História Quem sou eu? - Capítulo 31

O vai e vem de conversa com o Shawn, estava me deixando cada vez mais confusa e mais irritada.
Shawn caminhava de um lado para o outro, como se estivesse bolando um plano em sua mente, enquanto respondia minhas inúmeras perguntas. 
A cada três passos falhos, um ele quase perdia o equilíbrio e gemia de dor, baixinho, para eu não ouvir.
- Pare de caminhar! Quer abrir um buraco no chão? - fui grossa - Você não vê que não está bem? 
- Estou caminhando exatamente para ver como estou! - foi rude.
- Você perdeu muito sangue, não está bem para ficar andando em círculos igual um idiota, no quarto. - expliquei, tentando mostras, pelo meu tom, que não ligava para ele, o que era uma enorme mentira - Além do mais, você pode ter uma hemorragia interna e...
- Eu perdi muito sangue, e continuo perdendo... - me interrompeu - Se eu estivesse tendo uma hemorragia interna, já estaria morto a essa altura! Fica tranquila, não vou morrer, pode se acalmar...
- Ridículo! - bufei - Não estou preocupada com você, mas o que farei se meu sequestrador morrer na minha frente? 
- Não te sequestrei! - afirmou novamente - Te salvei. Você poderia ter fugido muitas vezes e a tempos atrás, mas não fugiu... Estou machucado, sem condições de correr atrás de você, como você mesma já notou, não posso caminhar... A porta está trancada, porém a chave continua no trinco, não a tirei dali, pois sei que você não irá a lugar nenhum, por que não quer... Você quer ficar comigo!
- Isso não é verdade! 
- Então vá embora! - gritou, aparentemente nervoso - Está esperando o que?
O olhei com a cara fechada, um sentimento de raiva bateu e fez meu sangue ferver. Levantei da beira da cama, onde estava sentada, e me dirigi a porta, a destranquei, e antes de sair, fiz um ultimo contato visual com Shawn.
Sai do quarto, querendo matar Shawn, por ser tão egocêntrico, achando que eu me preocupo com ele.
Ouvi um gemido de dor, vindo do quarto, já que não havia me afastado da porta, e um barulho, como se alguém tivesse caído, eu sabia que só poderia ser Shawn, então voltei.
Ele estava caído no chão, então vi suas costas, sua camisa estava toda ensanguentada, e meu coração apertou.
Corri até ele e tentei o levantar, ele não havia desmaiado, ainda, mas se o ritmo da perda de sangue continuar daquele jeito, logo logo ele não estaria mais ali para me atormentar com seu egocentrismo.
O coloquei sentado na beira da cama e o ajudei a tirar a blusa. Não sou nenhuma médica profissional, mas o ferimento estava infeccionado e era visual. 
- Está piorando! - afirmei, quando vi suas costas.
- Você se preocupa comigo... Por isso voltou! - sorriu sarcasticamente e maliciosamente - Por que não foi embora e me deixou morrer? Não é isso que queria?
- Não tenho tempo para suas ironias e perguntas idiotas! - fui rude - Você precisa ir para o hospital, irei ligar na recepção e pedir uma ambulância.
- Não! - segurou meu braço - Na mochila... - apontou para uma das mochilas no chão - Pegue o meu punhal e o isqueiro, no bolso da lateral...
- O que? Por que? - fiquei confusa.
- Belle! - me olhou nos olhos, e isso me acalmou - Faça o que pedi...
Eu não havia percebido, mas estava tremendo, e também estava nervosa. Peguei o que Shawn me pediu e tentei lhe entregar.
- Esquente o punhal com o isqueiro! - pediu.
- Para que? - a tremedeira começou a aumentar.
- Faça! - repetiu.
Não o questionei novamente. Peguei o punhal e comecei a esquentar com o isqueiro, toda a parte da faca. Eu não estava entendendo o motivo, mas minha tremedeira só aumentava. Shawn, também, percebeu que eu não estava calma.
- Calma... - segurou minhas mãos, fazendo assim, com seu toque, toda a tensão e nervosismo a minha volta, sumirem - Você consegue.
Depois de tocar a faca na ponta do dedão, certifiquei-me de que estava muito quente já, que uma queimadura daquelas doeria por dias.
- Está quente! - afirmei - O que quer que eu faça agora?
- Queime! - foi simples, e o olhei confusa - Queime o corte, assim cicatrizará mais rápido, e me fará parar de perder sangue...
- O que? - me apavorei - Não! Não vou te queimar!
- Você não queria me machucar? - foi sarcástico - Essa é sua chance...
- Não é hora para brincadeiras Shawn, não vou te queimar!
- Belle, eu preciso da sua ajuda! - seu olhar endureceu - Se você não queimar para mim, não vou parar de perder sangue, e você sabe o final disso. Você que escolhe... Vai me deixar morrer?
Suas palavras me arrepiaram, sem pensar duas vezes, encostei a superfície extremamente quente na pele de Shawn, que talvez não esperasse, que o fez dar um grito de dor, me fazendo sentir dor por ele também.
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O grito de dor agonizante, que Shawn não conseguira segurar, me fez estremecer.
Depois que ele tirou a blusa toda suja de sangue, para trocar por outra, pude então reparar, que suas costas, peito e abdômen, eram cheios de cicatrizes, todas causadas por queimaduras de terceiro, talvez quarto, grau.
Esse era um método que ele havia adotado para "sobreviver" a cortes profundos, o que não fazia sentido na minha cabeça, ele poderia de dirigir até o hospital mais próximo e pedir para que fizessem pontos e estancassem o sangramento.
- Por que não me deixou chamar a ambulância? - fiquei tão curiosa, para saber o motivo da não ida ao hospital, que não percebi que já estava fazendo a pergunta, e não era mentalmente.
- Não vou a hospitais a muito tempo... - sorriu - Já deve ter percebido, estava admirando minhas cicatrizes, ou talvez meu corpo... Suponho que por isso a dúvida, certo?
- Por que não vai? - ignorei suas piadinhas e seu sarcasmo e continuei.
- Porque não posso! - foi simples, sem fazer troca de olhares.
- Por que não? - insisti em mais detalhes.
- Por que eu não existo, Belle! - seu tom não pareceu sarcasmo - Como você também não.
- Não existe? - o olhei com desdém - Olha, eu estava simpatizando com você, pensei em não dar queixa, e pedir para meu marido não lhe matar, mas você está louco, e precisa de ajudas médicas! Conheço um médico ótimo, ele cuidou de mim, o nome dele é...
- Finn! - me interrompeu.
- Como sabe o nome dele? - não quis mostrar espanto - Você investigou minha vida? 
- Belle, tenta entender... - ele bufou - Não preciso investigar sua vida, eu sei tudo sobre ela!
- Claro que sabe... - ri - Começando pelo meu nome, que você ainda não conseguiu acertar!
- Seu nome é Belle, não Sarah! - afirmou.
- Ok! - concordei - Não discutirei... Está na cara que você tem sérios problemas de cabeça.
- Sua fruta preferida é pêssego! - sorriu - Você ama o cheiro, assim como ama o cheiro da natureza e também adora admirá-la.
Como ele poderia saber disso? Eu não estava entendendo, porque a única coisa que eu lembrara de meu passado, fora quando senti o cheiro do pêssego, que me trouxe lembranças de meu primeiro pêssego. Para você, anjo.
Essa frase me perturbara durante muitas noites, me trazendo sonhos estranhos, com coisas estranhas, que eu nem sequer entedia.
- Errou! - menti - Kiwi, é minha fruta preferida.
- Você detesta kiwi.
Como ele sabia disso também? Ele estava começando a me assustar.
- Minha cor preferida? 
- Você não tem uma cor preferida, mas não gosta de rosa, sendo que na sua infância, era sua cor preferida! - fixou os olhos nos meus.
- Errou de novo! - sorri - Cinza. 
- Você está mentindo! - riu - Vejo em seus olhos... Não quer admitir que acertei.
- Escuta aqui! - parei em pé, perto de Shawn - Não é porque você acertou, por sorte, minha fruta preferida, que me conhece e sabe tudo da minha vida. Eu não sei quem é você, nem quem é essa tal de Belle, também não sei o que quer comigo, mas não irá conseguir! Meu marido já deve ter acionado a polícia, uma hora dessas já devem estar me procurando e logo irão...
Shawn não me deixou terminar, minha explosão de palavras. Ele me agarrou, puxando meu corpo para próximo ao dele e me beijou.
Nossos corpos se ligaram e foi como se nossas células trocassem eletricidade. Não resisti ao beijo, nem ao seu toque, que esquentou minha pele. Senti como se estivéssemos conectados, e que aquela conexão não pudesse ser rompida por nada.
Então cai na real. O empurrei e me afastei de seu corpo, sentindo o vácuo no espaço entre nós, dentro do meu coração. De alguma forma, o que ele me dissera mais cedo, começou a fazer sentido. Meu cérebro não lembrava de Shawn, mas meu coração sim. Mas não da para se confiar, somente, no coração.
- O que você está fazendo? - explodi.
- Te beijando! 
- Por que fez isso? Eu tenho um marido sabia? - o encarei de cara feia.
- É que eu vi em filmes, que quando o belo moço beija a linda dama, que está sem memória, ela lembra de tudo... Quis fazer um teste! - foi irônico.
- Você realmente é um...
Antes de conseguir terminar de xingar Shawn, um barulho estrondoso de uma explosão, seguido da força do impacto que me atirou no chão, me interromperam.
Comecei a ouvir um zumbido fino e perturbador, que me causava muita dor. Só entendi o que estava acontecendo, quando vi a porta do quarto no chão, toda em pedaços, e a poeira e fumaça tomando conta do ar.
Shawn estava no chão, a minha frente, desmaiado. Ele estava mais próximo da porta, do que eu, quando ela explodiu. 
Não consegui me mover, para ver quem estava entrando no quarto, meu pescoço doía, assim como muitas partes do meu corpo. Eu estava zonza e perturbada com o zumbido, que ficava cada vez mais alto.
Só consegui ver pés se aproximando de Shawn e o arrastando para fora do meu campo de visão. Depois senti tocarem minhas pernas, então uma tela preta tomou conta de minha visão.