Outro dia. Ontem foi até que razoavel. Hoje eu teria que cavalgar com Shay e eu acho que seria bom para me ocupar e descobrir mais sobre ele, já que ele é bem mais profundo do que parece ser.
Coloquei uma calça skinny e uma regata preta e desci as escadas pensando em fazer o caminho errado de novo para ver se encontrava Shalom nos corredores, já que aquele lugar era enorme e os corredores largos eram bem silenciosos e solitários sem ninguém para me acompanhar.
-Crystal! -Meu avô disse. -Oi.
-Vo? Voce nao devia já estar tomando café?
-Eu sou um oficial aposentado, se fosse pra ter horários pra tudo eu continuava trabalhando. -Ele riu. -Mas então, eu está gostando de morar aqui?
-Ah, pra mim tá parecendo mais um Natal, mas eu sei que a ficha vai cair quando eu perceber que eu nao voltei ainda depois de um mes.
-É, vai ser bem difícil, mas nao tanto assim. Nao era voce que queria ir pra fora?
-Pra Noruecia!
-Sim, claro. La é bem maid longe.
-Eu sei, mas tambem é outro país e outra cultura.
-Outra língua...
-Mas norueco é fácil.
-Haha, então fala um pouco pra mim.
Eu perguntei para ele se ele tinha dormido bem em norueco e ele fez uma cara de surpreendido.
-Não sei de onde voce sabe essas coisas.
-Livros, principalmente.
Ele concordou com a cabeça e então nos chegamos na sala de jantar. Sentamos nos nossos lugares e eu fiquei olhando para Shalom, que conversava com America, sua avó, esperando que ele acenasse pra mim, e foi o que ele fez. Comi a maravilhosa torta de morango do palácio e então saí da sala.
Eu estava andando por aí até que entrei no salao de baile e comecei a fazer nada lá dentro.
-Faz tempo que nao damos uma festa. -Uma voz ecoou no espaço enorme.
-Devíamos dar uma. Ou simplesmente transformar isso em uma biblioteca.
-Anotado, quando eu for rei, talvez. -Shalom disse chegando perto com as maos nos bolsos.
Parei no meu da sala e então vi que o chão tinha uma espécie de desenho e comecei a andar sobre o contorno, me equilibrando nas linhas.
-Shalom.
-Sim?
-O quê voce acha disso tudo de ser rei? Quer dizer, voce nunca disse nada a respeito.
-Ah, pra falar bem a verdade, nao me empolga em nada. Quer dizer, responsabilidades pra ca, responsabilidades pra lá, quando eu vou ter tempo pra ler ou tocar piano?
-Falando em piano, voce tem que me ensinar.
-E voce tem que cavalgar comigo.
Olhei para ele, que estava parado bem no meio do salao e do desenho no chão, e sorri. Dei uns pulos para acompanhar o desenho, mas perdi o equilíbrio.
-Ei, como voce pretende cavalgar comigo se se machucar? -Shalom segurou meus braços.
-Obrigada. -Corei um pouco.
-É o cavalheiro que me treinaram pra ser. -Ele disse me puxando para cima.
-Cavalheiros sao fofos. -E voce tambem.
-A garota que cora quando o cavalheiro à ajuda também.
Corei de novo ao perceber que ele estava falando de mim.
-Q-quando vamos cavalgar? -Me desprendi de suas maos e continuei andando pra mudar o rumo da conversa.
-Que tal agora?
-O sol vai ficar muito forte.
-Então a tarde?
-Pode ser.
Ficamos em silêncio por um tempo ate que ele olhou para o relógio:
-Ainda temos tempo ate o almoço. Que tal um pouco de Beethoven?
Olhei para ele e ele sorriu antes de me chamar com a cabeça e sair da sala.
Andamos pelos enormes corredores silenciosos ate duas portas enormes. Nao lembro dela, quer dizer, faz tres anos que nao venho aqui e esse lugar é enorme, então nao é de se surpreender.
Ele empurrou uma delas e revelou uma sala grande com janelas que ocupavam quase a parede toda. Dentro dela tinham várias coisas, mas principalmente instrumentos.
-Presente de aniversário. Uma sala só com coisas que eu gosto, embora a biblioteca esteja no terceiro andar. -Ele deu um sorrisinho.
Ele tinha ganhado um cômodo de aniversário e falava como se tivesse ganhado um cartão, nao sei se estou preparada pra esse luxo todo.
-Nao fica tão surpresa, esse cômodo tava sobrando mesmo...
O lugar era tao grande que tinha um cômodo sobrando.
-Tem mais algum lugar desse palácio que eu ainda nao conheço?
-Talvez. -Ele deu um sorrisinho enquanto sentava na frente do piano.
Fiquei esperando ele começar tocar alguma coisa nao muito surpreendente, mas então ele apertou as teclas graves e minha atenção foi chamada. Ele ficou segurando as notas por um tempo ate que deu uma pausa e começou a tocar realmente. A música tinha um ritmo que eu conhecia, mas nao sabia da onde. Meus olhos acompanhavam suas maos e eu nao acreditava em como ele conseguia mexer elas tao rápido com tanta maestria. Ele estava de olhos fechados e balançava no ritmo da música, que era uma daquelas clássicas rápidas, enquanto batia o pe no chao e eu nao acreditava naquilo. Antes ele mal conseguia tocar Ode To Joy direito e agora já sai tocando essas músicas.
Depois de um minuto, mais ou menos ele clicou várias vezes em algumas notas e parou com um sorriso no rosto, satisfeito.
Ergui minhas maos devagar e bati palmas incrédulas. Quando ele percebeu, ele se levantou rápido e começou a fazer saudaçoes.
-Como....?
-Treino, minha querida Crystal. Mas quem quer aprender aqui é voce. -Ele a sentou no canto do banco e eu me sentei ao lado dele. -Tá bom, vamos começar com uma música fácil, como parabéns pra voce.
Ele me mostrou as teclas e eu consegui tocar de primeira, já que era parabéns pra voce.
-Tá bom, uma música menos fácil. Tente Fur Elise, o início.
Eu toquei bem devagar, mas acabei conseguindo.
-Ótimo, agora tenta outra parte.
Eu tentei, mas nao conseguia.
-Eu o realmente nao faço ideia de como ensinar uma pessoa a tocar piano.
-Ei! Eu prometi cavalgar com voce!
-Ta bom, eu vou tentar....
-Podemos continuar depois. Você poderia... -Indiquei para ele tocar e ele logo começou.
Dessa vez eu conhecia a música, ela era de uma banda que pouca gente conhecia, The Kodan's, era uma das minhas bandas favoritas, então quando percebi que ele estava tocando, logo me surpreendi por ele conhecer e comecei a cantar.
-Temos uma pessoa com gosto musical peculiar aqui. -Eu disse.
-Em minha defesa, as músicas sao incrivelmente boas. -Ele disse sem parar de tocar.
-Eu sei!
Nós começamos a cantar e quando ele parou, batemos palmas um pro outro:
-É isso que eu quero aprender!
-Entao ta bom, da próxima eu trago umas partituras de Kodan's. Meu Deus! -Ele olhou pro relógio. -Tenho que ir, minha mae quer que eu prove uns ternos sufocantes. -Ele levantou. -Tenta tocar mais Fur Elise! Ate depois! -Ele saiu correndo com seus passos ecoando pela sala.
Eu estava sozinha, eu estava encarando a porta porque eu não conseguiu tirar a imagem dele entrando de novo da minha cabeça, mas estava sorrindo.
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