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História Quase Sem Querer (Capítulos Extras) - End


Escrita por: princetri

Capítulo 9 - End


Fanfic / Fanfiction Quase Sem Querer (Capítulos Extras) - End

Lauren POV


 Encerrei a ligação e retornei para o quarto, eu estava falando com o médico da Camila, ela está se sentindo um pouco mal hoje, então ele vem vê-la. Hoje minha esposa está com 89 anos, e eu nunca a vi tão frágil, faz uma semana que ela mal sai da cama, e por hoje está sentindo um pouco de falta de ar, resolvemos chamar o Dr. Wes.


— Camz? - Chamei me sentando ao seu lado. — Quer comer alguma coisa?


— Não. - Levantou a coberta. — Mas se deita aqui comigo. - Tirei os sapatos e me aconcheguei ao seu lado, apoiando a cabeça em seu peito. — As meninas já se foram? - Iniciou uma breve carícia em meus cabelos.


 Eu temo estar vivendo os últimos momentos ao lado da Camila, ela pediu para Sofia, Mani, e DJ virem visitá-la, ela não me deixou ouvir a conversa, mas eu sei que foi uma despedida, porque as 3 saíram chorando, e Sofia mais do que ninguém. Emma não veio, porque faz 5 anos que ela está viajando com Ezra e Logan, ela largou o clã Ambrogio, quando entrou em uma briga com os anciões, para defender Sofia, acabou que as duas saíram do castelo, Sofia continuou na Floresta, mas Emma não, não temos contato com ela, mas recentemente ela nos mandou uma carta, e aquilo já nos conforta, porque por suas palavras, elas está muito bem.


— Sim, saíram um pouco antes da Mia e as crianças. 


 Camila riu um pouco e me apertou mais em seu peito.


— Engraçado, Karla e Michelle já tem trinta e poucos anos, e você ainda se refere a elas como crianças. 


 Sorri.


— E não são? 30 anos perto da minha idade é um recém nascido.


— Tem razão. - Segurou em meu queixo e me fez olhá-la. — Você pode por favor desmanchar essa carinha?


 Respirei fundo.


— Desculpa, é que… tá difícil. 


— Imagino, mas eu não te quero triste, porque eu não estou triste, eu estou ótima. 


— Você não tem medo, Camz? - Perguntei em um fio de voz.


— O medo não salva ninguém da morte, coragem também não, mas o respeito pela morte traz equilíbrio, e é assim que estou no momento, a muito tempo eu aceitei minha finitude perante a vida, então apenas consigo ser grata por ter vivido tanto tempo, e coisas tão incríveis, eu tenho certeza, Lauren, que eu fui o ser humano mais feliz que já passou pela terra.


— Eu tenho medo de te esquecer um dia. - Confessei, sentindo um nó na minha garganta. 


— Então se lembre de mim, dos nossos dias felizes, do quão feliz eu fui desde o dia que você se apresentou como: "Lauren Jauregui, sua nova assessora."


 Sorri um pouco, e ficamos em silêncio, apenas o som das nossas respirações se fazia presente. 


— Eu também tenho medo de nunca conseguir te esquecer, e sofrer eternamente. - Voltei a falar.


 Ela riu e me deu um beliscão. 


— E se você me esquecer, eu vou ficar triste, não esqueça de mim, mas me supere, você tem carta branca pra viver outros amores, ou aquele amor, eu quero que você busque felicidade outra vez, porque você merece.


— Não sei se eu serei capaz. 

 

— Olha pra mim. - Pediu. — Me promete que quando eu for embora, você não vai chorar.


— Camz, impossível. 


— Prometa.


 Neguei com a cabeça e soltei uma risadinha fraca.


— Prometo.


 Ela sorriu satisfeita e me puxou para deitar mais uma vez em seu peito. Ficamos naquela posição até a chegada do médico, ele examinou ela, e o diagnóstico foi: idade, complicações normais causadas pela idade, e que não tem um tratamento. Agradeci sua presença e ele se foi, por ser tarde da noite e ter sido medicada, Camila já estava dormindo, então apenas a puxei para os meus braços e fiquei deitada ao seu lado, vendo mais uma vez o dia amanhecer, sendo embalada pelo som fraco da sua respiração e o calor da sua pele.


 Me levantei cedo e fui preparar um café da manhã pra ela, servi tudo na mesa do jardim e fui chamá-la, ela gosta de tomar café enquanto recebe os fracos raios solares da manhã. Ao entrar no quarto, ela já estava no banho, o que me fez ir de imediato para o banheiro, odeio que ela tome banho sozinha, tenho medo que ela caia e se machuque, então sempre fico ali com ela.


— Por que não me esperou? - Perguntei quando ela desligou a água e abriu o box.


— Porque estava ocupada. - Sorriu largo. — A gente vai tomar café no jardim?


— Sim, já preparei tudo.


— Ótimo. - Se enrolou na toalha e retornou para o quarto.


 Franzi o cenho, porque ela está andando muito mais rápido do que nos últimos dias.


— Tá se sentindo melhor? - Perguntei oferecendo o braço pra ela usar de apoio ao se vestir. 


— Ótima. - Me olhou sorrindo, o sorriso sapeca que há tempos eu não via.


 O mesmo sorrisinho que ela me deu em Miami, quando me pediu para beijá-la, pois nunca tinha beijado uma garota.


— Que bom. - Falei feliz.


 Quando ela terminou de vestir suas roupas, nós fomos para o jardim, na mesa tem algumas frutas, iogurte de frutas vermelhas, que são os favoritos da Camila, e alguns cereais. Comi junto com ela, porque ela ainda odeia comer sozinha, me pergunto se manterei esse costume. Me permiti ficar apreciando seus olhinhos brilhando, sua pele reluzindo devido ao sol, seu sorriso, suas mãos que agora se movem lentamente, e com máxima atenção às coisas.


— Eu te amo. - Falei e ela me olhou.


— Eu também te amo, sempre e sempre. - Segurou minha mão sobre a mesa. — Eu estava pensando em ir na agência hoje, fazer uma visita, o que acha?


 Faz alguns anos que Camila se aposentou, hoje em dia quem comanda a Camren Models é a Mia, mas ainda assim, minha esposa gosta de ir até lá. 


— Acho perfeito, vou ligar pra Mia vir lhe buscar.


— Não, eu quero que você vá.


— Tem certeza?


— Sim, você aproveita que o dia hoje não está quente, coloque um sobretudo, um cachecol cobrindo um pouco o rosto e uma touca, mas claro, se você quiser.


 Eu não vou à agência pelo mesmo motivo que os amigos humanos da Camila não podem vir visitá-la em casa, pra não notarem minha falta de mudanças físicas com o passar do tempo.


— Acho perfeito. - Sorri.


 Terminamos a refeição, Camila foi trocar de roupa e eu fiquei para organizar as coisas e lavar a louça, depois segui para o banho. Me vesti com o look sugerido pela minha esposa, e todos da cor preta. Em pouco mais de 1h estávamos passando pelas portas da agência, com Camila segurando em meu braço. 


— Oh, senhora Cabello. - Um homem veio até nós. — Que honra vê-la aqui mais uma vez.


— Connor, você sempre tão simpático. - Sorriu. — Vim ver como estão as coisas por aqui.


— Tudo na mais perfeita ordem como a senhora gosta. - Sorriu e olhou pra mim. — Prazer, Connor, vice-presidente. - Me estendeu a mão. — Já nos conhecemos?


— Não. - Sorri. — Prazer. - Apertei a mão dele, mas não falei meu nome, o que ele provavelmente estranhou..


— Não quero papinho aqui. - Brincou Camila. — Eu vou dar uma volta, depois nos falamos melhor, Connor.


— Sim senhora, qualquer coisa mande as ordens. - Sorriu e se afastou.


— Ele está namorando a Karla. - Camila disse em um sussurro. 


— Que? Ela já namora?


 Camila riu.


— Eu envelheço mas você quem fica gagá.


— Vou até me calar depois dessa. - Fingi estar ofendida, o que fez Camila rir mais.


 Andamos por toda a agência, e olhe que ela não é nada pequena, mas ainda assim, Camila se manteve forte na caminhada, durante o trajeto, fomos paradas várias vezes, minha esposa claramente é uma pessoa muito querida aqui dentro, não teve um que não fez elogios pra ela, até os novos modelos, que nunca sequer tinham visto ela pessoalmente, fizeram questão de vir parabenizá-la pela agência, e pela iniciativa de tornar essa área profissional algo mais humano. Por último fomos até a sala da Mia.


— Tias. - Falou sorridente e se levantou vindo até nós duas. — Que honra tê-las aqui mais uma vez. - Deixou um beijo no nosso rosto, e nos puxou para o enorme sofá de couro que tem ali dentro.


— A senhora parece melhor que ontem. - Mia disse analisando o rosto da tia. — Qual remédio? Tô precisando também. 


 Aquilo nos arrancou uma risada. Ficamos por ali por um longo período, Camila estava tão feliz, que acabei ficando feliz também, ela construiu tudo isso aqui com muito carinho, e ver que a Mia está honrando seu legado, me deixa contente, e sei que a Camz também ficou feliz em ver isso. Mia foi um presente em nossas vidas.


 Fomos para casa no final da tarde, quando parei o carro em frente a nossa casa, o sol já estava se pondo, e a impressão que temos, é que ele se põe no final da nossa rua, nos encostamos no carro para apreciar aquele espetáculo da natureza, ficamos envoltas no silêncio, eu abraçando o corpo de Camila por trás, enquanto nossos olhos estão direcionados para o mesmo lugar, o sol. Quando o céu se tornou um completo escuro, nós entramos.


— Toma banho comigo? - Camila perguntou enquanto se despia.


— Não precisa pedir duas vezes. - Falei empolgada, também tirando minhas roupas. 


 Entramos no box, e de imediato liguei a água quente. Camila ficou me analisando, enquanto a água escorria pelo meu corpo. 


— Perdeu alguma coisa aqui? - Provoquei e ela sorriu.


— Não. - Me empurrou e entrou debaixo da água. 


 Fiquei a observando, peguei o tubo de sabonete e despejei um pouco em minhas mãos, me aproximei da minha esposa e deslizei a espuma pelo seu corpo, ela sempre foi magra, mas com o passar do tempo, ela ficou um pouco mais, me abaixei em sua frente, beijando sua barriga lentamente, ouvi a risada baixa dela. A verdade é que eu ainda queimo de tesão, mas Camila não, faz pouco mais de 5 anos que transamos pela última vez.


— Lauren. - Chamou quando eu estava me empolgando.


— Parei. - Sorri sem graça. — Desculpa. 


— Não era isso, vamos terminar o banho, depois terminamos isso na cama.


— Sério? - Perguntei empolgada e ela riu.


— Sério, nós vamos transar.


— Tenho nem roupa pra esse evento. - Brinquei e ela riu alto. 


— Que bom que não precisa de roupa…


 E se eu disser que sinto que a Camila está se despedindo? Primeiro a visita das meninas, depois a vontade súbita de ir até a agência, e agora isso. Fomos para o quarto, e fizemos amor, o momento exigiu a delicadeza que era raro nos tempo de juventude, mas ainda assim foi incrível, não importa o tempo, não importa a idade, ela ainda me satisfaz como ninguém. 


 O cansaço pelo dia, e nosso esforço na cama, fez minha esposa cair em um sono profundo, sorri largamente a vendo agarrada a mim, puxei ela mais pra perto e fechei os olhos. 


*****


 Acordei no meio da madrugada, ao ouvir a respiração ofegante da Camila.


— Camz? Tá bem?


— Sim. - Respirou fundo. — Apenas um pouco de falta de ar.


 Me sentei. 


— Vou ligar para o Dr. Wes.


 Ela segurou minha mão e negou com a cabeça. 


— Não, eu não quero, ele vai me dopar, e eu quero te aproveitar o máximo possível.


 Senti o ar me faltar, minha garganta se fechar, e meus olhos inundarem de lágrimas. 


Está chegando a hora.


— Hey, você disse que não ia chorar. - Me puxou para deitar em seu peito. — Já conversamos tanto sobre isso, eu estou bem, é o fim que eu queria, meu peito já carrega tanta tristeza, amor, que você é uma das únicas coisas que me mantém sorrindo.


— Eu não estou pronta, Camz, não estou.


 Ela riu e me envolveu com mais força em seus braços. 


— Lembra que há alguns anos nós assistimos a passagem do cometa Halley?


— Como esquecer? Você ficou extremamente eufórica. - Sorri ao lembrar. 


— Claro, eu nunca tinha visto, não precisa me humilhar só porque você já viu várias vezes. - Dramatizou.


— Você poderia ver tantas outras… - Falei voltando a ficar triste.


Se o cometa Halley demora, mas sempre volta, eu te digo que eu volto também. 


— Não entendi.


— Eu sei que você não acredita em Deus, ou outras vidas, mas eu acredito, e tenho esperança que um dia nos reencontraremos. 


 Soltei o ar dos pulmões. 


— Tomara, Camz, tomara, não sei como você pode estar calma e… feliz. 


— As pessoas morrem como viveram, e eu vivi extremamente feliz ao seu lado, por isso mesmo na hora da minha partida, permaneço feliz.


 Mais uma vez as lágrimas romperam pelo meu rosto. Me sentei e olhei pra Camila, seus olhos já estão mais fracos, sua energia já está se apagando. 


— Camz, me deixa te transformar, por favor. - Pedi em um fio de voz, colocando a mão em seu pescoço. — Ainda dá tempo.


 Ela tirou minha mão do seu pescoço e deu um selinho na mesma, percebi uma lágrima descendo pelo seu rosto, mas ela logo tratou em secar.


— Não faça isso, por favor. - Pediu secando minhas lágrimas. — Eu queria tanto te ver sorrindo, não chora.


— Camz, como vou sorrir se você está me deixando?


— Vai sorrir por tudo que vivemos juntas, vai sorrir por saber que me fez feliz como nenhuma outra pessoa poderia fazer. - Me puxou. — Vem, deixa eu te abraçar. 


 Me deitei e ela deitou a cabeça em meu peito, a sensação é de está com o coração sendo pisoteado, tudo em mim dói, mas não vou chorar, porque quero ao menos fingir que estou bem, depois eu desabo, mas agora eu quero apenas senti-la. 


 A respiração dela continua pesada, é como se ela estivesse usando todas as suas forças para continuar puxando o ar para os pulmões. 


— Te amo. - Falei baixo, acariciando seu cabelo.


— Sempre… - Respirou fundo. — E sempre. 


— Obrigada por me escolher, Camz, obrigada por me deixar te amar por todos esses anos.


— Não há de que, a satisfação foi toda minha. - Me deu um beijo no pescoço. — Eu sempre vou estar com você. - Levou a mão até meu coração. — Bem aqui. - Respirou fundo mais uma vez. — Sempre que sentir minha falta, me procure dentro de você, nas nossas lembranças, e fique feliz por saber que me fez feliz.


 Não consegui responder, ou eu iria chorar, apenas apertei ela mais contra mim. Passamos horas ali naquela posição, a respiração dela está cada vez mais dificultosa, eu sinto que ela está esperando minha permissão pra partir, mas eu simplesmente não consigo. Aquilo doerá em mim, mas por amor, eu preciso libertá-la, ela resiste por mim, é algo que tem que ser feito, mesmo que não seja meu desejo.


— Camz? - Chamei em um fio de voz.


— Hmm?


— Pode ir. - Falei tão baixo quanto antes.


— Te amo. - Foi a resposta dela. — Pra sempre e sempre.


 A puxei ainda mais contra mim, se é que isso era possível, porque nossos corpos já estão quase se fundindo um no outro. Será que um dia irei superar a morte da minha esposa? Eu acho que não, mas espero com todas as forças do meu ser, que sim, porque não quero viver mais uma cacetada de anos com esse vazio que está se apossando do meu peito. E enquanto eu me questionava, o tempo passou, a vida passou, e a Camila sob os meus olhos passou. Assisti a vida se esvair do seu corpo, como um rio indo ao encontro do mar. 


 O sol nasceu lá fora, e Camila se foi aqui dentro.


"EIS QUE O DIA CLAREOU E A

LÂMPADA QUE ILUMINAVA O MEU

CANTO ESCURO SE APAGOU."


 Fiquei paralisada, como se o ato de tentar não me mover, fosse mudar alguma coisa, o corpo do amor da minha vida já está imóvel sobre o meu, sua respiração parou, o calor do seu corpo já está sumindo.


— Obrigada por tanto, Camila Cabello, minha vida nunca mais será a mesma depois da sua passagem por ela. - Falei, mesmo sabendo que ela não vai me responder.


 Com a morte da Camila, me sinto entrando em uma caverna, onde a porta que usei para entrar, não será a mesma pra saída, pois o mundo que vou encontrar sem ela, nunca mais será o mesmo. Eu não sei quanto tempo fiquei naquela cama, esperando, orando para a porra de qualquer deus, para que isso fosse apenas um pesadelo, mas não era, Camila não acordou, o tempo não parou para chorar sua morte, a prova disso são os barulhos vindo do lado de fora da nossa casa, a vida continua, mas talvez não pra mim. Me levantei, e olhei para o seu rosto, ela está com uma sombra de sorriso nos lábios, lhe dei um beijo na testa e me levantei. A primeira pessoa que liguei foi para Sofia, depois para Mia, ela ficou responsável por ligar para o serviço funerário, eu entrei dentro do banheiro e me sentei no chão, com a água caindo sobre minha cabeça, me sinto sem chão mais uma vez. 


 Eu só sei que passei muito tempo aqui dentro, porque já estou ouvindo vozes dentro do quarto, ouvi batidas na porta do banheiro, mas não respondi, me sinto fraca, como nunca antes.


— Tia? ‐ É a Mia.


 Não respondi, então a porta foi aberta.


 Ela entrou e me olhou, com a cara inchada, com certeza estava chorando, ela desligou o chuveiro e jogou uma toalha sobre o meu corpo, me abraçando logo em seguida, ela chorou, mas eu não consegui, eu prometi a Camz que não iria chorar.


— Tá doendo tanto. - Falei baixo.


— Eu sei, eu sei. - Me puxou mais para os seus braços. — Mas por favor, não fica assim, eu nunca vi seus olhos tão escuros, tia, e os verdes deles, a felicidade deles, é a coisa que tia Camz mais elogiava, vamos ser fortes por ela.


 Afirmei com a cabeça, e quando ela me soltou eu me levantei.


— Você avisa as amigas dela? Não temos contato.


— Sim, já estou fazendo isso, não se preocupe. - Deu um beijo em meu rosto. — Cadê a Emma? Ligou pra ela? 


— Eu não tenho o número dela.


 Ela afirmou com a cabeça e me puxou pra fora do banheiro, o quarto já estava vazio. Mia saiu para eu pudesse me vestir, mas me joguei na cama, e puxei o travesseiro da Camila até meu nariz, sentindo seu cheiro para tentar diminuir minha dor. Ela retornou ao quarto depois de um longo período, mas dessa vez eu não consegui falar nada, então ela saiu de novo. Eu não vou para o velório, porque vai ser aberto para o público, já que por muitos anos ela foi uma pessoa pública, irei apenas para o enterro, que será fechado para os mais íntimos. Eu só sei que fiquei muito tempo agarrada ao travesseiro, porque ouvi a voz da Sofia ao entrar no quarto.


— Lolo? - Chamou da porta e eu olhei por cima dos ombros. — O enterro é em 1 hora. 


 Afirmei com a cabeça e me sentei na cama. Sofia veio até mim e se agachou, segurando em minhas mãos. 


— Eu imagino o tamanho da sua dor, mas precisamos ser fortes, essa era a vontade dela.


— Estou tentando. - Sorri fraco. — Me sinto só.


— Mas não está, você tem a mim e as meninas. - Deu um beijo em cada uma das minhas mãos. — E tem a Emma. 


— Eu não sei nem por onde ela anda.


— Eu tenho certeza que ela vai aparecer aqui.


— Acho que não. - Me levantei. — Mas vou me vestir.


 Peguei uma calça preta justa ao corpo, coturno, um casaco leve preto e um sobretudo também preto, Sofia assistiu a tudo calada.


 Em alguns minutos já estávamos no cemitério designado, das pessoas ali que conheço, estão DJ, Mani, Mia, o marido e as filhas. Tem mais umas 30 pessoas, mas todos amigos dela da agência, pessoas que não tenho contato, ou tive há muito tempo atrás. O céu estava totalmente nublado, e não demorou para as finas gotas começarem a cair do céu, sorri e olhei pra cima. 


— Até céu chora sua partida, meu amor, imagine se eu não o faria. - Falei olhando para o caixão fechado bem na minha frente, com lágrimas grossas já descendo pelo meu rosto. 


 Vi o pastor responsável pela cerimônia final tomar o púlpito, ele fez uma oração, a qual não prestei muita atenção, mas quando ele começou o sermão, eu me senti obrigada a olhá-lo. 


— …mas, dependendo de como você decidir viver o seu luto pela morte da pessoa amada, você saberá encontrá-la dentro de você, nas experiências que ainda guarda, Camila sai desse mundo, mas deixa algo da sua essência, da sua história, em cada um de vocês, a experiência aconteceu e acabou, mas ela continua a fazer parte das suas vidas, por causa de tudo o que viveram com ela. Ela já é parte de vocês, e sempre será, mesmo que de forma simbólica...


 A forte chuva tomou conta do local, os ventos, os relâmpagos, eu não me movi, mas ainda assim não me molhei, não precisei olhar pra cima pra saber que alguém segura um guarda-chuva sobre mim. O padre finalizou o sermão com outra oração, então os responsáveis por levar o caixão se aproximaram, olhei para a enorme lápide preta, com o nome da minha esposa, e um pouco mais para o lado o nome dos nosso filhos, senti a dor outra vez, a dor que senti no dia que eles morreram, a dor que vi nos olhos da Camila ao receber a notícia, e a dor que senti ao vê-la partindo. 


 Ao ver o caixão sendo fechado dentro da lápide, caiu a ficha que Ela se foi para sempre e talvez foi ali que doeu mais. 


 Olhei ao redor, muitas pessoas chorando, Camila fez vínculos verdadeiros com várias pessoas aqui em Londres, reconheci Elize ao longe, sua melhor amiga humana, a idade da mulher mal a permite se locomover normalmente. Ela me olhou de longe, eu deveria virar o rosto, pra ela não me reconhecer ali, mas eu não consegui, ela parece ter paralisado no lugar, e quando se moveu, foi pra se aproximar de mim.


— Eu sabia que tinha algo errado. - Falou levando a mão ao meu rosto. — Camila disse que tinha separado de você, mas eu achava estranho, porque ela mantinha o mesmo brilho no olhar, agora entendo que é porque vocês nunca se separaram de verdade. ‐ Sorriu. — Não entendo o porquê você está assim, intacta, mas quero te dizer que quando ela falava de você, o brilho dela era algo fora do comum, eu vi o verdadeiro encontro de almas bem na minha frente. 


 Abaixei a cabeça e sequei os olhos.


— Obrigada, Elize, não sei se importa agora, mas a sua amizade era muito importante pra ela, eu amava quando ela ia pra ONG e voltava toda feliz, ela tinha orgulho de você e do seu trabalho. 


— Então estamos quites. - Sorriu. — Conversei com meus sócios, vamos mudar o nome da ONG para homenagear ela, se você quiser ir, sinta-se convidada, eu não sei seu segredo, mas ele está guardado comigo.


— Obrigada. 


 A senhora acenou com a cabeça e pediu para me dar um abraço, obviamente eu deixei. Observei ela se afastar, junto das outras pessoas, a chuva ainda cai, sai debaixo da tenda e caminhei para a saída. As meninas estavam lá me esperando, Normani chorando nos braços da DJ, Mia abraçada a Sofia, olhei para as quatro, e logo elas vieram me abraçar, ficamos daquele modo, chorando, e quando tive forças para me afastar, elas queriam ir comigo para minha casa, mas não permiti, eu preciso ficar sozinha. Prometi uma ligação para cada uma delas amanhã. 


*****


"Quando você disse seu último adeus

Eu morri um pouco por dentro

Eu deito e choro durante toda a noite

Sozinho, sem você ao meu lado"



 Entrei em casa, e no mesmo instante as lágrimas desceram. Eu me sentei na sala e me permiti lembrar de todos nossos momentos ali dentro, fiz o mesmo no quarto, na cozinha, na biblioteca, no jardim, na garagem, eu revivi todos os bons momentos em minha mente, e chorei, chorei como nunca tinha chorado na minha vida, chorei na tentativa de tirar aquele vazio de dentro de mim, o silêncio que sempre foi meu amigo, hoje me incomoda em níveis absurdos, a Camz sempre foi barulhenta, e até isso está me causando dor, peguei o porta retrato do nosso criado mudo, é o uma foto nosso, no chão da sala, com Arlo e Spot ao nosso lado. Daquela foto agora só resta eu. Deixei meu corpo cair sobre a cama, e chorei mais, abraçada ao travesseiro. Eu vi o dia e a noite passando, deitada na cama, olhando para a janela. Vendo a vida passar pelos meus olhos, as coisas perdendo o sentido, e me fazendo questionar se algum dia as coisas já tiveram sentido.


 Por volta das 5h da manhã eu me levantei, peguei uma mochila e saí pela casa, jogando alguns objetos pessoais. Fui ao closet, e de lá peguei apenas uma camisa, que era a favorita da Camz, e joguei na mochila, não peguei mais nada, nem roupas, nada, tudo vai ficar aqui dentro, guardando consigo as lembranças de um casal feliz que um dia morou aqui. Ao terminar, eu peguei a chave do meu carro e fui para a porta, vou mandar uma mensagem pra Mia, os documentos da agência estão aqui, e já assinei para tudo ser passado para o nome dela, a casa também deixarei pra ela, eu nunca conseguiria viver aqui, não sem Camila.


 O dia estava raiando quando passei pela porta de casa, do outro lado da rua, vi uma pessoa deitada sobre meu carro, não precisei me esforçar pra saber que é ela, Emma, caminhei até lá, ela não desviou os olhos dos meus por nenhum instante.


— Como ficou sabendo? - Perguntei jogando minha mochila no banco traseiro, o carro é conversível.


— Tive um lampejo alguns dias atrás.


— Da morte dela?


— Não, você estava sofrendo muito, e eu soube que só uma coisa lhe traria tanta dor.


 Senti meus olhos molharem.


— Obrigada por vir.


— Enquanto vida eu tiver e enquanto você quiser, você não estará sozinha.


 Deixei as lágrimas rolarem pelo meu rosto, ela se levantou rapidamente e me acolheu em seus braços, de certa forma senti o buraco em meu peito fechar alguns diâmetros. 


— Eu te amo. - Falei.


— Eu também amo você, Lauren Jauregui. - Me afastou e segurou meu rosto entre as mãos, secando minhas lágrimas com os dedos. — Qual nossa próxima cidade? Se minha memória não falha, é sua vez de escolher. 


 Me deixei sorrir.


— Emma, eu quero dar a volta ao mundo, eu não quero uma cidade, eu quero todas, eu quero pisar em cada cidade do planeta, da menor a maior, da pobre a rica, eu não quero parar, eu quero ficar na estrada. 


 Ela sorriu.


— Então vamos nessa. 


 Ela me abraçou outra vez e entramos no carro, ela foi dirigindo, olhei pra trás, vendo nossa casa cada vez mais distante, respirei fundo e olhei para o céu. 


 — As meninas já foram? - A voz de Emma me tirou dos meus pensamentos. 


— Sim, após o enterro. 


— Achei que depois do abraço elas tinham vindo pra sua casa.


— Como você sabe do abraço?


 Ela sorriu e me olhou.


— Eu estava lá ontem.


— Que? Por que não se aproximou?


— Já tinha muita gente chorando, eu iria ser apenas mais uma.


— Ela ficou triste que não conseguiu se despedir de você. - Falei me lembrando das inúmeras formas que tentamos entrar em contato. 


— Eu liguei pra ela, no dia que vocês foram na agência.


— E porquê ela não me contou?


— Ela já estava sentindo o que ia acontecer, e não queria te preocupar, nós conversamos bastante… Já conheci tanta gente, vampiros, humanos… mas de longe Camila foi a que se mostrou mais forte, eu sou grata por nossos caminhos terem se cruzado. - Falou sincera, e percebi seus olhos lacrimejarem


— Sim, ela era. - Sorri.


 A conversa parou ali dentro, apenas os nossos pensamentos se faziam presentes, eu liguei para o pessoal, e avisei da minha decisão de viajar pelos próximos anos, todos entenderam prontamente, o que me deixou mais relaxada.


 Quando anoiteceu, paramos um um hotel na beira da estrada.


— Dois quartos, por favor. - Emma pediu colocando o documento sobre o balcão.


 Soltei uma risadinha fraca.


— Só um mesmo, moça. - Falei pra recepcionista. 


 Eu sei que Emma está me olhando, mas fingi não notar.


— Camas de solteiro ou uma de casal? - Perguntou atenciosa.


— Pode ser de casal.


— Lauren. - Emma chamou quando a recepcionista se virou. — Não precisa fazer isso, eu sei que agora meus sentimentos são expostos, mas podemos viver como boas amigas, igual antigamente, não se sinta pressi…


 Me aproximei e selei nossos lábios rapidamente, ela ficou estática, até que sorriu.


— A gente tem alguns anos. - Falei. 


 A recepcionista nos deu uma chave e logo subimos para o quarto, eu fui a primeira a tomar banho, e depois fui para a varanda. O céu está bem estrelado, o que me fez sorrir e olhar pra cima. Eu passei 71 anos ao lado da Camila, nesse período eu tive a oportunidade de vivenciar momentos incríveis, e eu só tenho certeza de uma coisa, esses serão anos que carregarei para toda a eternidade.


Se de fato temos uma alma, e de fato elas vivem um duradouro processo de reencarnação, eu vou te reencontrar, Camila, então eu te direi que eu estava errada, e viveremos outras milhares de aventuras, e te amarei mais uma vez, com cada parte do meu ser.


 Talvez eu a reencontre, por uma segunda (ou seria terceira?) vez.


Notas Finais


aaaaaaaaaa, chorei escrevendo esse capítulo, QSQ é minha primeira estória, e eu tenho certo apego a ela, então escrever os últimos momentos camren foi sad, mas é isso, são poucos capítulos porque era apenas um bônus mesmo, obrigada a todos que acompanharam, e se não foi incômodo, deixe seu feedback, obrigada, obrigada.

ps: lá no wattpad estou escrevendo uma estórias nova que se chama "Desculpa o Exagero", se quiserem dar uma lida, ficarei grata, meu user lá é o mesmo daqui, beijooooos.

ps2: TALVEZ, depois eu lance mais 1 cap, para completar os 10, mas nesse caso, apenas para satisfazer os guerreiros que shipparam Emma + Lauren até os últimos momentos, esse cap seria sobre elas na estrada, enfim, só talvez mesmo...


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