História Quem Dera Fosse Verdade - Capítulo 3

Paralisou por alguns segundos, eram muitas informações para sua mente assimilar. Heloísa sorrindo pra ele, chamando ele de “meu amor” e agindo como se fosse sua noiva. Piscou algumas vezes a vendo o chamar.

- ah? Ah! Sim… - tossiu coçando a garganta - eu só estava falando com a Anastácia sobre nós- sorriu amarelo

- Então essa é a Anastácia? - Heloísa falava como se mastigasse o nome dela em sua boca, e sentia um gosto amargo, o gosto do ciúme

- Não sabia que Leônidas falava de mim para você- disse Anastácia 

- Na verdade foi bem pouco, bem vago- rebateu a costureira 

- Bom… - Leônidas interrompeu antes que acontecesse uma guerra - eu vim aqui apresentar a minha mulher a vocês-  minha mulher, ele enchia a boca para dizer isso, mesmo que essa brincadeira durasse pouco ia aproveitar como se fosse o último dia de sua vida - essa é a Heloísa, Anastácia- 

- Prazer - Heloísa deu um sorriso amarelo e viu a mulher retribuir o mesmo - mas infelizmente, Léo, não podemos demorar, eu tenho muito o que fazer em casa ainda e você também- 

- Verdade, minha rosa. Podemos marcar outro dia para que meu pai possa conhecer a minha vida- disse com um pouco de mágoa 

- Podemos sim- respondeu Anastácia 

❤️

A caminhada até o casarão foi bem quieta, os braços ainda se encontravam no mesmo lugar, um agarrado ao outro, Leônidas prendia a respiração na esperança de não fazer algum movimento brusco que a fizesse querer desfazer aquele pequeno nó. Ele observava como o corpo dela reagia à toda aquela ideia, ele sabia que dentro da cabeça dela se passasse muitos questionamentos, como:

“Porque eu aceitei participar disso?” 

A respiração dela estava acelerada e as mãos dela suavam um pouco e a pele se encontrava fria, ela estava com medo. 

- minha rosa, eu acho melhor desfazer essa mentira- ele disse não conseguindo suportar a aflição dela

Heloísa virou seus olhos para o homem ao seu lado, estava pensando em tanta coisa que havia esquecido que Leônidas estava ali, concordou com a cabeça mas permaneceu pensativa. 

- hoje mesmo eu esclareço tudo- ele disse e logo em seguida Heloísa voltava para a posição em que estava, com seus braços cruzados aos dele e se pôs a andar como se mal tivesse ouvido o que ele acabara de falar.

Ela pensou no que poderia acontecer se Anastácia descobrisse a verdade, se menosprezariam Leônidas mais do que já faziam, pensou bastante e tudo se tornou escuro quando lhe viu algo ainda pior. Será que Anastácia se aproveitaria da situação? Ela viu o modo como a mulher o olhava, será que ainda sentia desejos, será que seria capaz de brincar com os sentimentos dele assim? 

- na verdade, Leônidas- ela parou de andar tendo a atenção voltada a ela - acho melhor continuarmos assim 

- Tem certeza? Eu acho bom que a gente…-

- Não, está decidido! Somos casados… de mentirinha - riu, isso a deixava nervosa 

- Tudo bem, minha rosa- ele gostou da ideia, talvez pudesse aproveitar a sensação de ser casado com Heloísa Camargo 

- Ninguém mais precisa saber- ela continuou falando, enquanto os pensamentos de Leônidas vagavam por uma vida perfeita ao lado dela 

Imaginou o dia perfeito, que seria ele acordando com ela ao seu lado e sempre antes de sair para seus afazeres, a enchesse de beijos e ouvindo da boca dela um “eu te amo” sussurrado com tamanha paixão. Pensou em como seria dividir uma casa, um sofá, uma mesa de jantar e uma cama só com ela. 

Imaginou a noite caindo e ele chegando em casa e tendo ela a sua espera e todas as noites frias se fariam quentes com o amor que ele daria a ela. A forma como ele a tomaria na cama que seriam deles, os beijos que espalharia por sua pele, as marcas que deixaria para que na manhã seguinte se lembrassem de tudo que fora feito, e aquela boca na sua, aquela língua na sua. 

Leônidas não se deu conta mas olhava para Heloísa como se estivesse admirando uma obra de artes, seus olhos caíram para sua boca e observava ela mexer mas não ouvia nada 

- LEÔNIDAS!- ela gritou, um grito que fez com que ele desse um pulo - onde você está? Tá quase babando- 

- Desculpe, minha rosa. Me desliguei por um tempo- 

- Hmm.. sei… isso tudo é uma mentirinha, ok?- 

- Ok, minha rosa- 

❤️

- aí estão vocês!- disse violeta assim que os vira entrando em casa, mas parou quando percebeu os dois juntos, e logo sua boca formava um sorriso enorme e sugestivo 

Heloísa e Leônidas não entendiam e entao acompanharam o olhar da mais velha e perceberam que ainda estavam abraçados um ao outro e na mesma hora desfizeram o nó que seus braços tinham

- não precisam ficar acanhados, agora eu entendi o sumiço dos dois- continuou violeta 

- O que? Ora bolas, violeta, não comece- disse Heloísa impaciente 

- Apenas nos encontramos e viemos caminhando juntos - completou Leônidas 

- Isso, não comece pensando bulhufas!- brigou a mais nova das Camargo 

- Pombas,Heloísa! Mas eu não disse nada, você que está pensando demais, não sou quem esta tentando se defender aqui. Mas não é sobre isso que eu gostaria de falar com vocês… -

- O que aconteceu, D. Violeta? É algo com doutor Matias?- 

- Não! Graças a Deus está dormindo-

- Então fale logo , minha irmã! Que agonia- 

- Eu encontrei seu pai, Leônidas- a sócia da tecelagem observou os dois a sua frente empalidecerem de uma forma que quase desapareceram, quis rir da situação mas se manteve serena  - e ele me falou sobre como gostaria de conhecer mais sobre você, Leônidas. Conhecer seu trabalho… e sua família, conhecer a mulher com quem estava casado- terminou e viu o homem e a mulher desatarem a falar ao mesmo tempo

“Nós podemos explicar!” “Violeta, não é isso que você está pensando” “não acredite no que ele diz” “por favor não diga nada “

- papagaios!- deu um basta - eu não estou aqui para brigar, eu não disse nada, não se preocupem que não estraguei a brincadeira de vocês - ela riu da situação 

- Violeta, não é para rir, isso é sério- disse Heloísa 

- Sim, eu sei, parece engraçado, mas eu esqueci de dizer que… como eu nunca soube que o Leônidas era filho de Bartolomeu?- 

- É uma longa história, Dona Violeta…- 

Depois de juntos se sentarem na sala e Leônidas contar sobre seu passado e sua família, Violeta entendia toda a questão da farsa de casamento e não iria perder a oportunidade de juntar os dois.

- entendeu, minha irmã? Por isso você tem que prometer que não vai contar nada- 

- Sim, eu entendi tudo e não vou contar nadinha. Mas… acho que vocês precisam tomar cuidado- disse a sócia da tecelagem 

- Porque? Você acha que ele não vai acreditar na história?- Leônidas perguntou preocupada 

- Acreditar ele vai sim, vocês parecem super apaixonados um pelo outro, nem precisa mentir sobre isso- a mãe de Isadora disse fazendo o peão rir sem jeito e a costureira revirar os olhos - o que eu quero dizer, é que já imaginou se ele aparece aqui de surpresa? Vocês precisam estar preparados para isso- a mulher simplesmente jogou a bomba e se foi, deixando o casal, que não é um casal, estupefatos na sala.

- Leônidas, isso é verdade. Precisamos prestar atenção- disse Heloísa 

- Temos que tomar cuidado para ninguém mais nessa casa cruzar com eles e acabar com a farsa- 

❤️

Já era noite e Heloísa estava em seu quarto dando uns retoques nos bordados que tinha feito nos outros dias. Mas sua mente era invadida por pensamentos que ela não conseguia controlar. 

Não sabia na verdade o porque de ter aceitado fingir ser casada com Leônidas, sabia que o homem não iria ligar para o que o pai achasse da vida dele, era nítido que Leônidas amava a vida que levava. 

Mas quando o chamou de meu amor, gostou da sensação dessas palavras saindo de sua boca, e quando caminharam juntos se sentiu segura nos braços dele. 

E teve medo de perdê-lo, quando o viu junto a outra mulher, sentiu aquela dor no peito, mas era uma dor grave que embrulhava o estômago, e fazia sua mente criar história que talvez nem existissem.

Escutou algumas batidas na porta 

- entre!- disse

Viu Leônidas por a metade do corpo para dentro e depois levantar uma flor 

- uma rosa para minha rosa- ela sorriu e se encantou 

Será que se casasse com Leônidas, todos os dias seriam assim? Felizes?

- você é um bobo- disse pegando a flor e levando até o nariz 

- Vim trazer algo importante- disse o peão, Heloísa o olhou curiosa e observou enquanto ele retirava uma pequena caixa do bolso 

- Já que vamos fingir que somos casados, não podemos deixar furo- ele abriu a pequena caixa 

- Leônidas!- a boca da costureira se abriu em um “O” - é lindo demais -

- Era da minha mãe, quando eu era noivo de Anastácia, fiz o pedido com ele, mas depois de tudo…- tossiu se sentindo entalado com tudo que recordava 

- Mas Leônidas, não é melhor…- 

- É melhor você usar. Meu pai repara nos detalhes - disse ele a interrompendo 

Leônidas buscou a mão direita de Heloísa e pôs o brilhante anel em seu dedo.

- coube perfeitamente, está lindo em você - disse por fim 

- Obrigada, ele é mesmo muito lindo. Prometo que vou cuidar muito bem- 

Os olhos se cruzaram e as mãos ainda permaneciam unidas, um choque percorria o corpo de ambos é um calor se fez presente. 

- eu já disse que a você é a rosa mais linda de todo jardim?- ele viu o brilho no olhar dela e a boca abrir em um pedido silencioso 

Leônidas se aproximava aos poucos, meio receoso, mas corajoso. O perfume dela tomava conta de todo seu ser e sua mão ansiava em trocar-lhe os cabelos, desejava por toda a vida contar cada pintinha em seu pescoço. Os narizes se tocavam e os lábios a centímetros de se conheceram

- Leônidas, não!- ela fugiu - não somos um casal de verdade, o casamento é só de mentirinha - ela advertiu 

- Eu sei, eu sei, minha rosa- andou até a porta, mas recuou um pouco - mas… eu também sei que sente algo por mim, eu vejo isso em seus olhos. Eu vou lutar por nós, minha rosa- se foi antes que ela pudesse relutar 

O coração da moça tremia, como se soubesse que no fundo o que ele disse fosse verdade.