História Quando fala o amor - Tormenta

Álvaro

Terminava de arrumar minha mala enquanto Leon e Julieta pulavam em cima da cama. Passaria uma semana na Serra de Madri gravando com ela e isso estava fazendo com que eu perdesse o sono. Coloquei o Ipad na bolsa junto com meus textos bem encadernados, pegando minhas chaves e minha mala.

Me despedi com carinho dos meus filhos, minhas alegrias de viver, deixando ambos aos cuidados da avó. Quando desci a escada avistei Blanca sentada na mesa de jantar, ela veio até meu encontro me dando um beijo leve nos lábios.

- Tem que ficar uma semana mesmo Álvaro? Não acha que é muito tempo fora? As crianças sentiram sua falta.

- Já te expliquei Blanca que vamos gravar cenas importantes, esse foi o tempo que Jesús nos pediu.

Blanca tentou me dar mais um beijo, mas eu estava com pressa e me dirigi até a porta, antes de sair, porém, ela me disse:

- Lembre-se que sua família estará te esperando. – Não respondi nada enquanto me dirigia até meu carro.

Itziar

Eu estava parada no Hall do Hotel com minha mala esperando o motorista do aplicativo que me levaria até o estúdio, de lá desceríamos a Serra de Madri para as gravações de Palawan.

Tinha todas as falas na ponta da língua e a emoção daquelas cenas ameaçavam me dominar, o reencontro entre Raquel e Sérgio era lindo e as falas e cenas de amor emocionantes. Eu estava mexida na expectativa de gravar essas cenas com Álvaro.

O carro chegou, o motorista me ajudou com as malas e com o coração saltado na boca rumei para os estúdios da Netflix.

Álvaro

Cheguei nos estúdios mal-humorado, a verdade é que eu estava com um humor péssimo há dias, precisamente desde o dia que a reencontrei.

Precisava acertar alguns detalhes com Jesús quando encontrei Pedro nos corredores.

- Olha quem eu encontro, o que fazes aqui irmãozinho?  Não tens que ir até a serra ?

- Vim falar com Jesús antes da viagem Pedro. – Respondi entre os dentes.

- Será que podemos tomar um café antes irmãozinho? me dá a honra da sua presença?

Aceitei o café com Pedro, enquanto esperávamos nossos pedidos ficarem prontos eu batia o pé insistentemente no chão como se fosse algum tipo de tique nervoso.

- O que tens meu irmão para estar desse jeito?

Dei um riso nervoso como se a pergunta de Pedro fosse a mais idiota do mundo.

- Jura mesmo que está me perguntando isso? Não tem a ínfima ideia porque estou assim?

Pedro me encarou por um momento sem dizer nada, ele avaliava meu semblante sem dizer uma palavra me deixando ainda mais nervoso.

-Você é um idiota Álvaro Garcia.

Me espantei com a seriedade de suas palavras, ali não havia piadas ou ironia, Pedro estava totalmente sério.

- Você é um babaca imbecil, pensas que foi bonito o modo que há tratou? pensas que a forma grotesca que agiu com ela foi certa? e agora esse seu mal humor insuportável, achas mesmo que esta fazendo um papel bonito?  Acorda Álvaro, tu mesmo me disse que junto ao nascimento de seus filhos seus momentos mais felizes foram com ela e agora ages assim?

Tentei interromper Pedro, mas ele continuava.

- Você preferiu se afogar na sua amargura, na sua ironia e nem parou pra pensar que alguma coisa de muito errada tem nessa história, achas mesmo que a mulher que reencontrou não sente nada por ti?  vistes os olhos dela, observaste a dor que eles transmitiam? crés mesmo que alguém que não te ama agiria dessa forma?

Algo dentro de mim começou a me incomodar, será que Pedro de alguma forma tinha razão, será que eu estava tão cego pela raiva e pela mágoa que não conseguia enxergar mais nada? Mas ela tinha me dito dos seus próprios lábios que não me amava mais.

- Irmãozinho, sei que sou um expectador nessa história, mas eu conheço o amor, eu sei ver uma mulher apaixonada, eu sei ver um casal que se ama, então tente colocar essa raiva de lado pelo menos por alguns momentos.

Eu não tinha coragem de responder, tomamos nosso café em silêncio e quando fui me despedir de Pedro ele mais uma vez disse.

- Ela te ama Álvaro, abra o seu coração e enxergue a realidade.

Sai do bate papo com Jesús, a produção estava em polvorosa colocando os equipamentos nas vans que nos levariam até a Serra, pela primeira vez desde muito tempo me permiti procura-la com os olhos, e não demorou muito a avistei. Ela estava parada relendo os textos totalmente alheia a tudo a sua volta, ela estava linda, com um vestido vermelho com flores pequenas que realçava as curvas do seu corpo, curvas essas que eu conhecia como a palma da minha mão e que tinha tantas vezes amado.

Será que Pedro tinha mesmo razão? será que o véu da cegueira tinha me feito perder a razão? se ela me amava porque me abandonou? essas perguntas atormentavam minha alma, mas pela primeira vez depois de muito  tempo decidi parar de fugir, seus braços me tinham feito muito feliz, foram os momentos mais felizes que vive na minha vida e apesar da dor do abandono uma verdade ainda estava em mim, eu também a amava.

Itziar

Percebi que Álvaro me observava ao longe, ele estava lindo com uma polo simples preta e uma calça jeans mais escura, esse homem mexia com cada fibra do meu ser da mesma forma que a primeira vez que nos vimos.

Enquanto esperava a liberação das vans que nos levariam percebi sua aproximação, meu coração saltava no peito a cada passo que ele dava, ele estava vindo falar mesmo comigo?

- Olá Itziar, como você está?

Sua voz, sua sensual voz que tanto me encantava, parecia que tudo aquilo era mentira e que ele se dirigia a outra pessoa, demorei alguns segundos para raciocinar que era realmente comigo que ele falava.

- Bem Álvaro e você como está?

Era uma conversa estranha e formal, mas ainda assim era uma conversa e pela primeira vez depois de muito tempo não vi indiferença em seus olhos.

Álvaro

O perfume dela, o perfume inebriante da sua pele que me fazia delirar, sua voz rouca e sensual. Como eu sentia sua falta, como ela me fazia falta...

- Pensei que poderíamos ir juntos para falar algumas coisas sobre o texto, se você não se incomodar é claro. – Tive coragem de fazer o convite, se o que Pedro disse fosse realmente verdade e bem no fundo da minha alma eu acreditava que sim eu me reaproximaria dela e descobriria o que aconteceu para nos perdermos de nós mesmo.

Itziar

Álvaro sentou do meu lado na ultima fileira da van, ele começou a conversar comigo sobre algumas sugestões para as cenas de Sérgio e Raquel. – Para dar ainda mais emoção, como ele mesmo disse. Mas a verdade que eu estava distraída, um dia ele me tratava super. mal com extrema indiferença e agora tentava puxar assunto?

- Porque está falando comigo agora Álvaro. – disse baixinho com medo que Jesús que estava na Van junto com o motorista pudessem ouvir do banco da frente nossa conversa.

- Como assim?

- Um dia você me trata super. mal e no outro conversa comigo como se nada tivesse acontecido, não te entendo....

- Só estou tentando manter uma boa relação para que nada afete a história.

A conversa que se seguiu continuou em tom totalmente profissional, trocávamos muitas ideias sobre como faríamos nossas cenas, Sérgio e Raquel eram personagens fortes e queridos e o amor de ambos merecia o melhor de nós dois, mesmo que isso nos dilacerasse por dentro.

Quando estávamos muito próximo da pousada que ficava o local das gravações uma forte tormenta começou a se formar no horizonte, Jesús espraguejava na frente dizendo que a meteorologia não tinha previsto e que isso acabaria com o dia de gravações.

Chegamos a pousada e o céu parecia que ia desabar, fomos dispensados do dia de gravação, não conseguiríamos prosseguir com a cena do reencontro daquela forma.

Deixei minhas coisas no quarto peguei um casaco bem levinho e saí.

Álvaro

Estava tomando um whisky no bar quando a vi passar, ela só poderia estar maluca em sair com esse tempo, pedi que o garçom colocasse a bebida na minha conta e sai atrás dela.

Ela caminhava sem rumo muito próximo a água, eu estava preocupado, não era seguro ficar tão próximo da água com esse tempo, de repente gotas grossas de chuva começam a cair e eu não pude mais me calar.

-Itziar

Ela se virou e me viu, ambos nos olhávamos embaixo da tormenta como se nossos olhos pudessem dizer o que nossos lábios não podiam.

De repente ela saiu correndo.

- Eu não a deixaria escapar de mim, não dessa vez. Ela poderia partir novamente meu coração em mil pedaços, mas eu precisava de uma explicação, eu precisava ouvir tudo novamente da sua boca.

- Itziar. – Quanto mais eu gritava mais ela saia correndo, não tinha ninguém na praia devido ao mal tempo, foi quando eu finalmente a alcancei.

A agarrei pelas costas enquanto ela tentava se desvencilhar dos meus braços. – Por favor Itz, não fuja de mim, não dessa vez, precisamos conversar, por favor....

A chuva caia impiedosa em nós, eu a mantinha presa em meus braços, eu não deixaria que ela saísse mais uma vez da minha vida sem uma explicação.

-Me deixa ir embora Álvaro, por favor me deixa sozinha.....

- Eu te deixo ir se me disser mais uma vez olhando nos meus olhos que não me ama mais.

- Álvaro tudo acabou há meses eu não quero mais falar sobre isso.

- Estou te pedindo pra repetir tudo aquilo que me disse, mas dessa vez olhando nos meus olhos.

Nós dois chorávamos, lágrimas rolavam pelo seu rosto e pelo meu, eu temia suas palavras, temia que tudo não tinha passado de uma ilusão e que ela realmente não me amava mais,eu temia que nunca mais pudesse ter a chance de tê-la nos meus braços, eu temia que minha vida fosse prosseguir sem ela, eu temia que esse ultimo ano de dor fosse repetir por toda minha existência.

Segurei seu rosto e repeti com firmeza.

- Se tudo não passou mesmo de uma ilusão, se tudo foi mera atração e eu não signifiquei nada pra você, então me diz agora e eu prometo que sairei da sua vida para sempre.

Seu peito subia e descia com ansiedade, sua respiração estava acelerada, ela tremia nos meus braços e sem nenhuma palavra suas mãos agarraram meus cabelos e ela finalmente me beijou.