História Quem está no controle? - No Controle

Fernanda parou no meio do caminho, olhando em volta. Não sabia onde estava. Na verdade, fora burrice sair correndo e se enfiar no meio do bosque próximo à casa de campo. As árvores juntas demais dificultava sua localização. O sol já havia ido embora e logo escureceria ainda mais. Deu meia volta, mas não sabia por onde havia vindo. Puxou o ar do pulmão com força e deixou escapar devagar.

Um barulho fez ela se virar rapidamente. A primeira coisa que viu foi uma touca escura. Seu coração pareceu parar. Abriu os lábios, mas então Lucas saiu cambaleando entre as árvores. A touca escura era do figurino do Paulo. Ele puxou o fio dos fones de ouvido com dificuldade, estavam presos em algum lugar.

― Você vai continuar fugindo? ― Ele abriu a mão antes que ela pudesse dizer alguma coisa. ― Eu esperava que você fosse mais profissional. Você ouviu ela dizer que as pessoas queriam Paulícia.

Fernanda ainda estava olhando fixamente para a touca na cabeça dele. Como ela não havia percebido antes?Aquela boca, aquele beijo. Deu dois passos para frente, apertando os punhos. Lucas franziu o cenho, sem entender. Ela parecia estar vivendo um conflito.

― Você vai me socar? ― Ele arriscou. Ela vinha treinando boxe pesado. Ia doer, óbvio. Mas ele não ia ceder. ― Por que eu estou preparado para isso. Pode vir.

Fernanda entreabriu os lábios enquanto seus olhos desciam da touca para a boca de Lucas. Os lábios cheios, os dentes em linha reta, o queixo discreto. Ela recuou um passo, dando meia volta e apertando as pálpebras. O jeito como ele a beijara em cena. Aquele toque familiar. Ela nunca havia beijado Lucas antes. Não daquele jeito. No máximo um selinho em cena, uma única vez. 

― Fer. ― Lucas se desarmou. ― Você tá chorando? Me desculpa, tá legal?

Ela se virou novamente para ele. Fernanda não estava chorando. Na verdade, ela tinha um olhar insano de quem estava planejando algo. Suas pernas a empurraram para frente. Três passos largos e rápidos eram o que os separavam. Lucas não teve tempo de reagir quando ela segurou seu rosto com as duas mãos e o beijou. Mais uma vez, Fernanda o surpreendia. Lucas fechou os olhos, abrindo a boca e sentindo os lábios dela deslizarem pelos seus. Fernanda impulsionou o corpo com os pés e Lucas a abraçou forte pela cintura. A mão dele encontrou uma brecha entre o aperto das mãos dela em seu rosto e conseguiu alcançar o maxilar de Fernanda, sua orelha e parte do seu cabelo, firmando seus dedos ali. O rosto dela virou e Lucas prendeu a língua dela. Ela escapou, deslizando a boca para o outro lado e prendendo a língua dele. A mão dele subiu pelas costelas dela, apertando-a um pouco mais. Quando ela fez menção de se afastar para respirar, Lucas inclinou o rosto para frente e a beijou novamente, sem deixar que ela recuperasse o fôlego. Fernanda usou a força do próprio corpo para encerrar o beijo e abriu os olhos.

A boca de Lucas estava vermelha. Na verdade, o queixo todo e parte das bochechas por causa da voracidade do beijo. O rosto de Fernanda também. Principalmente a pele sensível ao redor de seus lábios, arranhadas pela barba dele que despontava discretamente por não ter sido totalmente barbeada naquela manhã. Fernanda respirava rapidamente. Ela queimava entre o abraço dele. Sua cabeça girava. Algo dentro dela havia passado da adrenalina daqueles últimos momentos para raiva mortal. Ela sabia, pela boca de Lucas, pelo jeito como o coração dela estava perturbado. Sabia pelo modo como as mãos dele sabiam conduzi-la quando se beijavam. Sabia que ele era o único capaz de fazer com que seus pés saíssem do chão. Mas naquele momento, voltando do espaço, ela sentia como se fosse um meteoro pronto para destruir tudo.

Lucas afrouxou o cerco ao redor dela. Fernanda ergueu os braços delicadamente, puxando a touca do figurino de Paulo para baixo até cobrir os olhos e o nariz de Lucas. Lá estava a boca do mascarado. Lá estava ele. O Demolidor. Mas isso ela já havia percebido logo após se beijarem. Só estava conferindo.

― O que você tá fazendo? ― Lucas puxou a touca pra cima. Como é que ele continuava fingindo que não era ele? ― Ficou maluca?

 Seu imbecil! Ela queria gritar, mas não pôde. Apenas ficou olhando fixamente para ele enquanto pensava como é que ele teve coragem de fazê-la de idiota daquela maneira. Sentiu algo ruim subir por seu rosto. Era a raiva.

― Não. ― Ela precisava pensar no que dizer. Ela sabia que Lucas era o mascarado e achava que ele estava fazendo aquilo para rir dela. Na verdade, Fernanda tinha certeza de que Lucas estava só tentando fazer ela de palhaça. E a única coisa que ela precisava fazer era dar o troco. ― Desculpa. ― Ela apertou os lábios. ― Fiquei confusa.

Sua mente trabalhava rapidamente em um meio de se vingar. Se Lucas se vestia de Demolidor para controlá-la e ter os sentimentos dela na palma da mão. Fernanda ia fazer a mesma coisa com ele sem precisar de uma máscara. Ela ia fazer Lucas se apaixonar por ela e depois iria descartá-lo e fazê-lo se sentir um nada, como ela se sentir quando descobriu, dois anos antes, o que ele achava dela de verdade. 

Foi em um vídeo que chegou até ela. Lucas não sabia que estava sendo filmado. Ele e alguns amigos estavam conversando sobre garotas e Fernanda foi citada. "Cara a Fernanda só serve pra amizade. Ela não serve como namorada de ninguém. Tipo, ela não é como a Esther. A Esther é toda chameguinho. A Fer é tipo um brother, ela é toda grossa, não dá."

― Por favor ― Lucas chamou-a novamente, trazendo-a de volta para o presente. ― Vamos voltar. 

Fernanda parou, encarando-o e reprimindo o choro. Lucas parecia desesperado. Mas ela se lembrou de como ele a machucara profundamente no passado. É claro que ela não acreditava que ele estava apaixonado por ela como dissera na tirolesa. Para ela, Lucas estava apenas brincando. Ele fizera tudo aquilo para sair por cima. Para mostrar a todos que ela sempre gostou dele e ele a tem quando quer. Engoliu em seco.

Mas ela sabia exatamente o que tinha que fazer. Precisava seduzi-lo. Precisava estar no controle. Não ia deixar que ele descobrisse que ela sabia que ele era o Mascarado. Então fungou, concordando em voltar com ele.

Lucas assentiu, estendendo a mão para Fernanda. Não queria se virar e não vê-la indo com ele. Só ia ficar calmo se ela voltasse com ele em segurança. Ela parecia ter surtado do nada e ele não entendia o porque. Ela esticou a mão, deixando-o entrelaçar seus dedos e indo com ele. Ficou olhando para a nunca dele enquanto voltavam. Queria poder sufocar dentro dela aquele sentimento. Lucas nunca ia considerá-la uma garota boa o suficiente para namorar e ela estava secretamente se apaixonando por ele novamente. Não ia deixar aquele sentimento cegá-la. Ela ia controlá-lo e ia fazer de Lucas o seu fantoche. Estava pronta para se vingar.