História Queen of disaster - Capítulo 40

Voltar a Chicago não estava nos meus planos, porém, depois de eu ser, praticamente, expulso da minha antiga casa, pela mulher que se dizia ser minha mãe, eu não tinha outra escolha a não ser retornar para a cidade que me fodeu. 
Eu estaria mentindo se dissesse que tudo o que Brenda Mellark me disse não havia me afetado, porque me afetou e muito. Meu peito doeu forte ao saber que pra ela, eu não passava de um arrependimento.
- De uma maneira, ou de outra, você teria que voltar. - minha prima me entregou uma xícara de café. - O ano letivo está acabando, e você precisa finaliza-lo. 
- Que se foda. - virei a xícara de café de uma só vez na boca. - Cacete, Johanna. - ralhei com minha prima. 
- Foi feito no fogo. - ela contrapôs, quase sorrindo. - É café, e não cerveja. 
Coloquei a xícara vazia, sobre a mesa de centro da pequena sala do apartamento, onde minha prima morava. Por mais que eu não quisesse admitir, Johanna sempre seria uma ótima amiga. Ela sempre me tirava das fossas onde eu me metia, me dava conselhos e me dizia palavras amigas. 
- Você quer reprovar mais um ano, seu animal? - não tão amigas assim. - Você vai fazer vinte anos, e ainda não saiu do ensino médio. Onde está o diabo da vergonha? 
- No inferno. - respondi, me jogando no sofá. - Você se importa se eu tirar um cochilo aqui? - perguntei, já fechando os olhos. - Não foi nada confortável ficar mais de dezoito horas montado em uma moto. 
- Adiantaria se eu dissesse que não? - ela perguntou, e eu fingi roncar. - Claro que não, folgado. - ouvi ela resmungar, antes da porta do apartamento bater com força. 
Não foi muito difícil eu realmente pegar no sono de verdade. O cansaço, tanto físico, quanto emocional, acabou me levando a inconsciência rapidamente. Eu não planejava ficar morando na minha antiga casa em Austin, mas também não planejava ser tão "bem" recebido pela minha mamãezinha. 

- Se eu tivesse a opção de finalizar o colegial em Austin, eu não estaria aqui. - murmurei mal-humorado. - Eu não queria estar aqui, droga. 
- Relaxa, priminho. - Johanna trancou seu velho carro, jogando a chave na bolsa. - Pelo menos aqui, você tem a mim.
- Grande porcaria. - respondi, jogando a chave da minha moto no bolso. 
De relance, vi minha prima revirar os olhos em puro tédio. 
- Eu não sei se eu vou suportar você, e esse seu mau humor do caralho. - ela falou séria. 
Encarei o rosto da minha prima, e suspirei cansado. Ela era uma das poucas pessoas que eu podia contar no momento. Talvez a única. 
- Desculpa, você não tem culpa da minha vida estar uma merda. - falei sincero. - Eu só não queria estar no lugar onde eu me ferrei.
- Você não quer ver a Katniss. - minha prima me cortou. - Está com medo de ver aqueles olhos cinzas, e não resistir. 
- Vai se ferrar. - falei, começando a andar mais rápido que ela. 
- Mau humor, pra mim, é falta de sexo. - ela gritou, e eu ergui o dedo do meio pra ela. - Você só está confirmando a minha teoria. - ouvi ela sorrir, e segui o meu caminho.  
De volta ao colégio, a minha primeira parada seria na secretária, onde eu tentaria, de alguma maneira, convencer Effie a me deixar finalizar o colegial, mesmo eu não tendo presenciado inúmeras aulas. A minha ideia inicial era finalizar os estudos no Texas, e depois procurar algum emprego por lá, e, quem sabe, fazer alguma faculdade ou curso, afinal, eu não poderia ganhar a vida lutando clandestinamente. 
Mas é claro que minhas ideias futuras foram por água a baixo, quando fui recebido por Brenda. Depois de sair da minha antiga casa, eu fiquei sem ter pra onde ir, e comecei a passar cada noite em um lugar diferente, gastando praticamente tudo o que eu havia economizado, e sendo assim, fui convencido por Johanna a voltar para Chicago. 
- Você ficou, praticamente, dois meses sem assistir aula nenhuma, Peeta. - Effie encarou o computador à sua frente, para logo em seguida olhar em minha direção. - Mas as suas notas eram ótimas até então. - ela piscou seus olhos azuis pra mim. - Se você se comprometer em comparecer à escola no horário em dois períodos, e aceitar aulas particulares, eu posso reverter o seu caso, e com sorte você finaliza o colegial antes de entrar na terceira idade. 
Ergui uma de minhas sobrancelhas em direção a mulher de meia idade, que tentava fazer piada com a minha situação, que estava uma grande merda. 
- Por mim, tudo bem. - recostei a cabeça na poltrona, fechando os olhos em seguida. 
- Ótimo, eu vou verificar a disponibilidade de Annie Cresta para lhe acompanhar nas tarefas. - a ruivinha amiga de Katniss? - Você está bem com as aulas, e o fato de ter que passar, praticamente, o dia todo na escola? 
- Pra mim isso é um grande caralho. - murmurei, jogando os braços atrás da cabeça. 
- O que você disse? - a voz aguda me fez sentar corretamente, ao notar que eu havia falado alto demais. 
- Eu disse que isso será um grande quebra galho. - sorri, fingindo animação. - Obrigado pela nova oportunidade. - agradeci saindo da sala. 
Andar pelos corredores parecia mais uma tortura do que qualquer outra coisa. Tudo parecia estar no mesmo lugar. O único deslocado ali era eu mesmo. 
Remexi no meu antigo armário, buscando as coisas necessárias para as próximas aulas, e bati a porta metálica, com uma força exagerada. Eu estava com raiva por ter que estar ali, porque eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, eu teria que ver a culpada do meu desastre, e eu não queria ter que encara-la tão cedo. 
Mas eu a vi. Era, praticamente, a primeira pessoa conhecida que eu encontrava. 
Ela estava linda. Parecia alguns quilos mais magra, mas nada que tirasse a sua beleza. Suas roupas a deixavam com um ar de menina perdida, e eu não preciso nem dizer o que eu pensei ao ver que ela havia acrescentado óculos de grau ao seu visual. Vocês não têm noção do quão fodidamente quente Katniss Everdeen ficava de óculos. 
O meu coração traiçoeiro estava dando cambalhotas em meu peito, ao ver a mulher que eu amava tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe de mim. 
Era óbvio que eu tinha vontade de correr até onde ela estava, e beijar aquela boca que eu tanto sentia falta, e depois tocar cada parte daquele corpo tão bem conhecido por mim, mas eu não podia fazer isso, e a minha razão nem deixaria. Então, por mais que eu quisesse admitir que eu sentia a falta dela, eu não o fiz. Apenas fiz o que minha mente dizia ser o certo no momento. Ignorei. Ou melhor... Fingi ignorar.
Nas primeiras semanas que se seguiram continuei a ignorar Katniss sempre que estávamos próximos. Eu sabia que ela planejava uma maneira de falar comigo, mas acabava desistindo quando via que eu não daria atenção. 
Sem nada melhor para fazer, comecei a focar nos meus estudos, levando as aulas particulares a sério. 
No começo, até pensei em uma maneira de fazer com que Annie Cresta falasse sobre o estado de Katniss, sem que ela notasse o meu interesse, mas não foi necessário. A própria ruiva falava da minha Florzi... de Katniss, sem que eu precisasse perguntar, e eu agradecia por isso. 
Pelo menos assim eu recebia notícias dela. 
- Peeta. - Delly apareceu na sala, me fazendo tirar a atenção dos rabiscos que eu fazia na folha do meu caderno. - Effie pediu para avisar a você, que Annie não poderá comparecer hoje. 
- Tudo bem. - agradeci, começando a juntar as minhas coisas. 
- Onde você vai? - a loira perguntou, em dúvida.
- Pra casa. - respondi. - Se Annie não virá para as aulas, eu não tenho motivos pra ficar aqui. - falei, quase sorrindo. 
Um pouco de paz, finalmente. 
- Não. Annie não virá, mas será substituída. - Delly sorriu. - Pode voltar ao seu lugar, e aguardar. - ela me deixou sozinho.
Cocei a nuca, me sentando novamente, e voltei a espalhar as minhas coisas pela mesa. Tornei a dar atenção para os rabiscos que eu fazia em meu caderno, sem imaginar o desastre que se aproximava. 
Um belo desastre. 
- Boa tarde - a voz chegou aos meus ouvidos, mexendo com cada terminação nervosa do meu corpo. - Desculpa o atraso. - a porta atrás de mim bateu, e o barulho dos saltos se aproximaram. - Por onde começamos, baby? 

Não

Não

Não

NÃO