1. Spirit Fanfics >
  2. Quarto Quarenta e Oito >
  3. TRÊS - Arrombamento

História Quarto Quarenta e Oito - TRÊS - Arrombamento


Escrita por: SweetNightmaree

Capítulo 4 - TRÊS - Arrombamento


- A porta do quarto foi arrombada, acho que ele trancou e esqueceu onde colocou a chave, deveria estar bêbado né.


Escuto a Carla fofocar com a Megg enquanto eu coloca os forros da cama na máquina de lavar, fecho a tampa da mesma e limpo minhas mãos no avental como de costume, percebo elas me olharem com certa duvida já que todos os acontecimentos que ocorria no hotel nós três discutíamos sobre o caso e dessa vez eu me mantive calada, não só por estar “secretamente” envolvida no caso mas também por querer adiantar o meu trabalho, eu tinha algumas contas para pagar e as casas de loteria tinham horário para fechar. O café da manhã estava um tanto movimentado, tanto que tive que reabastecer o buffet quase três vezes.

Eu estava pondo um novo pote com sequilhos no buffet ao sentir o cheiro forte de um perfume amadeirado, já não basta ontem a noite, vai me seguir também?


- Eu poderia te fazer perder o emprego pelo feito de ontem a noite – Ele diz se servindo dos sequilhos. – De nada.


- Eu poderia te processar pelo feito de ontem a noite – Limpo as migalhas que estavam ao redor de um bolo, burros, não sabem cortar um bolo sem sujar tudo. – De nada


- Acho que não temos câmeras dentro dos quartos, temos? – Ele não me olha e parece se servir do bolo justamente para sujar e me fazer limpar.


- Não – Digo curta – Mas tive marcas de suas mãos em meu corpo, principalmente quando agarrou o meu braço no corredor – Olho a câmera do saguão.


- Estaríamos quites.


Ele se afasta me dando liberdade para voltar a respirar sem que eu me asfixiasse com o cheiro forte de seu perfume. Junto as bandejas vazias e as levo para a cozinha onde os deixo para que lavassem, o timer da máquina de lavar com certeza já havia apitado então volto para a lavanderia onde colocaria os lençóis na centrifuga para que secassem mais rápido. A Carla e a Megg continuavam no local dobrando e passando algumas roupas e lençóis mas com certeza se parassem de brincadeira e conversas já teriam terminado o serviço.


- Que bicho te picou hoje Amber? - Megg pergunta com o sorriso estampado nos lábios, isso chegava a me incomodar, não que eu quisesse vê-la triste a todo tempo, mas ela estava sempre sorrindo independente da situação e queria que todos fosse assim: sorridentes igual ao sol da Galinha Pintadinha.


- Nenhum, só preciso adiantar o meu trabalho, preciso sair mais cedo, tenho contas. – Respondo ajustando o timer e a função da centrifuga.


- Soube do que aconteceu? – Foi a vez da Carla.


- Sim. – Foi a minha resposta antes de sair fazendo as duas se entreolharem.


Pego o esfregão com o carrinho de água e desinfetante e subo pelo elevador de serviços o qual me deixa no primeiro andar, molho e torço o esfregão passando assim pelo chão, eu me perguntava por onde aquelas pessoas andavam pelo tanto de lama que se juntava em frente as portas e no tapete de bem vindo, abro a plaquinha de piso molhado nos dois sentidos do corredor e volto ao trabalho passando a escutar uma gritaria vindo de um dos quartos, com certeza uma das pessoas sairia do quarto e escorregaria então trato de enxugar o chão logo em seguida com um pano seco.


- O chão está molhado senhora. – Aviso ao vê-la sair de dentro do quarto arrancando um sorriso gentil da mesma.


- Poderia arrumar o meu quarto após a saída do meu marido? Está uma bagunça. – Ela pede.


Afirmo com a cabeça retirando as plaquinhas após o piso já seco e empurro o carrinho de volta para o elevador de serviços.


- O que houve no Quarto Quarenta e Oito? – A Margarett me aborda arrancando um suspiro da minha parte.


- Porque vocês sempre chamam aquele quarto de Quarto Quarenta e Oito? É só um quarto, como o quarenta e sete e o quarenta e nove! – Esbravejo.


- Verdade, é um quarto normal. – Ela mente para concordar comigo.


- Já entrei lá, e nem é tão luxuoso assim, ainda mais pelo andar, os mais caros ficam na cobertura.


Ela mente novamente.


Aquele quarto com certeza havia sido modificado pelo dono, e de alguma forma deve significar algo para não escolher um quarto da cobertura e se limitar ao quinto andar, concordo com a cabeça evitando uma conversa, a Margarett era sínica, das brabas, ela gostava muito de desvendar os “segredos” de cada funcionaria e contar a Rose achando que ganharia uma promoção grandiosa por isso, o máximo que chegou foi duas folgas na semana e após isso só promessas de férias, tola.


O almoço foi servido cerca de trinta minutos atrasado, senti dó da cozinheira a culpa não tinha sido dela se o caminhão que entregava as verduras frescas atrasou, chego a ajuda-la a preparar algumas coisas mas ciente que aquilo não aumentaria o meu salário ou ganharia hora extra, aqui ninguém ganha hora extra, se ficou uma hora a mais que seu expediente e o problema é seu e se por um acaso saiu no horário e deixou algo sem fazer é descontado em seu salário. Emprato o arroz e o levo logo em seguida, por mais que os outros alimentos demorassem um pouco, colocar as coisas no buffet daria a pequena sensação de que o almoço sairia mais rápido.


Não vi o dono do quarto arrombado descer, provavelmente ele teria saído para comprar uma nova porta já que após a compra do quarto o hotel não se responsabilizava mais, mas ainda sim isso não era da minha conta, volto para a lavanderia abrindo o meu armário e faço as contas dos preços das conta de luz e água, eu mantinha uma conta de luz atrasada por dar preferência a conta de água que havia vindo mais alta por um reajuste caótico no preço da mesma, dessa vez eu priorizaria a conta de luz, eu passo a maior parte do dia no hotel trabalhando, eu poderia tomar banho aqui após o termino do expediente e levar algumas garrafas de água caso eu precise da mesma durante a noite.


Eu não teria dinheiro para a conta de água, todo o meu dinheiro era contado, muito, aluguel da casa, as compras eram poucas já que eu só passava o dia em casa no Domingo e nos Sábados eu trabalhava até o meio dia, abro a carteira vendo cento e cinquenta e três dólares por pura sorte já que a soma das contas havia dado cento e cinquenta e um, eu teria que ir a lotérica a pé já que eu não tinha dinheiro para transporte. 


Deixo avisado a Rose que teria que sair mais cedo por motivos justos e como “desconto” eu teria que trabalhar durante todo o Sábado para compensar, ela concorda e pego minha bolsa guardando o avental no meu armário, o tranco deixando a chave na recepção e sigo meu caminho em baixo de um sol quente para a loteria, hora ou outra era possível andar em baixo de uma sombra mas nem sempre.


Talvez as estrelas, luas e o sol tenham se alinhado ao meu favor, não que eu acreditasse, sou totalmente leiga quanto a esse assunto, mas algo me dava um pouco de sorte durante esse mês, tanto que fui capaz de achar uma nota de dez dólares abaixo de um jornal de fronte a loteria, eu já não teria que voltar para casa a pé.

Eu consegui um desconto de quase quinze por cento no pagamento por a data estar correta e por ser a vista, mais uma vez a sorte ao meu favor. 

Logo ao lado da loteria eu encontro uma pequena venda com um senhorzinho sentado na porta, compro alguns temperos verdes e logo sinalizo um taxi que passava para que me deixasse em casa, meus pés doíam, quase totalmente coberto por calos, eu seria obrigada a usar meias enquanto usava os saltos só para amenizar o desconforto. 


Guardo os temperos ao chegar em casa, minha geladeira não era a coisa mais cheia do mundo, ela guardava algumas carnes, temperos e uma garrafa com água, eu morava sozinha então muitas vezes comer fora saía mais em conta do que cozinhar.


Eu estava no banho quando escutei o meu celular tocar mas eu o ignoro,  eu retornaria a chamada quando terminasse o banho, a muito tempo eu não tenho essa disposição para tomar um banho quente, aqueles que além de lavar os cabelos você ainda tem disposição para lavar as pernas. O celular toca mais uma, duas e na terceira eu sou obrigada a largar a depilação pela metade e sair enrolada na toalha para atendê-lo. 


- Amber a Jully está mal, precisamos que cubra o turno da noite. – A voz da Rose soa pior do que já é pela chamada.


Não havia outra opção a não ser concordar, ela havia quebrado um galho pra mim, negar agora ela faria com que ela vivesse no meu pé e no primeiro vacilo me colocasse para fora. Volto para o banho, o terminando mais rápido do que eu previa, pelo jeito o desejo de um banho de princesa desceu pelo ralo junto com o shampoo. 


Eu também tinha planos de arrumar o cubo que eu chamo de casa. Havia roupas sujas no chão do quarto e no banheiro, livros espalhados sobre a mesa e alguns no pé da cama e algumas louças para guardar quando estivessem secas, mas mais uma vez, tudo isso ficaria para outra hora. Visto mais uma vez aquela linda combinação de blusa preta com uma saia verde escura até os joelhos, dessa vez os saltos seriam calçados literalmente a força, eu podia passar anos calçadas a eles e meus dedos continuariam a ter calos cada vez maiores.


Fecho a casa pegando minha bolsa e levo quase um ano para encontrar um taxi vazio ou ônibus para que me levasse ao hotel, não reclamo no geral, pelo menos eu tinha dinheiro para ir e não precisar ir a pé com todos os calos nos dedos.


O turno da noite era bem mais tranquilo, sem faxinas e arrumações, sem limpezas após refeições, dava até para tirar um cochilo na bancada da cozinha e foi exatamente o que eu fiz por míseros quinze minutos até ouvir a sirene de um dos quartos soar. Desligo todo o som do monitor me negando por alguns segundos, eram exatos duas e trinta e três da madrugada, quem pede serviço de quarto as duas e trinta e três da madrugada?


Mais uma vez o pedido era um champanhe com um balde de gelo, pego os mesmos logo o levo para o seu quarto, utilizando o elevador do saguão, não havia hóspedes acordados, exceto ele, então não haveria problemas. O corredor do seu quarto parecia mais gelado que o comum, ao ponto de me causar arrepios, e eu nem tinha essa sensação por conta do balde de gelo, o corredor estava realmente mais frio. Bato na porta soltando a respiração pesada que eu guardava desde que as portas do elevador haviam sido abertas, em minha mente eu repetia continuamente o quanto eu queria que ele apenas pegasse aquele champanhe e o balde de gelo e que acabasse por ali, sem gracinhas ou testes, seja quem for que estivesse por trás daquilo, só queria voltar para o balcão da cozinha e tirar mais alguns minutos de sono.






- Boa noite senhor.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...