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História P.s: Matei um cara. - Arquivo 1- parte 6


Escrita por: Celinn

Notas do Autor


Oi oi gente, tudo bom? Mais um cap. com muito carinho pra vocês ♥ Grande beijo :*

Capítulo 7 - Arquivo 1- parte 6


Quando cheguei à delegacia na segunda-feira à tarde, com minha mochila pendurada em um dos ombros e um copo de milk-shake nas mãos, era mais do que óbvio para qualquer um que eu estava animado demais para alguém que tecnicamente havia sido “confiscado” pela polícia.

Mas era uma alegria completamente unilateral, já que mais ninguém pareceu muito contente com a minha repentina presença. Deixaram isso bastante claro no momento em que passei e começaram a me olhar como se eu carregasse uma AK-47 em uma das mãos.

Não que eu estivesse esperando uma super festa de boas-vindas nem nada do tipo, mas o fato dos policiais colocarem a mão no bolso e apertarem as armas, como se a qualquer momento eu fosse começar um tiroteio, foi uma cena quase deprimente.

Quase, porque eu sabia o motivo de agirem assim. Aparentemente a história sobre meu aviso da tragédia repercutiu bastante entre eles. De uma maneira negativa, por falar nisso. Agora, além de drogado, todo mundo achava que eu atraia má sorte também.

O lado bom é que eu era bastante experiente em ignorar coisas desse tipo, de forma que nem mesmo os olhares tortos que recebi quando passei pelo corredor que dava acesso a sala de Elliot, conseguiram conter minha animação.

Uma pena isso tudo ter mudado logo em seguida.

Porque, ao contrário do que o tenente Fox fez parecer, acho que Elliot também não estava tão a fim assim de passar todo aquele tempo comigo. Bastou apenas dois minutos naquela sala para ele deixar bastante claro que não ia mais jogar no meu time.

— Espero que você saiba que isso não é a sua colônia de férias. — Elliot disse para mim, segundos depois de eu me sentar na cadeira em frente a sua mesa. — Então não pense em simplesmente fazer tudo o que quiser e quando quiser. Eu darei as ordens aqui. Você entendeu essa parte?

Mesmo dentro da sala, Elliot estava usando óculos escuros estilo aviador, e ainda assim, quando falava comigo encarava apenas os papeis em sua mesa. Ele ainda estava chateado, foi o que eu deduzi. Assim como todo mundo, achava que a culpa era minha pelo que tinha acontecido.

Bastante conveniente da parte dele...

— Oi, Elliot, como vai? — Eu ignorei as palavras, dando outro gole no milk-shake. — Não te vejo há mais de uma semana. Saudades?

— Não brinque com a minha cara, Nicholas! — Ele explodiu.

— Não estou brincando, estou te cumprimentando. Pessoas educadas fazem isso, detetive. — Expliquei de maneira cínica.

O autocontrole de Elliot, como sempre, foi exemplar. Ele apenas parecia que ia tacar alguma coisa na minha cabeça a qualquer instante.

 — Você tem ideia do quanto isso tudo é sério? — O tom dele ainda era agressivo. Tudo em Elliot era agressivo nesse dia. Ele estava realmente me vendo como uma ameaça. — Ou você me garante que vai fazer as coisas do meu jeito ou eu ligo agora mesmo para a promotora e digo que o acordo está cancelado. Não vou prosseguir com você sem saber no que estou me metendo.

Suspirei e me recostei na cadeira.

Eu tinha experiências com Elliot o suficiente para saber que enquanto eu não desse as respostas que ele queria, não ia me deixar em paz. Então resolvi fazer do jeito dele...

— Tudo bem. — Eu disse. — Vou jogar o jogo conforme suas regras. Eu juro.

... E ninguém precisava saber que eu cruzei os dedos nesse momento.

Elliot deslizou uma folha em minha direção e bateu uma caneta com força sobre ela. Eu queria muito poder tirar aqueles óculos para saber exatamente que droga de expressão ele estava fazendo, mas me controlei.

— Assine. — Ele mandou.

Soltei um riso incrédulo.

— É sério? Eu preciso te dar uma folha com a minha assinatura para você acreditar em mim?

— Seus pais já assinaram. — Ele contou. — Eu preciso agora da sua assinatura. É o documento de ciência sobre tudo que irá ou pode acontecer de agora em diante. Preciso mandar isso para o tribunal anexar na sua pasta.

Soltei outro suspiro, puxando a folha e rabiscando meu nome no local indicado. Era oficial. Eu tinha um mês exato para resolver tudo aquilo ou dar adeus a toda aquela liberdade que eu... Bem, nunca tive realmente.

— Aqui está. — Eu devolvi a folha e a caneta para ele.

Elliot as pegou, tomando todo o cuidado do mundo para não encostar em mim. Aquilo me irritou. Me irritou muito para ser sincero. Ele podia até estar chateado e tudo mais, mas não podia me tratar como se eu tivesse uma anomalia contagiosa ou algo do tipo.

— Você está com raiva de mim? — Perguntei, apesar de mais ter parecido uma acusação. — Está, Elliot? Por causa do que aconteceu naquele dia?

Sem ao menos tentar disfarçar, os ombros de Elliot ficaram tensos. Ele pigarreou e ajeitou os óculos como se quisesse ter certeza de que eles ainda estavam lá.

— Não vou falar sobre isso com você...

— Ah, vai sim! — Eu discordei. — Caso não tenha notado, nós temos um mês inteiro juntinhos para abrir nossos sentimentos um com o outro. Começando com: Por que está agindo como um cretino para cima de mim?

— Não estou agindo como nada, Nicholas. — Ele resmungou. — Você é que não entendeu ainda que eu sou a autoridade sobre você aqui; não seu amigo do jardim de infância.

Apertei os lábios, mas nem isso impediu que as palavras pulassem para fora:

— Realmente você não é. — Eu disse amargamente. — Se fosse alguma coisa pelo menos parecida com um amigo, não estaria agindo como todas aquelas pessoas lá fora. Me diga, Elliot, você também acha que eu vou me trancar no banheiro para fumar metanfetamina ou só está com medo de todo o azar que eu posso passar para você?

Pela primeira vez desde que eu havia entrado naquela sala, Elliot pareceu realmente estar olhando para mim. Era um palpite, mas eu costumava ser muito bom com eles.

— Você não sabe do que está falando... — Ele respondeu com asco.

— E o que você sabe? — Desafiei com raiva. — Você me conhece por malditos cinco anos. Me viu invadindo lugares proibidos, ao lado de cadáveres, em diversas cenas de crimes... Mas o que você sabe realmente? Sabe por que eu faço isso? Melhor, você ao menos sabe por que eu me tornei assim?

O rosto dele pareceu endurecer com as minhas palavras. Principalmente por ele não ter como responder nenhuma das minhas perguntas.

— Não estou aqui para discutir com você. — Ele cortou a conversa. — Temos um trabalho a fazer e é isso que vamos fazer. Tudo isso aqui é profissional. Não me interessa saber mais nada além do necessário. Então, não comece novamente com isso, ou realmente tomarei outras medidas com você. Fui claro?

Ainda fiquei olhando para o rosto de Elliot tentando ler a máscara por de trás dos óculos, mas desisti, levantando as mãos em sinal de rendição.  Não dá para vencer todas.

— Como um dia.— Falei por fim. — Nada além do profissional, detetive Bennacci.  Vai ser um prazer trabalhar com o senhor...

Calei a boca depois disso. Se Elliot queria agir como uma criancinha de 4 anos, isso era problema dele. Eu só precisava que ele prendesse o verdadeiro culpado no final de tudo. E não precisava dele morrendo de amores por mim para fazer isso.

Terminei meu milk-shake fazendo um grande barulho com o canudo, enquanto Elliot assinava folhas e folhas de sei lá o que e as organizava metodicamente em pastas. Eu estava quase dormindo com tudo aquilo.

— Preciso falar com Lindsay Wilson. — Falei a ele enquanto me levantava para jogar o copo na lixeira. Se Elliot queria tanto dar as ordens, então que começasse logo. Caso contrário, eu tinha mais o que fazer. E minhas respostas não estavam em pilhas e pilhas de papel dentro de uma sala de delegacia.

— Sem condições. — Ele respondeu sem olhar para mim.

— Por quê?

— Porque ela ainda está no hospital. — Ele explicou como se eu tivesse dois anos de idade. — E porque você, de todas as pessoas, é a última que ela quer ver.

— Ela não é a única assim. — Alfinetei. — Mas isso é mais um motivo para ir até lá.

— Absolutamente não, Nicholas.

Fechei os olhos e contei até dez. Graças a Deus eu sempre tive um controle de emoções bom o suficiente para não bater em um detetive.

— Você disse que daria ordens. — Resmunguei. — Mas está sentado nessa cadeira há quase uma hora e eu ainda não recebi nada!

— Eu estou trabalhando!

— Mas eu não estou! — Protestei. — Que droga, Elliot, não faça a minha vida mais difícil! Achei que você me ajudaria nessa, não que tornaria isso tudo um inferno.

Ele soltou os papeis claramente irritado.

— Ela não vai falar com você, Nicholas. — Ele tentou usar como argumento. — A garota está tendo tratamento psiquiátrico! Nenhum médico autorizaria isso.

— Ela é uma testemunha. — Eu lembrei. — E você é um detetive. A sua função não é interrogá-la?

— E eu já fiz isso! — Ele me respondeu com impaciência. — Você sabe muito bem as coisas que ela me disse.

— Sim. — Concordei. — Por que não fez as perguntas certas.

E se dependesse de Elliot ou qualquer outro, ninguém nunca as faria. Nenhum deles havia visto o que eu vi. Muito menos sabiam das coisas que eu sabia.

— Não preciso de você para me ensinar a fazer o meu trabalho! — Agora ele realmente pareceu furioso. Até que tinha demorado bastante dessa vez.

— Mas precisa de mim para pegar esse cara. —Tentei argumentar. —E eu preciso de Lindsay para poder fazer isso.  Então poderia esquecer seu orgulho e sua repulsa por, tipo, duas horas e colaborar comigo?

Elliot jogou a cabeça para trás suspirando ruidosamente e olhando para alguma coisa no teto. Ficou assim por quase dois minutos. Geralmente ele fazia isso quando estava pensando em algo, então eu não disse nada nesse tempo. Se havia alguma possibilidade de eu receber uma resposta positiva, não iria estragar isso.

E, de fato, recebi. Não foi nada como “ realmente, você está certo e eu estou agindo como um idiota, Nicholas.”, mas foi melhor do que nada.

— Eu vou te dar quinze minutos com ela. Mas se eu ouvir Lindsay respirando mais rápido que o normal, voltamos para cá e você vai calar a boca. Certo? — Foi o que ele disse, na verdade.

Mais uma vez, fiquei feliz demais para não demonstrar.

Elliot dirigiu silenciosamente até o hospital. Respeitei isso. Não era burro e sabia travar minhas batalhas. E discutir com ele quando eu realmente precisava de alguém para dirigir por mais de 20 km não seria nenhum pouco inteligente.

Quando entramos no hospital, Elliot finalmente tirou os óculos escuros e os guardou no bolso.

E eu entendi porque ele estava com eles por todo aquele tempo.

— Deixe-me adivinhar — Eu disse enquanto íamos em direção aos elevadores. — Você não tem dormido? Ou tem andado chorando?

Elliot não me respondeu até que as portas se abrissem para entrarmos.

— Não tenho dormido. — Ele confirmou, apertando o segundo andar. — Há quase uma semana mais ou menos.

Soltei uma risada maldosa e ignorei o olhar cortante que Elliot me deu por fazer isso.

— Bem-vindo ao meu mundo! — Comentei, me virando para o espelho do elevador e observando o meu reflexo. Bolsas sob os olhos. Palidez. Olhos vermelhos. Peso abaixo da média e... Ah, claro! Cabelo azul!

Elliot, obviamente, não estava tão ruim assim. Ele voltaria ao normal depois de uma boa noite de sono. Já eu? Bem... Acho que nem se dormisse durante dois anos seguidos consertaria todo o estrago.

Assim que saímos do elevador, não foi difícil saber qual era o quarto de Lindsay, considerando que estava cheio de policiais na porta para escolta. Elliot cumprimentou todos eles quando passamos.

— Não vamos demorar nem quinze minutos. — Ele disse a um dos guardas. — Então nesse tempo, não deixe ninguém entrar. — Frisou bastante o “ninguém”.

Elliot entrou primeiro. Para ter certeza que Lindsay não teria uma parada cardíaca ou algo assim. Ela estava sentada na cama, folheando uma dessas revistas de moda, mas mudou a expressão totalmente quando viu Elliot.

— Detetive! Como vai? — Ela abriu um sorriso branco para ele.

 Entretanto quando me viu, e me reconheceu, o rosto de Lindsay perdeu toda a cor e ela levou a mão automaticamente para as ataduras no pescoço.

— Ele não vai te machucar, Lindsay. — Elliot se apressou em dizer de uma forma quase... amável. — Só estamos aqui para algumas perguntas.

— Já disse tudo o que eu sabia! — O tom dela foi quase desesperado. —Ele não deveria estar preso? Por que o trouxe aqui?

Lindsay não ia ser simpática comigo, então não me senti na obrigação de ser com ela. Até porque não conseguia ser hipócrita a esse ponto. Ela era uma garota que me queria na cadeia, e eu achava que ela deveria estar morta. Não tinha nenhuma possibilidade de nos darmos bem.

— Eu só preciso que me responda três perguntas. — Falei a ela. — Nada mais que isso. Pode ser?

— Não! — Ela respondeu histérica. — Tire ele da minha frente!

Elliot me deu uma olhada que eu sabia o que queria dizer: “ Vamos embora”. Mas eu não tinha chegado tão longe para ir embora daquele jeito por causa do chilique de Lindsay. Se ela queria me condenar, teria que provar por A e B o que dizia.

Suspirei e antes que Elliot pensasse em dizer algo eu já estava falando:

— Por acaso fui eu quem cortei a sua garganta, Lindsay? — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava. A pergunta saiu clara e objetiva, e eu me permiti sentir orgulho de mim mesmo.

Os olhos dela se voltaram em minha direção. Grandes e brilhantes, como os de um personagem de desenho. Por um minuto achei que eu estava interrogando o Bambi.

— O... O quê? — Ela balbuciou. Não era exatamente a resposta que eu queria, mas ao menos ela havia falado comigo.

Isso me deu coragem para continuar.

Dei um passo em direção a ela.

— Vou reformular minha pergunta: Você, Lindsay Wilson, me viu puxar o seu cabelo para trás e colocar uma navalha no seu pescoço?

Lindsay desviou os olhos dos meus e os voltou para Elliot como se pedisse ajuda.

— Está tudo bem. — Ele a incentivou. — Diga ele o que você me disse.

Ela respirou fundo umas duas vezes. E hesitou nas duas vezes. Então, formulou algo para dizer.

— E- estava escuro e eu estava muito... Assustada. Tinha ficado vendada por três dias. Por isso não me lembro direito de tudo. — Ela respondeu e então apontou para mim. —Mas... Você estava lá! Eu sei que estava...

— Não foi isso que eu perguntei. — Eu interrompi o discurso. — Quero saber se fui eu quem você viu segurando uma navalha e deslizando ela sobre o seu pescoço. E não elabore respostas. Me dê um sim ou não.

— Nicholas... — Elliot tentou me interrompeu para dizer que eu estava passando dos limites. Só que eu já sabia disso. Por isso eu o ignorei. Meus olhos estavam fixos em Lindsay e no que ela diria.

Ela abaixou a cabeça, olhando para as próprias mãos e então engoliu em seco.

— Não. — Ela respondeu em um sussurro que eu escutei muito bem.

Soltei um suspiro aliviado. Não tinha certeza da sinceridade de Lindsay, então era difícil saber se aquilo daria certo, mas, até então, ela estava indo bem.

— Ouviu isso, Elliot? — Me virei para ele. — Lindsay disse que não me viu segurar uma navalha e cortar o pescoço dela. Então já podemos descartar a tentativa de homicídio.  

— Mas você estava lá! — Ela insistiu, forçando a voz ao máximo para que soasse alta. — É praticamente a mesma coisa!

— Na verdade, não é, não. — Eu disse a ela. — Mas é o que nos leva a minha segunda pergunta. Quando exatamente você me viu: Antes ou depois de cortarem seu pescoço?

Minhas perguntas eram objetivas e precisavam de respostas no mesmo estilo. Quanto mais Lindsay pensasse, mais ela elaboraria. E quanto mais ela elaborava, mais mentiras iam junto. Não que fosse de propósito. Era natural isso acontecer. Todos nós fazemos isso o tempo todo. Mas naquele momento eu precisava de uma Lindsay completamente sincera para que nada desandasse.

Ela apertou os lábios.

— Foi... — A pausa que Lindsay fez foi a prova de que ela não sabia responder isso com exatidão. — Antes... Eu acho.

— Não se pode condenar alguém com um “ eu acho”, Lindsay. Ou você tem certeza, ou tudo o que você diz é descartado. — Contei a ela e a vi encolher os ombros. — Antes ou depois?

Ela respirou fundo novamente, porém para se acalmar. Então tentou de novo:

— Antes. Definitivamente. Eu não me lembro de nada do que aconteceu depois.

Assenti, enquanto tentava montar as peças daquele quebra-cabeça.

Lindsay apostava em ter me visto antes de quase ser assassinada. Porém, mesmo com toda a bizarrice, eu ainda era um ser humano que não podia estar em dois lugares ao mesmo tempo. E mesmo que ela quisesse sugerir que me viu durante o tempo em que eu estava tendo a visão, a resposta nunca poderia ter sido “antes”. Minhas visões nunca eram mais do que os momentos finais da vida de alguém. Só que Lindsay, obviamente não havia tido seus momentos finais. O que deixava claro que eu nunca tinha estado naquele galpão de forma alguma. Nem espiritual e muito menos fisicamente.

Em outras palavras: Nenhuma das respostas que eu havia sugerido estava correta. Lindsay Wilson estava mentindo. E nem mesmo ela sabia disso.

Resolvi apostar todas as minhas fichas nessa linha de raciocínio.

Agora eu só precisava de algo que explicasse como ela tinha chegado até mim. Porque mesmo em seu leito de morte, pode apostar que eu seria a última pessoa em quem Lindsay perderia o tempo pensando.

Busquei em minha memória qualquer coisa que pudesse me ajudar. E consegui.

— Certo. — Falei por fim. — Irei te fazer minha última pergunta e preciso que você preste muita atenção nela.

Fiquei olhando para o de Lindsay até que ela concordasse com o que eu havia dito. E quando o fez, tomei folego para continuar:

— Naquela noite — Comecei devagar. — Antes de você ser atacada, ele sussurrou algo. Ele disse que você também iria participar do “show”. — Não era uma pergunta, mas ainda assim, Lindsay estava assentindo como se a vida dela dependesse daquilo. — A minha pergunta é: Em algum momento ele disse a você o meu nome ou que eu também fazia parte disso?

As pupilas de Lindsay dilataram. Agora ela realmente parecia uma pessoa em pânico: Respiração entrecortada, olhando para todas as direções procurando uma forma de fugir...

Aquela pergunta tinha sido o gatilho para alguma coisa. Alguma coisa grande.

— É tudo por sua causa... — Ela divagou para mim. — Você estava lá! Você sabe que sim!

Entortei minha cabeça para ela.

— Estava, Lindsay? Estava mesmo? Ou será que alguém fez você acreditar que sim?

Os olhos dela me encontraram. Não estavam mais assustados. Estavam agressivos.

— Sai daqui. — Ela rosnou. Baixo, mas poderoso. — Sai agora!

A última parte foi seguida por um travesseiro vindo em minha direção. Não me acertou. Lindsay, nas condições que estava, não tinha força o suficiente para isso. Mas o surto dela foi o suficiente para que Elliot agarrasse meu braço e me arrastasse para fora dali. Eu só não sei quem ele achava que começaria a atacar: Eu ou Lindsay.

— Satisfeito? — Ele também não parecia feliz enquanto me puxava pelo corredor. — Está feliz agora?

— Estou. — Fui sincero. — Isso foi... esclarecedor.

Elliot me soltou quando chegamos ao elevador, com uma cara repleta de reprovação.

— Eu digo a você que Lindsay não está em suas melhores condições, e você resolve fazer um jogo mental com ela?

— Sim. — Respondi a ele. — E se você parar de me ver como o vilão a droga do tempo todo vai perceber que o quanto tudo isso foi importante.

— Importante para o quê, Nicholas? Ela não fez um juramento e não havia mais ninguém naquele quarto além de mim, você e ela. Nada do que foi dito pode ser usado a seu favor em um tribunal!

Abri um sorriso solidário para Elliot. Às vezes me entristecia o fato de alguém tão inteligente como ele ter uma mente tão pequena para certas coisas.

— Não estou nem aí para os tribunais. — Falei a ele, abrindo a porta do carro. — Alguém fez Lindsay acreditar que eu estava envolvido em seu assassinato porque obviamente queria atrair a minha atenção. Ele não disse aquilo para que ela saísse viva e contando a todos o que aconteceu. Fez porque achou que apenas eu saberia. É um jogo de caça. Só não sei qual o meu papel ainda: Presa ou caçador.

Elliot desviou o olhar da direção e se voltou para mim, como se eu tivesse enlouquecido de vez. E, por alguns segundos, comecei realmente a achar que enlouqueci e que estava paranoico. E por que não? Depois de tantos anos vendo cenas brutais de assassinato, o que realmente garantia que minha sanidade mental estava no auge? 

Elliot também não parecia muito certo do que pensar. Talvez ele achasse que eu era egocêntrico por pensar que aquilo tinha a ver comigo mesmo com tão poucas pistas. Mas eu tinha visto coisas demais para saber que coincidências não existem.

— Alguém está atrás de você e está mantando pessoa no processo. — Ele repetiu como se tentasse entender tudo o que eu tinha a dizer. — E o que Lindsay tem a ver com isso?

— Eu não sei. — Falei com sinceridade. — Não sei porque ela. Nem a senhora Chen e nem o zelador da escola. Mas nós ainda temos um mês para descobrir isso.

Meu otimismo não alcançou Elliot. Ele continuou olhando fixamente para a direção sem dizer mais nada. Acho que ele também estava tentando fazer sua própria linha de raciocínio.

— Vou levar você para casa. — Foi a última coisa que ele disse.

Fazia parte do acordo. Eu tinha que estar devidamente em casa até no máximo sete da noite. Ainda não eram nem seis, mas eu não discuti.

Quando chegamos em frente ao meu prédio, não desci imediatamente. Soltei o sinto de segurança e me virei para Elliot.

— Sinto muito por todos que morreram naquele dia. — Eu nunca tinha dito aquilo diretamente a ele e senti que precisava. — Nunca quis que aquilo acontecesse.

Elliot soltou um suspiro e se virou para mim. Sem os óculos, era nítido que os olhos dele não estavam zangados. Estavam tristes.

— Eu também não. — Ele murmurou para mim, quase como o velho Elliot.

Abri a porta do carro para sair, mas me detive novamente.

— Haverá quatro latrocínios essa semana. — Falei simplesmente. — Também tem um cara que vai matar a namorada jogando ela pela janela. E o corpo que descobrirão no ginásio, foi um acerto de contas. Boa noite, Elliot.

Tenho quase certeza de ter escutado um riso abafado, mas não me virei para confirmar. Subi para casa com os pensamentos ainda atordoados e tirei minhas chaves do bolço prontos para abrir a porta.

Porém nunca cheguei a usá-las. Porque alguém havia arrombando minha porta primeiro...



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