Sana sentia um forte aperto na região da garganta, e aos poucos o oxigênio ia se esvaziando dos seus pulmões. Não tinha forças para resistir, então o que apenas lhe restava era aguardar seu trágico fim.
Por uma fração de segundo ela vira Marroni atrás de Mark, ele sorria graciosamente contemplando a vista que com certeza era de seu agrado. Sua visão estava embaçada mas pôde facilmente vê-lo acenar antes de tudo ao seu redor mergulhar em uma completa escuridão.
Do lado de fora, Tzuyu tentava de todas as formas abrir a porta que estava trancada por dentro batendo na maçaneta seguidamente com o cabo de sua arma. Tentou várias vezes, sem sucesso. Olhou para os lados em busca de algo que pudesse lhe ajudar e avistou um grande e pedaço de madeira velha no chão quase imperceptível pela grande quantidade de terra sobre ele. Ela o apanhou e bateu com toda força que tinha até a maçaneta finalmente ceder. Ela arrombou a porta com um chute e correu para dentro o mais rápido que pôde.
_Que barulho foi esse? - Mark tirou as mãos do pescoço de Sana e foi espiar o lado de fora pela janela. Ao concluir que não havia nada, ele caminhou de volta até a garota pronto para continuar o que estava fazendo, até que se deparou com uma Tzuyu furiosa na porta.
_Se afaste dela, Tuan!
Ela apontava a arma diretamente para ele com os dentes cerrados e o olhar carregado de ódio.
Mark a ignorou completamente, dando a volta pela cadeira e encostando a faca no pescoço de Sana.
_Eu sugiro que você se afaste
_Você já tem a droga do dinheiro! Agora solta ela, esse foi o nosso acordo!
_Mas você acabou de quebrá-lo, eu disse que não queria surpresas
_Eu lhe avisei para não encostar nela - rosnou ao ver que Sana estava desacordada com alguns hematomas no rosto - Você está morto
_Você é muito corajosa em me ameaçar quando a vida dela está em minhas mãos
_Você não se atreveria
_Quer apostar que não?
Tzuyu percebeu que a lateral do rosto dele estava banhado em sangue. Era um sinal de que Sana teria resistido, isso explicava as caras e bocas que ele estava fazendo involuntariamente ao conversar com ela.
_O que foi que você fez com ela seu doente?!
_Eu? Apenas a ajudei a se livrar das vozes que ouvia, nada demais
_Vozes?! Do que diabos está falando?
_Você não entenderia, segredinho nosso - ele riu e acariciou o cabelo de Sana
_Porque você a envolveu nisso?! Ela não tem culpa de nada!
_Ah Tzuyu, me surpreende que você me faça uma pergunta tola dessas, achei que fosse mais inteligente
_Você não sabe nada sobre mim
_Ao contrário, eu sei de várias coisinhas sobre você, desde a trágica morte dos seus pais até o massacre naquele restaurante, ah e também sei que estão juntas - ele fez uma cara de nojo ao terminar a frase
_Como você...?
_Ah, eu adoraria te contar como, mas não tenho permissão, seu nível decaiu muito Tzuyu, você deveria prestar mais atenção nas coisas ao seu redor
Sana grunhiu atraindo o olhar de Tzuyu para ela novamente.
_O que você quer para deixá-la em paz?!
_O que será que eu devo pedir? - ele segurou o queixo com a mão livre fingindo pensar - Brincadeira, eu já tenho tudo planejado só estou sendo um pouco teatral
_Eu estou perdendo a paciência - avisou ela
_Sua vida pela dela, que tal? Vou dar um tempinho para você pensar
Tzuyu estreitou os olhos e olhou para Sana, ela parecia tão frágil e debilitada, seu coração apertou ao vê-la ali incluida naquela situação horrível só pelo simples fato de serem próximas. Sana era uma pessoa forte, passara por tantas coisas e nunca se deu por vencida. Esse era um dos motivos pelo qual Tzuyu a admirava tanto. E agora, olhando-a ali seu desejo de protegê-la se intensificava a cada instante e podia jurar que seria capaz de fazer qualquer coisa por ela.
Imersa em seus pensamentos, deixou-se vagar por um instante e como um filme em sua cabeça, começou a relembrar um dos momentos mais especiais que teve com ela desde que a conheceu.
*Flashback: On*
_Vamos Sana! - Tzuyu puxava o braço da garota que relutava em lhe acompanhar. Estavam na sala dos funcionários nos fundos da cafeteria.
_Eu não posso! Estou no meio do meu expediente!
_Mas quem se importa?! É só uma voltinha eu prometo!
_Meu chefe vai ficar zangado, posso até perder meu emprego
_Ora, se aquele velho babão levantar a voz para você eu quebro a cara dele!
_Não! - ela se enrijeceu no lugar e Tzuyu bufou.
_Vamos...por favor - ela fez um bico fofo apelando para a chantagem emocional. Sana se esforçava em não olhar para ela - Olha pra mim
Ela segurou o queixo de Sana delicadamente e virou seu rosto de modo que ficassem frente a frente outra vez. Sua mão pousou na cintura da garota a puxando para mais perto. Estavam próximas o suficiente para a ponta dos seus narizes se tocarem, ambas não desgrudavam os olhos uma da outra. Tzuyu pronunciou um "por favor" quase inaudível de modo que seus lábios roçaram levemente. Ela fechou os olhos sentindo o cheiro inebriante de Tzuyu que a deixava nas nuvens sempre que ficavam tão próximas assim. Sana comprimiu os lábios e enfiou o rosto na curva do pescoço da garota dizendo um "tudo bem" de modo manhoso.
_Mas tem que ser rápido! A Jihyo já cansou de inventar desculpas por minha causa
_Pode deixar
O olhar de Sana parou nos lábios de Tzuyu que agora estavam curvados esboçando um sorrisinho convencido por ter conseguido o que queria. Sentiu vontade de beijá-los no mesmo instante mas não queria dar esse gostinho a ela.
_Inferno de garota - disse saindo batendo o pé com Tzuyu em seu encalço que comemorava com gestos silenciosos.
O sol já estava se pondo quando as duas desceram do carro. Tzuyu cobria os olhos de Sana que receava tropeçar em alguma coisa mesmo sendo guiada por ela. O vento forte batia em seus cabelos e de repente ela sentiu um aroma doce de flores no ar.
_Será que agora você poderia me deixar olhar por onde estou andando?
_Calma, já estamos quase lá
Depois de andar mais alguns metros, Tzuyu a fez parar e tirou as mãos que cobriam seus os olhos. Sana se deparou com uma das mais belas vistas que já teve.
Ela estava a beira de um grande penhasco que era banhado por um imenso lago azul, cujas cores alaranjadas providas do pôr do sol refletiam na água deixando tudo mais magnífico. O cheiro doce que havia sentido antes vinha do enorme canteiro onde havia inúmeras flores de diversas cores e um gramado verde-vivo que se estendia por quilômetros cobrindo todo o solo. Havia cercas por toda parte e uma cadeia de morros rodeava o lugar. Sana estava maravilhada, nunca em toda sua vida vira uma paisagem tão bonita como aquela.
_Q-Que lugar é esse? Onde estamos?
_Fica um pouquinho longe de Seoul, gostou?
_Não tenho palavras para descrever o quanto é lindo
_Esse lugar é especial, sempre venho aqui quando quero ficar só
_Só você e mais ninguém? - Sana arqueou as sobrancelhas fazendo Tzuyu rir.
_Eu te trago para um lugar desses e você fica interessada em saber se eu vinha aqui com mais alguém?
_Ué, perguntar não ofende, se não quiser responder tudo bem
_Sim, Sana, era só eu e mais ninguém - respondeu ela se controlando para não rir
Mas a garota não pareceu estar convencida.
_ A tá
_O que você quer que eu fale?
_Eu? Nada - Sana voltou a admirar a paisagem tentando fugir do olhar indignado de Tzuyu.
_Tudo bem então, eu realmente nunca trouxe ninguém, você é a primeira pessoa que eu trago aqui desde que eu descobri este lugar, isso porque você é especial para mim, satisfeita?
Sana se virou quase que instantaneamente para Tzuyu, parecia chocada.
_E-Especial?
_Sim, eu não sei bem o termo certo a se dizer mas, é o que você é pra mim
Sana ficou em silêncio e fitou seus próprios pés sem saber o que dizer. Tzuyu percebeu o nervosismo da garota e evitou olhá-la, desviando o olhar para acompanhar um grupo de pássaros barulhentos que cortava o céu alaranjado.
_Você também é especial pra mim - murmurou ela baixinho
_O quê? - Tzuyu se aproximou mais para ouvir melhor. Seu coração estava acelerado.
Sana olhou para ela e decidiu não dizer mais nada e apenas a beijou. Aquele beijo era diferente de todos os outros, era algo muito mais significativo. Nenhuma das duas nunca foram abertas quanto a sua relação, e nem pareciam interessadas em defini-la, já que isso não era tão importante quanto estarem juntas e compartilharem aquele mesmo sentimento. Tzuyu segurou o rosto dela enquanto a beijava ternamente, não havia aquela batalha por dominação como nas outras vezes, era apenas Sana e ela, unidas por um forte laço construido em tão pouco tempo mas que parecia inabalável.
_Diz que você nunca vai me deixar - sussurrou Tzuyu interrompendo o beijo
_Quê? - Sana parecia confusa
_Eu não quero que você vá embora nunca entendeu?
_Obvio que não irei, nunca te deixaria nem se eu estivesse louca
Tzuyu sorriu e a beijou outra vez, mergulhando novamente naquele emaranhado de sensações, sentindo uma felicidade tão grande que não cabia no peito.
*Flashback: Off*
Se ela daria sua vida por Sana?
Que pergunta obvia, é claro que sim.
Ela jogou a arma no chão e levantou as mãos para cima.
_Fechado - disse com firmeza em sua voz, estava decidida.
_Que surpresa, eu nunca imaginaria que você teria compaixão por alguém na vida
_Quem é você pra falar de sentimentos?
_Tem razão, é tudo uma grande bobagem, estou começando a achar que o que eu sentia pela Sana não era amor
Tzuyu revirou os olhos.
_Então, o que eu tenho que fazer?
_Se amarre nessa cadeira aqui, anda
Mark usou a faca para cortar as cordas das mãos e pernas de Sana e a tirou dali para que Tzuyu pudesse se sentar.
Ela o obedeceu e se sentou, ficando imóvel no lugar sem tirar os olhos de Sana. Mark se encostou perto da mesa e jogou um pedaço de corda para ela, que se amarrou na cadeira deixando os nós um pouco frouxos.
Sana continuava inconsciente, uma preocupação a menos para ele. Mark a colocou no chão ao lado da mesa e caminhou até Tzuyu.
Ele percebeu que as cordas estavam frouxas e mal amarradas e fez questão de apertá-las o mais forte que pôde, acabando com o resto de esperança que ela tinha de escapar.
_Não é porque você me olha como se eu fosse louco que eu vou agir como um e fingir que eu não estou vendo você tentando achar um jeito de escapar, mas eu vou te contar um segredo, as pessoas mais insanas são no fundo as mais inteligentes
Tzuyu fechou os olhos, já que iria morrer mesmo não queria que a última coisa que visse fosse a cara feia de Mark.
_Pobre Tzuyu, se não tivesse mexido com as pessoas erradas isso não estaria acontecendo
_Pare de falar bobagens seu tagarela de merda
Mark respirou fundo e fechou os punhos.
_POR QUE SERÁ QUE NINGUÉM ME ESCUTA?!
Com a faca em mãos, ele enfiou a lâmina afiada no centro da mão esquerda de Tzuyu. Ela soltou um grito tão alto e esganiçado que Mark teve que tampar a orelha que lhe sobrara.
_Isso doeu? E se eu fizer isso? - ele movimentou a faca no lugar do corte e lágrimas começaram a sair dos olhos dela por causa da enorme dor que sentia. Ele retirou a faca e a olhou com pena, já Tzuyu, com lágrimas escorrendo pelos olhos, olhou para ele da forma mais ameaçadora possível.
_P-Porque não me mata logo? - perguntou com a voz trêmula
_Os meus metódos de tortura são melhores, não se preocupe, eu irei decidir quando você irá morrer
_V-Você não passa de um v-vermezinho, pode agradar o J-Jackson o quanto quiser que n-nada vai mudar, ele continuará te tratando como algo que você s-sempre foi, um lixo
Ele comprimiu os lábios e socou com força a mão de Tzuyu no lugar do corte. Ela berrou outra vez tão alto quanto antes.
Tzuyu.
A mente de Sana despertou.
Que gritos são esses?
Tzuyu está aqui?
Ela foi recobrando a consciência aos poucos, mas sua visão continuava demasiada embaçada.
Eu tenho que encontrá-la.
Ela abriu um dos olhos, os gritos esganiçados de Tzuyu faziam sua cabeça latejar.
Mas porque ela está gritando?
Ela abriu os dois olhos e visualizou a pior das cenas. Tzuyu estava com uma faca cravada em sua mão e Mark parecia estar fazendo algo para lhe causar mais dor já que a expressão no rosto dela parecia uma mistura de agonia e medo.
Sim, Tzuyu estava com medo, e era a primeira vez que Sana a via daquela forma.
Seu coração acelerou e a sensação angustiante estava tomando conta dela. Seu pescoço doía, seu rosto estava cheio de hematomas roxos e sua perna ardia devido ao corte recente. Ela queria se levantar e ir até Tzuyu e dar um jeito salvá-la mas seu corpo sequer se movia.
"Você precisa ser forte" murmurou a voz
"Me deixe te ajudar"
Ela fechou os olhos tentando de alguma forma colocar sua cabeça de volta no lugar. De repente ela vislumbrou uma sombra borrada se materializar em sua frente, ela foi tomando forma até ficar completamente nítida. Ela tomou a forma de Sana, estava vendo a si mesma em sua frente. Só que aquela Sana era diferente, parecia mais fria e seu olhar era vazio, suas vestes estavam completamente sujas de sangue exatamente como no dia em que matara Marroni..
_Me deixe te ajudar - repetiu ela, sua voz ecoou por toda parte, era a mesma voz de antes, só que dessa vez Sana sabia de onde vinha.
“Você...? Aquela voz que eu escutava na minha cabeça...era o tempo todo, a minha voz?”
_Sim, como você se sente ao saber que agiu o tempo todo por conta própria e que ninguém estava te influenciando a não ser você mesma?
“Não...eu não posso acreditar nisso”
_O tempo está acabando, se você quiser impedir que a vida de quem você mais preza seja desperdiçada, pare de renegar a si mesma e aceite quem você realmente é
"Pare de renegar a si mesma"
Aquelas simples palavras foram repetidas várias vezes até Sana absorvê-las de vez, ficando assim, tudo silencioso outra vez.
Ela não teve outra escolha a não ser obedecer.
Ela abriu os olhos novamente, ignorando toda a dor que sentia e se apoiou na mesa com dificuldade. Nada importava mais para ela a não ser Tzuyu. A dor era apenas um detalhe agora.
A dor é para os fracos
Ela pegou uma espécie de bisturi na mesa e olhou para Mark transformando a única energia que lhe restara em determinação para conseguir fazer o que planejava.
_Vamos ver, qual dos lugares do seu corpo eu deveria enfiar isto? - ele balançou um prego enferrujado do tamanho de um dedo na frente de Tzuyu.
De repente Mark sentiu uma queimação enorme nas costas, seguida por uma dor insuportável. Ele soltou um grito agudo e caiu no chão se contorcendo desesperadamente. Sana havia enfiado o bisturi nas costas dele. Ela se ajoelhou no chão lançando a Tzuyu um olhar terno e em seguida desmaiou no chão.
Tzuyu arregalou os olhos e gritou, chamando por Sana mas a mesma continuava imóvel no chão.
Sua mão doía como o inferno, mas ela tinha que dar um jeito de escapar dali caso contrário Sana sofreria as consequências. Ela avistou a faca de Mark no chão e a empurrou para perto com o pé. Logo em seguida se balançou na cadeira até desequilibrar-se e cair no chão. Ela ficou próxima suficiente do objeto, e com sua mão direita conseguiu pegar a faca e começou a cortar as cordas. Rapidamente conseguiu se livrar delas e correu em direção a Sana no chão ignorando os gemidos de Mark.
_Sana?! Sana me responde, por favor! - ela sacudia a garota mas não obteve nenhuma resposta - não se preocupe, meu amor, tudo vai ficar bem eu vou tirar a gente daqui e vai dar tudo certo, eu prometo
Ela deu um beijo demorado na testa da garota, lagrimas saíram de seu rosto ao perceber o quanto Sana havia se sacrificado por ela. Nada mais justo do que fazer aquilo valer a pena.
Limpando as lágrimas do rosto, Tzuyu grunhiu de dor, sua mão não parava de sangrar, se não desse um jeito naquilo rápido o corte poderia se infeccionar. Sentia-se um pouco tonta pela grande quantidade de sangue que havia perdido, mas isso era o que menos importava agora.
Mark se contorcia no chão tentando a todo custo retirar o bisturi das suas costas. Depois de várias tentativas ele retirou o objeto soltando um grito de dor mais alto ainda. Ele percebeu que Tzuyu o observava com desdém.
_A-Apreciando a vi-visão? E-Está esperando o-o quê...? - ele cuspiu uma grande quantidade de sangue, tossindo logo em seguida.
_Você vai me pagar por tudo que fez
_E-espe-pera, vamos negoci-ar...
Tzuyu se aproximou dele e pegou sua arma do chão.
_E-espere eu...- ele cuspiu sangue outra vez, estava mais pálido do que já era - eu n-não contei pro Jackson que vocês duas estavam j-juntas, isso me dá um crédito c-certo?
Tzuyu mordeu o lábio tão forte que sentiu um leve gosto de sangue na boca.
_Nada que você falar irá te salvar, economize sua saliva
_No final você venceu, eu falhei - ele deitou a cabeça no chão, já não tinha mais forças nem de manter a cabeça erguida para olhá-la - eu aceito minha derrota mas não vou deixar você ficar com o prêmio
_O que disse? - perguntou ela, receosa
_O-O único que pode me matar é o J-Jackson, ele tem esse direito afinal foi ele quem me salvou, minha vida pertence a ele e você não é d-digna de ter meu sangue em suas mãos - Ele sorriu mostrando os dentes avermelhados e ergueu o bisturi com o resto de força que lhe sobrou - Te vejo no inferno, Tzuyu
Ele enfiou o bisturi em sua própria garganta jorrando uma grande quantidade de sangue em suas roupas. Tzuyu estava incrédula com o que acabara de ver. Ela sentiu uma onda de raiva crescer pelo seu corpo e gritou o mais alto que pôde descarregando todo o pente da sua magnum no corpo já sem vida de Mark.
Ela se ajoelhou no chão, ofegante.
"Acabou, finalmente, acabou..."
Ela rasgou um pedaço da sua própria blusa e amarrou firmemente no seu corte tentando estancar o sangramento, olhou para Sana caída no chão e correu até ela. Tzuyu a pegou no colo com mais dificuldade que o normal e saiu de lá carregando-a até a porta da frente. Chegando em seu carro ela colocou Sana deitada no banco de trás cuidadosamente e se sentou no banco do motorista acelerando mais rápido que pôde rumo ao hospital. Apesar de que seu corpo começava a apresentar sintomas de exaustão, ela faria o possível e o impossível para garantir que Sana conseguisse sair viva, custe o que custar
* * *
Jackson observava suas próprias mãos trêmulas enquanto estava sentado em um banco forrado com almofadas de seda aguardando que fosse chamado. Havia cerca de duas horas que ele estava ali naquela casa que mais parecia uma prisão de segurança máxima com tantos seguranças o vigiando. Acabara de receber uma mensagem do banco em seu celular avisando que havia um saldo de mais de 50 milhões em sua conta. Este era sem dúvida o dia mais feliz e tenso da sua vida.
_Jackson Wang
Uma garota alta, loira com de cabelos curtos estilo joãozinho o chamou de maneira fria, ela usava uma blusa de lã preta de gola alta, calças de couro vermelhas escuras e botas pretas. Ela portava duas armas encaixadas em coldres em cada lado da perna, Jackson se sentia intimidado na presença dela.
_Minha senhora está pronta para vê-lo, me acompanhe por favor
_Claro
Jackson a seguiu passando pelo corredor com paredes exageradamente brancas com detalhes finos entalhados no gesso. A garota abriu uma grande porta de madeira gesticulando para que Jackson entrasse. Ele entrou no salão escuro sem ao menos olhar para ela, estava nervoso demais para conseguir olhá-la nos olhos.
A garota fez menção em deixá-lo, mas uma voz fina vinda dos fundos da sala foi ouvida.
_Por favor fique, creio que ainda irei precisar de seus serviços
_Sim, minha senhora - respondeu educadamente a garota, permanecendo parada no lugar, fitando Jackson.
Ele tentou enxergar de onde a voz viera, mas a sala estava escura demais para ver qualquer coisa além de contornos de um conjunto de móveis. De repente uma mulher se ergueu de uma poltrona no fundo da sala.
_O que te traz aqui Jackson? - perguntou a mulher educadamente
_Oh, desculpe lhe incomodar mas trago boas notícias
_Boas noitícias? Diga
_É sobre Chou Tzuyu
O lugar podia estar bastante escuro, mas Jackson podia jurar que viu a sombra de um sorriso se alargar na face da mulher.
_Conseguiu a minha atenção
_Certo...hum, eu consegui tirar uma boa quantia dela, meu lacaio conseguiu cumprir a missão dele, agora poderei pagar o que lhe devo
_De quanto você está falando?
_Hum...30 milhões para você, eu fico com o resto para me reestabelecer, você sabe, os negócios tem que continuar
_ Jackson meu caro você se lembra do nosso acordo, certo? Eu te dou abrigo e não deixo a Tzuyu tocar em um fio de cabelo seu e em troca você me dá toda a informação que conseguir dela mas isso não cobre todos os prejuízos que eu tive com você
_Do que está falando?! Fui eu quem saiu mais prejudicado nisso!
_Olha como fala com ela, idiota - rosnou a garota no fundo, Jackson se encolheu.
_Tive inúmeras perdas, fui obrigada a atrasar todos os meus planos para cobrir você, tem ideia de quanto dinheiro eu perdi por causa da sua incompetência?
_Eu não tive culpa daquele depósito ter sido atacado
_Ah, não teve? Fui obrigada a recuar meus homens por sua causa, se tivesse mantido aquele lugar longe dos olhos da Tzuyu a essa hora eu estaria comandando esse lugar sem um pedacinho sequer dela me atrapalhando
_Não precisa mais se preocupar com isso - Jackson sorriu, mas a tensão no lugar era tão grande que ele o desmanchou na hora.
_O que quer dizer?
_ A Tzuyu deve estar morta a essa hora, a prova disso é esse dinheiro todo ter caído na minha conta
_O quê? Eu deixei bem claro que eu não queria ninguém interferindo nos meus planos - disse ela em um tom estranhamente calmo
_Eu sei, mas eu não poderia voltar para Seoul com ela me caçando! Agora sim eu me considero livre, Mark já deve estar cortando os pedacinhos dela agora
Ela fechou os punhos com força.
_Veja pelo lado bom, você não vai mais precisar se estressar com el...
A mulher agarrou Jackson pelo pescoço e apertou firmemente o deixando sem ar.
_Onde?
_O-Onde o quê?
_Onde esse Mark está?
_N-Não sei, conhecendo o bem deve estar na velha pensão fora da cidade, e lá que ele costuma a levar os brinquedinhos dele
_Quer que eu vá para lá, minha senhora? - questionou a garota como se lesse os pensamentos dela
_Faça isso por favor, e confirme se a Tzuyu está viva ou morta
_Sim senhora
_E seja discreta, não deixe que a vejam, lembre-se de que quase foi pega por ela da ultima vez
A garota assentiu e se retirou. A mulher soltou Jackson que afrouxou a gravata tentando recuperar o fôlego
_Você me decepcionou, Jackson
_Eu apenas lhe ajudei!
_Você ainda tem que aprender muito sobre mim, mas pode ter certeza de uma coisa, eu não tolero falhas
_O quê?
A mulher puxou uma arma do casaco e sem hesitar lhe deu um tiro certeiro na cabeça. Foi tão rápido que ele nem teve tempo de associar o que estava acontecendo antes de ser atingido. O corpo de Jackson caiu no chão, sem vida.
Ela olhou para o cadáver com desdém e balançou a cabeça.
_A única pessoa que pode destruir Chou Tzuyu sou eu, e quem entrar no meu caminho irá morrer, que isso sirva de lição
* * *
Tzuyu abriu os olhos e uma claridade absurda invadiu seu campo de visão. Levou um tempo até seus olhos se acostumarem com a luz. Estava deitada em uma cama com lençóis brancos em um quarto com paredes da mesma cor. Não sabia como havia chegado lá e muito menos onde estava.
De repente a imagem de Sana machucada veio à sua cabeça, e como um choque de realidade, ela ergueu seu tronco rapidamente ficando sentada na cama.
_Sana!! - gritou desesperada
_Ei, ei, calma aí - ouviu uma voz familiar. Já sabia perfeitamente de quem se tratava.
_Chaeyoung! Onde está a Sana? Ela está bem?
_Sim, ela está dormindo, se acalma
Tzuyu sentiu uma leve tontura e voltou a se deitar.
_Eu preciso ir vê-la!
_E você vai, só que não agora, por acaso já olhou para o seu estado?
Pela primeira vez Tzuyu reparara que havia vários tubos enfiados em seu braço ligado a um aparelho que emitia um bip, além disso sua mão estava completamente enfaixada. Sentia-se meio tonta.
_Onde eu estou?
_No hospital, você nem ao menos se lembra de ter vindo para cá?
_Sim...eu acho, eu só me lembro de estar dirigindo e... - ela fez um esforço para se lembrar mas não conseguiu.
_Deixa eu refrescar sua memória, você chegou aqui carregando a Sana mas desmaiou antes mesmo de chegar à recepção, francamente, você por acaso acha que é de ferro?
_Mas ela está bem, certo?
_De certa forma, sim
_O que quer dizer com isso?
_Não sei se deveria te contar mas...
_Agora que começou, faça o favor de continuar
_Tudo bem...- ela se sentou na beirada da cama - Ela acordou a pouco tempo, os médicos fizeram uma rápida avaliação física e psicológica dela
_E...?
_Bom, ela não se feriu gravemente só tem alguns hematomas e cortes mas o resultado da avaliação psicológica foi a pior possível, os médicos disseram que parece que ela sofreu uma espécie de lavagem cerebral e não sabe qual será as consequências disso
_L-Lavagem cerebral?
_Sim, vão fazer outros exames mais detalhados é claro pra ver o que realmente aconteceu, até lá não podem afirmar nada ainda
_Isso é tudo minha culpa...
_Não diga uma bobagem dessas! Pelo amor de Deus!
Elas ficaram em silêncio por um instante, Tzuyu se culpava de todas as formas possíveis enquanto Chaeyoung a observava com preocupação.
_Eu não deveria ter te deixado ir enfrentar o Mark sozinha - disse por fim, quebrando o silêncio
Ao ouvir aquele nome, Tzuyu sentiu um gosto ruim na boca e seu estômago revirou.
_Você escondeu o corpo?
_Não, nem ao menos consegui encontrá-lo
_Como não?! Eu o vi morrer na minha frente! Ele não pode ter saido andando de lá!
_Eu sei disso! Mas quando cheguei apenas encontrei um monte de sangue no chão e umas ferramentas macabras de tortura espalhadas pelo lugar, alguém o levou.
_Mas quem faria isso?!
Chaeyoung deu de ombros.
De repente, como se a última peça do quebra cabeça tivesse se encaixado, Tzuyu abriu a boca surpresa com o que acabara de deduzir
_O que foi mulher? Você está me assustando!
_Foi ela! Só pode ter sido! O Jackson deve estar trabalhando para ela esse tempo todo desde que desapareceu de Seoul! É por isso que o prefeito sabe tanto sobre mim! O Mark passou as informações para o Jackson e ele passou para ela! Tudo faz sentido!
_Brilhante, mas isso não explica como o Mark conseguiu essas informações primeiramente
_Ainda falta isso, mas já é um começo
_Você sabe que se estiver correta praticamente todos os seus inimigos se juntaram para acabar com você, não sabe?
Tzuyu engoliu em seco e concordou.
_De qualquer forma, falaremos sobre isso mais tarde, agora descanse
Chaeyoung saiu do quarto deixando Tzuyu sozinha, nunca se sentira tão ameaçada antes. Mark estava morto mas por incrível que pareça não se sentia feliz ou aliviada por isso.
No fundo ela sabia que não poderia cometer mesmo erro de abaixar sua guarda novamente por um instante se quer. Tinha absoluta certeza de que esse era apenas o começo de um grande pesadelo.
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