História Queen of disaster - Capítulo 44

Abri os olhos e encarei o teto branco do meu apartamento. Além de eu estar totalmente insatisfeito com toda aquela situação, eu ainda tinha a impressão de que algo não acabaria bem, mas se eu pudesse voltar atrás eu não teria agido diferente. Talvez eu tivesse socado a cara de Gale com mais força, mas só isso. 
Olhei para o lado e encontrei Katniss, já de olhos abertos, me fitando. Ela mantinha sua mão sobre meu peito, enquanto sua cabeça estava deitada sobre o meu braço. 
Encarei de forma minuciosa o seu rosto pálido, que ainda parecia um pouco assustado. 
- Está tudo bem? - perguntei, procurando por uma resposta em seus olhos. 
- Agora sim. - ela respondeu, se aconchegando em meu peito. - Obrigada por ter aparecido na hora certa, por ter me protegido, por ter cuidado de mim, e ainda ter ficado comigo. 
A proximidade dela me assustava. Eu queria poder repeli-la, dizer que eu já havia feito o que eu podia, e manda-la para casa. Mas eu não conseguia. Eu precisava ter a certeza de que ela estava segura, e essa certeza eu só teria se ela estivesse comigo.  
- Eu vou tomar um banho, tudo bem? - ela assentiu, me dando espaço.
Me afastei dela devagar, e fui para o banheiro. 
Tomei um banho demorado, e depois escovei os meus dentes. Aproveitei para aplicar um remédio nos nós dos dedos, que estavam mais machucados do que eu esperava, enquanto pensava em uma maneira de não ceder a Katniss, e nem aos meus sentimentos. 
Eu podia ser um homem feito, ser forte e saber me livrar bem dos problemas da vida, mas eu não sei se eu saberia lidar com um coração partido novamente. Eu tinha medo de me aproximar de Katniss novamente, mas eu também tinha medo de deixa-la ir. 
- Você tem uns filmes bem legais. - ela comentou, encarando a minha estante nova. - Você comprou coisas novas pra sua casa? - perguntou, cruzando os braços. 
Terminei de secar meus cabelos com a toalha, e a joguei sobre a guarda do sofá. 
- Não, os filmes, CD's, e mais alguns utensílios pessoais, eu peguei na minha antiga casa. - respondi, buscando no fundo da estante uma fotografia, para estender na direção de Katniss. - Coisas que eu julguei importantes. 
Ela descruzou os braços, e analisou a fotografia por algum tempo.
- São seus pais? - ela perguntou, e eu assenti. - Você tem os olhos do seu pai.
Ela largou o porta retrato na estante, e eu estendi uma nova fotografia pra ela. 
- É o Ethan? - ela perguntou novamente, e eu apenas concordei com a cabeça. - Ele era muito bonito. 
- Ele era o único nerd que conseguia chamar a atenção das garotas com seu jeito tímido de ser. - falei, sorrindo. - Éramos muito diferentes. 
- Vai ver por isso a amizade deu tão certo. - ela falou, sem tirar os olhos da foto. - Você jogava basquete? - perguntou, se referindo ao uniforme que eu e Ethan usávamos. 
- Eu já fui um cara legal. - comentei, sorrindo. - Um mocinho, na verdade. - ela quem sorriu dessa vez. 
Eu fiz nosso café da manhã, já que Katniss não sabia, nem se quer, fritar um ovo. Ela não reclamou quando eu coloquei panquecas com bacon em sua frente. Pelo contrário. Ela devorou tudo, em poucos segundos. 
Quando retornei para Chicago, pude notar o quão mais magra ela estava, mas agora a analisando ali, vestindo a minha camiseta, e devorando as panquecas juntamente com o café, eu pude perceber que ela já estava com o peso normal. 
- Cadê seus óculos? - perguntei, curioso. 
- Eu resolvi colocar as lentes para ver a luta. - ela respondeu encarando a panqueca em sua mão. - Eu não queria parecer uma nerd, não ontem à noite. 
- Eu gosto. - ela me encarou. - Que você pareça uma nerd. É bonitinho. - falei rápido, e ela sorriu. - Você usa lentes há muito tempo? 
- Desde os meus 15 anos. - ela pareceu pensar. - Desculpa não ter contado antes. Na verdade, só Finn, Madge e Annie sabiam. Eu tinha vergonha. 
- Não tem motivos. - falei, mordendo um pedaço da minha panqueca. 
- Eu não sou loira. - ela soltou de supetão, me fazendo encara-la. - Não tão loira assim. Mais puxado pra um castanho claro. - eu nada disse. - O meu primeiro homem foi o Finnick, e depois dele, veio mais dois, e então você. - ela confessou, e eu continuei calado - Eu detestava Annie Cresta pelo simples fato dela ser uma garota pobre. O pai dela foi enriquecendo aos poucos com muito esforço, e eu a escolhi para ser minha amiga, pois sendo rica ela merecia andar ao meu lado. - eu sentia que Katniss estava se esforçando para me contar todas aquelas coisas. - Eu sabotei a apresentação de Delly na 7ª série, para que eu pudesse ficar com o papel principal na peça. Eu dei dinheiro a um dos jogadores do time de basquete para que ele "quebrasse o pé", e o treinador tivesse que tirar o Finnick do banco, para jogar no lugar dele. Finnick arrasou, mas quando descobriu o que eu fiz, ficou meses sem falar direito comigo. - Katniss suspirou. - Eu ficava com o administrador do jornal da escola, para que ele publicasse coisas boas a meu respeito, e denegrisse a imagem de qualquer pessoa que entrasse em meu caminho. 
Ela se calou por alguns minutos, e eu também fiquei em silêncio, apenas para ter a certeza de que ela havia acabado de falar. 
- Todo mundo comete erros. - falei por fim. - Às vezes eles nos trazem consequências, e outras vezes, não. 
- Eu só quis te contar tudo isso, para que você entenda que eu não quero mais que exista mentiras entre nós dois. - ela alcançou a minha mão por cima da mesa. - Eu sinto a sua falta todo o santo dia. - meu coração acelerou. 
- Eu estou aqui. - tentei brincar, mas ela me olhou séria. 
- Não é só da sua presença física, não. - seus olhos analisaram o meu rosto. - É do contato. Contato da sua boca na minha, da sua pele tocando a minha, das suas mãos me tocando, em todos os lugares possíveis. - porra, Katniss. - Falta de ser sua, e de ter você. - puta merda. 
- Katniss, para com isso. - pedi afastando sua mão da minha, e levantei da cadeira. - Acho que está na hora de você voltar pra casa. - falei, virando de costas para ela. - Seu pai deve estar preocupado. 
- Só vou se você olhar nos meus olhos, e dizer que quer que eu vá embora. - ela respondeu, e eu amaldiçoei sua teimosia. - Nesses meses em que ficamos separados, você esteve com alguém? - sua pergunta me pegou de surpresa. - Responde, por favor? 
Eu não sabia onde ela queria chegar com aquela conversa. 
- Mais ou menos. - falei, lembrando da noite em que eu tentei sair com uma garota. 
- Como assim mais ou menos? - ela perguntou em dúvida. 
Fechei os olhos, lembrando da noite em que eu havia bebido demais em Austin. A garçonete que abastecia meu copo, foi a mesma que me levou para a sua casa. 
Foi com ela que eu quase cheguei aos finalmentes. E eu teria chegado se não fosse por um pequeno detalhe: a tatuagem. 

               Flashback On 

Subi meu corpo pela cama, parando com meu rosto a centímetros do dela. Cobri seus lábios, sempre tão macios, com os meus.
- Só falta a tatuagem. - falei, colando a minha testa na dela.
- Só falta a tatuagem. - ela confirmou, tocando a tatuagem da minha costela. - Essa aqui é a minha preferida. - ela raspou os dedos por toda a extensão da minha costela, e sorriu. - Promete nunca deixar ninguém tocar nela?
- Prometo tudo o que você quiser, Flor. - falei, sorrindo. - Tudo o que você quiser.

                Flashback Off

- Você quer ouvir a verdade? - virei meu corpo de frente para o dela. - Então, eu vou dizer a verdade. - falei alto o bastante para assusta-la. - Desde aquele maldito dia, naquele auditório, tudo o que eu tenho feito é tentar te esquecer. Eu achei que voltando para Austin, as coisas se acertariam, e eu deixaria de pensar em você. Achei que se eu beijasse outra boca, eu não lembraria mais da sua. Que se eu fosse pra cama com outra mulher, eu não lembraria mais do seu corpo contra o meu. Mas eu me enganei. - falei, tentando conter a raiva que crescia em mim. - Eu não consigo tocar em ninguém, e muito menos deixar que alguém me toque, sem que seus olhos cinzas venham me atormentar. Você partiu a porra do meu coração, Katniss.
- Peeta... - ela sussurrou meu nome, mas eu ergui a mão em sua direção, e ela se calou. 
- Você me levou do céu ao inferno, em questão de segundos. E eu percebi que não importa o que eu faça pra tentar te esquecer, eu não vou conseguir, porque eu pertenço a você, e isso nunca vai mudar.
Um sorriso, incrivelmente lindo, desenhou o rosto de Katniss, e ela se aproximou de mim, tocando o meu rosto. Seus dedos acariciaram a minha bochecha, minha sobrancelha, minha orelha, meus lábios, e ela descansou sua mão em meu maxilar. 
- Eu estou aqui, baby. - ela repetiu a minha frase da noite anterior. - E se você me der uma chance, eu prometo nunca mais te fazer sofrer. 
Por mim eu a beijaria ali mesmo, mas eu ainda tinha medo. 
A decepção que Katniss me trouxe doeu mais em mim, do que qualquer golpe que eu já tenha levado no ringue. Mas eu sentia que ela estava sendo sincera, e que mesmo que ela nunca tenha dito que me amava, o que ela sentia por mim era verdadeiro, e isso me acalmou. 
Ergui minha mão em sua direção, e acariciei seu rosto, puxando-a para um abraço em seguida.
Eu precisava dela, e eu ia ceder a qualquer momento. 
- Peeta Mellark! Abra essa porta. - o grito de Johanna fez com que eu me afastasse de Katniss rapidamente. - Eu sei que você está aí. Abra essa porcaria.
Encarei Katniss, e ela soltou um pequeno sorriso, dando de ombros em seguida. 
Caminhei apressadamente até a porta, e a abri, pronto para gritar com Johanna também, mas antes que eu abrisse a boca, um tapa forte acertou o meu rosto. 
- O que você tem nessa sua cabeça? - ela perguntou, me empurrando para o lado. - Você tem noção da insanidade que você cometeu? 
Minha prima parou no meio da sala, e encarou Katniss que estava parada na soleira da cozinha. 
- Bom dia, Johanna. - Katniss arrumou minha camiseta em seu corpo. 
Johanna me encarou séria. 
- Outra insanidade? - minha prima questionou. - Você anda se drogando? 
Johanna me encarava com cara de poucos amigos. Eu sabia do que ela estava falando, mas eu não queria me pronunciar na frente de Katniss. 
Eu só percebi que Katniss havia se mexido, quando ela parou diante dos meus olhos, com a chave de Finnick em mãos. Ela deu um pequeno sorriso em minha direção. 
- Eu vou embora com o carro do Finnick. Ele trará a sua moto ainda hoje. - ela beijou a minha bochecha demoradamente, e eu ouvi Johanna suspirar. - Nos vemos na escola. 
Sorri, ainda sentindo seus lábios em minha bochecha, e só acordei quando a porta bateu, e Johanna parou em minha frente imitando o meu sorriso. 
- Retardado. - ela soltou, batendo em meu peito. - Você tem noção da quantidade de problemas que você arranjou por culpa dela? 
- Não. - falei, sentando em meu sofá. - Conte-me mais sobre isso. - minha prima revirou os olhos. 
- Peeta. Sou eu. Johanna. A filha da irmã do seu pai. Sua prima. - ela falou como se eu fosse uma criança. - Eu só quero o seu bem. Eu sei que você ama aquela garota, mas vocês não tem futuro. Coloque isso na sua cabeça. 
- Quer que eu fuja como você fez? - questionei, e não dei tempo pra ela responder. - Quer que eu faça igual você fez, quando descobriu que estava apaixonada pelo Ethan? Fuja pra outra cidade? 
- Rachel era minha amiga, e eu sabia que ela era melhor pra ele do que eu. - Johanna soltou sem emoção na voz. - Isso pra mim é amor. Querer a felicidade da outra pessoa, mesmo que não seja ao nosso lado. 
Minha prima começou a andar em direção a porta, e eu me senti culpado por ter tocado naquele assunto. Ela ainda sofria por nunca ter sido sincera com Ethan e Rachel, sobre seus sentimentos. 
- Johanna. Desculpa. - falei levantando do sofá. Ela parou de andar, mas continuou de costas para mim. - Mas quem decide o que fazer da minha vida, sou eu. Eu realmente amo Katniss, e eu acredito que a gente possa sim, vir a dar certo um dia. Só depende de nós. 
- Vocês são como fogo e água. - minha prima virou em minha direção. 
- Os opostos se atraem. - sorri. - Obrigado por se preocupar, mas eu já sou maior de idade, e eu respondo por minhas escolhas. 
Minha prima ergueu o dedo do meio em minha direção. 
- Que se foda! - e ela se foi.  

O final de semana passou rapidamente. Eu não fiz nada além de dormir, e pensar na minha vida. As palavras de Johanna estavam martelando na minha cabeça, assim como as de Katniss.
Eu sabia que Johanna tinha razão. Eu e Katniss não tínhamos muito a ver, mas o que eu sentia por ela, já era mais forte do que qualquer diferença que pudesse existir entre nós dois.  
- Bom dia, baby. - Katniss apareceu, antes mesmo de eu ter terminado de estacionar a minha moto corretamente. 
- Bom dia, Kat. - sorri, tirando meu capacete, e descendo da moto. - Tudo bem? 
- Agora que você chegou, ótimo. - ela sorriu, e eu olhei para os lados, negando com a cabeça. - Passei o final de semana inteiro pensando em você. - ela sorriu abertamente. - E você? Pensou em mim? 
Sempre.
- Esse jogo é perigoso. - comentei, encarando seus olhos cinzas, e ela se aproximou do meu rosto. 
- Só pra quem tem medo. - ela encarou minha boca, e eu contive a minha vontade de beija-la ali mesmo. - Do que você tem medo, baby? 
- De quase nada. - apertei seu nariz. - Mas você deveria ter medo de mim. Vamos entrar.
Comecei a andar a sua frente, mas ela me alcançou, pegando minha mão, e entrelaçou nossos dedos em seguida. Eu não fiz menção de repelir seu ato. Na verdade, eu apenas apertei sua mão entre a minha, e nos permiti caminhar daquela maneira. 
- O que está acontecendo? - Katniss questionou, assim que chegamos a entrada da escola. - Por que tem tanta gente aqui? 
Encarei o mar de pessoas, que estava concentrado em frente à escola, entre cochichos. 
Assim que eu e Katniss nos aproximamos, o burburinho cessou, dando espaço a olhares reprovadores em nossa direção. Para ser mais exato, em minha direção. 
Um casal estava ao longe, acompanhados de dois policiais, que olhavam ao redor, parecendo buscarem por alguém. O olhar da mulher recaiu, primeiramente sobre Katniss, e depois parou em mim. Seus olhos, que eram muito parecidos com outro par, e que eu não me lembrava de quem, estavam chorosos, e seus lábios tremulavam levemente, enquanto ela apertava a mão do homem ao seu lado.
Seu indicador apontou em minha direção, e eu acabei parando de andar, fazendo Katniss parar ao meu lado.
- O que foi? - perguntou, confusa. - Os Hawthorne estão aqui. - ela comentou, segundos depois, enquanto eu assistia as 4 pessoas andando em nossa direção. - A polícia também... - sua voz saiu mais baixa, e com uma ponta de pânico. - Peeta... - Katniss sussurrou, amedrontada.
- Peeta Mellark? - o policial mais alto, que caminhava na frente do casal Hawthorne, questionou com a voz firme.
- Sim. Sou eu. Do que se trata? - perguntei, sério, de cenho franzido.
- Você está preso por tentativa de homicídio. - disse ele, puxando um par de algemas do bolso traseiro da calça, e o estendeu em minha direção.
Aos poucos, a mão de Katniss soltou a minha, me fazendo encara-la.
O policial falava comigo, enquanto me puxava, para me algemar. Meu coração batia forte em meus ouvidos, enquanto eu buscava os olhos cinzas da minha garota, que parecia paralisada demais para me fitar.
- Katniss. - chamei, sentindo o policial puxar meus braços pra trás. Ela piscou algumas vezes, antes de olhar em minha direção. - Vai ficar tudo bem, eu prometo. - foi o que consegui dizer, antes de ser puxado pra longe dela.