Após ver Camila deixando o colégio, Lauren decidiu que seria uma boa ideia fazer suas malas também.
Aproveitou sua presença no primeiro andar e dirigiu-se até seu armário, onde pegou todos seus livros e equilibrou-os em seus braços.
Subir as escadas foi o segundo desafio.
Jogou os livros no sofá assim que chegou ao dormitório. Respirou fundo, coçou a cabeça e parou para pensar por onde começaria a arrumar tudo; mas antes mesmo de sequer decidir algo, seu pai bateu na porta – esta estava aberta – com os nós dos dedos:
– Posso ajudar você a arrumar suas coisas?
– Claro, pai. – Respondeu dando de ombros.
O processo foi mais rápido com quatro mãos dobrando roupas e guardando os livros.
Lauren olhou uma última vez para o dormitório e suspirou. Mesmo com a palavra de Camila de que tudo daria certo, era difícil sentir o peso de ser expulsa em seus ombros e... Deixaria todos seus colegas e professores, os gramados e as salas de aula, os corredores e as escadas – ok, talvez nem sentiria tanta falta dessas.
– A mamãe vai me matar. – Lauren disse enquanto colocava o cinto de segurança.
– Eu vou conversar com ela. – O Sr. Jauregui deu a partida – Ela vai entender.
– Mas eu transei com uma menina. Ela vai me apedrejar.
– Não vai, não. – Ele riu. – Tá tudo bem, Lauren, isso é normal. Sexo é uma coisa natural.
– É. – Suspirou – Mas eu definitivamente não quero conversar sobre isso com você.
– Prefere conversar com a sua mãe?
– Prefiro não conversar. – Ela riu baixinho. Escorou a cabeça no vidro e fechou os olhos.
...
Camila e Ally estavam organizando o novo quarto. Camila guardava as roupas no guarda-roupa de madeira branca enquanto Ally tirava a poeira dos móveis. Às vezes paravam o que estavam fazendo para conversar e fazer piadas ou até mesmo cantar algumas de suas canções preferidas.
– Ah, que preguiça! – Ela jogou as mãos para o alto e se espreguiçou.
– É... – Ally espirrou e coçou o nariz. – Tem muita coisa pra arrumar.
– Tem mesmo. Eu nem sabia que eu tinha tudo isso. – Camila sentou-se na poltrona antiga, porém bem preservada, que havia no canto do cômodo. – Ei, o Harry sabe rastrear IP?
– Eu sei.
– Ah. Mas você já fez favor demais pra mim.
– Mas você quer fazer o quê?
– Eu quero o endereço de uma garota.
– Pra quê?
– Bem... Eu fui expulsa porque transei com ela.
Ally gargalhou:
– Eu não esperava menos de você, Mila!
– Eu sou o terror das novinhas. – Ela riu – Eu prometi umas coisas pra ela, sabe?
– Sei, sei... – Ally ergueu uma sobrancelha, fazendo uma careta engraçada – Tudo bem. Mas eu preciso comer antes.
– Eu também. To morrendo de fome.
...
– Eu nem soube que você esteve em um internato católico! – A voz grossa exclamou do outro lado da linha – O que sua mãe tem na cabeça?
– Fezes. – Respondeu simples enquanto se deitava em sua nova cama.
– Por que ela não me contou? O que aconteceu?
– Eu fui parar na delegacia. Eu estava... Hm... Vandalizando com uns amigos.
– Ah, Camila. – Ele suspirou desapontado – É... Eu também fazia essas coisas na sua idade.
– Arram.
– Certo. Você foi expulsa de casa e não quer morar comigo. O que você pretende fazer?
– Eu... Gostaria de pegar o dinheiro pra faculdade e alugar um apartamento.
– E você pensa que vai estudar onde? Camila, você é uma garota inteligente, precisa construir seu futuro e...
– Pai, Tem uma faculdade pública muito boa aqui em Miami. Não precisa se desesperar, eu não vou deixar de fazer faculdade.
– É isso que eu espero. Mas tem uma condição.
– Ah, claro. – Ela bufou. – Qual será a aventura?
– Você virá me visitar pelo menos três vezes por ano.
– Mas eu-
– Não tem nada de errado com a Rosa, filha, o que você tem contra ela?
– Toda vez que eu vou aí ela dá um jeito de estragar minha vida.
– Você aceita o trato ou não?
– Tá, aceito. – Ela urrou. – Não tem outro jeito mesmo.
Camila desligou o telefone e bufou, olhando para o teto. Toda sua vida parecia finalmente se encaixar, apesar dos apesares, e isso era surpreendentemente maravilhoso.
O sol estava se pondo e as estrelas começavam a forrar o céu alaranjado, o que deixava o quarto nem tão escuro, e nem tão claro. Camila fechou os olhos e virou-se de lado na cama, na esperança de cochilar por algumas horas antes do jantar.
Quando estava a adormecer, ouviu seu nome ser chamado e, com o coração batendo acelerado, levantou-se da cama rapidamente e foi em direção à voz que lhe exclamava.
Era Ally, gritando de seu quarto, em frente ao computador.
– O que foi? – Ela perguntou.
– Demorou, mas... Eu finalmente achei. – Ally se espreguiçou e então se levantou da cadeira. – O endereço da sua amiga. Aqui. – Ela entregou um pequeno pedaço de papel amassado para Camila .
Ela analisou o papel e, depois de muito vasculhar sua memória, finalmente se lembrou de onde conhecia aquele endereço.
– Essa rua... Não é a rua da delegacia onde fomos parar?
– Ahm... – Ally cerrou as sobrancelhas. – Eu acho que... É. É essa aí mesmo.
Não era lá tão longe da casa de Ally, talvez uma caminhada de cinco, dez minutos. Iria amanhã, com certeza.
Camila e Ally aproveitaram o resto da noite para comprar algumas coisas no supermercado e fazer o jantar enquanto o Sr Brooke estava trabalhando.
No dia seguinte, a morena acordou demasiadamente cedo. Tomou banho e alimentou-se antes de se por a caminho da casa de Lauren. Chegando lá, suspirou aliviada ao ouvir vozes e ver movimentação na casa. Tocou a campainha. O Sr Jauregui atendeu:
– Ei, você não é aquela amiga da Lauren? Do internato? – Ele sorriu simpático – Pode entrar! Ela está no quarto.
Camila sorriu de volta e aceitou o convite de bom grado. O homem induziu-a ao quarto de Lauren e, depois, voltou a seus afazeres.
Ela bateu na porta e ouviu um “pode entrar”. Com o coração batendo rápido demais, abriu a porta e se deparou com sua princesa, deitada em sua cama, lendo um livro qualquer.
– Larga um pouco desses livros, Lolo.
Lauren sentiu seu estômago embrulhar a partir do momento em que reconheceu a dona da voz. Levantou-se num pulo e, em outro, abraçou a garota com tanta força que parecia esmagá-la.
– Camila , como você...?
– Eu disse que daria um jeito. – A latina beijou a outra na boca numa urgência enorme, como se aquela fosse a primeira vez que se viam em décadas.
Lauren retribuiu o beijo na mesma intensidade, tão feliz que mal podia se conter.
– E... E o que a gente faz agora? – Lauren perguntou, ainda com os braços envolta do pescoço de Camila – Digo... Estamos juntas. Qual será o próximo passo?
– O próximo passo? Bem, o próximo passo é... Permanecer. Continuar juntas e... Continuar nosso caminho até nossa casa no lago.rac
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