História Queen of Rain - Black Mustang (Part. II)

Dia seguinte…

Point of View: Emma Immers

Não me lembro de exatamente tudo que aconteceu na noite passada… Só me lembro de uma discussão no final da noite, e mais nada.

Quando acordei e abri os olhos eu os fechei de novo. Minha cabeça doía como se fosse explodir a qualquer momento. Uma dor latejante, e horrível. Meu corpo doía como se eu tivesse dormido no meio da Sunset Strip e carros tivessem passado em cima de mim a noite inteira. Demorei para conseguir levantar da cama, e cambalear até o banheiro do corredor do primeiro andar. Meus olhos ardiam, e eu mal conseguia mantê-los abertos.

Entrei no banheiro e não me assustei ao ver Jesse dormindo no box. Antes de lavar meu rosto, eu simplesmente liguei o chuveiro do banheiro e fechei a porta do box não me assustando ao ouvir um grito da loira alta lá dentro. Me encaminhei até a pia e lavei meu rosto com água gelada, na intenção de me despertar um pouco do sono e melhorar a ardência nos meus olhos. Digamos que meus olhos arderam mais ainda, mas foram parando com o passar do tempo e depois o avermelhado foi sumindo. Depois de fazer minha higiene completa matinal, eu me virei a tempo de ver uma loira alta enfurecida me encarando.

— Que foi? Banho gelado pela manhã faz bem pra saúde. — Falei, minha voz saiu grogue e ela bufou de raiva antes de sair do banheiro batendo os pés direto para o quarto dela.

Olhei para o chão encarando os rastros de água que ela deixou pelo corredor e fui direto para o meu quarto. Eu sabia que ela provavelmente iria pegar roupas no quarto dela para tomar um banho decente, então eu peguei uma muda de roupas no meu armário e fui direto para o banheiro do segundo andar. Tomei um banho demorado e quente… sei que disse que banho frio pela manhã faz bem, mas tenho pele sensível… portanto, coragem me falta para tomar banho frio de manhã.

Meu corpo ainda doía, mas depois do banho quente ele até que relaxou. Me sequei no banheiro mesmo, me vesti e enrolei outra toalha nos meus cabelos. Desci de novo para o meu quarto e depois de ajeitar meu cabelo, fui direto para a cozinha e encontrei com Tiffany lá. Estava com uma cara de poucos amigos e tomava um copo d’água.

— Você tomando água? Normalmente você costuma tomar refrigerante… — Pensei alto, ela me mostrou o dedo do meio e fez uma careta antes de revirar os olhos. — Me passa uma aspirina, também estou com dor de cabeça.

Ela não disse nada, apenas me deu a caixa dos remédios e eu tomei um. Depois disso me juntei a outra ruiva na sala, e assistimos a um show do Motley Crue. Não tinha nada melhor para assistir àquela hora; eram 14:30 da tarde. As meninas foram se misturando com a gente na sala e assistimos ao resto do show do Motley, depois um do Aerosmith.

— O que aconteceu ontem, afinal? — Jesse perguntou, acabando com o silêncio entre nós.

Eu não lembrava de absolutamente nada, então o que me restou foi só olhar para as outras esperando que soubessem o que aconteceu. Ava e Carol suspiraram pesado.

— Lembram até que parte? — Ava perguntou se inclinando pra frente e apoiando os cotovelos nos joelhos enquanto nos encarava, ela estava sentada na única poltrona da sala.

— Só lembro de irmos ao Troubadour, agora o que fazemos lá, não faço a mínima… — Dei de ombros encarando a loira da poltrona, eu estava sentada no chão.

— Eu lembro de brincarmos de vira-vira… lembro da Carol fugindo de alguém… da Tiffany gritando que nem maluca… lembro de brigar com o Tommy e transar com um cara, e dele transar com uma puta lá… e também lembro da Ava pegando o guitarrista amigo do seu namorado. — Jesse falou com certa dificuldade, sua voz estava grogue e grossa, ela olhava o nada enquanto falava e depois encarou a todos.

— Só lembro de transar com meu amorzinho num carro, de resto, não lembro de nada. — Tiffany deu de ombros.

— Ok, vamos por partes. — Ava começou e Carol se colocou na mesma posição que a loira, só que no sofá de três lugares ao lado de Jesse que estava no meio dela e de Tiffany. — Nós fomos ao bar, encontramos com o Motley, e foram o Jon, o Richie, e também foi o David Bryan que também é do Bon Jovi. Nikki nos chamou pra um racha e a maluca da Carol inventou de todo mundo brincar de vira vira pra ficar louco no meio do racha.

— Bem a cara dessa imbecil! — A ruiva vocalista exclamou cruzando os braços e fechando a cara completamente.

— Cala a boca e deixa ela falar. — A morena respondeu fechando a cara completamente também.

— Apostamos o racha, e a Carol ganhou. Mas, Tiffany, seu namorado estava num carro onde o Richie que estava dirigindo e ele quase capotou... numa virada lá que ele derrapou, o carro quase virou e capotou porque ele estava correndo… lógico, estávamos num racha… enfim, ele desabafou ontem depois que a gente ficou. — Ava foi cortada por um grito da ruiva.

— CAROLINA, EU VOU TE MATAR! PRA QUE INVENTOU DE APOSTAR RACHA?! MEU NAMORADO PODIA ESTAR MORTO AGORA SUA INCONSEQUENTE! — Tiffany gritava como se a vida dela dependesse disso.

— NÃO IA FAZER DIFERENÇA NENHUMA NO MUNDO! ELE MORTO OU VIVO NÃO FAZ NADA PRA AGRADAR A NINGUÉM MESMO. — Carol gritou em resposta.

Não preciso dizer que elas começaram a discutir e depois de um tempo, Tiffany parou de gritar para que voltássemos a falar sobre o que aconteceu ontem. Ela ainda bufava o tempo todo, mas já tinha parado de gritar. Carol não aparentava estar com raiva, na verdade, nem quando estava brigando ela se alterou muito, ela apenas gritava em resposta.

— Enfim, continuando… depois do racha, nós ficamos com o carro do Motley, um Mustang Preto, então agora temos dois carros. — Ava voltou a explicar. — Mas deu uma confusão ontem saindo do bar. Tiffany, você transou com o Jon no carro do David… a ferrari vermelha. E a confusão que deu foi na hora de ir embora, que você não queria colocar a roupa e quase saiu nua de dentro do carro… não, você não saiu, mas foi quase.

— Depois disso viemos pra casa e ela não parou de encher o saco. Porém, como eu e a Ava estávamos em um estado mais sóbrio, viemos dirigindo os dois carros e agora eles estão ai na frente. — Carol continuou a explicação. — Tiffany subiu para o quarto dela, e vocês duas foram para o de vocês… daí eu e Ava ficamos aqui na sala conversando e…

Fez-se um longo silêncio e as duas se entreolharam, sorriram de leve uma para a outra enquanto eu arregalei os olhos só de imaginar.

— VOCÊS TRANSARAM?! — Pensei alto, as outras arregalaram os olhos tanto quanto eu, enquanto Ava e Carol franziram o cenho.

— Ta maluca, garota?! — Carol foi a primeira a dizer.

— Então porquê do silêncio?! — Jesse perguntou aumentando a voz.

— Não fizemos silêncio, eu fiz uma pausa, sendo que essa maluca começou a gritar do nada! Não transamos, caralho! — Carol explicou aumentando a voz.

— Então o quê vocês fizeram porra?! — Tiffany perguntou impaciente.

— Eu escrevi uma música. Sobre o racha e sobre a nossa vitória ontem. — Carol finalmente respondeu.

— E eu compus a melodia… ontem mesmo. — Ava continuou.

— Aonde está a letra? — Tiffany perguntou de forma mais calma.

Carol pegou um papel do bolso e entregou a ruiva, quando a mesma leu a letra, me entregou e eu li a letra junto de Jesse que estava sentada no assento atrás de mim no sofá.

— Eu gostei da letra… é engraçada, e tem uma boa história por trás… — Falei depois de entregar a letra de volta para Carol.

— Eu também gostei, e acho que com o solo que Carol pode encaixar na melodia… vai ficar melhor ainda. — Ava comentou olhando diretamente para a morena que devolveu o olhar com um sorriso de lado nos lábios.

— Ok, o que está acontecendo aqui? — Jesse perguntou notando o clima entre de suspense entre as duas.

— Eu fiz a melodia, mas a base dela não é da minha guitarra. É do baixo. — Carol respondeu, eu arqueei uma sobrancelha.

— Ah que lindo… — Falei com ironia, em seguida revirei os olhos. — E eu faço o quê? Vou ter que criar uma melodia pra ficar abaixo do baixo?

— Emma, você não vai tocar. — Carol afirmou e eu me ajoelhei no chão virando diretamente pra ela.

— Como é que é?! — Aumentei a voz inconscientemente, estava realmente incrédula com o que ela disse.

— Você não vai tocar. — Carol respondeu com toda calma, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

— E eu vou fazer o que?! Dançar em um lado do palco com uma saia havaiana?! — Perguntei com sarcasmo, em seguida levantei e cruzei os braços esperando ela responder.

Carol ainda tinha a mesma expressão de antes. Estava com um sorriso de lado nos lábios como se fosse um assassino pronto pra matar alguém que ela quisesse muito.

— Emma, você não vai tocar porque você vai cantar. — Carol levantou e eu me esforcei muito pra não me encolher.

Minha expressão era de uma confusão completa, mas eu não tive muito tempo de digerir o que tinha acabado de ouvir, pois Tiffany levantou do nada com as mãos na cintura encarando a morena já pronta para começar a gritar.

— E EU VOU FAZER O QUE CAROLINA?! QUEM TE DEU O DIREITO DE TROCAR TODO MUNDO DE POSTO NA BANDA?! ESTÁ MALUCA?! — A ruiva gritava e seu rosto ficou vermelho de tão alto que ela gritou.

— Tiffany, nós vamos explicar agora. Mas antes, senta. — Ava se intrometeu e a ruiva só fez um sinal com a mão para a loira, mas sem tirar os olhos da morena.

— Não vou sentar nada… — Ela respondeu encarando a morena com os olhos arregalados e os dentes trincados. — Quem te deu o direito de colocar Emma pra cantar?

Carol notou que a ruiva estava mesmo falando sério e claramente estava puta, e acabou ficando frente a frente com sua irmã gêmea. As duas se encaravam como se fossem se atracar a qualquer momento, e eu não tinha a mínima vontade de intervir.

— Acha que só por ser alta é inume? — Tiffany perguntou olhando nos olhos da morena que não tinha expressão de absolutamente nada.

— Ouve primeiro. Depois vem falar merda. — Foi a única coisa que Carol disse, com uma voz calma como se tivesse o controle da situação inteira.

Tiffany não disse mais nada, cruzou os braços e virou-se olhando diretamente para Ava. A loira respirou fundo antes de começar a explicar.

— Emma tem uma voz aguda muito boa, e a sua voz, Tiffany, é rouca. Vocês vão cantar juntas. Carol vai assumir a bateria, Jesse fica na guitarra e eu no baixo normalmente. — Ava explicou e eu não consegui manter uma expressão de compreensão, pois não tinha entendido nada.

— Perai, eu vou ter que solar? Eu vou ter que fazer um solo de guitarra? Sério isso? — Jesse finalmente se meteu, parecendo confusa e um tanto quanto irritada

— Por que Carol e Jesse tem que trocar? — Pensei alto, com o cenho franzido.

— Porque como você trocou seu posto, vai cantar ao invés de tocar guitarra… eu imaginei que seria muito foda trocar quase todo mundo… e como a Jesse sabe tocar guitarra, ficaria legal. — Carol deu de ombros após sua explicação, foi a vez da Jesse levantar do sofá.

— Carolina, você sabe que eu odeio solar. Fico nervosa, nunca consigo terminar o solo. — Jesse olhou diretamente para sua melhor amiga. — Eu não vou ficar na guitarra.

— Jesse… — Ava começou, já que Carolina revirou os olhos. — Não terá um solo de guitarra… terá um solo de baixo. Por isso não vemos problema de você fica na guitarra.

— Depois, no ensaio, veremos como vai ficar isso. Caso não fique legal, voltamos para o modo normal. Cada uma em seu posto e pronto. — Disse a morena, depois de alguns segundos de silêncio.

Concordamos com o que ela disse, e nos mantivemos em silêncio apenas olhando o nada.

— Não tem nada pra fazer, vamos ensaiar essa música logo. — Jesse foi quem cortou o silêncio.

— É melhor, não vou conseguir parar de pensar nisso mesmo. — Tiffany deu de ombros sentada no sofá.

— Então vamos. — Ava foi a primeira a levantar do sofá.

Fomos direto para o quarto da Jesse. O quarto dela era o maior da casa, pois tinha que caber a bateria dentro. Carol se sentou no banco da bateria, eu peguei minha guitarra no meu quarto e entreguei para Jesse, enquanto Ava foi no quarto dela pegar o baixo.

De início, foi difícil de todo mundo se acostumar com seus novos postos, porém, com a medida que a melodia ia criando forma nós ficávamos cada vez mais animadas. Quem ouvisse de primeira, acharia esquisito que a intro começasse com um baixo, pra depois entrar a guitarra e no final ter um solo de baixo com algumas escalas da bateria. A melodia demorou mais para tomar forma, mas eu e Tiffany cantando a música e debatendo formas melhores de cantar tais partes foi o melhor de tudo pra mim.

Eu e a ruiva mais alta cantávamos em perfeita harmonia com a melodia que as outras estavam tocando. Resolvemos que ela faria uma mudança no tom de voz, no momento em que cantasse um trecho da música que era seguido de um riff de guitarra… e eu finalizaria com um agudo alto e estridente… ficou melhor quando tentei imitar o Steven Tyler só de zoeira. Uma zoeira que deu certo, pois o grito completamente afinado enquanto eu balançava a cabeça se encaixou perfeitamente com as batidas da bateria.

Ficamos quase o dia todo pra finalizar a música, e gravamos em mais uma das nossas fitas antigas de gravação. Digamos que todas nós estávamos cansadas, porém, felizes com o resultado final. Com certeza, Black Mustang seria uma música que no momento que o produtor ouvisse… acharia improvável. Mas como é o público que decide, estou confiante que será uma música diferente que irá vingar. Ainda mais por todo mundo ver eu e as meninas trocando de posições no meio do show/palco.

— Acho que podemos fazer isso em mais músicas. — Disse Jesse, enquanto limpamos as sujeiras de comidas que levamos para o quarto dela.

— Eu adorei fazer isso pra falar a verdade… Foi difícil se acostumar de início, mas eu adorei. E fizemos uma música diferente, que eu tenho certeza que vai marcar. — Falei sentindo minha voz arranhar, estava com dor na garganta de tanto cantar o dia todo. — Eu sinto que o público vai adorar.

— Eu também sinto isso… por mais estranho que seja. — Tiffany admitiu, a voz dela estava rouca como se ela tivesse forçando pra falar. — Eu adorei cantar com a Emma, mas não é muito normal ter um solo de baixo na música… porém, ficou ótima. E não é nem porque a música é nossa.

— Agradeçam ao porre de ontem, se não fosse ele, nós estaríamos agora vendo um show do pink floyd na TV, e não compondo. — Disse Ava guardando seu baixo na capa de proteção do mesmo.

— E é isso que vou fazer agora, porque não tem mais nada pra fazer. — Falei, em seguida sai do quarto indo direto pra sala.

— Eu vou é fazer alguma coisa pra comer… porque to morrendo de fome. — Carol seguiu para a cozinha.

— Ai gente, eu vou é tomar banho e dormir. Isso sim. — Tiffany subiu para o segundo andar.

O resto da noite seguiu normalmente. Carol fez janta, comemos, assistimos a clipes na MTV e depois fomos dormir para o dia seguinte que seria de gravações na Geffen Records.

[...]