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História Prometeo - Twenty One


Escrita por: baemanvanlis

Capítulo 22 - Twenty One


BÁRBARA

 

Haviam duas semanas desde que Valentina – ou pelo menos era assim que eu a chamava, já que optamos por não revelar nome nenhum – passou a fazer visitas regulares ao meu antigo lugar secreto, que agora não era mais tão secreto assim. Ela vinha dia-sim-dia-não, sempre no fim da tarde, indo embora exatamente as nove da noite.

            Coexistimos no mesmo ambiente rodeadas por um silêncio que dá paz. Não me lembro de nem se quer uma conversa que tivemos depois do primeiro dia que passou de “boa noite” “boa noite” “como vai?” “bem, você?” “bem também” e então, o silêncio. Avassalador. Que calava qualquer respiração um pouco mais pesada. Que poderia ser agonizante, mas no final, era bom. Não sei se a causa era falta de assunto ou uma simples vontade de ficar quieta e só existir no mesmo lugar que aquela mulher misteriosa, mas que o rosto era mais familiar do que deveria.

            Talvez eu estivesse completamente maluca em permitir que aquela estranha conhecida habitasse entre a arte daquele apartamento, ou talvez eu sou muito inteligente para deixa-la escapar. Não que a segunda opção não soasse como loucura. Tudo que sei é que em algum momento, - dois dias atrás para ser mais exata - decidi que deixaria uma chave para que ela transitasse livremente por ali.

E ali estava ela.

 

MACARENA

 

Estava no apartamento de Juliana a quase duas horas. Enquanto relaxava no sofá, ela estava na cozinha. Era raro vê-la daquele jeito, extremamente quieta, se ocupando com só os deuses sabem que pensamento. Os deuses. Engraçado como continuo repetindo frases e moldando em mim mesma alguns costumes dos personagens do livro que escrevi. Prometeo. Eu conseguia sentir as partes mais duras do móvel em consequência do estofamento precário se fincarem em minhas costas como adagas, odiava lembrar daquele episódio curioso do dia em que nos conhecemos, quando ela disse que sua tela se chamava Prometeo, se autonomeou como Juliana e decidiu que eu deveria ser Valentina . Me remexi tentando afastar o pensamento bizarro de que talvez ela fosse uma fã maluca que tinha dado um jeito de ler meu livro.

            A verdade é que fiquei curiosa para descobrir quem ela poderia ser e como sabia tanto sobre meu projeto. A publicação seria em uma semana e tudo que eu não queria era alguém vazando a minha história, então, decidi que simplesmente viria para espioná-la. Acontece que a moça só pinta telas, tira longas sonecas e lê muitos livros – na verdade, desde que a conheci acredito que ela está sempre lendo o mesmo livro. Juliana parece completamente obcecada por aquele exemplar, carregava consigo para todos os lados, tanto é que não consegui dar uma espiadinha se quer para saber sobre o que se tratava.

            Quase dei um salto daquele micro sofá quando o toque do celular dela cortou nosso silêncio habitual. Juliana murmurou um “preciso atender” e foi para fora do apartamento, ainda levando aquele maldito livro consigo.

 

BÁRBARA

 

-Espero que tenha um bom motivo para estar me telefonando no momento em que tirei para descansar.

-Boa noite Señorita López, antes de continuar nossa agradável conversa sou obrigado a interromper qualquer linha de raciocínio que estava formando para dizer que minha doce esposa Alex me deve cinquenta dólares. – A voz de Santiago surgiu e fui obrigada a rir com os protestos de Alex ao fundo da chamada. “Santi você trapaceou outra vez!”.

-Apostaram o que? – Perguntei me arrependendo logo em seguida.

-Que Vossa Majestade atenderia o celular reclamando e que falaria algo antiquado como “telefonar”, já que suas falas são medievais demais para nós, meros habitantes do futuro. – A cicatriz em meu pescoço estourou em dor no momento em que ele me chamou de Vossa Majestade, tive que fazer o possível para não gemer em agonia e me esforçar para prosseguir a conversa.

-Prefiro fingir que certos diálogos jamais aconteceram. – Coloquei a mão sob a cicatriz e a massageei para tentar aliviar a dor. – Agora me diga o motivo do telefonem- da... da ligação.

Ouvi alguns estalos e falhas no som, uma pequena discussão e então a voz de Alex irrompeu pelo alto falante do meu celular.

-Bárbara, querida. – Sorri calorosamente, minha amiga era definitivamente o ser humano mais gentil que já pisou na terra. – Queira perdoar a indelicadeza do meu marido, você sabe como ele é capaz de voltar as manias de criança em poucos segundos. – Dei risada. – Agora me conte, como foi a gravação com Lucía Angelique?

-Foi maravilhosa! – A empolgação veio fácil. – Lucía é incrível, a atuação impecável! Fizemos amizade muito rápido, quem não sabia que tínhamos acabado de nos conhecer, poderia facilmente acreditar que éramos amigas a anos.

-Que coisa boa de se ouvir!

-E como está a Achaga’s? – Perguntei tentando não parecer indelicada pela quase notável falta de interesse, era óbvio que a livraria ia tão bem quanto antes.

-Continua fazendo o mesmo sucesso que a duas semanas atrás, quando nos pagou sua última visita. – O tom da voz me bronqueou. – Estive com esperanças de que a veria mais vezes por lá.

-Senhorita Achaga, você é uma mulher casada! – Dei risada quando a voz de Santiago se fez mais alta enquanto ele gritava “Bárbara pare de tentar roubar minha esposa!”

-Senhorita López, relevarei suas gracinhas, pois ainda não te falei o mais importante.

-Graças aos deuses, minha expectativa de que me fosse revelado o motivo da ligação estava baixíssima. – A visão do casal em minha mente revirando os olhos em sincronia me fez sorrir, eles pareciam ter sido feitos um para o outro.

-Barbie, você nos prometeu que viria almoçar um dia aqui! – Ali estava, finalmente jogamos os modos pro ar e agora iríamos falar normalmente. – Acontece que Macarena fará um jantar de comemoração da abertura das vendas dos livros que será em poucos dias e, sim, eu sei que não é um almoço, mas queremos muito a sua presença.

-Quando é o jantar?

-Em dois dias, traje social, na mansão principal dos Achaga. Pode trazer alguém, se quiser convidar a Lucía seria melhor ainda! Eva está louca para conhecê-la.

-Pode confirmar minha presença, só não respondo por Lucía, mas prometo que farei o convite.

-Legal! Ansiosa demais para ver você outra vez. – Alex soava tão animada que era difícil não me animar junto.

-Até sexta. – Joguei um beijo pelo celular e desliguei, me preparando para voltar para dentro do apartamento com uma expressão absolutamente normal, que não denunciasse que eu tinha compromissos importantes.

Abri a porta para encontrar uma Valentina que se aprontava para ir embora. Tentei buscar palavras, mas não sabia muito bem o que dizer para a moça, e nem precisei, já que logo ouvi o som de sua voz.

-Não poderei vir nessa sexta. – Do jeito que falava, parecia até que o que fazíamos era um compromisso semanal obrigatório. – Tenho outra coisa para fazer.

-Um encontro com alguém? – Quis bater em mim mesma pela velocidade com que as palavras saíram e o tom quase enciumado. – Não que isso seja da minha conta, claro.

-Juliana, eu tenho a chave do seu apartamento secreto, acredito que não existam problemas em você me fazer esse tipo de pergunta. – Sorri aliviada. – Não tenho encontro romântico com ninguém, não se preocupe.

-Me preocupar?

-Pelo tom, imaginei que estivesse com medo que alguém me chamou para sair antes que você criasse coragem. – A frase saiu tão simples da boca dela que me deu tempo de piscar lentamente duas vezes enquanto processava o significado daquelas palavras.

-O que?

-Calma, eu estava apenas brincando! – Segurei a respiração em nervosismo, tenho certeza que pareci desesperada demais e isso deveria denunciar algum tipo de... bem, ela é uma mulher linda, realmente, e talvez eu já tenha imaginado como é beijá-la, mas não é uma coisa da qual eu queria que ela soubesse.

-Por um momento pensei que tivesse me interpretado errado...

-E como poderia interpretar algo? Tudo que a vejo fazer é ficar em silencio, tirar sonecas e ler aquele mesmo livro de sempre.

-Você me assiste enquanto tiro minhas sonecas?

-Juliana... – Por um segundo tinha me esquecido que ela não faz ideia de quem sou, chega a ser bizarro já que de vez em quando meu rosto está na TV. – Aliás, sobre o que é esse livro que você tanto lê? – Apontou para o volume que eu havia deixado em cima da mesa.

-É uma história de amor. – Pelos deuses, que ela não pergunte sobre as personagens, por que fui apelida-la logo de Valentina? Jesus, Bárbara, você não pensa mesmo.

-É uma história real ou é ficção? – Minha cicatriz no pescoço ardeu de leve, é claro que era uma história fictícia, mas por algum motivo me parecia o relato de amor mais real que já li. Tenho certeza de que seja lá quem foi que escreveu aquele livro, a pessoa derramou amor no mesmo.

-É ficção, mas acho que se ler com atenção pode até refletir na vida real.

-Quem sabe um dia você não larga um pouco do exemplar e me empresta pra ler, não? – A indireta era óbvia e na verdade bem direta, mas algo me dizia que seria má ideia entregar o livro para Valentina nesse momento.

-Estou terminando de reler, assim que estiver pronta prometo que te empresto. – Ela quase fez uma careta, mas deve ter desistido de tentar me persuadir a entregar o livro.

-Bem, eu tenho que ir.

-Tudo bem. – Tentei não parecer decepcionada demais, aquela foi nossa conversa mais longa desde o primeiro dia. – Vai vir para cá no domingo?

-Só se não tiver outro compromisso. – Então ela pegou a bolsa e colocou no ombro, caminhou até mim e me deu um – extremamente-completamente-indescritivelmente doce beijo na bochecha e saiu porta afora. Não consegui nem me virar para fechar a porta tamanho era meu choque.

 

MACARENA

 

Desci a escadaria do prédiozinho e segui para meu carro na maior rapidez, não queria estar por perto quando Juliana notasse que peguei o livro. Estava tão fácil, o exemplar parecia estar gritando para que eu o lesse. Só precisei arrumar uma forma de distraí-la para conseguir puxá-lo para dentro da bolsa. O beijo talvez tenha sido jogo sujo, mas eu já notei como ela me olha e tudo que fiz foi... é,me aproveitei da situação, tudo por uma boa causa – boa causa para mim mesma. Me obriguei a dirigir por pelo menos mais três quadras e depois estacionei.

Fiquei analisando aquela capa, a ilustração de fogo e água se cruzando no meio de uma coroa me fez sentir uma dormência na maçã do rosto e pude jurar que durante um segundo minha visão parece ter ficado um tanto turva, mas logo depois entrou em foco novamente. Abri e na contracapa pude ler “Prometeo. Uma história de amor sobre Juliana Valdés e Valentina Carvajal.” Bile subiu pela minha garganta. Aquilo não poderia ser coincidência, eu tinha certeza de que se abrisse para ler, encontraria a história do meu próprio livro. Respirei fundo e virei na primeira página.

 

“JULIANA

 

            Deixava-me ser guiada por entre os corredores do palácio por Lucía, minha criada. A moça se encontrava tão animada que não fui capaz de detê-la e jogar aquela felicidade pelas janelas que estavam duas vezes mais brilhantes que o habitual, os passos de Lu se tornavam cada vez mais rápidos, me fazendo tropeçar entre as saias que compunham a sustentação volumosa do meu vestido.

-Lucía, por favor podemos ir mais devagar? – Ela parou abruptamente, parecia ter se lembrado que não éramos mais garotinhas que envoltas em cobertores assistiam filmes e contavam histórias no palacete de inverno, muito menos as que corriam entre os luxuosos corredores do palácio de verão, pregando peças nos cozinheiros e sujando vestes que custavam preços mais altos que a vida de meus súditos mais ricos.”

 

Não precisei continuar, aquele de fato era meu livro. A diferença, é que quando escrevi, não tive nem se quer uma visão das personagens invadindo a minha cabeça, ao contrário de agora que li.

O problema, é que no rosto da Princesa Juliana, eu via justamente... A Juliana.

Respirei fundo. Liguei o carro. Dirigi para casa. 


Notas Finais


Meus amores, eu sei que esse capítulo não foi tão longo, mas estamos passando por uma transição de mundos, sentimentos e pensamentos, prometo que o próximo será bem mais longo e com acontecimentos que vocês vão amar demais (ou assim espero haha!)

Se quiserem conversar comigo pelo twitter, meu user é @//hopevandynz


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