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História Prometheus - Capítulo Um: Segredos e Cicatrizes


Escrita por: Miss_Schiffer

Notas do Autor


Boa tarde! Espero que todos estejam bem ^-^

Pequena OBS:
Kyungsoo tem TOC e eu estou estudando bastante sobre o assunto, na intenção de não "falar besteira", mas se você tem TOC ou um bom conhecimento do tema e acredita que eu falei ou representei algo de forma incorreta, por favor, não deixe de me avisar!

Aproveitem o capítulo S2

Capítulo 2 - Capítulo Um: Segredos e Cicatrizes


Fanfic / Fanfiction Prometheus - Capítulo Um: Segredos e Cicatrizes

 

— 119, em que posso ajudá-lo? 

— Meu namorado foi mordido por um cachorro enorme! 

— Onde foi a mordida? Vocês conhecem o cachorro? 

— Foi na canela. Era um cachorro de rua. 

— Onde vocês estão agora? 

— Voltamos para casa. 

— A ferida é grande? Está saindo muito sangue? 

— Não está saindo muito sangue, está apenas a marca dos dentes, mas não arrancou um pedaço. O que eu faço? 

— Respire fundo, então o leve até o banheiro, coloque-o embaixo do chuveiro, deixe que água escorrer sobre a ferida. Quando fizer, digo mais instruções. 

— Pronto — Ela disse após alguns minutos. 

—  Lave com água e sabão, depois disso, deixe a água escorrendo por, pelo menos, cinco minutos. Após isso, vá para o hospital mais próximo de sua residência. Todos os hospitais da nossa cidade estão capacitados para lidar com esse tipo de situação. Mais alguma coisa em que posso ajudar? 

— Eles vão falar o que fazer lá? 

— Irão realizar exames, já que vocês não conhecem o cachorro. Ainda está saindo pouca quantidade de sangue? 

— Sim, sim. Vamos direto para o hospital. Obrigada. 

— É um prazer ajudar, ligue novamente, se precisar. 

  

 

— 119, em que posso ajudá-lo? 

— Meu bebê está engasgado! 

— Quantos anos ele tem? Está acordado? 

— Sete meses. Sim. 

— Respire fundo, então coloque o celular no viva-voz. Você viu com o que ele engasgou? 

— Já está. Foi com a comida, um pedaço de fruta. 

— Coloque o bebê com a barriga para baixo em cima de seu braço, como se fosse ninar, sendo a cabeça apontada para o chão e mais baixa do que o corpo, faça cinco compressões, como pequenos empurrões, no meio das costas com a parte da sua mão que fica perto do pulso, movimentando apenas no sentido da cabeça. Apoie firme a cabeça. Conte alto para mim. Não precisa aplicar muita força, mas não pode ser muito leve. 

— Cinco. 

— Vire o bebê de barriga para cima e- 

— Saiu! Acabou de cair do chão! 

— Verifique se ele já está respirando normalmente. 

— Está chorando, muito. 

— Acalme-o. 

— Muito obrigada. 

Ela desligou antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa. 

  

  

— 119, em que posso ajudá-lo? 

— Oi moço minha mamãe disse que era pra ligar pra cá se o meu papai saísse de noite e eu ficasse sozinha em casa de novo. 

— Boa noite, minha flor. Pode repetir? Um pouco mais devagar. 

— Eu tô com fome e tá tudo sem nada e não tem ninguém. Eu não chego na luz do banheiro quero muito mesmo fazer xixi. 

  

  

— 119, em que posso ajudá-lo? 

— Meu irmão se machucou com a faca. 

— Quantos anos você tem? 

— Quatro. 

— Onde ele está agora? 

— No chão. Tem muito sangue! Tá virando um rio. 

— Onde foi o corte? 

— No pescoço. Eu já chamei, mas ele não fala nada. Parece que tá dormindo... 

  

  

— 119, em que po- 

— Um cara acabou de ser baleado. 

— O atirador ainda está por perto? 

— Não. Atirou e foi embora. 

— Se estiver segura, faça um- 

— Já comecei a fazer a massagem cardíaca, liguei no viva-voz. Também comprimi o ferimento. Ele está inconsciente. 

— Bom trabalho, já peguei sua localização. 

  

 

— 119, em que posso ajudá-lo? 

— Ele morreu. 

— Vá até ele e coloquei o dedo indicador e o médio no pescoço, procure por uma pulsação. 

— Já verifiquei todos os sinais vitais. Ele morreu. 

— Não estou conseguindo pegar sua localização, pode me dizer onde está? 

— Eu não sei o que fazer... 

— Qual o nome do local onde vocês estão? 

— Eu não posso... 

A voz do rapaz era de quem estava prestes a chorar. 

— Feche os olhos e respire fundo, pode fazer isso por mim? 

— Sim. 

Ele ouviu o rapaz respirando fundo, três vezes. 

— Onde vocês dois estão? 

— No Motel da Lua, Rua Aurora, quarto 06. 

— Vou mandar ajuda — Ele se sentiu aliviado, estavam a duas ruas dali — Qual seu nome? 

— Choi Yong 

— Qual o nome do rapaz que está com você? 

— Ele não quis dizer. 

— Vocês estão vestidos? 

— Já estávamos indo embora. 

— Me fale um pouco do seu dia. Pode ser? 

Oh Sehun perguntou ao perceber que ele começara a chorar, a luz azul não estava acessa em seu monitor, o que significava que não haviam chamadas em espera. 

— Eu estava no parque, ele chegou e começamos a conversar. Ele quem começou com o flerte. Eu quis marcar pra amanhã, mas ele disse que estaria ocupado, então aceitei vir para o motel com ele. Eu nem ao menos sei o nome dele. Como vou explicar para a família dele o que estávamos fazendo aqui? 

— Não se preocupe com isso agora. Poderia me falar características físicas que possam ser utilizadas para identificá-lo? 

— Ele tem cabelo rosa. 

Sehun engoliu em seco. 

— O que mais? 

— Comparado a mim, ele é baixo, não deve ter mais do que 1,70m. Ele é jovem demais para morrer... 

— O que mais chamou sua atenção nele? Algo no corpo que possa ser usado para diferenciá-lo de qualquer outra pessoa, como tatuagens ou cicatrizes. 

Ele ficou em silêncio por alguns segundos. 

— Tem uma cicatriz! 

Ele engoliu em seco outra vez. 

— Me fale sobre elas. 

— Ele ficou vestido, não quis tirar a camisa, mas quando olhei agora, ele tem no abdômen. É bem estranha. Eu preciso ir com ele? Quero ir para casa... 

O atendente sentiu uma gota de suor escorrer pela face. 

— Escute... 

— Alguém bateu na porta. Disse que era a ajuda. Obrigado. 

— Ligue para os seus pais. 

— Não posso. Desculpe. 

O rapaz desligou. Sehun olhou para a tela, eram 17h:54min quando a ligação começou, armazenou a informação mentalmente. Colocou os fones na bolsa, não precisava deslogar, o sistema fazia isso automaticamente no seu horário final — o dele era às 18h — exceto se você estivesse em um atendimento. Recolheu suas coisas e saiu. 

— Cabelo rosa com cicatriz. 

Falou baixinho pra si mesmo. Era o início da noite de sexta-feira e a segunda vez, naquela semana, que ele recebeu uma ligação de alguém que morreu e possuía essas características, ambas por morte súbita. Sentou na recepção, em um sofá de tamanho médio que havia ali. Embora o prédio em si não fosse grande, era extremamente confortável e com um dos melhores designes que ele já vira. Era costume que ele ficasse ali, esperando o restante do grupo que saia em um horário diferente. Estava tão perdido nos próprios pensamentos que acabou esquecendo. 

Esqueceu da briga. 

Park Chanyeol era o único que também saia naquele horário, os dois sentavam juntos no sofá e conversavam sobre qualquer coisa enquanto esperavam pelos outros. Por ainda pensar no morto de cabelo rosa, seu cérebro, acostumado com a mesma rotina há dois anos, o encaminhou inconscientemente para o lugar de sempre. Quando o amigo passou, sem falar com ele, indo diretamente para a saída, foi quando finalmente lembrou do que havia acontecido. Eles não estavam se falando. Nenhum deles. 

Os outros só sairiam dali a uma hora e o ônibus de Chanyeol sempre demorava a chegar. Ele não queria esbarrar com nenhum deles, ainda os amava mais do que tudo, isso não poderia ser mudado, mas seu coração estava magoado. Muitas coisas foram ditas, todos saíram aos pedaços. O grupo nunca havia brigado daquela forma, ele não sabia o que aconteceria, mas esperava que se resolvessem da forma mais rápida. Não queria ficar nem mais um segundo longe deles, mas sentia que o grupo como um todo só retornaria depois que ele se resolvesse com Chanyeol, ambos protagonistas da maior parte da discussão. 

Park Chanyeol era o cúmulo do trabalho duro, o que deixava Sehun orgulhoso. Quando não estava trabalhando, estava estudando. Sehun não podia falar algo muito diferente sobre si mesmo, mas não conseguia parar de sentir que Chanyeol estava escondendo alguma coisa, mas que não queria compartilhar com eles, percebia a vida em seus olhos se perdendo ao passar do tempo. Um comentário que parecia inofensivo acabou se transformando em um grande momento de discussão. Agora, com a saudade batendo mais forte, ele se arrependia do que disse, mas sabia que se pudesse voltar atrás, diria tudo de novo, mesmo que fosse hipocrisia da parte dele. 

Kyungsoo acredita que aquilo só aconteceu por todo o grupo ter segredos. “Nunca mais fomos verdadeiramente sinceros, atualmente, estamos sempre fingindo. Nós nos perdemos uns dos outros!”, ele disse no meio da briga. Chanyeol pegou a mochila e saiu sem olhar para trás. Isso aconteceu há três semanas, mas até então nada foi resolvido. Sehun queria falar com o amigo tanto quanto esperava que ele fosse o primeiro a ceder. Era um impasse e tanto. 

Esperou por uma hora, não aguentando ficar mais do que isso escondido, saiu e caminhou em direção a parada de ônibus. Era Chanyeol quem subia, os outros já deveriam ter partido, como sempre acontecia. Não esperou mais do que dez minutos antes do ônibus chegar, então sentou-se perto da janela e começou a pensar nos amigos, de novo. Se fosse qualquer outro dia, talvez estivessem todos indo juntos para a casa de algum deles, seria ideia do Jongin, ele ainda não conseguiu se acostumar a estar sozinho em casa, mesmo que já tenha passado tantos anos desde a morte do padrasto. 

A saudade apertava de um lado e o orgulho do outro, queria os amigos, sendo sinceros e ajudando uns aos outros, mas não conseguiria falar sobre si mesmo. Era hipócrita da parte dele pressionar qualquer um deles para que não houvesse segredos, quando ele mesmo os guardava. Como uma grande árvore e seus galhos, seu único segredo criou dezenas de segredos menores. 

Quase todos os ônibus da cidade davam várias voltas, nenhum ganhava da linha que Chanyeol utilizava, mas eram igualmente irritantes. O que ele estava, dobrava a esquerda, entrava em todas as quatro ruas que ficavam entre a “Linha 119” até a rua Aurora, fazendo um “zigue-zague”, 90% dos ônibus que passavam naquele lado da cidade, em algum momento entravam na rua Aurora. Era como se fosse o centro. Duas ruas depois, o ônibus entrou na Rua do Morto — 50% dos ônibus que circulavam por aquele lado da cidade, entravam naquela rua em algum momento, era conhecida assim por ter quatro necrotérios e três edifícios abandonados, apenas, tornando o ambiente mórbido demais. 

 O ônibus percorreu dezesseis ruas, então entrou na avenida Tsepiso e seguiu em frente por quase quarenta minutos, onde dobrou a direita, entrando na rua onde Sehun morava, não sabia onde iria depois disso, pois nunca precisou ir para aquele lado. Ao chegar em casa, decidiu que iria cozinhar alguma coisa. Sehun amava a própria comida, mas todos os amigos discordavam, o que era o total contrário de Chanyeol, que era um excelente cozinheiro, melhor do que todos os restaurantes onde eles já foram. O amigo nasceu para ser chef de cozinha, mas, infelizmente, ele decidiu seguir o sonho que os pais tinham para o filho e se tornar médico legista. Chanyeol era esforçado e inteligente, mas todos os amigos sabiam que aquele não era o caminho que ele queria. 

Pensar no assunto o fez lembrar da briga e o fez perder a fome, tentando esquecer, foi até a biblioteca e pegou algum livro para ler. A casa era herança de seu avô, tinha seis quartos, uma biblioteca — estava se organizando para expandir, pois já estava ficando lotada, três banheiros, cozinha, sala de estar, sala de jantar, um escritório e uma pequena academia. Um enorme jardim na frente e duas piscinas nos fundos. No final do ano, reformou toda a cozinha, era digna de um profissional, mesmo que ele quase nunca usasse. 

"Sim, nos diga, onde consegue tanto dinheiro?" 

Foi a pergunta de Kyungsoo, após o comentário de Jongdae sobre as roupas caras que ele usava. Ele fechou o livro e começou a chorar. Não queria falar sobre aquilo, não conseguia. Já tentou contar a verdade, mas no final apenas chorou como uma criancinha, foi consolado pelos amigos e fingiu que haviam sido lágrimas de coração partido, mesmo sabendo que era mentira, todos concordaram silenciosamente em fingir que era verdade e não o pressionaram para contar, exatamente o oposto do que ele mesmo fizera com Chanyeol. Pensar nisso entristeceu seu coração. Já passava da meia noite quando foi se deitar, mas a cabeça estava tão elétrica que demorou horas até conseguir dormir. 

  

 

• - - - - - - ☆- - - - - - • 

 

 

Park Chanyeol gostava de trabalhar no atendimento, mas contava os minutos para sair dali. Todos os amigos trabalhavam naquele lugar, eles pegaram os mesmos horários durante as férias para estar disponíveis ao mesmo tempo e conseguir sair juntos, agora ele se arrependia de ter concordado. Sabia que não ficariam assim para sempre, mas, no momento, não queria olhar para eles. Doía não saber o que fazer para se reconciliar. 

Finalizou a ligação, uma mulher encontrou uma criança presa em um carro. Essa situação era chamada “vermelha”, o mais alto nível de atendimento, o tempo de espera até a chegada, seja da ambulância, polícia ou dos bombeiros, deveria ser, no máximo, de dez minutos. Sempre ficava perturbado quando envolvia algum menor, por esse motivo passou longe da pediatria. A tela do computador ficou azul e voltou para a página de login, estava prestes a chamar o gerente quando viu Oh Sehun saindo, olhou para o relógio, eram 18:04h, seu turno estava encerrado. Guardou seus pertences lentamente, não queria correr o risco de encontrar Sehun na parada. 

Os dois tiveram uma briga tão feia que Chanyeol não tinha mais certeza se eram amigos, quem dirá melhores. Quando passou pela recepção, Sehun estava sentado, exatamente no mesmo lugar onde os dois ficavam esperando pelos outros. Não sabia o que ele fazia ali, mas todo o seu corpo implorou para ir até lá e sentar com ele, conversar, resolver as coisas, mas sabia que não seria tão simples. Resolveu colocar os fones e fingir escutar música, mas percebeu o olhar do outro sobre si, ambos orgulhosos demais para falar qualquer coisa. 

Tentou não pensar naquele dia, apenas em como queria voltar para casa e aproveitar o fato de que ainda estava de férias da universidade. Ficou sentado no ponto de ônibus até se cansar de esperar sentado e se levantar. Ele era, entre os amigos, o que morava mais distante do trabalho e aquele que pegava o ônibus que mais demorava a passar e, para ser ainda mais injusto, o que dava milhares de retornos na volta para casa. 

— Droga de ônibus... 

Murmurou baixinho após olhar para o relógio e perceber que já estava ali há uma hora e dois minutos. Olhou para o lado e viu Jongin e Kyungsoo descendo a rua. Eles sempre faziam piadinhas, mas depois da briga, ele não tinha certeza sobre como as coisas estariam. 

— Boa noite — Jongin falou enquanto eles paravam ao seu lado. — Você deveria parar com isso, Chanyeol. Você mora bem distante, não deveria ficar me esperando assim. É perigoso. 

Jongin sorria como se nada houvesse acontecido, o que era compreensível, já que ele fora o único que não gritou, apenas tentou desesperadamente acalmar a situação. Kyungsoo, por outro lado, nem ao menos olhou para Chanyeol, apenas para o fim da rua, esperando pelo ônibus. 

— Eu odeio meu ônibus. 

Falou sério, Kyungsoo olhou para ele, seus olhos pareciam magoados. Chanyeol realmente disse coisas duras, mas só se arrependia da metade. 

— Vamos, se anime! Hoje é sexta-feira! 

Jongin falou dando uma tapa no ombro de Chanyeol. 

— Não consigo. Faz uma hora! 

— Já deveria ter se acostumado. 

Chanyeol não discordou. Pensou em iniciar uma conversa, saber como estava a situação entre ele e Kyungsoo, mas um ônibus estava vindo, o dos amigos. 

— Até segunda, Chanyeol! 

Jongin falou sorrindo, Kyungsoo apenas entrou no ônibus. Cinco minutos depois, o ônibus de Chanyeol veio, ele conseguiu ir sentado sozinho, uma das pequenas felicidades da vida. Seu percurso durava, em média, duas horas, sua casa não era tão longe, mas eram tantas voltas e retornos, parecia entrar em todas as ruas da cidade, como um ônibus de turismo, se ali houvesse algo assim. 

Seu único conforto era quando ele entrava, sempre sentavam juntos e conversavam durante todo o percurso. Chanyeol descia antes dele, então não fazia ideia de onde o outro morava, o chamava de "rosinha", por causa do cabelo, ele costumava trocar a cor rapidamente, mas nos últimos meses não o havia feito, Park não sabia o motivo. Quando chegou na parada da Rua do Morto, percebeu que ele estava ali, mas não subiu. Chanyeol quase desceu ao perceber que ele chorava silenciosamente. 

— Rosinha! Não vai perder o ônibus, hein. 

Ele gritou, colocando a cabeça para fora da janela. O outro tomou um susto, então sorriu. 

— Não vou para casa hoje. 

— O percurso não vai ser a mesma coisa sem você para conversar! 

— Digo o mesmo. 

— Se quiser, sou um ótimo ouvinte. Por isso tenho orelhas tão grandes! 

Rosinha riu de novo. 

— Obrigado. 

O ônibus partiu, Chanyeol realmente sentiu falta da companhia, mas o pior foi o fato dele estar chorando. Sempre o vira tão alegre e vibrante, nunca o imaginou assim, era estranho pensar que ele era capaz de sentir algo que não fosse felicidade e êxtase! Bem, a tristeza chega para todos. Encostou a cabeça na janela e tirou um cochilo, quando acordou, ainda estava a caminho. 

Quando chegou em casa, se jogou na cama pensando no sorriso dele. O garoto de cabelo rosa — embora já tivesse usado outras cores no passado. Acabou adormecendo naquele mesmo lugar, sonhou com o rapaz morrendo e acordou no meio da noite. Tomou um banho rápido e foi para a cama. Encarou o relógio, era meia noite e vinte. Teoricamente, já era o sábado. 

Ele adorava o sábado, pois não trabalhava, e, por causa das férias, também não tinha nada para estudar ou artigos para ler. Pretendia fazer uma grande revisão com os assuntos mais importantes nas duas últimas semanas de férias, mas ainda faltava tempo para isso. Se não fosse a briga, seus amigos bateriam na porta para levá-lo a algum lugar, mas como não estavam se falando, sabia que isso não aconteceria. 

Chanyeol sempre lamentou sair com os amigos, mas agora sentia falta, até mesmo dos desfiles de moda que Jongdae os obrigava a fazer companhia. Pensou em Jongin, ele não pareceu magoado ou com raiva quando se viram. Pegou o celular pensando em ligar para ele, mas percebeu que seria apenas um grande incômodo se ligasse no meio da madrugada. Ainda encarando o celular, centenas de vozes invadiram sua cabeça. 

“Ele mal te olhou” 

“Sehun te odeia!” 

“Jongin está bravo, só não quis se dar ao trabalho de dizer” 

“Kyungsoo estava certo!” 

“Como voltariam a ser amigo de alguém tão sem graça quanto você?” 

“Jongdae nunca mais vai falar com você!” 

Colocou a cabeça entre os joelhos e chorou, implorando para que aquelas palavras parassem de gritar dentro dele. Como um disco arranhado, a voz de Sehun voltou a sua mente, gritando novamente todas as coisas que disse na briga. Não apenas ele, todos os amigos gritavam sem parar, como se quisessem fazê-lo até que sua cabeça explodisse. Tentou fazer exercícios de respiração, mas não adiantou, foi até a cozinha e pegou o remédio, voltando para a cama após tomá-lo. 

Deitou na cama desejando que tudo acabasse, mas sabia que ainda iria demorar para que seu coração parasse de bater como se estivesse querendo sair do peito. Minutos depois, adormeceu. Quando acordou, não saberia dizer o que era suor e o que eram lágrimas, mas seu rosto estava ensopado. Encarou a parede por algum tempo, sem saber se ainda era capaz de mover a si mesmo até o banheiro. Olhou para o relógio, eram três horas da manhã. Levantou, tomou um longo banho e deitou, fechando os olhos na esperança de conseguir dormir outra vez. 

 

 

• - - - - - - ☆- - - - - - • 

 

 

Kim Jongdae estava exausto, mas não era uma questão física. Estava de férias do curso, embora mantivesse a rotina de estudos. Estava no último ano dos estudos especializados, o que significava que dali a um ano ele seria oficialmente enfermeiro pediatra. Relutou contra o curso durante anos, mas acabou percebendo, com ajuda de uma excelente psicóloga, que amava o curso, só odiava os pais. Ainda tinha a moda como paixão, fazendo cursos de corte e costura e desenhando as próprias roupas, quando sentia vontade. É como se tivesse chegado na fatídica fase onde você precisa escolher entre o seu sonho e o que é prático. Para ele, não havia um caminho mútuo. 

Foram dez anos de estudos, ele não podia jogar tudo fora naquele momento. Talvez fosse um pouco mais de orgulho ferido do que paixão, mas seria o melhor na área e depois esfregaria na cara dos pais, que achavam sua profissão sem futuro. Ser filho dos melhores cardiologistas da cidade tinha suas consequências, afinal. A área da pediatria não era tão grandiosa, naquela cidade, mas foi onde ele finalmente encontrou um caminho que o fazia feliz. Mas, claro, felicidade não costuma durar tanto assim. 

As aulas retornariam no mês seguinte, mas ele havia recebido naquela semana a escala. No último ano, ele ficava no hospital 24 por 48, ou seja, trabalharia 24 horas seguidas e “descansaria” por 48 horas. Os dois primeiros meses seriam no centro cirúrgico. No hospital onde a mãe era chefe de cirurgia. Onde o pai trabalhava como cirurgião cardíaco. O irmão mais velho era neurocirurgião. O irmão mais novo faria o terceiro ano do estágio curricular em medicina. E, para ser ainda melhor, onde um dos cirurgiões da pediatria era o primo que mais odiava. Para ser justo, ninguém na família tinha uma relação minimamente simpática com ele, todos odiavam sua escolha de fugir da clínica cirúrgica, mais ainda, da medicina. 

E, para ser “pior”, em seu grupo de amigos tinha dois homens que namoravam entre si. A família tratou isso como um afronte maior do que o profissional. O primo viu Sehun lhe dando um beijo na testa, foi o suficiente para que os pais o mandassem embora de casa. Foi há quatro anos e o motivo pelo qual começou a trabalhar no 119, organizando a agenda para poder estudar e trabalhar ao mesmo tempo. Sua média caiu de 9.7 para 8.1, mas tentava não pensar muito sobre isso e sempre teve o apoio e amor incondicional dos amigos. 

Exceto naquela semana. Nenhum deles estava de bom grado, exceto um pouco por Jongin, que balançava entre todos os eles, como Jongdae havia percebido ao longo da semana. Era como se o outro estivesse desesperadamente tentando unir o grupo sozinho. Jongdae queria ajudar, mas a cabeça estava a mil e não conseguia pensar em mais nada. Descobriu que Sehun mentia sobre o motivo de trabalhar no 119 de madrugada e repentinamente mudar para a escala de plantão único de 24 horas no domingo. O salário era bom, mas não o suficiente para manter o casarão onde ele morava, que ficava na área rica da cidade. 

Ter descoberto a mentira de Sehun já doeu o suficiente por si só, mas decidiu respeitar sua decisão em manter segredo, embora não entendesse, mas alguns dias depois, Sehun “explodiu” com Chanyeol, falando sobre honestidade e como amigos não devem esconder as coisas. Foi o suficiente para que Jongdae explodisse junto. A discussão tomou proporções gigantescas, sobrando até para Kyungsoo, que começou tentando acalmar todo mundo e, no fim, saiu tão magoado quanto os outros três. 

Pensava em falar com Chanyeol, mas não tinha certeza se estavam bem, mesmo que não tenham falado nada diretamente um com o outro. Pensava sobre isso quando apareceu uma ocorrência. Uma jovem encontrou uma idosa perdida. Direcionou ajuda, aconselhou a moça e, quando tudo estava certo, desligou. Já eram 18h, Sehun estava levantando para ir embora. Seu coração apertou. Geralmente, Sehun e Chanyeol ficariam esperando no sofá. Essa era a dinâmica dos cinco durante as férias, pegavam o mesmo turno, todos os anos, e aproveitavam as horas livres para ficar juntos. 

Quando Chanyeol levantou e saiu, ele estava em outra ocorrência, mas não pode evitar de olhar o amigo indo embora, distraído. Quando seu turno acabou, viu Jongin e Kyungsoo saindo juntos, quis desesperadamente correr e se aproximar deles, conversar sobre a tarde, sobre como ele passaria os próximos dois meses no mais puro inferno. Precisava dos amigos. Desesperadamente. Desviou do caminho e foi até o banheiro, se esconder. Precisava chorar. 

Foi uma péssima escolha, já que encontrou Sehun, o rosto de quem estava chorando, mas não o viu de volta. Jongdae saiu e foi para a parada, a dele era a alguns metros daquela onde os amigos ficavam, então pode ver quando o ônibus de Chanyeol finalmente veio e, minutos depois, quando Sehun saiu e pegou o próprio ônibus. Jongdae estava a dois segundos de pedir um táxi quando o ônibus apareceu no começo da rua. 

Sentado no banco, felizmente sozinho, voltou a pensar na família. Os pais pegaram de volta o carro e o celular que o deram. Sehun lhe deu outro celular de presente e Jongdae tinha a sensação de que poderia dar um carro também, se quisesse. Não se quisesse dar um presente tão caro, mas sim se quisesse finalmente contar toda a verdade. Lembrou novamente da família, com quem não falava. Agora, estava do mesmo modo com os amigos. Sabia que tinha um longo percurso pela frente, mas estava cansado de pensar nos próprios problemas, então pegou os fones, pronto para se isolar do mundo com a primeira música triste que encontrasse, o ônibus parou na Rua do Morto. 

Foi quando o viu. 

Cabelo rosa. Lindo. Estava passando pela catraca do ônibus naquele momento. Estava acompanhado de um homem, mas Jongdae não deu importância. Seus olhos estavam fixos no rapaz de cabelo rosa, que passou por ele sem olhá-lo e foi para o fundo do ônibus. Olhou para trás mais vezes do que poderia contar, não conseguia acreditar, precisava saber se ele era real. 

Seu rosto estava sério como se estivesse com raiva, ou foi isso que pensou à primeira vista, quando olhou mais atentamente percebeu que seus olhos estavam vermelhos e inchados, como se estivesse chorando antes de entrar no ônibus. Longos minutos passaram, quase uma eternidade, quando o rapaz que estava com ele perguntou alguma coisa, não foi respondido, mas deixou o outro irritado o suficiente para que se levantasse e mudasse de lugar. 

Foi diretamente para onde Jongdae estava sentado, que olhou para frente, as mãos suando, apertando os fones de ouvido como se sua vida dependesse daquilo. Ele sentou ao seu lado e cruzou os braços, logo um bico surgiu em seu rosto. Jongdae quis tocar-lhe o rosto para poder ter certeza de sua existência, mas antes que pudesse fazer tal ato impulsivo, o rapaz se virou e o olhou. 

— Poderia parar de me encarar? 

Falou bravo, embora ainda soasse triste. Ele tirou o fone e sorriu. 

— Perdão, é que rosa é minha cor favorita. 

O rapaz revirou os olhos. 

— Essa foi horrível 

— Quer ficar na janela? 

— Por quê? 

— Eu me sinto melhor quando vou na janela. 

— Está se esforçando demais, sabia? 

— Falta de costume, geralmente não preciso me esforçar nem um pouco. 

Jongdae deu de ombros e sorriu. 

— Você até que é bonito, mas eu não estou no humor. 

— Você até que é bonito, mas eu nem gosto de homens. 

O rapaz de cabelo rosa o encarou e franziu o cenho. 

— Essa tática eu não conheço. 

— Bem, você não está mais chorando, então funcionou. 

Jongdae piscou e sorriu outra vez. O rapaz sorriu junto. 

— Certo. Você ganhou. Vou te entregar meu número e nos falamos outro dia. 

— Pode até ser, mas saiba que eu sou muito difícil. 

Jongdae fingiu uma expressão de seriedade. 

— Como, se estava praticamente implorando? 

— Olha, eu até curto ficar de joelhos, mas nunca precisei implorar por nada nessa vida. 

— Que coincidência, é como se estivesse me descrevendo. 

— Almas gêmeas, talvez? 

— Nesse caso, você não deveria estar chorando também? 

— Sinto muito, mas só existe um tipo bem específico de líquido que eu deixo escorrer pelo meu rosto. 

— Romântico. 

— Já disse, somos almas gêmeas. Falando nisso, qual seu nome? 

— Se é minha alma gêmea, não deveria saber? 

— É que quando meu coração te viu, eu estava muito ocupado redirecionando minha circulação sanguínea, pra entender o nome que ele gritou. 

— Válido. 

— O suficiente? 

— Vamos descer. 

Alguém falou atrás deles, era o cara que o acompanhava. 

— Bem, — o rapaz de cabelo rosa levantou — eu sou aquele que vai descer agora. Foi um prazer, alma gêmea cujo nome eu não sei, obrigado por me animar.  

Jongdae acenou enquanto ele descia, sem lembrar que não pegou o número, quando percebeu, já era tarde demais. Xingou a si mesmo mentalmente, como poderia ter sido tão estúpido? Estava tão abalado que não lembrou de marcar o lugar onde eles desceram, mas tinha certeza, quem quer que fossem os dois, nunca haviam pego aquele ônibus antes. Ficou tão concentrado pensando no rapaz de cabelo rosa que quase perdeu a parada. Quando chegou em casa, procurou algo na geladeira e foi até o quarto, pegando sua agenda e anotando uma nova observação. 

 

01/02/2019  

Encontrei com o cara de cabelo rosa no ônibus 

Talvez não seja o mesmo cara que morre nas ligações do 119 (o do ônibus estava vivo, obviamente) 

Seria um cara de cabelo rosa qualquer? 

Contar sobre isso ao Kyungsoo? 

NÃO CONTAR SOBRE ISSO A NINGUÉM (idiota) 

Não recebi uma ligação hoje, talvez por isso ele estivesse bem vivo no ônibus 

Ou eu estou maluquinho 

 

Ainda pensando no rapaz, tomou banhou e foi dormir. Sonhou com ele, como se fosse uma lembrança antiga na qual ele não tinha acesso, como se seu próprio cérebro lhe dissesse “hey, você não é capaz de lidar com isso”, então deixasse todas as imagens borradas e irreconhecíveis. A única coisa que sabia é que o rapaz de cabelo rosa do ônibus estava muito vivo, mas nada conseguia tirar da sua mente que era a mesma pessoa que morreu nas dezessete ligações que ele recebeu nos últimos dois anos. 

 

 

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Kim Jongin não sabia o que fazer, estava decidido a acabar com a briga que ameaçava arruinar seu grupo, mas conhecia os quatro bem o suficiente para saber que essa seria a missão mais difícil de sua vida. Kyungsoo sempre fora o mais rancoroso, por esse motivo, se tornou o primeiro alvo de seu plano: restaurar os quatro pilares. O amigo ainda estava estranho, mas ele sabia que sempre teria um nível de abertura diferente dos outros. Durante quase dois anos, ele e Kyungsoo foram namorados. 

— Soo. 

Mesmo que as coisas estivessem estranhas, os dois ainda sentavam um ao lado do outro no ônibus, que quase sempre estava vazio. 

— Sim. 

— Como estão as coisas entre nós dois? 

— Não entendi a pergunta. 

— Está bravo comigo? 

— Você concorda com o que eles disseram? 

— Você tem que resolver com cada um, não me coloque no meio. Não vou negar, nem confirmar, o que vocês disseram uns aos outros. 

— Por quê? 

— Vai ficar mais difícil. Se eu disser que é verdade, vai ficar com raiva de mim também e não vai se resolver com ninguém. Se eu disser que é mentira, vai usar isso para nunca tentar conversar com eles. 

— Eu deveria conversar com eles? Não deveria ser o contrário? 

— Acho que todos devíamos nos reunir e falar em ordem alfabética, como sempre foi. 

— Não é tão fácil. 

— Eu sei, mas não significa que devemos desistir. Eu fui o último a entrar no grupo, e já são cinco anos. Você e Chanyeol foram os primeiros a se conhecer, não deveriam deixar as coisas assim. 

— Se ele der abertura, eu prometo que vou ser paciente e razoável, mas não me peça para dar o primeiro passo, eu não vou. Não com ele. 

— E com os outros? 

— Não sei como vai ficar com o Sehun. Jongdae é mais fácil. 

— Podemos fazer uma videochamada, nós três. Eu vou ser o mediador. 

— Pensei que fosse reunir todo mundo. 

— Chanyeol e Sehun vão dificultar muito as coisas, prefiro que metade do trabalho já esteja pronto quando isso for acontecer. 

— Deveria ter me avisado que iria dormir comigo. 

— Eu não vou. 

— Agora, vai. Já estamos quase chegando. 

Jongin levantou assustado e olhou pela janela. 

— PORCARIA! 

— Ainda tem roupas suas lá em casa, relaxa. 

— Vamos para o seu apartamento, não é? 

— Se eu chegasse na casa da minha mãe com você, acho que ela infartaria. 

— Vamos para a casa dela, então? 

Os dois riram, então Jongin puxou a corda e eles desceram. 

— Jongin, que bom te ver de novo! 

O porteiro disse, assim que entraram, dando um enorme sorriso. Durante um ano e oito meses, Jongin dormia ali quatro noites por semana, às vezes mais do que isso. Kyungsoo costumava dizer que os porteiros, os vizinhos e até mesmo as plantas gostavam mais de Jongin do que dele. 

— Digo o mesmo, Sr. Kim! 

— Espero que isso venha com boas notícias. 

— Como assim? — Jongin perguntou 

— Ele quer saber se voltamos a namorar. — Kyungsoo explicou, sorrindo ao perceber que Jongin ficou envergonhado — Não voltamos, Sr. Kim. Ele ainda é um dos meus melhores amigos, por isso está aqui. 

— Que pena, vocês eram uma graça juntos. 

— Obrigado, Sr. Kim. Até depois! 

— Boa noite, meus queridos. 

— Boa noite! — Responderam juntos. 

— Vai ser assim por algum tempo, não é? 

Jongin perguntou, quando estavam saindo do elevador. 

— Todo mundo perguntando quando vamos voltar? — Jongin assentiu — A única pessoa que não vai fazer isso é minha mãe, mas não é nada pessoal. 

— Ela fez algum comentário? 

— Na mesma semana em que ficou sabendo, já me apresentou uma “adorável moça” em um evento. 

— Odeio a sua mãe. 

— Não repara a bagunça, não tive tempo que arrumar antes de sair. 

Mesmo sem ter entrado no lugar, Kim Jongin já sabia que aquilo não era verdade. Antes de cruzar a porta, o cheiro agradável do ambiente já o envolvera. O lugar estava impecável, mas nunca estava limpo o suficiente para Kyungsoo. O apartamento não era grande, mas tinha três quartos, sala, cozinha, lavanderia, uma varanda e dois banheiros. Ele fez uma “limpeza rápida” de trinta minutos antes que Jongin pudesse usar. Quando este saiu do banheiro, Kyungsoo já tinha limpado a sala e a cozinha e estava limpando o primeiro quarto, provavelmente onde ele dormiria. 

Não havia o que limpar. Não tinha um grão de poeira, sujeira ou mancha, mas ele ficou em silêncio enquanto o amigo fazia o trabalho. Sabia que era pior não deixar que ele terminasse. Quando Kyungsoo considerou que tudo estava limpo, lavou novamente o banheiro que Jongin usou e foi para o banheiro do quarto principal, tomar o próprio banho. Enquanto esperava, o outro pediu pizza, era a comida favorita de todo mundo no grupo, exceto quando Chanyeol estava presente, nesse caso, seria qualquer mágica que o grandão fizesse na cozinha. 

— Pediu nossa comida? 

Kyungsoo perguntou enquanto sentava no sofá. Jongin adorava o cheiro que ele tinha assim que saia do banho, sabia que era pela quantidade absurda de produtos que ele usava, mas tentava não pensar muito sobre isso. Deitou no colo dele, enquanto assentia e o outro começou a acariciar seus cabelos. Sentiu como se os três meses não houvessem passado, mesmo que a decisão de terminar tenha sido mútua. Continuaram assim, em silêncio, até a pizza chegar. 

— Vou fazer as pazes com Chanyeol só pra poder ir comer lá. 

— Esse é o principal motivo pelo qual somos amigos dele. 

Kyungsoo riu. 

— Eu vou contar pra ele! 

— Ele já tem plena consciência disso. 

Depois de comer — e Kyungsoo escovar os dentes duas vezes e passar o fio dental duas vezes — eles resolveram assistir a um filme antes de ir dormir. Kyungsoo deitou no sofá que ficava em frente à televisão, encostando a cabeça no braço e usando almofadas como apoio. Jongin refletiu um pouco antes de levantar do sofá lateral, onde estava, e ir deitar por cima dele, com a cabeça apoiada na barriga. Kyungsoo não disse nada, apenas voltou a acariciar os cabelos dele, como quando esperavam pela pizza. 

Era um filme de investigação policial, o gênero preferido de Kyungsoo, então assistiram até o fim. Quando acabou, nenhum dos dois se mexeu, continuaram exatamente na mesma posição, como se esperassem o filme recomeçar. Mesmo sem saber se deveria agir assim, Jongin encostou o queijo contra o corpo do outro e o encarou, mas este estava com os olhos fechados. 

— Onde eu vou dormir? — Arriscou. Ainda de olhos fechados, Kyungsoo sorriu e respondeu. 

— No quarto de hóspedes. 

Kim Jongin não sabia por que estava agindo assim, apenas não conseguiu evitar a pergunta anterior. 

— Você não vem? 

Perguntou, após se levantar e perceber que Kyungsoo ainda estava deitado com os olhos fechados. Ele negou com a cabeça. Jongin sentou ao lado dele no sofá e deu um beijo em sua testa. 

— Você está bem? 

— Desde que o policial caiu naquela lixeira, sinto uma vontade absurda de tomar um banho. 

— Com sabonete ou com alvejante? 

— Os dois. Por que sou assim, Jongin? É a porcaria de um personagem de um filme! — De costas para Jongin, ele abraçou os joelhos e começou a chorar. 

— Não faça isso — O outro o virou novamente — Olhe para mim. Vamos. Me olhe nos olhos! — Kyungsoo obedeceu — Nós vamos para o seu quarto, você vai ficar sentado na cama e eu vou preparar um banho com todos aqueles sais de banho que eu acho um exagero. Depois, você vai tomar banho, eu vou esfregar suas costas, vai tomar seu remédio e eu vou cantar até você dormir. Parece bom? 

— Posso passar álcool em gel no meu corpo inteiro, como se fosse hidratante? 

— Não, mas pode passar hidratante de verdade. 

— Eu não vou exagerar, prometo. 

— Vamos ficar apenas com o sabão do banho. 

— Certo. 

Os dois levantaram e foram até o quarto. Kyungsoo ficou sentado, enquanto Jongin caminhou até o banheiro — era um suíte. Ele pegou os sais mais perfumados que encontrou e preparou como ele sabia que o outro mais gostava, estava acostumado com crises como aquela mais do que os outros. Quando começaram a namorar, foram quatro semanas antes do primeiro beijo. Aconteceu na casa de Jongdae, quando os dois se voluntariaram para levar os pratos de volta para a cozinha. Fora Kyungsoo quem o beijou, minutos depois, ele bebeu o álcool em gel que carregava na bolsa e todos o levaram às pressas para a emergência. 

Kyungsoo tentou se desculpar, não conseguia olhar nos olhos do namorado durante dias, até que Jongin o forçou a fazê-lo e disse que aquilo não o magoou. Sabia como Kyungsoo era, conhecia seus problemas, entendia que aquilo estava além da vontade do namorado. Todos os amigos o apoiaram, revezando para levá-lo ao médico, supervisionando os remédios e conversando sempre que ele precisava. Como namorado, Jongin tentou ir mais além, pesquisando sobre produtos de limpeza e TOC, para ajudá-lo. Kyungsoo fazia faxina na casa todos os dias, como o tempo, diminuiu para três vezes por semana. Escovava os dentes sete vezes após cada refeição, agora eram apenas duas ou três. 

Quando o banho estava pronto, Kyungsoo entrou e afundou a si mesmo por completo, quando voltou, Jongin começou a passar a escova nas costas, enquanto ele passava a esponja de banho no restante do corpo. Depois, Jongin o ajudou a secar o cabelo e observou enquanto ele passava hidratante por todo o corpo, guardando quando terminou. Queria que dormissem no mesmo quarto, então tomou outro banho, apenas para que Kyungsoo ficasse tranquilo. 

— Você tomou banho — Kyungsoo observou. 

— Queria ficar limpo também, vou dormir aqui com você. 

— Não precisa. 

— Eu sei, mas ainda vou cantar para você, lembra? 

Kyungsoo sorriu e deitou na cama, do lado esquerdo. Percebeu que os lençóis eram novos, ele nunca ficava mais do que dois meses com o mesmo jogo, os jogava fora depois disso, considerando-os usados demais. Lavava todos os lençóis uma vez por semana, mesmo que não os tivesse usado, e todas as roupas que tinha duas vezes por semana. Trocava o jogo de cama todos os dias, assim que acordava. A primeira vez que Kyungsoo disse que o amava, após o namoro, foi quando chegou em casa e percebeu que o outro estava lavando os lençóis, assim como era a rotina e com todos os produtos corretos. 

Naquele momento, deitado na cama, ainda com os olhos vermelhos, Kyungsoo não parecia mais do que um garotinho que precisou desesperadamente de amor e conforto, mas nenhum dos dois veio, por muito tempo. Enquanto acariciava seus cabelos e cantava, Jongin encarou os próprios pulsos e as cicatrizes presentes neles, lembrou de todas as noites em que ele chorou, deitado na cama e Kyungsoo fizera exatamente aquilo. Todos os amigos o fizeram. Naquela noite, seria tudo sobre ajudar seu ex-namorado, no dia seguinte, voltaria a pensar na briga e em como uni-los novamente. 


Notas Finais


Pequena OBS:
Kyungsoo tem TOC e eu estou estudando bastante sobre o assunto, na intenção de não "falar besteira", mas se você tem TOC ou um bom conhecimento do tema e acredita que eu falei ou representei algo de forma incorreta, por favor, não deixe de me avisar!


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