História Quando éramos apenas crianças sob as estrelas - Por quê?

Amanhã seria o dia daquela maldita festa, e eu precisava esfriar a minha cabeça. Resolvi ir para a piscina. Ela ficava vazia na maior parte dos dias, então eu podia pensar em paz sem me lembrar de nada, já que o lugar era novo.

Ainda não sabia nadar, então sentei na cadeira de praia e fiquei olhando para o sol pelo teto redondo de vidro.

-Ainda não sabe nadar, Crystal Ally?

-Nao foi algo muito solicitado com o clima da Noruecia.

Ele pulou na piscina e depois ergueu a cabeça e se apoiou na borda da piscina.

-Ah, pelo menos assim eu posso te salvar uma vez pra compensar.

-Voce ainda não esqueceu? -Eu ri.

-Ta brincando? Odiei Don até o final da escola!

Ri de novo. Eu mal lembrava dessas coisas.

-Acho que nem vai dar. Tem tantos guardas nesse castelo que você não seria nem a última pessoa que me salvaria.

-Veremos. -Ele deu um sorrisinho.

Shalom ficou me encarando da borda da piscina e eu escondi minha cara atrás do livro quando senti que iria corar. Quem não coraria com o jeito que ele estava me encarando?

Ele nadou um pouco e então parou, sem olhar pra mim.

-Voce não tá brava, né?

-Como assim?

-Com a Seleção. -Ele me olhou com uma cara séria.

Eu estava? Nem eu sabia. Parecia que sim, mas era simplesmente porque ele reclama dela mesmo tendo decidido fazer, não era? Por que eu estaria brava por qualquer outra coisa?

-Tipo, depois de... tudo.

Ele estava insinuando um "qualquer outra coisa".

-Voce tá mesmo me perguntando isso? -Eu levantei. -Serio mesmo que você acha que eu vou gastar o meu tempo ficando bravinha por isso? Shalom, me poupe! A vida é sua, faça o que quiser com ela! Eu não sou nem mais nada sua pra ficar brava! -Por que eu estava tão alterada? Por que meu rosto estava quente? Por que minha garganta estava travando? Por que tudo é tão estranho! -Tenho que ir.

Peguei minhas coisas e sai de lá. Eu não conseguia nem mais saber se eu estava brava ou não, se eu estava triste, eu só queria correr e jogar algo na parede. De preferência esses meus sentimentos desprezíveis e idiotas!

Passei por um canto e vi Gardner e aquele guarda loiro conversando e rindo.

-Crystal? -Ele perguntou e eu segurei a camisa dele e puxei ele comigo. -Acho que tenho que ir. -Ele disse pro guarda.

Levei ele comigo até o meu quarto e bati a porta, olhando pro chão o tempo todo.

"Por quê?"

Peguei uma coisa em cima da minha mesa e taquei na parede.

-Crystal! -Gardner me segurou. -Por que fez isso?!

-Nao me pergunte isso nunca mais! "Por que?" EU NÃO SEI, GARDNER! Por que eu estaria brava com a Seleção?! Por que eu acabei de berrar com o Shalom?! Por que eu tô pensando nisso?! Por que eu não sei o que tá acontecendo comigo?! Por que isso está acontecendo?! Por que eu tenho vontade de tacar coisas na cabeça do Shalom?! Por quê?! Por quê, Gardner?!

-Porque você está apaixonada.

-E por que não consigo parar de estar?!

-Talvez você não queira.

-Mas isso é tudo que eu quero!

-Mesmo?

-Voce não tá me ajudando!

-Voce também não tá se ajudando.

-Por que eu te trouxe comigo? E como perguntar coisas pra uma porta!

-Ei!

-Desculpa. -Olhei pro chão. -É que eu não sei nem o que eu tô fazendo.

-Percebi.

-Nem o que eu devo fazer.

-Tambem percebi isso.

-Eu só quero parar com tudo isso, sabe?

-Quer dizer, parar de gostar do Shalom?

-Isso.

-Como pretende fazer isso?

-Nao sei. Mas sei que vou. Sei que tenho.

Tomei banho e deitei na minha cama. Eu não estava me sentindo bem, e não admitia estar desse jeito. Coloquei meus fones e escolhi uma playlist meio animada, mas acabei escutando as músicas mais depressivas no final.

Amanhã teria a tal festa pra mim e eu não sei se conseguiria ver todo mundo lá e não sentir as mesmas coisas de antes. Shalom vai estar lá. E a mídia vai querer que eu dance com ele. Preciso parar de sentir tudo isso, não sei como, mas eu preciso. E vou. Porque se eu não conseguir, vai doer muito mais.