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História Queen of death - Capítulo 17


Escrita por: Uzumaki_san

Capítulo 17 - Capítulo 17


O resto da viagem para Grimôr segui em total e absoluto silêncio, a breve conversa que tive com a rainha me deixou absorta em pensamentos e sentimentos. Já não aguentava mais tantos segredos. De repente senti que algo estava errado, meus pelos se eriçaram e minha pele formigou, um estalar de galhos ao longe soou e ninguém pareceu notar.

 

- Tiron... - chamei-o sem tirar os olhos dos cavalos a nossa frente. - Tem alguém se aproximando. 

 

Novamente escutei o estalar e um odor estranho impregnou o ambiente. Tiron olhou ao redor, como se procurasse de onde poderia vir o perigo.

 

- Gadrin. - grunhi enquanto descia do cavalo e empunhava as duas facas em posição de combate.

 

Tiron já estava ao meu lado e Rinue estava próximo a rainha com os seus soldados. Inspirei profundamente o cheiro lembrando-me das coisas que papai me falava, os pelos de meus braços tornaram a se eriçar e minha pele formigou, as chamas pediam para que eu as usasse, mas eu não o faria, não. Sorri quando escutei passos nas margens do mar próximo a nós e abri os olhos. 

 

- Vamos caçar. 

 

Com passos rápidos e silenciosos caminhei entre as árvores em direção ao mar. Tiron e Gadrin me seguiam tão  silenciosos quanto o vento daquele fim de tarde. O tecido leve do vestido roçava minhas coxas conforme eu caminhava, o barulho estava mais próximo e o cheiro mais forte.

 

- Como você os achou antes de nós? - Gadrin sussurrou quando finalmente conseguiu sentir e ouvir. 

 

Eu não sabia, não sabia como eu havia conseguido, não naquela distância. 

 

- Meu pai me ensinou. - uma meia verdade, ele me ensinou, mas era diferente em Mildred.

 

Próximos ao lago haviam três machos altos e esguios, diferente dos machos ao meu lado que eram extremamente musculosos, aqueles eram magros e suas feições eram de abatimento e raiva. Assassinos e ladrões.

 

- Se a ideia é matá-la, não deveríamos fazer quando estivesse sozinha? - o menor deles falava enquanto continuavam caminhando para dentro da floresta. - Entendem que não faz sentido atacarmos dessa forma?

- Cale-se. - o mais alto o olhou friamente. - Apenas cale-se. 

 

Os machos atrás de mim prenderam levemente a respiração quando o maior deles parou, como se estivesse nos rastreando. Sua pele escamosa e azulada brilhava e oscilava entre os tons mais claros de azul e verde, os dentes afiados como de um tubarão, eu nunca havia visto nada do tipo. Havia guelras em seus pescoço que se abriam e fechavam levemente.

 

- O que ele é? - sussurrei. - Quem eles procuram?

- Não devíamos estar aqui. - Tiron respondeu. - Vamos voltar, certamente não procuram nenhum de nós. 

- Não. - falei subitamente. - Algo está errado.

 

Eu sentia que estava e olhar para aquele macho apenas confirmava minhas especulações. Seus olhos azulados oscilaram em uma sombra negra de pura devastação e ódio, era diferente dos outros dois. Aquilo estava errado.

 

- Ora, ora. - a risada do macho soou entre as árvores e os pássaros que pousavam em seus galhos se espantaram. - Ela veio até nós. - ele cantarolou. - Sinto seu cheiro docinho, apareça.

 

Ele me chamava, ele sabia que eu estava ali, a grande questão era porque eu. Tiron parecia querer me alertar sobre a provocação, mas eu não dei muito ouvidos a ele. Com um passo largo me revelei, um sorriso curto e preguiçoso estampava meus lábios.

 

- Olá, rapazes! - rodopiei uma das facas na mão. - Estão procurando alguém? - sorri preguiçosamente. - Pensei ter escutado que sim.

 

O macho de pele de peixe sorriu, um sorriso macabro e assustador. Talvez fossem aqueles inúmeros dentes na boca e aquela sombra escura em seu olhar.

 

- Docinho...- ele sorria. - Sequer deixou que nos divertidíssimos caçando-a.

- E fazer com que eu mesma perca a minha diversão? - gargalhei. - Podemos entrar num consenso, vc me diz o que está procurando e nós deixamos vocês irem embora com vida.

 

Uma gargalhada alta e estridente soou, o macho a frente nos olhava como presas e eu pude sentir Tiron estremecer. 

 

- Meu príncipe. - ele se curvou para Gadrin. - Sua guarda costas é uma piada, me admira é que tivessem recorrido a assassinos para matar uma criaturinha patética dessas.

 

Eu sabia que havia algo familiar demais naquele homem, ele era extremamente parecido com meu pai e a aproximação dele com a Rainha, e os olhares dela para ele quando falávamos de meu pai. Me vi surpresa, mas não deixei transparecer.

 

- Você adora se ouvir falar não é? 

- Daran, deixe isso pra lá. - o macho mais esguio o puxou pelo ombro. - São da guarda real e isso vai nos trazer problemas.

 

Daran puxou seu braço com violência e o olhou com ira, não tive tempo de pensar quando o mesmo puxou a faca de dentes cerrados do cinto e o apunhalou do queixo para cima. Sangue espirrou sobre seu rosto, enquanto o outro macho desfalecia em seus braços, a faca havia atravessado sua cabeça e despontava entre seus olhos. O terceiro, que permanecia quieto apenas se afastou, dando de ombros e deixando claro que aquela briga não era dele.

 

- Ele já estava me enchendo o saco. - Daran passou a língua sobre o sangue de sua faca. - Estava procurando por você e não vou embora sem levar sua cabeça como prêmio. - ele cantarolou.

- Quem te enviou? - Gadrin perguntou, observei o músculos tencionaram ao manusear a espada de uma mão para a outra. Meu tio, é claro que era.

- É sério? - Daran gargalhou. 

 

E foi assim que eu perdi completamente a paciência, empunhei as duas facas e com passos longos e rápidos me aproximei o suficiente para tentar um golpe contra seu pescoço. Apesar da surpresa, o mesmo conseguiu desviar e contra atacou, com um soco forte em minha barriga e um pisão em minha perna, gemi levemente com os golpes e vi os dois machos se aproximarem.

 

- Não se atrevam. - sibilei raivosamente.- Ele é meu!

 

Meu oponente gargalhou novamente e sussurrou, sussurrou palavras em um idioma desconhecido. O sorriso brilhou vermelho conforme lhe lancei um soco contra o rosto e ele se desequilibrou, o que foi suficiente para que eu lhe acertasse um golpe na lateral do corpo com a faca, ele urrou conforme puxei a arma para baixo abrindo um pouco mais o ferimento.

 

- Quem te enviou? - grunhi conforme lhe acertava um novo soco, o sorriso macabro do macho ainda permanecia.

 

Ele balançou a cabeça negativamente, se negando a falar e jogou seu corpo contra o meu, movimentou a faca contra mim e um golpe de raspão foi dado em minha bochecha. Um filete quente de sangue escorreu, ele deferiu um novo golpe e eu me esquivei. Um suspiro entediado escapou de meus lábios, minha pele formigava e eu sabia o que aquilo significava. O mais sombrio poder pedia para sair.

 

- Vamos acabar com isso.- sussurrei sorrindo para que apenas ele pudesse ouvir.

 

Meu poder clamava, urrava, esperneava para que eu o liberasse. Fechei os olhos respirando fundo e me concentrei apenas nos som dos passos de Daran, o gotejar do seu sangue caindo sobre as folhas no chão, a respiração ofegante e seus sussurros, sussurros que em momento algum ele parou de recitar. Orações, talvez. Magia, provavelmente. Abri os olhos no exato momento que ele tornou a me golpear, consegui me esquivar mas não o bastante para que evitasse um corte profundo em meu braço direito. Gemi com o calor, com a dor, com o sangue escorrendo. Mas ali bastava, ainda que o braço estivesse ferido, segurei os punhos das facas com força e em um movimento rápido e com a ajuda das pernas, saltei sobre algumas rochas nos pés da Daran e então sobre seu corpo. Alguns fios de meu cabelo se soltaram e roçaram a testa do macho, a saia farfalhou conforme prendi minhas pernas ao redor de seu corpo e braços e cravei as duas facas no pescoço do mesmo. Sangue quente, escuro e pegajoso espirrou contra meu rosto ombros e vestido, as pernas do macho falharam e ele caiu, agonizando com o sangue que descia por sua garganta. Os dedos longos puxavam desesperadamente a grama do chão, os olhos oscilaram e então perderam o brilho negro. 

 

- Et....- ele engasgava e tentava a todo custo falar sem que sangue escapassem entre seus lábios. Um brilho de gratidão foi visto em seus olhos.

 

Tiron como misericórdia, lhe acertou o peito com sua espada e lhe deu fim à sua vida. Olhei para minhas mãos cobertas de sangue, os olhos assustados de Tiron e Gadrin já me diziam muita coisa, eu havia exagerado.

 

- O que foi? - puxei a barra do vestido e limpei as mãos.

 

Eles permaneceram em silêncio, Gadrin apenas deu de ombros e voltou para a estrada. Tiron tossiu levemente enquanto me observava caminhar seguindo Gadrin e mesmo que eu estivesse esperando ele falar qualquer coisa que sobre o que aconteceu, ele não falou.

 

- Os deuses nos escutaram. - ele sussurrou baixinho e sorriu.

 

Não me atrevi a olhar para ele quando Gadrin uivou, como um lobo vitorioso, um uivo forte e de alegria. E meu coração esfriou, de uma forma que nem o sangue morno que cobria meu rosto poderia esquenta-lo.

 

- Meu pai costumava fazer isso. - falei para Gadrin e ele me olhou curioso. Os cavalos estavam a alguns metros de distância. - Era como um grito de guerra e também um de vitória.

 

Todos estavam calados, os olhares de Nimiti e Irreth quanto ao sangue derramado em parte do meu rosto e ombros e que agora manchavam meu vestido eram de terror. Nimiti desceu do cavalo e se aproximou aos tropeços, puxando meu braço ferido.

 

- O que aconteceu? Porque está coberta de sangue? - ela observou o corte. 

- Não foi nada. - falei.

- Apenas ladrões. - Gadrin desconversou. - Nieth tomou conta deles com tranquilidade.

- Poderia ter acontecido algo. - ela buscou sua bolsa de colo e retirou algumas ataduras enrolando em meu braço. - Limpe esse sangue. - ela entregou algumas em minhas mãos e se afastou enjoada. - Vamos continuar, antes que fique tarde.

 

Rinue deu uma risada com a palidez da fada e então me ajudou a montar meu cavalo. Como um agradecimento a Gadrin toquei levemente minha testa e deslizei até os lábios, como meu pai costumava fazer e como ele havia me ensinado. Gadrin desviou o olhar desconfortável e eu tentei não pensar o quão estranho foi. Ele falou algo para Irreth e ela respondeu com um aceno de cabeça e os cavalos voltaram a caminhar. Com o canto dos olhos observei o macho ao meu lado e seu sorriso curto, um lampejo da noite anterior foi suficiente para me fazer estremecer. “Eu era muito jovem quando tudo aconteceu, a outra filha, Moeth, não saía muito do reino e apenas a Rainha Irreth e o Rei Bradir chegaram a conhecê-la.” - e então as coisas pareciam fazer sentido. Bastou aquele olhar desconfortável de Gadrin pra que eu entendesse, toquei a bolsa pendurada na lateral do cavalo e tudo clareou. 

Tudo estava sendo explicado, os olhares e as perguntas de Irreth, a desconfiança de Bradir, os meus poderes, o desconforto de Gadrin quando o agradeci, a caixa com os símbolos e todo aquele mistério sobre quem eu sou e de onde venho. Apenas eles poderiam saber da verdade e agora eu havia descoberto e não conseguia entender como eu não havia percebido antes. Minha mãe era Moeth de Darnôr, filha de Elrion e irmã de Findra, eu era a criança morta. Eu era a profecia do fim de Darnôr, eu era a herdeira por direito do trono.



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