por perto, mas às vezes as coisas boas acontecem de um jeito que a gente não espera, não é? Quando Chanyeol ficou sabendo daquele cargo vago deixado pelo policial aposentado há umas semanas naquela delegacia de interior para a qual ninguém queria aceitar a transferência, ele viu a sua oportunidade de ouro. Pegou sua carta de transferência e seu distintivo com aquele sorriso gigantesco que fez o chefe de sua jurisdição rolar os olhos e o mandar sair logo dali e no dia seguinte já estava alojado no apartamentinho no centro da cidade. E então, era o primeiro dia em que seria, finalmente, um policial de verdade. Estava entusiasmado. Tanto que arrancou uma lasquinha de pele do maxilar no processo, mas não seria aquilo que estragaria seu dia. Um curativozinho e alguns minutos resolveriam tudo.

Era tudo diferente mesmo. Foi só pôr os pés na rua, vestido em seu uniforme azul, ostentando orgulhosamente as insígnias do departamento de polícia sul coreano e um sorriso maior do que a cara, e todas as pessoas olharam para ele. Algumas mais discretas que outras, mas todas deixaram ao menos por alguns segundos seus afazeres, sua caminhada para a escola ou para o ponto de ônibus, seu café da manhã na padaria, para observá-lo. Ele era novidade. E todo mundo já sabia quem ele era. “O cara novo que despencou da cidade grande para assumir a delegacia aqui”. Eles pareciam divididos entre o encanto e a pena. Mal sabiam eles que aquela era a chance de sua vida!

Sobre o novo trabalho, Chanyeol só tinha certeza de duas coisas: que finalmente seria um policial de verdade — não importando toda a ideia fantasiosa que ele ainda gostava de manter mesmo conhecendo um pouquinho do dia a dia da profissão —, e que teria um único colega — que ele gostava de chamar mentalmente de parceiro — chamado Do Kyungsoo. Passou boa parte da manhã pensando em como se aproximar rapidamente dele, afinal, uma boa convivência com seu parceiro era o que fazia de você um bom policial, certo? Decidiu, por bem, levar um café e algumas rosquinhas para os dois, e esperava muito que tivesse acertado em pelo menos um deles. Mas quem no mundo não gostava de rosquinhas?

Chanyeol ainda tinha aquele sorriso escancarado e um ânimo surpreendente para as oito da manhã quando abriu a porta de vidro da delegacia. Não que ele esperasse muito mais que aquilo, mas talvez o costume com as salas imensas, cheias de policiais agitados e uma confusão diariamente na capital não o tivessem preparado para se deparar com aquela cena. O espaço não era muito mais que a sala de seu antigo apartamento. Uns avisos e uns panfletos aleatórios enchiam as paredes e, no fundo da sala, encostadas às duas paredes opostas, haviam duas mesas com computadores um tanto antiquados e uma cadeira em cada lado delas. A mesa da direita estava vazia e ele deduziu que seria sua. Na outra, havia... alguém. O corpo largado na cadeira giratória, os pés cruzados sobre a mesa e o quepe cobrindo os olhos. Chanyeol ainda olhou mais uma vez ao redor, mas além disso, umas prateleiras metálicas vazias e uma porta de ferro ao fundo da sala, não havia mais nada. Pigarreou tentando atrair a atenção do outro que apenas retirou o quepe de sobre o rosto e nem se deu ao trabalho de levantar para olhá-lo.

— Do... Kyungsoo? — Chanyeol tentou.

O homem mais baixo resmungou alguma coisa antes de, muito à contragosto, se ajeitar na cadeira e pôr os pés no chão.

— E você é o novato?

Chanyeol ignorou o tom de desprezo e concordou, se inclinando em uma reverência de noventa graus.

— Park Chanyeol. Eu fui transferido de Yongsan-gu e estou aqui pra-

— Eu sei, eu sei. — Chanyeol ainda tinha a boca semiaberta pela fala interrompida, dispensada por um movimento de mão do policial. — Tu é o guardinha que mandaram pra substituir o velho Jung. — Ele se levantou e se espreguiçou com um bocejo longo. — Mesmo que eu tenha dito mil vezes que não precisava de mais ninguém aqui.

Kyungsoo circulou a própria mesa e se apoiou do outro lado, observando o mais novo que ainda procurava uma resposta para aquela apresentação nada agradável. Não era bem esse tipo de recepção que esperava — não que ele lá soubesse que tipo de recepção esperar. Mas era seu primeiro dia como um policial de verdade, o dia estava lindo, seu machucado já havia parado de sangrar e aquele seria o melhor dia da sua vida e não seria um policial mal-humorado que estragaria isso. Diante da atitude passivo-agressiva de Do Kyungsoo, Chanyeol sorriu e estendeu a sacola que ainda segurava atrás das costas.

— Trouxe café e rosquinhas.

Kyungsoo não recusaria café e rosquinhas, é claro.

Não demorou muito e estavam em um silêncio desconfortável. Enquanto havia comida para distraí-los, estava tudo bem. Mas os copos iam se esvaziando e a caixa de doces também, e Kyungsoo o estava encarando do outro lado da mesa, parecendo bastante insatisfeito por sua presença mais uma vez. Ele soltou o ar, meio irritado, e se levantou para jogar o copo no lixo.

— Beleza. Aquela ali é sua mesa. — Ele apontou com a mão direita num tom entediado. — Aquele é o quadro de avisos. Não tem muita coisa pra avisar por aqui, mas se tiver, é ali que tu pendura. A papelada fica nessa estante aí. Lá atrás ficam os presos e, bem, tu deve adivinhar que não é muito movimentado. Nada aqui é muito movimentado.

— Certo. — Chanyeol acompanhou atentamente as explicações do mais velho, concordando entusiasmadamente a cada uma das observações. Percebeu por pouco o rolar de olhos do outro quando voltou para a própria cadeira.

— Seja bem-vindo! — Kyungsoo forçou um sorriso irônico com um gesto amplo dos braços antes de voltar à posição em que havia sido encontrado mais cedo.

Não tinha mesmo nada muito movimentado por ali. Chanyeol passou metade do dia mexendo meio aleatoriamente no sistema interno instalado no computador, que não rodava muito mais que aquilo, e lendo notícias na internet. Vez ou outra, olhava para a outra mesa, só para perceber que Kyungsoo não iria mesmo se levantar dali tão cedo embora estivessem em horário de serviço. Podia acontecer alguma coisa! Eles podiam receber uma chamada de emergência! Chanyeol começava a pensar se mesmo que uma ligação dessas acontecesse, Kyungsoo possivelmente não arredaria o pé dali. A não ser, talvez, que o prédio pegasse fogo. Decidiu, por fim, checar a tal papelada que ficava jogada na estante e percebeu que havia alguma coisa que podia fazer.

— Kyungsoo? — Ele disse, alto o suficiente para despertar o mais baixo, que só lhe dirigiu um olhar rancoroso pelo sono perdido. — Tem problema se eu organizar isso aqui? Está meio... bagunçado.

Chanyeol não tinha nenhuma intenção de criticar o trabalho de ninguém ou parecer superior, mas, veja bem, aquilo estava uma zona! Estava prestes a se arrepender de dizer qualquer coisa depois de quase um minuto de um olhar tão intenso que o deixou desconfortável, mas logo recebeu um dar de ombros displicente e soltou o ar que nem reparou que tinha prendido.

— Tanto faz.

Tanto fazia, provavelmente, porque não imaginou o que viria a seguir.

— Kyungsoo, essa data está meio apagada, pode confirmar pra mim?

— Kyungsoo, os casos de agressão deviam ficar juntos de uma simples pichação de muro?

— Kyungsoo

— Kyungsoo

— Kyung-

— Chanyeol! — Kyungsoo controlou o tom alterado. — Não tá na hora de você ir, sei lá, almoçar?

O mais novo olhou no relógio de pulso e até pensou em dizer que iria depois de terminar — não fazia ideia de quando seria, mas não era muito de deixar as coisas pela metade —, mas seu estômago decidiu dar sinal de vida e afirmar que, sim, duas da tarde era o horário mais que perfeito para ir almoçar.

— Você também não devia ir?

— Eu sempre como por aqui mesmo. Pode ir.

Chanyeol tinha meio que um dom para saber quando não era bem-vindo. Mas também não era como se ele ligasse muito para isso. Aceitou o passa-fora numa boa porque estava mesmo com fome, mas estava decidido. Do Kyungsoo ia ter que se acostumar com ele e era bom que fosse logo, porque passar os dias nesse climão ridículo não ia dar, não. Ele acharia um jeito. Baekhyun não concordava, mas ele era ótimo em conquistar as pessoas. Do Kyungsoo não ia ser exceção a essa altura da vida.

Às duas da tarde não tinha muita gente na rua e ainda era muito estranho não esbarrar em mil pessoas enquanto andava procurando um lugar para almoçar. E Chanyeol praticamente desfilava, ostentando o uniforme e a pistola presa a cintura como se fossem troféus. Era uma atitude meio patética, mas, vá lá! Era seu primeiro dia e ele tinha esse direito. Só não tascou o distintivo na mesa para pedir o prato do dia, porque não estava muito a fim de acabar passando a vergonha de esquecê-lo por ali no final.

Voltou às três em ponto, porque não queria arrumar mais um problema com o parceiro. Mas do jeito que as coisas iam, se ele não voltasse nunca mais provavelmente o humor de Kyungsoo aumentaria em uns 500%. Ele não se importava nada.

— Vou continuar o que estava fazendo por aqui.

— Beleza.

Chanyeol sentiu um tom meio diferente na voz dele, como se ele achasse graça de uma piada interna muito boa e que não fosse compartilhar, só de maldade. De qualquer forma, isso parecia um avanço, então ele sorriu e voltou a mexer naqueles papeis, mesmo que isso, muito provavelmente, não fosse levar a lugar nenhum.

Papeis, um café, notícias, e Kyungsoo atravessou aquela porta de ferro que Chanyeol nem pensou em seguir por não ser chamado. Faria isso em algum momento até o final do dia, só para ver mesmo como era lá, mas não precisava ser agora.

Podia ser dali a uns cinco minutos, quando Kyungsoo voltou muito sério e ele não se conteve em perguntar o que houve.

— Aquele cara é um problema dos grandes.

— Que cara?

— Eu esqueço que tu chegou hoje. — Ele falou como se não tivesse passado o dia o ignorando justamente por ser o novato. — A gente tá com um cara preso aqui aguardando a transferência, e ele é um problemão da porra.

— Quem é o cara? O que ele fez?

Chanyeol sentiu de novo aquela empolgação da manhã. Alguma coisa finalmente estava acontecendo. Alguma coisa interessante.

— O nome dele é Oh Sehun. Ele... — Kyungsoo hesitou e parecia muito nervoso com alguma coisa ao redor. Chanyeol chegou até mesmo a olhar para ver se encontrava algo que justificasse a atitude. Não havia nada. — Acho que tu devia ver por você mesmo.

Chanyeol queria ver por ele mesmo. Pegou as chaves da porta com a mesma animação com que pegou as chaves do primeiro carro e respirou fundo uma vez antes de atravessar a porta.

O espaço era pequeno como a sala da frente, talvez menor. Boa parte era ocupada pelas duas celas de grades de ferro, como nos filmes que ele tanto gostava de assistir. Bem, numa escala um tanto menor, mas ainda assim. Não tinha muito nelas, um colchão num canto, umas paredes acinzentadas, era só isso. Mas em uma delas, havia um cara alto e loiro, deitado com uma das pernas flexionada e um braço sobre os olhos parecendo bastante relaxado para a situação em que se encontrava. Chanyeol o observou ainda de longe, tentando encontrar nele qualquer coisa que pudesse fazer dele um problemão da porra, de deixar um policial assustado, mas não conseguia ver nada disso. Acontece que todos aqueles anos de séries policiais e estudos de caso o fizeram aprender que a aparência não importa muito nesse caso.

— Oh Sehun. — Chanyeol chamou num tom alto e confiante que ecoou pela sala vazia demais.

Demorou tanto tempo que ele se perguntou se, de alguma forma, ele não o tinha escutado. Já ia chamar de novo, mas o loiro tirou o braço dos olhos e virou apenas a cabeça para olhá-lo por um segundo antes de voltar à posição em que estava antes de ser interrompido.

— Mais um guardinha.

Chanyeol já estava meio cansado de receber olhares de desprezo e ser chamado de guardinha. Já bastava ter que aturar um parceiro arrogante, agora, aturar um meliantezinho o tratando assim já era demais.

— Quem você pensa que é pra falar assim? — Chanyeol forçou sua melhor voz altiva e se aproximou da grade, mantendo a postura ereta. — Eu sou um policial e você provavelmente é só um bandidinho de merda.

Sehun riu. E não foi uma risadinha. Talvez tenha começado como uma, mas no fim ele estava gargalhando tão alto que ecoava tanto quanto a voz de Chanyeol.

— Tu não sabe de nada, não é? — Ele se levantou devagar, como se testasse os músculos um a um no movimento. Chanyeol não respondeu e também não queria admitir que sua atitude era um pouco assustadora. Sehun riu mais uma vez ao não ter uma resposta. — O teu amiguinho não te contou nada!

— O que ele não me contou? Por que é que você tá aqui?

— Tenta adivinhar. — O loiro tinha um sorriso que parecia venenoso e Chanyeol sentia uma inquietude que o deixava irritado rapidamente.

— Eu não tô com paciência pra joguinhos.

— Tá certo, Chanyeol. — Ele quase rebateu perguntando como ele sabia seu nome, mas se lembrou que usava um crachá e agradeceu mentalmente por conter a pergunta idiota. — O que tu diria se eu disser que tô aqui porque matei minha mãe?

— Você matou sua mãe?

— Tu acredita nisso?

Chanyeol tentou avaliar o olhar de Sehun. Ele gostava de acreditar que era bom em avaliar as pessoas, então tentou encontrar algo ali. Mas não havia muito mais que a ironia de seu tom de voz e um vazio estranho.

— Por que você fez isso? — Sehun pareceu satisfeito com a pergunta.

— Ah, você sabe, ela perguntava demais.

— Perguntava sobre o quê?

— Sobre tudo. Tu sabe o quanto é difícil esconder as coisas da sua mãe, né? Ela queria saber qual era a das facas que eu tinha debaixo da cama... — Ele deixou a frase no ar e Chanyeol sentiu um arrepio na espinha. — Bem, eu mostrei a ela.

— E qual era a das facas? — Chanyeol se pegou perguntando meio sem querer e Sehun sorriu ainda mais. — O que você fez?

— As facas já tavam sujas antes, Chanyeol. Ela viu e eu não podia deixar ela sair por aí falando disso. Sabe como é, as pessoas não iam gostar muito de saber que... Bem, tu sabe. Mas quer saber? Ela achou que eu tava mentindo. — Ele soltou aquela gargalhada que agora soava ainda mais bizarra. — Daí eu tive que mostrar a ela que quando a gente corta os dedos das pessoas, eles sangram. Mas o pescoço sangra mais. As pessoas acabam morrendo no processo, é meio que uma bagunça. Eu não queria manchar minha parede, mas...

— Cala a boca! — Chanyeol não pretendia, mas gritou. — Você é doente!

— O quê? — Sehun se aproximou das grades, parando com o rosto bem à frente do policial que já tinha os nós dos dedos pálidos de tanto apertá-las. — Foi você quem perguntou.

Se pudesse, talvez Chanyeol atravessasse as grades e socasse aquele sorriso maligno pra fora do rosto daquele psicopata maldito — porque ele só podia ser um. Em vez disso, só respirou fundo uma vez e largou as grades com força. O problema de ser policial é que você ainda trabalha para a lei. E, bem, a lei não te dá permissão de agredir um preso — ainda mais um réu que ainda nem foi sentenciado. Antes de sair e bater a porta, ele ainda se virou uma última vez.

— Você vai ficar preso muito tempo, seu assassinozinho de merda. Eu faço questão de ver isso de perto.

— Entendeu o que eu quis dizer?

— Quando esse filho da puta vai a julgamento?

— Sei lá, daqui a umas semanas? Uns meses?

— Isso é um absurdo. — Chanyeol socou a própria mesa e Kyungsoo deu a volta na dele, se apoiando de costas sobre ela.

— Mas é assim que as coisas são.

Um silêncio mortal se instalou na sala e não havia nem mesmo o trânsito caótico da cidade para quebrá-lo. Mas Kyungsoo deu um jeito.

— Cara, o teu turno acabou. — Ele olhou o relógio de pulso e Chanyeol fez o mesmo. — Vai pra casa e, sei lá, relaxa um pouco.

O mais novo meio que agradeceu mentalmente, porque sentia que talvez se ficasse por ali voltaria lá dentro e faria o que sua vontade tinha mandado sem nem pensar muito.

— Certo. E você...?

— Eu fico por aqui ainda.

Chanyeol ainda não entendia muito bem a rotina naquela delegacia então só concordou e foi para casa. Talvez precisasse mesmo de uma chuveirada e uma cama quentinha. Kyungsoo ficou. Esperou que ele estivesse longe o suficiente e pegou as chaves, destrancando a porta de ferro novamente. E as grades da cela de Sehun.

— Finalmente! — O loiro soltou em um resmungo meio risonho ao ouvir o barulho da tranca e se levantou de um pulo. — Achei que tu ia me deixar aqui pra sempre.

— Tu bem que merecia, moleque.

Kyungsoo trancou as portas assim que eles saíram e Sehun se jogou na cadeira à frente da sua mesa.

— O quê? — Sehun soltou num tom falsamente ofendido. — Eu faço seu trabalho sujo e é isso que eu mereço?

— Teu teatrinho furreca não assustou o cara, só deixou ele puto!

Sehun rolou os olhos.

— Mas ele acreditou, não acreditou?

Kyungsoo riu e tirou um cigarro do maço que tinha no bolso da calça, Sehun estendeu a mão, pedindo por um, e recebeu um tapa ao invés.

— Tu acha que eu vou deixar você fumar? Tua mãe me mata.

— Tu não sabe que eu matei ela?

— Foi isso que tu disse pra ele? — Sehun confirmou, catando a última rosquinha murcha da caixa aberta na mesa e Kyungsoo riu alto, engasgando com a fumaça do cigarro recém aceso, e ainda mais quando Sehun contou o que havia dito a Chanyeol. — Tu é um psicopatinha fodido mesmo, moleque.

— Um psicopatinha que merece um beijo?

— Um psicopatinha que já devia tá em casa há um tempão. Tu não tem dever de casa pra fazer ou coisa assim?

— Tenho nada. — Sehun pôs os pés na mesa, brincando com um grampeador que pegou dali. — Eu me formo esse ano, ninguém liga pra nada.

— E o vestibular, moleque? — Sehun fez uma careta de desgosto. — Ou tu pretende passar tua vida nesse buraco, pichando muro, pra tua mãe ter que vir me pedir ajuda pra te regular?

— Se eu puder te ver todo dia, é isso que eu pretendo sim.

— Sehun... — Kyungsoo tentou um tom de repreensão que falhou miseravelmente.

— Que é?

— Tu sabe que vai continuar vindo aqui e vai continuar no zero a zero né?

— Se o problema é que eu sou menor, isso acaba ano que vem. — Ele se impulsionou para frente, se apoiando com os cotovelos na mesa. Kyungsoo copiou o movimento.

— Tu já teve três anos pra desistir dessa bobagem, Sehun.

— E se eu não desisti antes, imagina agora que tá tão perto.

— Sehun...

— Que é? — O mais novo se inclinou ainda mais, o rosto a pouquíssimos centímetros do outro. — Você já teria me expulsado se quisesse. E, além do mais — Ele avançou o que faltava e deixou um beijo rápido nos lábios de Kyungsoo que não teve muito tempo para evitar o contato. —, agora eu estou no zero a um.

— Moleque...

— Tô indo pra casa, hyung. Até amanhã!

Sehun saiu com aquele sorriso arteiro deixando Kyungsoo remoendo aquele toque até o fim da noite. Tá certo que ele não era mesmo um psicopata que mata a mãe à sangue frio, mas ele ainda era mesmo um problemão.


Notas Finais


Obrigada por ler ♥

E, semana que vem, trago o link da votação para o tema do próximo mês. Votem com sabedoria e q


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