História Projeto do Passado (Imagine Im JaeBum - JB) - Tudo por uma criança?

Quem adentrou a sala foi Choi, o que me fez sorrir minimamente.

— Com licença, mandou me chamar? — ele se dirigiu á MyungHee, após sorrir de volta para mim e acenar para Im, que o cumprimentou com um discreto aceno de cabeça.

— Sim, professor Choi. Eu estava expondo a situação de Chin-Hwa para os pais. — ela disse ponderada.

“Pais”? Opa! “Pai”, a palavra correta é “pai”.

Senti meu coração acelerar só com aquela menção mal colocada. Endireitei-me na cadeira, visivelmente desconfortável, e Im fitou-me por alguns segundos, antes de focar sua atenção no homem que se sentou na cadeira ao meu lado, de frente para nós.

— Oh, Chin-Hwa. — ele olhou para nós dois e suspirou — Uma criança é muito sensível, vocês sabem, não? — não houve respostas, pelo menos não da minha parte, que apenas fitei Choi, vendo meu mais recente amigo embarcando no mesmo discurso que a diretora — Elas não precisam dizer, elas nos falam com o corpo e os comportamentos. Chin-Hwa tem tido dificuldades. Os senhores têm ciência disso? — ele olhou-me de um modo demorado, até que a voz de Im chamou nossa atenção.

— Eu tenho tentado. — ele desviou o olhar para o chão e respirou fundo — Tentado dar toda a atenção que ele precisa, tenho ficado ao lado dele, perguntado algumas coisas...

— Mas ele não fala. — Choi complementou.

— É, ele não fala. Não com as palavras... — sussurrou a última parte.

— E a senhora, dona _____? Tem conversado com o menino? — MyungHee direcionou a pergunta para mim, deixando-me atenta e inquieta.

— É... — mordi meu lábio inferior, buscando a melhor forma de explicar que não éramos tão próximos como eles pensavam — Não é porque moramos juntos, que somos próximos... Eu não passo muito tempo com Chin-Hwa. — eu sentia os três pares de olhos sob mim, como se me censurassem, e eu estava odiando aquela sensação.

— Ah, entendo... — a diretora sorriu fraco e ficou pensativa — Não seria interessante tentar uma aproximação? — ela olhava-me com expectativa.

— Olha — ri fraquinho e sem ânimo, mas fui impedida de continuar.

— É importante que a família cuide dele, para que ele se abra. — Choi falava calmo, e parecia o menos cansado de nós todos ali — Morando na mesma casa, tudo tem influência na vida de um menino como Chin-Hwa. Se vocês brigarem, ele vai saber... — e então a culpa me pegou.

Ele vira, não só uma, mas algumas discussões. Não era intencional, mas ele viu, e eu não faço ideia do que ele entendeu ou não. E se ele achou que o problema era ele?

Suspirei frustrada, fechando os olhos e abaixando a cabeça.

Sabia que eles me olhavam, mas eu não conseguia evitar me sentir daquele jeito. Como tinha sido burra...

Sei que Im não merece consideração alguma, depois de tudo o que já fez, mas aquela criança também não merecia ver o nosso pior, certo?

— Creio que a senhorita _____ encontrará uma maneira de aproximar-se dele nesse momento tão... — ela fez com que eu a olhasse nessa pausa maior — delicado.

— Acredito que se tomarem algumas providências, ele possa melhorar com o tempo. — Choi era mais cauteloso do que a diretora, talvez porque conhecia um pouco mais o meu lado... — Alguns momentos juntos, os três — ele olhava de JaeBum para mim, não me pressionando, mas expondo o que pensava —, pode ajudar Chin-Hwa a se abrir com um de vocês, pode criar memórias felizes...

— Se moram juntos, é imprescindível mais do que uma boa convivência, mas carinho com a criança da casa. — respirei fundo e evitar olhar para qualquer um deles, sentindo-me irritada, comigo, com eles...

Aproximar-me de Chin-Hwa poderia me custar muito caro e eu sabia disso.

— Acho que seria bom se buscassem Chin-hwa por hoje. Surpreendam o menino. Um dia diferente, por que não? — MyungHee sorriu animada.

— Eu preciso voltar para o trabalho... — disse receosa.

— Não seria possível uma folga? — neguei com a cabeça.

— Eu posso pedir o dia e tentar algo diferente, obrigado. — Im se pronunciou.

Não vou negar que me senti mal. E eu sabia que era infantilidade da minha parte e não fazia o menor sentido ficar mal por Im conseguir fazer aquilo dar certo, e eu não.

Mas não havia o que fazer...

— Oh, isso é ótimo! — MyungHee sorriu animada, acompanhada de Choi, e voltou o olhar para mim — Quem sabe no final de semana...?

[...]

Após aquela reunião, aquele assunto ficou martelando tanto em minha cabeça que acabei por tomar uma decisão de última hora no sábado de manhã.

O plano inicial era sair com YugYeom, já que fazia algumas semanas que não nos víamos e só trocávamos mensagens, mas ao olhar Chin-Hwa deitado no sofá, com um semblante sonolento e atento a um desenho que ele sabia de cor e salteado, liguei para YugYeom e perguntei se poderia levar um acompanhante.

Planejamos algo diferente para o menino, já que Yug tinha um estúdio de dança, por que não levar Chin-Hwa para uma aulinha experimental?

Sim, YugYeom dava aulas quinzenais para crianças da região, e era um sucesso!

O convite surpreendeu pai e filho, mas Im liberou a saída.

— Só tome cuidado com ele, por favor. — pediu sério, enquanto segurava por breves segundos minha mão, antes que eu saísse acompanhada de seu filho.

— Pode deixar.

Fomos andando até o estúdio, porém havia muitos faróis para atravessar, então resolvi que seria mais cuidadoso carrega-lo no colo.

Ele estranhou, mas se aninhou em meu braço, olhando-me com um sorrisinho.

— Acho que você vai gostar de hoje. Gosta de dançar? — perguntei, olhando-o.

Ele afirmou com a cabeça e com as duas mãozinhas arrumou o chapéu que o protegia do sol da manhã.

— Vai dançar comigo? — ele tocou meu queixo com uma das mãos.

— Ah não... Eu sou velha... — disse em tom teatral, fazendo com que ele risse e entrasse na brincadeira ao negar com um bico nos lábios.

— Não é... — riu, fazendo com que eu beijasse sua bochecha e surpreendesse a nós dois.

Uma aproximação o ajudaria, não?

Eu só precisava ter cuidado... Com ele e comigo.

(...)

Assim que cheguei ao estúdio, a primeira turma da manhã estava saindo toda agitada da aula. E só em 15 minutos é que começaria a dos menorzinhos — como Chin-Hwa —, segundo YugYeom.

Logo que me viu com o menino no colo, YugYeom se aproximou sorridente e, discretamente, selou meus lábios de forma breve, passando a atenção ao menino em questão, que nos observava calado.

— Oh então esse é o famoso Chin-Hwa? — YugYeom sorriu e estendeu a mão para que o garoto tocasse na sua, e assim foi feito.

Chin-Hwa o analisava cuidadosamente, não sorria mais tão largo, parecia desconfiado.

 — Gosta de dançar, amigão? — YugYeom parecia encantado com Chin-Hwa.

Chin-Hwa balançou a cabeça, confirmando, e continuou encarando o mais velho, que não se intimidou.

— Então o que acha de deixarmos a noona ai e dançarmos até nossos pés doerem? — deu uma piscadinha para nós dois e sorriu.

— Isso, assim eu posso gravar quem dança melhor dos dois. Será você não é, Chin? — sorri, encorajando o pequeno a socializar.

Eu não sabia muito bem como Chin-Hwa era em grupos, já que comigo ele foi mais do que sociável e insistente. Mas ao observar como ele ainda se agarrava a mim, e era cauteloso com YugYeom, desconfiei que ele não fosse uma criança tão dada assim, por isso tentei ajudá-los a interagir.

Chin-Hwa olhou-me, meio sério, mas deixou-se ser levado por YugYeom, que o acomodou em seus braços.

— O que você gosta de dançar? — perguntou interessado, tentando conquistar a simpatia do menor.

Não houve choro, nem cara feia, Chin-Hwa se deixou ser levado até a sala, comigo os seguindo.

Sentei-me no canto direito da grande sala e observei como Chin-Hwa observava outras duas menininhas — que pareciam estar bem curiosas a seu respeito —, que estavam na sala esperando a aula.

YugYeom distraia as três crianças enquanto ia chegando mais gente. Quando a porta foi fechada, os pais já acomodados nos cantos — assim como eu —, já havia 15 crianças agitadas para dançarem.

E foi o que fizeram por aproximadamente duas horas.

Não sei como YugYeom conseguia manter todas entretidas com aqueles movimentos... Mas era lindo de se ver como elas imitavam seus movimentos com as músicas pop do momento, desde Twice até Astro.

Chin-Hwa começou tímido, olhava para mim a cada cinco segundos, mas logo pegou o ritmo e se divertiu. Ele pulava, dançava, imitava os passos que YugYeom lhes ensinava com paciência e carinho.

Eu me rendi e peguei o celular para gravar algumas partes que Chin-Hwa dançava perfeitamente bem, igualzinho ao professor deles.

E nos breves intervalos que as crianças faziam, o pequeno corria todo risonho até mim, comentando da música, perguntando se eu o tinha visto fazendo tal passo... Eu conseguia ver em seus olhos e nos seu sorriso o quanto ele estava gostando de dançar.

Dei água a ele, enxuguei seu suor com uma toalhinha que trouxe na bolsa, e deixei que ele descansasse em meu colo, enquanto as outras crianças ainda recuperavam sua energia com seus acompanhantes.

Movi meus dedos lentamente pelo cabelo de Chin-Hwa enquanto aguardávamos cada intervalo se encerrar, e assim que YugYeom chamava a todos no centro da sala, eu dava duas batidinhas bem de leve na perna de Chin-Hwa e ele voltava correndo, para continuar se divertindo como a criança que era.