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História Queen of death - Capítulo 29


Escrita por: Uzumaki_san

Capítulo 29 - Capítulo 29


O quarto estava escuro demais para que eu pudesse ver qualquer coisa, mas o cheiro de Nitio era marcante demais para que eu não pudesse dizer que ele não estava ali.

 

- Milady. - escutei sua voz e o barulho da porta da varanda. - Nieth, você está aí?

 

Acendi uma faísca de fogo para clarear o caminho até à porta e a abri, os olhos escarlate de Nitio brilhavam fúria, e sangue escorria por seus dentes e mandíbula. Respirei fundo e senti aquele cheiro de mais cedo, impregnado por todo o corpo da pequena. Os olhos de Nitio agora brilhavam compreensão e vingança.

 

- Por ela, mas há outro.- ele sussurrou. - Não descansarei até encontrá-lo. - Se afastou, dando espaço para que eu pudesse olhar o acampamento abaixo, onde bem longe podia-se ver uma silhueta jogada ao chão próximo a uma fogueira com vários soldados ao seu redor. 

 

Passei a mão na lateral do corpo do dragão e suspirei, observando um macho alto e forte de cabelos prateados arrastando o outro pelo pé por todo acampamento.

 

- Obrigada. - devolvi em mesmo tom. - Gadrin resolverá agora. 

 

Dei uma leve batida na pele aveludada do animal e voltei para a porta da varanda, Nitio abriu suas asas e voou alto, indo em direção à floresta. A brisa fria e melancólica me tocou a pele, hoje não havia sussurros, apenas companhia.

 

- Onde você está? - perguntei na esperança de ser ouvida, mas recebi apenas silêncio.

 

Com passos tranquilos voltei para o quarto e segui para o banheiro, enchendo a banheira enquanto me despia das roupas e armas. A espada Senhora da Noite estava fria, não me chamava. Nada, nem ninguém naquela noite fazia. Mergulhei o corpo na água e desabei, cada lágrima derramada me fazia sentir colocar quilos em minha bagagem, cada morte me tornava ainda mais pesada. De minha mãe Moeth, de minha mãe Anne, da pequena e jovem garota e de todos aqueles que estavam no porto, as famílias. Ali eu carregava o peso e a maldição que Findra me jurou, a morte.

 

- Milady? - uma voz baixa e sussurrada soou do outro lado da porta, uma voz que eu conhecia. - Está aí?

- Sim? - engoli o choro, a voz embargada e leves fungadas. - Estou.

- Está tudo bem? - sua voz era de preocupação.

- O que quer, Tiron? - perguntei ainda tentando segurar o choro. - Estou ocupada.

- Saber se quer companhia. - meu coração doeu com aquela oferta de paz, segunda oferta dada por ele. - Foram...dias difíceis para você.

- Está tudo bem, obrigada.

 

Suspirei, Tiron era um Capitão exemplar, um macho adorável e que merecia mais que alguém que carrega tantas tragédias. 

 

- É melhor você ir. - pedi, não que ele saísse apenas daquele quarto, mas que ele não me esperasse mais e em momento algum.

 

Ouvi seus passos vacilantes e então a porta do quarto se fechou. Em algumas semanas eu provavelmente morrerei em um campo de batalha e a última coisa que iria querer é aquele macho tendo o mesmo destino ao meu lado por me seguir. Observei o teto do cômodo e a sombra que a luz da lua fazia nas cortinas, era hora de parar de planejar. Me levantei da banheira ainda morna e me enrolei em uma toalha, sobre a mesa de centro no pequeno corredor de roupas que dava acesso do quarto ao banheiro, estava um vestido no mais escuro vinho com tecido leve e fluido, de mangas levemente fluidas e punhos apertados, havia também um decote profundo que até para os feéricos poderia ser classificado como imoral, um vestido para seduzir quem quer que fosse o homem que se arriscasse tentar. Penteei os cabelos ainda molhados e os sequei na toalha, fazendo com que tímidas ondas se formassem, borrifei o perfume cítrico e de romã que mamãe odiava, “Você deveria cheirar a rosas.”- ela sempre dizia, e prendi Senhora da Noite em um cinto de pedras pretas. 

 

- E a dama da noite retorna. - sussurrei para meu reflexo.

 

Procurei por Nitio em minha varanda, mas o mesmo ainda não havia retornado, então me arrisquei sair pelos corredores. Os soldados me olhavam curiosos e embasbacados, não era minha melhor roupa, mas aquele decote era revelador demais, até para eles.

 

- Não lembro de ter dito para que se arrumasse. - por coincidência, talvez, Cayden saía da biblioteca no exato momento em que eu passava por ela.

- Não é como se já não tivesse me visto vestida em coisa melhor. - continuei o meu caminho, porém o príncipe insistia em me acompanhar. 

- Não está menos bonita. - ele ronronou. - A sala de jantar é por ali.

- Não vou para lá. - vi à porta ao qual me interessava. - Sugiro que volte. 

- E deixar de saber o que essa sua mente cruel está tramando? - um riso abafado soou. - É claro que não.

 

Quanto mais nos aproximávamos da porta, mais paranóica eu ficava. Cayden ao meu encalço não tirava a ansiedade e adrenalina de ser pega. 

 

- Shhiiii..- o empurrei contra a parede e espremi meu corpo contra o dele. Projetando uma parede fina de magia para que parecesse apenas um canto escuro do corredor. Uma senhora carregando toalhas, acompanhada de um soldado mais jovem passavam por ali.

- Posso muito bem me acostumar com esse tipo de contato. - sua voz rouca estava próxima ao meu ouvido e eu pude sentir sua respiração quente.

 

Quando me certifiquei de que estávamos sozinhos novamente me afastei, lançando um olhar de reprovação e desgosto para o príncipe que não conteve o sorriso.

 

- Para onde vamos? - ele perguntou.

- Se quer mãe seguir, não deveria questionar para onde vou. - abri a porta ao qual eu almejava e puxei o príncipe com rapidez para dentro.

 

Encarei todos aqueles pergaminhos e livros mágicos, aquelas poções e todo resto. Irassi estava deitada sobre a mesa de centro de seu sagrado templo, ao menos era assim que ela se referia a sua sala de poções, a mesma encarava uma pintura com desenhos de constelações que estava colada ao teto, a julgar o cheiro ainda estava fresco.

 

- Irassi. - a chamei. 

 

A maga se sobressaltou e não conseguiu evitar cair do móvel e dar de cara com o chão. O acessório que usava na cabeça e pendia sobre a testa chacoalhou e se enrolou em uma mecha de seus longos cabelos vermelhos. 

 

- Pela mãe, menina. - ela se levantou enquanto balançava a barra de seu vestido esverdeado. - Me assustou. - ela ergueu os bonitos olhos alaranjados e então o viu parado atrás de mim. - Não sei o que buscam aqui, mas devem ir. - seu tom de voz era sério. Ela tornou a olhar o desenho sob o teto e então para nós. - Por favor, devem ir. 

- Precisamos de ajuda. - pedi.

- Não, não posso ajudar. - ela se aproximou e nos empurrou levemente em direção à porta. - Por favor, menina. Por favor, vão. - ela sussurrou a última frase e então nos empurrou com mais força, fechando a porta em seguida.

- Acho que termina aqui, sua aventura. - Cayden enfiou as mãos nos bolsos e encostou à porta recém fechada. 

- Você. - apontei para ele. - A culpa é sua.

 

Olhei ao redor, teria que pensar em outra forma de sair do castelo sem que notassem. Segurei o colarinho da camisa de Cayden e fechei os olhos, concentrando minha magia e pensando nos portões do Palácio ou na cidade abaixo, qualquer que fosse o lugar. Uma rajada de um vento frio com cheiro de ferro bateu contra nossa pele, uma nuvem densa e escura nos envolveu e eu senti o corpo flutuar levemente.

 

- Como fez isso? - Cayden se afastou levemente. - Eu não...eu.

 

Abri os olhos e notei estar num beco escuro da cidade, enrosquei meu braço ao de Cayden e o puxei para as ruas da cidade.

 

- Somos um casal, passeando. - esclareci.

 

Cayden ainda me encarava confuso, não como se estivesse com medo, mas maravilhado com o que eu havia acabado de fazer.

 

- Demorou anos para que eu aperfeiçoasse esse tipo de magia. - ele falou, os passos calmos e leves, a voz mansa. - Me admira que tenha aprendido assim, tão rápido.

- Você também faz? - perguntei, enquanto o olhava e sorria calorosamente. Um casal.

- Ainda que eu tenha aprendido rápido,  eu também faço. - Cayden se aproximou, depositando um beijo calmo e demorado em minha têmpora, fazendo meu estômago revirar.

- Aí já é demais. - murmurei e ele riu. 

 

Todos que passavam por nós, nos olhavam com certa cautela. Afinal, era ele, Príncipe Cayden de Zimôr acompanhado de ninguém mais ninguém menos que a domadora de dragões, ainda que não soubessem a minha descendência. 

 

- Posso te ajudar com sua magia e te poupar das lições de meu pai. - ele se ofereceu. - Ele é um carrasco quando não conseguimos dar um passo.

- Mesmo que eu aceite, ainda aprenderei com seu pai.

- Então vai aceitar? - seus olhos expressavam leve surpresa. 

- Irei, seremos Rei e Rainha um do outro, não? - olhei para o céu, onde uma nuvem escura e diferente circulava rápido demais. 

- Seremos.

 

Apertei o passo, fazendo o príncipe me acompanhar um pouco atrapalhado e ele riu.

 

- Tenha calma raposa, vamos comer esse doce que você quer. - seu tom de voz se elevou levemente e só então notei que agora chamávamos atenção demais. 

- Venha. - sussurrei diminuindo a velocidade dos passos, fingindo timidez. - Nitio nos espera além das florestas. 

- Deixe-me nos levar dessa vez.

 

Cayden enroscou seus braços ao redor de minha cintura e estalou um rápido e molhado beijo em minha bochecha. Quando abri os olhos, estávamos entre as árvores altas e com a vista de um penhasco assustador e um mar amplo e violento. Nitio grunhiu para Cayden e arrastou sua cauda algumas vezes.

 

- Não diga que ele irá conosco? - Nitio grunhiu novamente.

- Ainda fede aquele crápula, meu amigo. - Falei enquanto me aproximava do Dragão e o montava. - E sim, ele irá. - estendi a mão para o príncipe.

- É bom que se acostume comigo. - Cayden caminhava com as mãos nos bolsos, os pés arrastados e uma calma irritante. - Será meu bichinho de estimação também. 

 

Nitio abriu a boca concentrando fogo e cuspiu uma pequena bola ao pé do príncipe. Cayden tornou a rir, aquele riso alto e forte, másculo e prepotente, sedutor e galanteador. Ele pisou sobre o pequeno fogo que crepitava e se dirigiu até nós, montando o Dragão atrás de mim. Senti o calor de seu peitoral contra minhas costas e sua respiração contra minha nuca, um arrepio tomou minha minha pele e os pelos se eriçarem. Bati levemente a mão na base do longo pescoço de Nitio e ele voou em direção ao mar, aquela água infinita, para a fronteira norte de Grimôr.

 

- Não gosto dele. - Nitio reclamou e eu sorri minimamente.

- Gostaria de não poder dizer o mesmo. - o príncipe respondeu com leve ironia, me deixando muda.

 

Surpresa, eu estava completamente surpresa e a julgar pelo silêncio de Nitio, ele também. Ninguém nunca havia entendido ou respondido, ninguém a não ser eu ou meu pai.



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