... - Quem é Nicolas?
Um assobio suave me acordou. Lutei para conseguir abrir os olhos, as pálpebras estavam pesadas demais, eu estava exausta. Estiquei os braços, me espreguiçando -que era a única parte boa de acordar- e senti que não estava na minha cama. Eu não tinha ido para minha casa?
Esbarrei meus dedos em alguma coisa, me fazendo virar bruscamente e ver o que era.
- Bom dia para ti também. - Killian disse, dando seu famoso sorriso sexy.
Ele estava deitado com a cabeça sobre os próprios braços, que se entrelaçavam atrás de sua nuca. Seu cabelo sempre bem cortado -o que me faz pensar se ele vai em uma barbearia como uma pessoa normal ou conseguia controlar o crescimento de cabelo também- com a aparência de limpo e macio. Seu corpo amorenado e exposto me fez prender a respiração, a única coisa que ele vestia era uma calça de moletom cinza larga. A única coisa que estava diferente era a barba, dessa vez estava totalmente feita.
- Não me lembro de ter dormido aqui. - falei abrindo o mínimo possível a boca, ninguém merece sentir bafo matinal. Passei as mãos pelos meus cabelos de pé na tentativa de ficar menos monstra.
- Eu te trouxe. - ele iria falar mais coisas, mas interrompeu pegando uma caneca preta e tomando um gole do conteúdo. Ao afastar a caneca da boca passou a língua sobre o lábio superior. Então ele comia coisas além de sangue?
- Porque...? - o incentivei a continuar.
O que ele fez foi estender a caneca para mim, me oferecendo. Gesticulei a mão em negação, mas de nada adiantou, ele continuou com a caneca estendida para mim. Revirei os olhos e peguei. Não estava nem quente.
Olhei para ver o que era e tudo estava preto devido a cor da caneca, levei aos lábios e tomei um boa golada. Assim que aquilo desceu por minha garganta eu soube o que era. Sangue. Quase me engasguei e deixei a caneca cair sobre a cama, manchando o lençol branco com aquele líquido asqueroso, com cheiro forte de ferro.
Killian sentou-se na cama e virou para minha direção, a lateral do seu abdômen estava com respingos vermelhos que escorriam, e sua calça estava realmente encharcada. Abri meus lábios para me desculpar, mas antes ele levou a mão ao meu rosto e fechou meus olhos gentilmente. No momento que sua pele fez contato com a minha eu vi.
FLASHBACK ON
Eu tinha acabado de fechar a porta do meu quarto. Minha mãe limpou as mãos em um pano de prato olhando para meu pai esperando ser notada. Sua concentração acabou quando a porta de entrada foi aberta e a imagem de Nicolas se revelava. Meu pai apenas folheou o jornal e minha mãe não se mexeu. Nicolas expôs suas asas enormes e brancas, que mal cabia na sala. Deixou-as encolhidas e caminhou até a cozinha, elas eram tão lindas e brancas. Ele tateou o jogo de talheres da minha mãe e pegou o facão.
- Somos maioria Nicolas. - minha mãe disse, com a voz firme e segura.
- Humanos...- Nicolas disse soltando um riso sarcástico e com um movimento rápido e agil arremessou o facão que atravessou o crânio de minha mãe e sua ponto prendeu na parede.
Minha mãe caiu ajoelhada, com os olhos abertos porém sem vida, e despencou o corpo para o lado. Nicolas pegou a faca e olhou para meu pai, apontou a faca para minha mãe e para o quintal, respectivamente. Meu pai em choque levantou e arrastou o corpo da esposa morta, deixando um rastro grosso e melado de sangue pelo caminho que fazia. Quando meu pai chegou ao meio do quintal parou e ajeitou o corpo da minha mãe, caindo de joelhos ao lado, todo seu corpo estava tremendo e ele não conseguia chorar devido a falta de ar causada pelo pânico, parecia estar tendo um ataque epilético. Nicolas apareceu atrás e enterrou a ponta da faca na nuca do homem, fazendo escorrer um filete de sangue. Em seguida começou a escavar a pele da nuca, fazendo mais sangue jorrar em si próprio, mas ele não ligava. Nicolas jogou a faca no chão e enfiou os dedos na abertura, arrebentando tudo o que vinha pela frente com os dedos e quebrou o início da coluna. Foi a maneira mais torturando de quebrar um pescoço que eu já vi.
Meu pai caiu morto sobre minha mãe, com o mesmo olhar vazio. Nicolas pôs sobre os dois, ficando mais sobre meu pai. Passou a língua pela nuca arrebentada saboreando a sabor do sangue e em seguida roçou o corpo no homem morto.
- Isso seria mais divertido se estivesse vivo. - Nicolas sussurrou como se eu pai fosse escutar.
Levantou completamente sujo de sangue e saiu pela porta da frente normalmente, como se nada tivesse acontecido. Passou pela porta da frente e não fez questão de fechá-la, pôs uma mecha do seu cabelo loiro e agora longo atrás da orelha.
FLASHBACK OFF
Eu pulei da cama e bati contra a parede, meu peito subia e descia intensamente devido minha respiração ofegante.
- Como Nicolas... - minha garganta ficou seca e meu olhos totalmente ferventes, lágrimas caiam desavisadas e não conseguia controlá-las. - me diz que é mentira!
Implorei. Toda vez que eu tentava falar minha voz não saia, eu engasgava com meu choro e eu não sabia nem qual era a expressão de Killian. Virei para o outro lado, não queria que ele me visse chorando. Era vergonhoso.
Eu fiquei ali, chorando, enquanto Killian me olhava sem fazer nada. Como ele fez ontem à noite, deixou meus pais lá para morrerem. Uma onda quente de ódio passou por meu corpo me fazendo arrepiar. Peguei o objeto que tinha mais perto -um jarro de porcelana, pelo peso tinha alguma coisa dentro- e taquei em direção de Killian. Ele não precisou de mexer, pois eu o mirei bem errado. O jarro caiu na parede do outro lado do quarto, fazendo um estrondo e quebrando. Dentro tinha pedaços de pessoas que se espalharam pelo chão. Killian se levantou devagar, me pedindo calma.
Isso me irritava mais ainda. A cada passo que ele dava a minha raiva só ia crescendo dentro de mim, fazendo minhas mãos tremerem e suarem. Cerrei minhas mãos e punhos e juntei todas as minhas forças me concentrando no calor que emanava por meu corpo.
- VOCÊ OS DEIXOU PRA MORRER! - gritei e no mesmo instante Killian foi jogado contra uma parede por algo que eu não podia ver. Ele tirou um pedaço da porcelana -que eu havia quebrado uns segundos antes- de seu braço, deixando o caco sujo de secreção preta.
- Eles não são seus pais de verdade. - ele disse na maior paz possível.
- Que se foda! - gritei novamente, eu já sabia que eles não eram meus pais, mas e dai?
Killian sumiu só deixando um vazio. Escorreguei pela parede e sentei no chão, encolhida, abraçando minhas pernas. Deixei as lágrimas escorrerem livremente, tentando fazer com que tudo passasse.
Queria que tudo fosse um sonho e eu acordasse o mais rápido possível.
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